estudios lésbicos gays queer como politicas de conoicmiento -guacira
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8/19/2019 Estudios Lésbicos Gays Queer Como Politicas de Conoicmiento -Guacira
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labrys, estudos feministas, études féministesagôsto/ dezembro 2004- août / décembre 2004
número 6
Os estudos feministas, os estudos gays elésbicos e a teoria ueer
como !ol"ticas de con#ecimento$i%
&uacira 'o!es 'ouro
Constituídos a partir de uma militância e de uma
teorização freqüentemente inseparáveis, os estudos feministas,
os estudos gays e lésbicos e a teoria queer parecem, muitas
vezes, aparentados entre si !arcados por pai"#es e por
pol$micas, neles, teoria e política se confundem e se nutrem
mutuamente %eria razoável considerá&los, pois, como uma
espécie de continuum, no qual sutis diferenciaç#es de temáticas
ou de estratégias acabariam por produzir, cumulativamente,
deslocamentos signi'cativos( )u seria mais adequado
compreend$&los como campos que se cortam e se tensionam
uns aos outros( *ão sou capaz de dar uma resposta decidida a
essas quest#es +re'ro assumir que esses são campos tericos e
políticos marcados por a'nidades e alianças e, ao mesmo
tempo, atravessados por debates e diverg$ncias perturbadoras
Como estudiosa e pesquisadora ven-o me apro"imando
desses campos numa tica ps&estruturalista, o que tem feito
com que min-a atenção se volte mais para os discursos e
práticas constituidores dos su.eitos e para as disputas por
representação que são empreendidas pelos vários grupos
culturais /al perspectiva leva&me a assumir o caráter construído
e incompleto, a provisoriedade e a instabilidade de todas
identidades se"uais e de g$nero +asso a duvidar que alguma
instância ou algum grupo se.a o portador da 01erdade2, e
admito que podem coe"istir 3e se confrontar4 muitas 0verdades2
5escon'o das grandes generalizaç#es e, então,
http://vsites.unb.br/ih/his/gefem/labrys6/libre/guaciraa.htm#_edn1http://vsites.unb.br/ih/his/gefem/labrys6/libre/guaciraa.htm#_edn1
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aprendo a lidar mel-or com o local e o particular *ão me
propon-o a responder quest#es 0fundamentais2, como as que
indagam sobre as origens da opressão feminina ou sobre as
causas da -omosse"ualidade6 mas me ve.o atraída, sim, a
con-ecer e a questionar as formas como uma sociedade 3esta
em que vivemos, particularmente4 trata as mul-eres e os grupos
-omosse"uais6 quero descrever as relaç#es de poder que aí
circulam e as resist$ncias que são e"ercidas6 por onde passam
essas relaç#es, que sutilezas e disfarces assumem, como se
e"pressam /ento escapar do raciocínio que obriga a decidir se
algo 3ou alguém4 é isto ou aquilo para pensar que algo 3ou
alguém4 pode ser, ao mesmo tempo, isso e aquilo +rocuro
desmanc-ar dicotomias, desconstruir binarismos, incluindo aqui
as oposiç#es, supostamente slidas, entre masculino7 feminino,
-eterosse"ual 7-omosse"ual
8ntendo que os estudos feministas, os estudos gays e
lésbicos e a teoria queer são campos tericos e políticos quev$m promovendo novas políticas de con-ecimento cultural *ão
são apenas novos temas ou novas quest#es que t$m sido
levantadas 9 muito mais do que isso :á algumas décadas, os
movimentos e grupos ligados a esses campos v$m provocando
importantes transformaç#es que dizem respeito a quem está
autorizado a con-ecer, ao que pode ser con-ecido e ;s formas
de se c-egar ao con-ecimento 5esa'ando o monopliomasculino, -eterosse"ual e branco da Ci$ncia, das
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passam a ser ob.eto de centros universitários e n?cleos de
pesquisa %obre o mundo do privado e do doméstico6 sobre as
muitas formas de viver o feminino e o masculino, a família, as
relaç#es amorosas, a maternidade e a paternidade6 sobre o
erotismo e o prazer, sobre a pornogra'a e as 0pervers#es2
fazem&se teses, escrevem&se livros, realizam&se seminários e
cursos +ara tanto, mobilizam&se, freqüentemente, outras
estratégias e métodos de estudo e análise, reinventam&se
técnicas de investigação, valorizam&se 0fontes2 até então
desprezadas !in-a aposta é que as transformaç#es trazidas por
esses campos ultrapassam o terreno dos g$neros e da
se"ualidade e podem nos levar a pensar, de um modo renovado,
a cultura, as instituiç#es, o poder, as formas de aprender e de
estar no mundo
+ara manter 0o"igenados2 esses campos de
con-ecimento, contudo, é necessário aceitar o risco de
incompreens#es, é preciso estar disposto a ser continuamentesubversivo 8ssa disposição se mostra particularmente
complicada de ser assumida por aqueles e aquelas que, como
eu, lidam com o campo da 8ducação @ um campo -istoricamente
disciplinador, usualmente comprometido com a integração social
e pouco afeito ;s transgress#es < grande di'culdade talvez
se.a, precisamente, reinventar a educação na ps&modernidade
+ara muitos analistas contemporâneos, as políticas de
identidade e as que se auto denominam ps&identitárias 3como a
teoria queer4 não seriam apenas constitutivas da ps&
modernidade6 na verdade, se poderia dizer que são elas que
tornaram 3e tornam4 possível a ps&modernidade )s
protagonistas dessas políticas ousam se assumir diferentes, e
aqui me interessam, particularmente, aqueles e aquelas que se
assumem como diferentes no g$nero e na se"ualidade
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do tempo, os movimentos que constituem essa -istria se
multiplicaram, assim como seus propsitos 8ssa dinâmica foi
provocando mudanças nas teorias e, ao mesmo tempo, foi
sendo alimentada por elas
=ocalizo alguns dos pontos de tensão nesse processo
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1olto&me particularmente para o campo da 8ducaçãoA é
possível pensar que os currículos de nossas escolas e
universidades são uma espécie de te"to 0generi'cado2 e
se"ualizado 3ou se.a, são te"tos que acabam por constituir os
g$neros e as se"ualidades de estudantes e professores7as4
3=ouro, DDE4
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lgica que rege toda essa questão Conseqüentemente, é
freqüente ouvirmos muitos assumirem 3até mesmo com orgul-o4
que ignoram formas não&-egemBnicas de se"ualidade
C-egamos, aqui, a uma questão importanteA a
ignorância +ara a 8ducação, a dicotomia con-ecimento G
ignorância sempre foi central e, nesse campo, usualmente, a
ignorância é vista como uma falta ou como uma aus$ncia de
con-ecimento !as, perguntam algumas estudiosas queer, não
seria possível pensar a ignorância como o efeito de um .eito de
con-ecer( *ão se poderia pensar con-ecimento e ignorânciacomo mutuamente implicados( %e assim for, a ignorância talvez
deva ser compreendida como sendo produzida por um modo de
con-ecer 5ebora- Hritzman diz que 0qualquer con-ecimento .á
contém suas prprias ignorâncias26 a ignorância seria uma
espécie de 0resíduo2 do con-ecimento
Iuando formulamos determinados problemas fazemos
com suporte numa determinada lgica que nos permite formulá&
los6 uma lgica que, por outro lado, dei"a de fora outros
problemas, outras perguntas < prpria formulação do problema
indica o que será ob.eto do con-ecimento e o que deverá 'car
0descon-ecido2, o que será recon-ecido, admitido e o que
permanecerá irrecon-ecível, impossível de ser recon-ecido
como verdade
8"istem, por certo, con-ecimentos em relação aos
quais -á uma 0recusa2 em se apro"imar6 con-ecimentos aos
quais se nega acesso, aos quais se resiste *ão discuto, aqui, tal
recusa em termos individuais ou psicolgicos, embora isso
também possa ser importante, mas quero enfatizar essa recusa
ou resist$ncia ao con-ecimento em termos culturais, ou se.a,
aquilo que uma dada cultura não se permite con-ecer :á coisas
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e -á su.eitos que são impensáveis no interior de uma
determinada cultura, conforme ensinou Joucault 8les não se
enquadram numa lgica ou num quadro admissíveis ;quela
cultura, naquele momento 8ssas práticas e esses su.eitos
transgridem a imaginação, são incompreensíveis e então são
recusados, são ignorados
+ara educadoras e educadores, essa recusa se coloca,
geralmente, como intransponível < partir desse ponto&limite
dei"amos de formular quest#es, pois não sabemos como
sustentá&las dentro da lgica consagrada *ão costumamosacol-er curiosidades impertinentes, a menos que possamos
torná&las 0pertinentes2, quer dizer, a menos que possamos
domesticá&las !as talvez pudéssemos subverter essas práticas
questionando a prpria resist$ncia ao con-ecimento e
indagando quando, em que ponto, algo dei"a de 0fazer sentido2
/alvez pudéssemos perguntar, como fazem várias estudiosas
queer A 0o que se pode aprender com a ignorância(2 8, então,forçar esse ponto&limite, tentar ir para além dele, pensar através
dele, por meio dele
Fá se disse, muitas vezes, que sem a se"ualidade não
-averia curiosidade e sem curiosidade o ser -umano não seria
capaz de aprender /udo isso me leva a apostar que teorias e
políticas voltadas, inicialmente, para a multiplicidade da
se"ualidade, dos g$neros e dos corpos possam contribuir para
transformar nossos modos de pensar e de aprender, de
con-ecer e de estar no mundo em processos mais prazerosos,
mais efetivos e mais intensos
(efer)ncias:
HKL/M!
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Kealidade 1olN3N4, .an7.ulNOOPA QN&OP
=)RK), Suacira Rm corpo estran-o 8nsaios sobre se"ualidadee teoria queer Helo :orizonteA
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