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Revista de Espiritismo Cristão

Ano 121 /Abril, 2003 / No 2.089

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação da

Federação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

Home Page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

[email protected]

Para o BrasilAssinatura anual R$ 30,00Número avulso R$ 4,00Para o ExteriorAssinatura anualSimples US$ 35,00Aérea US$ 45,00

Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Antonio Cesar Perride Carvalho, Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oli-veira São Thiago; Secretário – Iaponan Albuquerqueda Silva; Gerente – Amaury Alves da Silva; REFOR-MADOR: Registro de Publicação no 121.P.209/73(DCDP do Departamento de Polícia Federal do Mi-nistério da Justiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 –

I. E. 81.600.503.

Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – Brasil

Tel: (21) 2589-6020; Fax: (21) 2589-6838

Capa: Rogério Nascimento

Tema da Capa: Espiritismo, uma Nova Era para aHumanidade, com base na Campanha da FEB, quehoje se expande pelos cinco Continentes.

EDITORIAL 4Espiritismo, uma Nova Era

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 13 Doutrina Espírita – Emmanuel

ESFLORANDO O EVANGELHO 21No trato com o invisível – Emmanuel

A FEB E O ESPERANTO 26O Esperanto presente na Casa Espírita,colaborando para o futuro da Humanidade –Alberto Flores

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 32 Polêmica Espírita – Allan Kardec

O Livro dos Espíritos – Allan Kardec 33

SEARA ESPÍRITA 42

O Livro dos Espíritos – Juvanir Borges de Souza 5

O Codificador e a Codificação – Passos Lírio 8

Filhos de gênios: o que são? – Umberto Ferreira 10Fantasias anímicas – Manoel P. de Miranda 11Elefantes brancos – Richard Simonetti 14Em busca de Deus – Ismael Ramos das Neves 16

Expiações e provas – Mauro Paiva Fonseca 17

Congresso Espírita da USE 18

Critério de Allan Kardec: Salvaguarda do 19

Movimento Espírita – Affonso Soares

A Nota aos Prolegômenos de O Livro dos Espíritos – 22

Silvio Seno Chibeni

A Prece de Cerinto – Cerinto 25

José Yolando dos Santos 27

“Clone, mas diferente” – Roberto Lúcio Vieira de Souza 28

Goles inofensivos? – Jorge Hessen 30

A Voz de Deus – Paulo Nunes Batista 31

II Encontro Nacional de Coordenadores de ESDE – (I) 34

José Carlos da Silva Silveira

Livros Espíritas e Educação complementar – Dulcídio Dibo 35

Amor ao próximo: denominador comum das religiões – 36

Fred Figner

O Livro Espírita: algumas considerações – Parte I – 37

Aécio Pereira Chagas

Entre o erro e o acerto – Corydes Monsores 41

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4 Reformador/Abril 2003122

Desde épocas remotas o homem tem noção da existência de Deus e vem concei-tuando-o das mais variadas formas, de conformidade com o grau de evolução emque se encontra. Com a Doutrina Espírita, surgida em 18 de abril de 1857, apren-

demos que Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. É eterno,imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom.

Analisando a si mesmo, o homem tem acreditado que possui uma única existência,que começa no berço e termina no túmulo. Com a Doutrina Espírita, aprendemos queo homem é um Espírito imortal encarnado em um corpo material; que já existia antes denascer e que continua existindo depois da morte do corpo físico; que reencarna inúme-ras vezes e preserva toda a experiência de suas existências, indispensável ao progresso es-piritual a que está destinado por força da Lei Divina.

A Mediunidade, que possibilita a comunicação dos Espíritos com os homens, embo-ra não compreendida, sempre esteve presente na história do mundo, participando, dire-ta ou indiretamente, de todos os avanços da Humanidade. Com a Doutrina Espírita, pas-samos a conhecer melhor as leis que regem o intercâmbio mediúnico, assim como aadequada maneira de sua utilização.

Desde o totemismo o homem vem procurando uma diretriz de comportamento mo-ral que atenda às suas reais necessidades de aperfeiçoamento. Com a Doutrina Espírita,aprendemos que Jesus é o Guia e Modelo para toda a Humanidade, e que a Doutrina quenos ensinou e exemplificou é a expressão mais pura da Lei de Deus.

Estes e outros novos conceitos representam as revelações que os Espíritos Superiorestrouxeram à Humanidade através da Doutrina Espírita e que vêm sendo confirmadas pe-las pesquisas e conquistas da ciência humana.

Revelando-nos as Leis Divinas e ampliando a nossa compreensão em torno de tudoo que nos cerca, o Espiritismo nos mostra a bondade de Deus e a grandiosidade de suaobra, e abre uma Nova Era para a Humanidade, descortinando-nos o caminho do pro-gresso espiritual que cabe ao homem trilhar.

Trabalhar, portanto, no sentido de colocar a Doutrina Espírita ao alcance e a serviçode todos é o natural dever de consciência daqueles que se beneficiam com os seus ensi-nos e com as oportunidades de servir sob a sua orientação.

EditorialEspiritismo, uma Nova Era

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Oséculo XIX – o “século dasluzes” – viu surgirem e de-senvolverem-se doutrinas fi-

losóficas e sociais de fundo materia-lista que exerceram influência sig-nificativa sobre consideráveis par-celas da Humanidade.

Dentre esses sistemas desta-camos o Positivismo, de Augus-to Comte, o Marxismo, oriun-do do Manifesto Comunista, deKarl Marx, e o Utilitarismo,idéias revividas por John StuartMill e Spencer, em 1865, origi-nárias dos sofistas gregos e dos fi-lósofos Hobes (século XVII) eBenthan (fim do século XVIII).

Ao lado dessas escolas filosófi-cas e sociais, também as ciênciasdeixaram-se influenciar pelo mate-rialismo, como é notório e se tornaevidente até os dias atuais.

Foi nesse ambiente, em que asreligiões tradicionais se mostraramimpotentes para enfrentar o mate-rialismo multifário, que ocorreramfatos e idéias de extraordinária sig-nificação, que iriam demonstrar, aosque “têm olhos de ver”, que o nos-so mundo tem um governo espiri-tual, sempre atento aos interessesmaiores da Humanidade, sem pre-juízo do livre-arbítrio dos homens.

Em uma década, contada doano de 1848, apareceram os fenô-

menos ostensivos de Hydesville, asmesas girantes e o estudo aprofun-dado de todas as manifestações doMundo Espiritual pelo missionárioAllan Kardec.

Surge, então, em 1857, essaobra monumental – O Livro dosEspíritos – denominação que lhedá seu autor, em homenagem àque-les que verdadeiramente se incum-biram de desvendar novos cami-nhos e novas verdades, de impor-tância transcendental para os ho-mens.

Era o socorro do Mundo Maioraos habitantes da Terra, ao mesmotempo que se cumpria a promessado Cristo de Deus de enviar umoutro Consolador aos homens, pa-

ra relembrar-lhes seus ensinamen-tos e oferecer-lhes conhecimentosnovos

A época escolhida pelo Gover-nador Espiritual deste orbe, para avinda do Consolador, atendeu acircunstâncias diversas, todas de in-teresse dos homens.

O transcurso de cerca de de-zoito séculos, desde que deixarapessoalmente sua Mensagem deAmor, deu aos homens as opor-tunidades de progresso, de expe-riências e de entendimento quesó o tempo proporciona.

As interpretações deturpa-das de seus ensinos, cristalizadaspelas instituições humanas, jáhaviam produzido os efeitos las-

timáveis das guerras e violênciasreligiosas da Idade Média e Mo-

derna.As ciências, mesmo sob a in-

fluência do materialismo, avança-ram em alguns de seus objetivos,com muitos descobrimentos.

A liberdade fora conquistadade forma penosa, mas já se achavareconhecida sob muitos aspectos,garantindo a presença de uma idéianova no mundo, sem as persegui-ções e imposições dos detentores dopoder.

O Espiritismo no mundo, empleno “século das luzes”, é o conhe-cimento sobre a vida atual e futurado homem, ser espiritual imortal; éo socorro às religiões, na luta con-tra o materialismo; é a reafirmaçãoe a demonstração da existência e

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O Livro dos EspíritosJuvanir Borges de Souza

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presença de Deus, o Criador doUniverso e de todas as coisas; é o re-conhecimento da importância doCristo de Deus e de sua Mensagemcomo Governador Espiritual daTerra – o Verbo do princípio.

...O Livro dos Espíritos “(...) foi

escrito por ordem e mediante dita-do de Espíritos superiores, para es-tabelecer os fundamentos de umafilosofia racional, isenta dos precon-ceitos do espírito de sistema. Nadacontém que não seja a expressão dopensamento deles e que não tenhasido por eles examinado.” (Prolegô-menos – 70. ed. FEB.)

A Espiritualidade Maior, àfrente o Espírito da Verdade, valeu--se da mediunidade de diversos me-dianeiros e do preparo especialdo missionário Allan Kardec paratransmitir aos homens a Nova Luz,a Doutrina Consoladora.

Nas palavras esclarecedoras esinceras do Codificador, “só a or-dem e a distribuição metódica dasmatérias, assim como as notas e aforma de algumas partes da redaçãoconstituem obra daquele que rece-beu a missão de os publicar.”

A gênese dessa obra, seu con-teúdo, sua importância excepcionalcomo base e início de uma NovaEra de conhecimentos, colocam-naem posição excepcional, não comomais um compêndio, mas comouma nova luz no mundo dos ho-mens.

As antigas religiões orientaistêm seus livros sagrados com as re-gras que nortearam a vida e as con-cepções de bilhões de criaturas atra-vés dos tempos.

O Velho Testamento, desdo-brado em muitos livros, sintetiza a

religião monoteísta do povo he-breu.

O Evangelho de Jesus encerra,por sua vez, o mais valioso e belocódigo moral conhecido, com baseno Amor Soberano.

O Livro dos Espíritos é a gran-de síntese de conhecimentos para ostempos atuais e futuros. Nele estãocontidas verdades antiqüíssimas,sob nova roupagem, que fazem daDoutrina dos Espíritos a atualiza-ção de idéias e realidades que nãodeveriam perder-se, ao lado de no-vas revelações que descortinam umaNova Era – a Era Espírita.

Verdades há muito conhecidas,como a lei das vidas sucessivas, osmandamentos maiores da lei mosai-ca relativos ao amor a Deus e aopróximo, todos os ensinos moraisdo Cristo de Deus constantes desua Mensagem alinham-se ao ladode novas realidades, verdades que oshomens não tinham condições deconhecer por si mesmos, e que osEspíritos Superiores mostraram co-mo partes integrantes da ordem na-tural das coisas.

Nesse livro fundamental daDoutrina Espírita, a Filosofia se ex-pande para além do mundo mate-rial já conhecido, penetrando oMundo Espiritual, pátria comumde todos os Espíritos.

Nele, a Ciência e a Religião,em sentido lato, conciliam-se e in-terpenetram-se, mostrando a incon-gruência de uma aparente incom-patibilidade entre elas, uma vez queambas derivam da Criação divina.

Abordando as questões maiscomplexas com que se deparou ohomem em todos os tempos, parao conhecimento do que se tornapossível no estágio evolutivo emque se encontram os habitantes da

Terra, a linguagem utilizada pelosautores espirituais é, não obstante,simples e direta, ao alcance do ho-mem comum.

Dir-se-ia que os autores espiri-tuais, a falange do Espírito da Ver-dade, formularam O Livro dos Es-píritos de forma sintética e aces-sível às inteligências comuns, jácom o propósito de desdobrá-lo emoutros títulos específicos.

É o que se pode perceber em OLivro dos Médiuns, O Evangelhosegundo o Espiritismo, O Céu e oInferno e A Gênese, desdobramen-tos da obra básica.

Observa-se hoje, há mais de145 anos do lançamento da obrabásica da Doutrina Espírita, queseus princípios fundamentais per-manecem íntegros, sem necessida-de de quaisquer retificações.

Findou-se o século XIX, com aforte influência do materialismonos sistemas filosóficos desse perío-do; surgiu e findou-se o extraordi-nário século XX, com suas heran-ças, seus questionamentos socio-lógicos, teológicos e filosóficos, ecom as grandes descobertas cientí-ficas que surgiram.

Mas os princípios e as reve-lações novas dos quais foi portadorO Livro dos Espíritos permanece-ram inteiros e exatos, mostrando edemonstrando segurança e origemsuperiores.

O progresso e experiências dasciências do mundo, ainda domina-das pelo materialismo, parecem ca-minhar no sentido dos princípiosespíritas. É o que ocorre com a Fí-sica Quântica, com a concepção damatéria como energia concentrada;com a Medicina, que tende a acei-tar a existência do Espírito; com aAstronomia e a Cosmologia, com

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suas atuais concepções do Univer-so.

Essas constatações dão aos se-guidores da Doutrina Espírita ra-zões para crerem na aceitação fu-tura, em larga escala, no seioda Humanidade, das verdadesespíritas.

Ao lado dos aspectos filosó-fico, científico e religioso da Dou-trina, exposta em O Livro dosEspíritos, é inegável que nela seencontram, ínsitos em sua abran-gência, princípios morais, éticos,sociológicos e educacionais, quea caracterizam como doutrina deeducação, em sentido amplo.

O caráter científico do livroe da Doutrina decorrente das re-velações nele contidas é ressalta-do por Allan Kardec, não comomais uma ciência que só trata damatéria, mas de conhecimentosque se relacionam com os doiselementos do Universo – maté-ria e espírito.

Os aspectos religiosos so-bressaem-se na obra dos Espíritosao tratar de Deus, o Criador doUniverso, a Inteligência Suprema,com seus atributos infinitos deAmor, Justiça, Bondade, Poder, Mi-sericórdia, Sabedoria.

Deus, nos ensinos espíritas, é oPai, como o compara Jesus, nãocomportando definições que ficammuito aquém de sua natureza. Porisso, não tem aspecto antropomórfi-co, como o Deus bíblico, nem pan-teísta, como nas religiões orientais.

A moral espírita fundamenta--se na moral cristã e com ela se con-funde. Por isso o Evangelho de Je-sus, entendido em espírito e verda-de, é parte integrante da Doutrinados Espíritos.

O Livro dos Espíritos demons-

tra a inconsistência e incongruênciado materialismo, verdadeiro desva-rio da alma humana, que nega a simesma e ao seu Criador.

...

O Livro dos Espíritos, publica-do em sua primeira edição em 18de abril de 1857, em Paris, França,teve sua edição definitiva, a segun-da, a 16 de março de 1860.

Ambas as edições foram dita-das e orientadas pelos Espíritos Re-veladores, à frente o Espírito daVerdade, cabendo ao Codificadordeterminar a ordem, a distribuiçãometódica das matérias e as notas ex-plicativas, o que ele fez de formamagistral.

A obra é composta de quatropartes: Das causas primárias; Domundo espírita ou mundo dos Es-píritos; Das Leis morais; Das espe-ranças e consolações.

Terminada e revisada a obra,Allan Kardec escreveu a monumen-

tal Introdução, apreciando-a sobmúltiplos ângulos e resumindo adoutrina dela decorrente. É nessaintrodução que o Codificador criaos neologismos espírita, espiritista

e Espiritismo para definir as coi-sas novas surgidas com o livro.

Escreveu também o Codifi-cador a Conclusão, na qual reba-te muitas objeções contra o Es-piritismo e da qual destacamos otrecho final assinado por SantoAgostinho, um dos Espíritos Re-veladores:

“Por bem largo tempo, oshomens se têm estraçalhado eanatematizado mutuamente emnome de um Deus de paz e mi-sericórdia, ofendendo-o com se-melhante sacrilégio. O Espiri-tismo é o laço que um dia osunirá, porque lhes mostrará on-de está a verdade, onde o erro.Durante muito tempo, porém,ainda haverá escribas e fariseusque o negarão, como negaram oCristo. Quereis saber sob a in-

fluência de que Espíritos estão asdiversas seitas que entre si fizerampartilha do mundo? Julgai-o pelassuas obras e pelos seus princípios.Jamais os bons Espíritos foram osinstigadores do mal; jamais acon-selharam ou legitimaram o assassí-nio e a violência; jamais estimula-ram os ódios dos partidos, nem asede das riquezas e das honras,nem a avidez dos bens da Terra.Os que são bons, humanitários ebenevolentes para com todos, essesos seus prediletos e prediletos de Je-sus, porque seguem a estrada queeste lhes indicou para chegarem atéele.”

Nota – O presente trabalho foi calcadoem outros do mesmo autor.

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Lendo o livro Obras Póstumas,temos uma idéia exata dosprincipais acontecimentos que,

passo a passo, levaram o renomadopedagogo Denizard Rivail a inte-ressar-se pela Revelação Espírita, acogitar de estabelecer as relações decausa e efeito para explicação da fe-nomenologia de que era testemu-nha e a proclamar a existência deuma Nova Luz na face do mundo.

Desde a primeira hora se em-penhou a fundo no estudo do as-sunto, dando-se a trabalhos exaus-tivos e estafantes, a fim de realizar aobra magistral que nos legou, cu-nhada nas luzes do seu saber e nasadmiráveis claridades promanadasdo Grande Além.

Pois bem, não obstante todo oseu fabuloso cabedal de cultura, queraiava pelos domínios da mais altaerudição, desde logo ele próprio fezquestão de caracterizar sua posiçãode intérprete das Potestades Supe-riores, a serviço dos desígnios deDeus para com a Humanidade.

É na condição de Codificadorque se situa no quadro geral de suaobra, do primeiro ao último livro,assinalando uma diferença distintaentre a Doutrina e o Homem.

Escolhe para denominações daNova Revelação os termos: Filoso-fia Espiritualista, Doutrina dos Es-

píritos, Espiritismo, Terceira Reve-lação, Consolador Prometido, afas-tando a idéia de sua paternidade di-reta na fundação do novo sistemacientífico-filosófico-religioso, cujacodificação lhe foi confiada.

Em O Livro dos Espíritos, nãoobstante a sua atuação fecunda ebrilhante, a presença das EntidadesReveladoras se faz simplesmentesensível. Quem não conhece estaobra? Quem já não a terá lido?

Em O Livro dos Médiuns, em-bora se estenda em comentáriosmais amplos, de sua própria lavra,conta com a colaboração freqüentedos Instrutores Espirituais que lhedesfazem as dúvidas, aclarando pon-tos embaraçosos, delicados e melin-drosos do profundo filão mediú-nico.

Em O Evangelho segundo oEspiritismo, suas luminosas páginasde consolação e esclarecimento, deencorajamento e orientação, alter-nam com as mensagens de porta--vozes da Alta Espiritualidade, quetambém consolam e esclarecem, en-corajam e orientam, completando--lhe o trabalho de difusão da Ver-dade. Nesse livro, Allan Kardec teveo bom senso e a prudência de assi-nalar, no trabalho de abertura, ostraços marcantes que podem e de-vem caracterizar o cunho de auten-ticidade da palavra do Alto. Quemnão conhece esta obra? Quem jánão na terá lido?

Em O Céu e o Inferno, depoisde alentada parte de sua autoria, em

que se mostra senhor de uma dialé-tica esmagadora, deixa mais de me-tade do volume para registro de co-municações de variegados matizes,pelas quais tomamos contato comdepoimentos de Espíritos felizes einfelizes, bons e maus, cujas condi-ções de felicidade ou infelicidadevariam de acordo com o que fize-ram e obtiveram nos domínios dasprovas e missões com que foramagraciados.

Em A Gênese, que não foge aesse crivo de elaboração, há duascoisas de notória e notável impor-tância, para as quais somos compe-lidos a voltar a nossa atenção. Umadelas é a que diz respeito à “Intro-dução”, onde lemos estas judiciosaspalavras do Autor:

“Sem embargo da parte quetoca à atividade humana na elabo-ração desta doutrina, a iniciativada obra pertence aos Espíritos, po-rém não a constitui a opinião pes-soal de nenhum deles. Ela é, e nãopode deixar de ser, a resultante doensino coletivo e concorde por elesdado. Somente sob tal condição selhe pode chamar doutrina dos Es-píritos. Doutra forma, não seriamais do que a doutrina de um Es-pírito e apenas teria o valor de umaopinião pessoal.

Generalidade e concordânciano ensino, esse o caráter essencialda doutrina, a condição mesma dasua existência, donde resulta quetodo princípio que ainda não hajarecebido a consagração do controle

O Codificador e a CodificaçãoPassos Lírio

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da generalidade não podeser considerado parte inte-grante dessa mesma dou-trina. Será uma simplesopinião isolada, da qualnão pode o Espiritismo as-sumir a responsabilidade.

Essa coletividade con-cordante da opinião dos Espíritos,passada, ao demais, pelo critério dalógica, é que constitui a força dadoutrina espírita e lhe assegura aperpetuidade. Para que ela mudas-se, fora mister que a universalida-de dos Espíritos mudasse de opiniãoe viesse um dia dizer o contrário doque dissera. Pois que ela tem suafonte de origem no ensino dos Espí-ritos, para que sucumbisse seria ne-cessário que os Espíritos deixassemde existir. É também o que faráque prevaleça sobre todos os siste-mas pessoais, cujas raízes não se en-contram por toda parte, como comela se dá.

O Livro dos Espíritos só teveconsolidado o seu crédito, por ser aexpressão de um pensamento coleti-vo, geral. Em abril de 1867, com-pletou o seu primeiro período dece-nal. Nesse intervalo, os princípiosfundamentais, cujas bases ele assen-tara, foram sucessivamente comple-tados e desenvolvidos, por virtude daprogressividade do ensino dos Espíri-tos. Nenhum, porém, recebeu des-mentido da experiência; todos, semexceção, permaneceram de pé, maisvivazes do que nunca, enquantoque, de todas as idéias contraditóriasque alguns tentaram opor-lhe, ne-nhuma prevaleceu, precisamenteporque, de todos os lados, era ensina-do o contrário. Este o resultado ca-racterístico que podemos proclamarsem vaidade, pois que jamais nosatribuímos o mérito de tal fato.

Os mesmos escrúpulos havendopresidido à redação das nossas ou-tras obras, pudemos, com toda averdade, dizê-las: segundo o Espi-ritismo, porque estávamos certo daconformidade delas com o ensinogeral dos Espíritos. O mesmo suce-de com esta, que podemos, por mo-tivos semelhantes, apresentar comocomplemento das que a precede-ram, com exceção, todavia, de al-gumas teorias ainda hipotéticas,que tivemos o cuidado de indicarcomo tais e que devem ser conside-radas simples opiniões pessoais, en-quanto não forem confirmadas oucontraditadas, a fim de que não pe-se sobre a doutrina a responsabili-dade delas.”

Depois dessa ressalva inspira-da, oportuna e providencial, vemlogo a seguir o primeiro capítulode A Gênese, em que o autor, tal-vez em reforço do que fizera em OEvangelho segundo o Espiritismo,teve, uma vez mais, o bom senso ea prudência de assinalar, tambémdessa feita no trabalho de abertu-ra, os caracteres de identificação daautenticidade dos ensinos e conhe-cimentos do Espiritismo. Diz elena Introdução: “Antes de entrarmosem matéria, pareceu-nos necessáriodefinir claramente os papéis respec-tivos dos Espíritos e dos homens naelaboração da nova doutrina. Essasconsiderações preliminares, que aescoimam de toda idéia de misticis-mo, fazem objeto do primeiro capí-

tulo, intitulado: Caracteres da re-velação espírita. Pedimos séria aten-ção para esse ponto, porque, de cer-to modo, está aí o nó da questão.”

Quem quer que leia, atenta ecuidadosamente, as obras da Codi-ficação, jamais conseguiria separara contribuição humana de AllanKardec da atividade intelectualpropriamente dita dos Espíritos, seos seus comentários grandementeesclarecedores e instrutivos não fi-gurassem destacados e em caracte-res gráficos diferentes. A identida-de de pensamento entre ele e asEntidades que o assistiam é sim-plesmente admirável.

Assim, quando algumas pes-soas menos esclarecidas empregama palavra Kardecismo para designaro Espiritismo, apenas incorrem numequívoco de denominação e não deinterpretação, porquanto, se estasduas palavras não são sinônimas en-tre si, Codificação Kardequiana eDoutrina Espírita são a mesma coi-sa, o que equivale a dizer: Codifica-ção Kardequiana é Doutrina Espíri-ta.

Por que então teria o Ilumina-do de Lyon posto tanto empenhoem nos despertar a atenção parapontos doutrinários que apenas re-fletiam pensamentos seus, quandoatribui à obra por ele escrita caráterde essencialidade no conjunto dasdemais? Por que não o fez com re-lação às outras, das quais participouativamente, em estreitíssima e fe-

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cunda colaboração com os Instru-tores Espirituais?

A resposta está lá no trechotranscrito.

Independentemente dela, con-cluímos muito logicamente que, se-jam quais forem as nossas condi-ções de profitentes do Espiritismo,jamais poderemos e deveremosapresentar-nos como instrumentosde sua divulgação, se o objeto de

nossas dissertações, escritas ou fala-das, não refletirem cristalinamentea essência dos ensinos e conheci-mentos doutrinário-evangélicos trans-mitidos pelos Emissários do Senhor.

O fato de escrevermos ou falar-mos como espiritistas nem semprequer dizer que estejamos falando ouescrevendo verdadeiramente sobreo Espiritismo ou a respeito das ver-dades da Doutrina Espírita.

Kardec colocou-se na condiçãode quem falava em seu próprio no-me, para que ninguém se sentisse,um dia, no direito de falar ou escre-ver em nome do Espiritismo, quan-do o que estivesse em pauta fossempontos de vista pessoais, sem a ho-mologação dos seus postulados oua indispensável concordância comeles.

De acordo com o que anunciaram os meios decomunicação, há cerca de vinte anos, foi im-plementado um projeto de criação de um ban-

co de sêmen, cujos doadores foram homens super-dotados, especialmente ganhadores de prêmio Nobel.Dezenas de inseminações foram feitas com esperma-tozóides desse banco.

A intenção era a de conseguir que nascessemcrianças geniais, considerando-se que os pais eramsuperdotados.

Recentemente, a revista Veja, em sua ediçãono 1.767 (ano 35, no 35), publicou interessante repor-tagem sobre o assunto. Afirma a reportagem que osfilhos desses homens superdotados têm inteligêncianormal. Segundo ela, “o único ser identificado pu-blicamente desde bebê, Doron Blake, tem 20 anos,toca cítara e quer distância das aulas de ciências”.

Nós espíritas, não esperávamos que os filhos des-ses homens de inteligência excepcional fossem todosgênios. Poderia acontecer um ou outro caso, mascom as mesmas possibilidades da população em ge-

ral. A reportagem cita as palavras de Vera Fehér, su-pervisora do Banco de Sêmen do Hospital AlbertEinsten, de São Paulo: “As características físicas são,com certeza, herdadas pela criança. Quanto a parti-cularidades como inteligência ou dotes artísticos,ninguém sabe se são transmitidos ou não.”

A Doutrina Espírita confirma que a herança ge-nética é um fato. Por outro lado, ensina que a inteli-gência é atributo do espírito. É conquista de cadaum, no esforço para evoluir. O homem pouco inte-ligente é um Espírito que não desenvolveu bem a in-teligência nas encarnações anteriores. Há também ca-sos de Espíritos muito inteligentes, mas que estãoencarnados num corpo físico com determinadas de-ficiências que impedem a manifestação da inteligên-cia. Um Espírito muito evoluído pode reencarnar co-mo filho de pais pouco inteligentes e demonstrarverdadeira genialidade.

Da mesma forma que a inteligência, os senti-mentos não são atributos do corpo, mas do Espíri-to em sua caminhada evolutiva; são conquistas decada um. Resultam do esforço, do exercício das vir-tudes.

Os pais podem passar para os filhos o corpo fí-sico; não a inteligência, nem os sentimentos. Mas po-dem ajudá-los a desenvolver tanto a inteligência co-mo os sentimentos.

Filhos de gênios: o que são?Umberto Ferreira

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Reformador/Abril 2003 11129

Mediante uma análise profun-da a respeito do Mundo Es-piritual, constata-se a difi-

culdade existente para definir-se aconstituição molecular em torno dasua realidade, especialmente quan-do se pretende auxiliar o viandanteterreno com explicações que lhe fa-cultem melhor compreensão da suacausalidade.

Utilizando-se do atual conhe-cimento da Física Quântica a res-peito da energia, podem-se elaborarformulações por paralelismos, elu-cidando-se que tudo quanto existeno planeta terrestre, com as suasformas e manifestações, igualmen-te cá se originam em campos vibra-tórios mui especiais. Todavia, nemtudo aquilo que aqui tem legitimi-dade se encontra em forma conden-sada na Terra, por desnecessidademomentânea ou em razão dos pro-cessos evolutivos ainda não seremequivalentes.

Dessa forma, as explicações,por mais claras, normalmente es-barram em complexidades que so-mente através do tempo encontra-rão conveniente compreensão, àmedida que o conhecimento huma-no se torna mais amplo e as revela-ções se fazem mais acessíveis.

Em razão disso, não poucas ve-zes aparecem, no Movimento Espí-

rita, informações distorcidas ou es-tranhas em torno de ocorrências efenômenos que não podem ser con-firmados, nem aceitos, simples-mente pelo fato de se apresentarem como revelação mediúnica respei-tável.

Convém sempre ter-se em con-ta que os Espíritos zombeteirosmuito se comprazem em iludir ascriaturas humanas, apresentando--lhes narrações fantasiosas ou sub-metendo-as a pavores injustificá-veis, em torno de situações noAlém-túmulo, que funcionam co-mo verdadeiros mecanismos puni-tivos, substituindo as lamentáveispenas religiosas do passado, nasquais, o amor e a misericórdia deDeus se encontrariam distantes, in-diferentes.

Sem dúvida, cada Espírito éherdeiro das suas próprias realiza-ções. Nada obstante, o amor luz so-berano em toda parte, modificandoas paisagens infelizes e ensejando re-novação e esperança, alegria e feli-cidade para todos.

Outras vezes, Entidades pseu-do-sábias, desejando apresentar aspaisagens espirituais para a reflexãoterrestre, operam de maneira per-turbadora, oferecendo uma visãoincorreta, na qual permanece aidéia de que além da morte tudosucede conforme se conhece na Ter-ra, utilizando-se, inclusive, da mes-ma linguagem e das suas constru-ções verbais.

É certo que, em nosso mundo

mental, as operações desenvolvem--se de maneira mui específica, e asconstruções em nossa Esfera deação decorrem de labores muitobem programados, de forma que,oportunamente, se condensem naTerra, conforme vem ocorrendo,graças aos incomparáveis contribu-tos da Ciência e da Tecnologia, damoral e da ética.

Não se deve porém adaptar àlinguagem humana todas as ocor-rências de difícil explicação, espe-cialmente aquelas de referência à vi-da espiritual, deixando impressõesdeficientes em torno da sua legiti-midade ou facultando desvios deinterpretação da sua realidade.

Os Espíritos desencarnados te-mos muito interesse em equipar oscompanheiros da vilegiatura terre-na com informações corretas emtorno da vida e das suas diretrizes,a fim de que possam avançar comsegurança pelo rumo iluminativo.No entanto, muitas vezes, o quepoderia ser um auxílio eficientetransforma-se em contribuição pre-cipitada, inoportuna, por falta decapacidade de entendimento dequantos se interessam pela própriaimortalidade.

Nesse capítulo, o das revela-ções, é comum ocorrer o fenômenoanímico, em que o médium, des-cuidado ou ambicioso, preocupadocom a projeção do ego, elabora teo-rias, consciente ou inconsciente-mente, em torno da Erraticidade, edeixa-se seduzir pela ilusão de que

Fantasias anímicas

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12 Reformador/Abril 2003130

se encontra em sintonia com Enti-dades venerandas, transferindo, de-les mesmos, os clichês elaborados,como se fossem de procedência es-piritual.

São tão chocantes, às vezes, es-sas notícias, que dão a idéia de nosencontrarmos em um mundo físi-co, com as suas mesmas Instituiçõese atividades, nas quais, nada de ori-ginal existe. Certamente, a nossa éuma sociedade ativa, rica de aspi-rações e de trabalho, marchandoascensionalmente em todas as Esfe-ras em que se encontra, no rumosempre do Mais Alto e Mais Subli-me.

O médium seguro, conforme aconceituação kardequiana, é aque-le que transmite a mensagem con-forme o seu autor espiritual e nãode acordo com as próprias convic-ções, procurando dar validade àspróprias conceituações. Não é deestranhar-se que, em muitas opor-tunidades, o conteúdo das informa-ções de que se faz instrumento ébem diverso ou mesmo antagônicodaquilo que pensa, esclarecendo-se,portanto, e mudando a maneira deaceitar.

Quando isso não ocorre, fusti-gado pela necessidade de competirno cenário humano, procura desta-que através de revelações suspeitasou desastrosas, de sutis acusaçõesaos demais companheiros, assumin-do papel de servidor humilde, em-bora acionado por mentes desali-nhadas, que pretendem expô-lo aoridículo ou querem gerar perturba-ção no Movimento doutrinário quese expande.

É sempre de bom alvitre que seresguarde o médium de qualquersensacionalismo, evitando divulgaridéias estapafúrdias ou fantasiosas,

sem a pretensão de ser um reveladorpor excelência, envolvendo-se emquestões que lhe não dizem respei-to, a fim de ser preservado o bomnome da mediunidade a serviço deJesus.

O Mestre, por excelência, emse referindo à reencarnação de Eliascomo João Batista, por exemplo,embora a afirmação apresentada,evitou escandalizar a opinião vigen-te, não sendo enfático e irretorquí-vel na questão...

A respeito da pluralidade dosmundos habitados, igualmente foisintético, informando apenas quena Casa do Pai há muitas moradas.

Sem dúvida, tem cabido àDoutrina Espírita a nobre tarefa dedesvendar e esclarecer essas ques-tões, atualizando-as, sem porém fu-gir às circunstâncias existentes e àcapacidade de discernimento da-queles que se empenham na saudá-vel aprendizagem dos seus ensina-mentos.

Evitar-se, portanto, o delírio,em relação às informações espiri-tuais, com as tintas da imaginaçãoexacerbada, é medida recomendávelpelo bom senso espírita, especial-mente neste momento de gravestranstornos que afetam a criaturahumana em particular e a socieda-de em geral.

Ainda, neste capítulo, é de to-do conveniente permanecer-se vigi-lante a respeito da advertência doEspírito Erasto ao Codificador,quando assinalou: “Na dúvida, abs-tém-te, diz um dos vossos velhosprovérbios. Não admitais, portan-to, senão o que seja, aos vossos olhos,de manifesta evidência. Desde queuma opinião nova venha a ser ex-pendida, por pouco que vos pareçaduvidosa, fazei-a passar pelo crisol

da razão e da lógica e rejeitai de-sassombradamente o que a razão eo bom senso reprovarem. Melhor érepelir dez verdades do que admi-tir uma única falsidade, uma sóteoria errônea.”

O fato de deixar-se ao tempopara posterior confirmação deter-minadas informações, em nada per-turbará a conduta do estudioso doEspiritismo, cuja base essencial devivência deverá ser a sua constanteluta em favor da própria transfor-mação moral, da superação das ten-dências e paixões inferiores, traba-lhando pela auto-iluminação.

Não se colocando como fun-damental a revelação mediúnica oua informação anímica em torno doMundo Espiritual e das atividadesque têm seu campo de ação, o im-portante é cada qual dedicar-se aoestudo da Codificação com serieda-de, evitando fantasias e desviosdoutrinários a pretexto de inovar,de completar e de ampliar os hori-zontes do conhecimento espírita.

Por outro lado, cabe aos mé-diuns manter-se discretos e solícitosàs sugestões dos bons Espíritos, evi-tando o campeonato das promo-ções pessoais e das disputas de ter-reno através do exibicionismo dasfaculdades de que sejam ou nãoportadores, perseverando nos pro-pósitos saudáveis recomendados pe-lo Evangelho de Jesus e pela diretrizda Caridade, fora da qual não hásalvação.

Manoel P. de Miranda

(Página psicografada pelo médium Dival-do P. Franco, no Centro Espírita Cami-nho da Redenção, no dia 23 de janeiro de2003, em Salvador, Bahia.)

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Toda crença é respeitável.No entanto, se buscaste a Doutrina Espírita, não

lhe negues fidelidade....

Toda religião é sublime.No entanto, só a Doutrina Espírita consegue ex-

plicar-te os fenômenos mediúnicos em que toda reli-gião se baseia.

...Toda religião é santa nas intenções.No entanto, só a Doutrina Espírita pode guiar-te

na solução dos problemas do destino e da dor....

Toda religião auxilia.No entanto, só a Doutrina Espírita é capaz de

exonerar-te do pavor ilusório do inferno, que apenassubsiste na consciência culpada.

...Toda religião é conforto na morte.No entanto, só a Doutrina Espírita é suscetível de

descerrar a continuidade da vida, além do sepulcro....

Toda religião apregoa o bem como preço do pa-raíso aos seus profitentes.

No entanto, só a Doutrina Espírita estabelece acaridade incondicional como simples dever.

...Toda religião exorciza os Espíritos infelizes.No entanto, só a Doutrina Espírita se dispõe a

abraçá-los, como a doentes, neles reconhecendo aspróprias criaturas humanas desencarnadas, em outrasfaixas de evolução.

...Toda religião educa sempre.No entanto, só a Doutrina Espírita é aquela em

que se permite o livre exame, com o sentimento livrede compressões dogmáticas, para que a fé contemplea razão, face a face.

...Toda religião fala de penas e recompensas.No entanto, só a Doutrina Espírita elucida que to-

dos colheremos conforme a plantação que tenhamoslançado à vida, sem qualquer privilégio na Justiça Divina.

...Toda religião erguida em princípios nobres, mes-

mo as que vigem nos outros continentes, embora nospareçam estranhas, guardam a essência cristã.

No entanto, só a Doutrina Espírita nos oferece achave precisa para a verdadeira interpretação do Evan-gelho.

...Porque a Doutrina Espírita é em si a liberalidade

e o entendimento, há quem julgue seja ela obrigada amisturar-se com todas as aventuras marginais e comtodos os exotismos, sob pena de fugir aos impositivosda fraternidade que veicula.

Dignifica, assim, a Doutrina que te consola e li-berta, vigiando-lhe a pureza e a simplicidade, para quenão colabores, sem perceber, nos vícios da ignorânciae nos crimes do pensamento.

“Espírita” deve ser o teu caráter, ainda mesmo tesintas em reajuste, depois da queda.

“Espírita” deve ser a tua conduta, ainda mesmoque estejas em duras experiências.

“Espírita” deve ser o nome de teu nome, aindamesmo respires em aflitivos combates contigo mesmo.

“Espírita” deve ser o claro adjetivo de tua institui-ção, ainda mesmo que, por isso, te faltem as passagei-ras subvenções e honrarias terrestres.

Doutrina Espírita quer dizer Doutrina do Cristo.E a Doutrina do Cristo é a doutrina do aperfei-

çoamento moral em todos os mundos.Guarda-a, pois, na existência, como sendo a

tua responsabilidade mais alta, porque dia virá emque serás naturalmente convidado a prestar-lhecontas.

Emmanuel

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Religião dos Espíritos,14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001, p. 227-229.

PRESENÇA DE CHICO XAVIERPRESENÇA DE CHICO XAVIER

Doutrina Espírita

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14 Reformador/Abril 2003

Mateus, 13:44

Em várias passagens Jesus re-porta-se ao Reino dos Céus, ouo Reino de Deus, ou, simples-

mente, O Reino.São expressões equivalentes.A teologia medieval concebeu

que Jesus veio instalá-lo, o que su-gere que a Terra não estava sob a re-gência divina.

Permanecia acéfala? Um tanto estranho, amigo lei-

tor, se considerarmos que Deus éo Criador, o Senhor supremo, pre-sença imanente, cujas leis têm vi-gência em todos os quadrantes doUniverso.

Não encontraremos uma sógaláxia, um só sistema solar, um sóplaneta, um só recanto, por maisremoto, onde o Todo-Poderoso es-teja ausente.

Deus é a consciência cósmicado Universo. Permanece em tudo eem todos.

Estamos mergulhados nas bên-çãos divinas, como peixes do ocea-no.

...

Se nascemos no Brasil, se aquivivemos, legalmente somos cida-dãos brasileiros.

Mas, sob o ponto de vista mo-ral, essa cidadania só será legitima-da pelo empenho em cumprir asleis do país, o que implica a obser-vância de nossos deveres perante acomunidade, zelando por seu equi-líbrio e bem-estar.

Algo semelhante acontece como Reino.

Se há um Reino Universal regi-do por Deus, somos todos seussúditos.

Não obstante, isso pouco sig-nifica, se não nos preocupamos emcumprir o que Deus espera de nós.

Por isso Jesus diz (Lucas, 17:20--21):

O Reino de Deus não vem comaparência visível. Nem dirão: Ei-loaqui! Ou: Ei-lo ali! Porque o reinode Deus está dentro de vós.

O problema, então, não é en-trar no Reino. Vivemos nele.

O problema é o Reino entrarem nós.

...

Em várias parábolas Jesus nosdiz como alcançar essa realização.

No tempo antigo não haviaBancos para depositar bens amoe-dados; então, as pessoas os escon-diam em terrenos isolados, de suapropriedade.

Não raro, esses tesouros seperdiam pelo falecimento do pro-prietário. Quem os encontrasse po-dia entrar na posse deles, desdeque comprasse as respectivas gle-bas.

Havia pessoas que se especiali-zavam nessa lucrativa atividade, ca-çadores de tesouros, que ainda ho-je povoam o imaginário popular.

Jesus usa essa imagem para noscontar sugestiva parábola.

O Reino dos Céus é semelhan-te a um tesouro escondido numcampo.

Um homem o encontra e es-conde-o novamente.

Feliz, vende tudo o que tem ecompra aquele campo.

O Reino seria aquele estado depaz, de tranqüilidade e alegria, nopleno cumprimento das leis divi-nas, que nos habilita a desfrutar asbênçãos de Deus.

No simbolismo evangélico, si-tua-se como um tesouro oculto emrecôndita região de nossa consciên-cia, no solo de nossas cogitaçõesexistenciais.

Custa caro.Para sua aquisição, que equiva-

le à posse de nós mesmos, impe-rioso nos desfaçamos de inúmerosbens, entre aspas, porquanto maisnos atrapalham que ajudam.

São elefantes brancos.

...

No antigo reino de Sião, atualTailândia, o raro elefante branco eraanimal sagrado.

Quando o rei queria punir al-guém, oferecia-lhe um. O súditosentia-se honrado, mas logo perce-bia tratar-se de um “presente degrego”.

Deveria dispensar sofisticadoscuidados com o animal. Alimentá--lo com iguarias caras, colocar-lheenfeites, ter empregados para cuidardele…

Acabava arruinado.

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Elefantes brancosRichard Simonetti

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Algo semelhante ocorre em nos-sa vida.

Há elefantes brancos em nossocaminho.

Temos satisfação com eles, emprincípio, mas logo percebemosque nos causam prejuízos imensos.

Alguns deles:

AmbiçãoRiqueza, poder, destaque so-

cial, prestígio, constituem o anseiode muitos.

Para sustentar esse elefantebranco são consumidos o tempo, osideais, a espiritualidade.

O ambicioso só tem olhos pa-ra aquelas realizações.

Toma gosto pelos bens mate-riais, que sendo apenas parte da vi-da, convertem-se, para ele, em fina-lidade dela.

Deixa de ser dono de seu di-nheiro.

Situa-se escravo dele.Rico materialmente, mendigo

de paz.Parafraseando Jesus, pode-

mos dizer que é mais fácil esse ele-fante branco passar pelo fundo deuma agulha do que seu proprietárioentrar no Reino.

VícioEm princípio esse elefante bran-

co nos oferece o Céu.O fumo tranqüiliza.O álcool desinibe.As drogas produzem euforia.Mas é céu artificial, precário,

que nos leva, invariavelmente, aoinferno da dependência.

Enquanto o usuário está sobseu efeito é ótimo.

Logo, porém, o corpo cobranovas doses, submetendo-o a an-gústias e tensões terríveis.

Assim, oscila entre o céu e oinferno.

Cada vez menos céu; cada vezmais inferno, na medida em que seamplia a dependência. E nele seinstala de vez, quando retorna aoplano espiritual, antes do tempo,expulso do próprio corpo que des-truiu.

Em terrível destrambelho, so-fre horrivelmente, em longos e do-lorosos estágios em regiões lúgubrese trevosas, habitadas por compa-nheiros de infortúnio.

Ao reencarnar, os desajustesprovocados em seu corpo espiritualse refletirão na nova estrutura físi-ca, dando origem a males variados,dolorosos, angustiantes, mas neces-sários.

Funcionam como válvulas deescoamento das impurezas de quese impregnou, ao mesmo tempoem que o ajudam a superar entra-nhados condicionamentos, que fa-talmente o induziriam à retomadada viciação.

Se o viciado tivesse a mínimanoção do futuro dantesco que o es-pera, ficaria horrorizado.

Haveria de lutar com todas asforças de sua alma para livrar-sedesse elefante branco.

SexoDádiva divina, é por intermé-

dio dele que entramos na vida ter-restre, além de favorecer gratifican-te momento de intimidade entre ohomem e a mulher.

Entretanto, vivemos temposperigosos, de liberdade sexual con-fundida com libertinagem. O sexodeixou de ser parte do amor paratransformar-se no amor por inteiro.

Hoje, casais que mal se conhe-cem falam em fazer amor, pensan-

do em comunhão sexual sem com-promisso, em lamentável promis-cuidade.

É um tremendo elefante bran-co.

Oferece prazer em princípio,mas cobra muita inquietação de-pois, e uma perene insatisfação.

Com a troca constante de par-ceiros e a busca desenfreada de pra-zer o indivíduo cai no desvairo se-xual, envolvendo-se em compro-metedoras perversões.

Paixão Fixado em alguém, empolgado

pela comunhão carnal, o apaixonadoestende as raízes de sua estabilidadefísica e psíquica no objeto de seus de-sejos e passa a viver em sua função.

Se a relação não dá certo e vemo rompimento, é uma tragédia.

Suicídios, crimes passionais,loucuras variadas são mera decor-rência.

Quando o amor deixa de serum ato de doação, rebaixado aomero desejo de posse, em que pre-tendemos que o ser amado se sub-meta aos nossos caprichos, trans-forma-se em voraz elefante brancoque nos exaure e desajusta.

...

Não nos tornaremos santos dodia para a noite, campeões do Evan-gelho, apóstolos do Bem, mesmoporque a natureza não dá saltos.

Mas em nosso próprio benefí-cio é preciso avaliar se não estamossustentando dispendiosos elefantesbrancos, que nos empobrecem.

Com eles fica impossível ocultivo de aspirações superiores, nosolo sagrado do coração, para aconquista do almejado tesouro di-vino.

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AFilosofia, por mais que conce-besse teorias e deduzisse ila-ções acerca da origem e do fu-

turo do homem, se não houvessebuscado em Deus a resposta paratodos os grandes enigmas do pensa-mento humano, não passaria deum amontoado de palavras e con-cepções vazias, sem racionalidade,como cegos sem a visão do Sol, emplena luz do dia!...

Enquanto a Ciência investiga,tendo por objeto o concreto, iden-tificando os mecanismos profundosda natureza física, seja na litosfera,na hidrosfera, na atmosfera e, alémdesta, vislumbrando, numa visãomais ampla, no campo da vida cós-mica, sinais da presença de elemen-tos orgânicos em outros orbes, aFilosofia propõe-se a explicar ascausas dos conflitos humanos e ademonstrar, embora no campo sub-jetivo, as interrogações da nossaconsciência. O conhecimento dosfilósofos e dos fisiologistas não po-de encontrar outra conclusão, senãoa de que Deus é a inteligência su-prema do Universo, como respon-deram os Espíritos Superiores à per-gunta no 1, inserida em O Livro dosEspíritos, publicado por Allan Kar-dec, como obra fundamental doEspiritismo.

Buscando a Deus, o homem

atende à sua própria condição de fi-lho do Altíssimo. Todos os seres hu-manos trazem, no coração e nopensamento, o toque da Paternida-de Divina! Mesmo como selvagens,todos nós, na antropogênese distan-te, trazíamos como idéia inata a cer-teza de um Ser Superior, que a to-dos nos dirige, embora, em nossa

condição de ignorância e selvage-ria, não compreendêssemos que,em vez de temer, deveríamos amara esse Ser Superior, pois os cultosaos ídolos e as concepções antropo-mórficas acerca de Nosso Pai Ce-leste resultaram da indigência men-tal em que transitamos durantemilênios, nos evos insondáveis daPré-História.

A Doutrina Espírita, codifica-da por Allan Kardec e reveladapelos Espíritos Superiores, emcumprimento à promessa de Je-sus-Cristo, de que rogaria a Deuspara que nos enviasse o Consola-dor – conforme se encontra inse-rido no Evangelho segundo João–, baseia-se, fundamentalmente,na idéia de Deus e demonstra,através de fatos inequívocos, que aalma é imortal, preexistindo e so-breexistindo ao homem físico,além de preconizar a transforma-ção moral da criatura humana, se-guindo os padrões do Evangelhode Jesus e afirmando que todosnós estamos a caminho da evolu-ção e nos submetemos, incoerci-velmente, à augusta Lei da Reen-carnação, no processo maravilhosode nossa própria transformaçãocomo individualidade que, origi-nária de Deus, traz em si mesma ogerme do progresso. Dessa forma,teremos que construir por nósmesmos os valores profundos denossa verdadeira felicidade, aten-dendo às determinantes da Lei deAmor, Justiça e Caridade, que nospropicia, com eqüidade, os meiosde caminhar com nossos própriospés, com a liberdade que o livre--arbítrio proporciona, dentro daslimitações estabelecidas pelo de-terminismo, para que o discerni-mento entre o bem e o mal possaclarear a consciência de cada um,herdeiros que somos todos nós doamor infinito de Deus!

Em busca de DeusIsmael Ramos das Neves

Teremos que

construir por nós

mesmos os valores

profundos de

nossa verdadeira

felicidade, atendendo

às determinantes da

Lei de Amor, Justiça

e Caridade

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Reformador/Abril 2003 17

Sem dúvida, existem diferençasmarcantes nos fatos da vida,que concernem às expiações e

às provas a que estão sujeitos os en-carnados na Terra.

Os pungentes sofrimentos e asprofundas dores que ponteiam os ca-minhos das criaturas, constituindo--se fatos inevitáveis, são as expiações.Eles são o processo de que se utilizao automatismo da Lei de Justiça pa-ra promover os resgates inevitáveisdos delitos praticados por elas, con-tra o direito dos semelhantes, quan-do no pleno uso da razão e do livre--arbítrio que lhes foi concedido pelaDivina Sabedoria.

Consoante a gravidade do malcausado será a intensidade do sofri-mento correspondente. Geram ex-piações tanto os delitos causados in-dividualmente, como pelas coletivi-dades, e a reincidência no crimepraticado sempre agravará a inten-sidade da dor.

A variedade de maneiras comque são expiadas as faltas é infinita,impossível de serem enumeradas, jápela complexidade dos fatores en-volvidos, já pela impossibilidade depenetrar-se a intimidade do calceta,a cujo íntimo apenas a Justiça Divi-na tem acesso total.

Desses sofrimentos pungentes,são exemplos a paraplegia, o mon-golismo, a cegueira, a surdez, a mu-dez, a macrocefalia e a microcefalia,

a idiotia, a hanseníase, lesões denascença, além de outros muitos,numerosos e imperceptíveis à obser-vação humana.

Expiar é, pois, sofrer conse-qüências que permitem ao Espíritosentir, para avaliar com exatidão, ador que infligiu aos semelhantes nopassado, quando se desviou do ca-minho do bem, ignorando os ape-los do bom senso, da lógica e da ra-zão, para a prática da fraternidade edo amor; é a maneira de escoimardo próprio acervo os gravames quelhe impedem a felicidade, a paz e aascensão às Esferas de Luz!

Não se trata de vingança porparte da Justiça Divina, mas de pro-mover a sedimentação de experiên-cias, passando pelos sofrimentosidênticos aos que provocou!

As expiações em geral são irrever-síveis, e inscritas na natureza intrínse-ca do perispírito, para eclodirem nomomento oportuno, com o surgi-mento da maturação conveniente.

Quando se demora entregueaos embalos das paixões, prazeres egozos da vida material, o homem,por sua fraqueza, se deixa dominar,escravizando-se aos vícios, em suasinfinitamente variadas modalidades;por isso, através das reencarnaçõessucessivas, deverá aplicar-se ao tra-balho de dominá-los, solicitandopor vezes, no estágio pré-encar-natório, durante o período da erra-ticidade, quando do planejamentodo programa reencarnatório, limi-tações que lhe facilitem combater evencer aquelas dependências.

Assim, em cada estágio na cros-ta planetária, viverá as condiçõesque lhe facultem a vitória, as quaisse repetirão, até que possa demons-trar amplamente haver superadoaquele obstáculo à própria felicida-de: isto constitui a provação. Seuobjetivo é “provar” a capacidade desuperação. A provação não se cons-titui, por essa razão, um resgate porcrime, delito ou pecado praticadocontra o semelhante, mas uma fal-ta praticada contra si próprio, umdesrespeito à cidadania divina ou-torgada ao ser pelo Criador.

O alcoolismo, a toxicomania, agula, a cleptomania, a sensualidadedegenerada, o suicídio e mais outrasinúmeras modalidades de criarmoshábitos nocivos, que entenebrecema natureza espiritual, e que nos po-dem escravizar, até que consigamossuperá-los, constituem razões deprovação nas reencarnações dos Es-píritos. Outras vezes, nas provações,o que se objetiva é vencer o perso-nalismo e a egolatria pelo exercíciodos elevados atributos da alma,combatendo a vaidade e o orgulho,com a reencarnação em condiçãohumilde na vida social da Terra.

Seria tarefa dificílima, talvezimpossível, estabelecer rígidos limi-tes, separando provações e expia-ções, mesmo porque, muitas vezes,numa mesma existência, a criaturaconcentra, em seu programa re-encarnatório, as duas condições,quando se acha suficientementefortalecida para o tentame de ven-cê-las ao mesmo tempo. >

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Expiações e provasMauro Paiva Fonseca

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18 Reformador/Abril 2003

> A razão das expiações e dasprovações é sempre o estado de re-beldia, intolerância, ignorância, re-volta, indiferença, negligência, má--vontade, ociosidade, comodismoetc., em que se conserva o ser hu-mano, não compreendendo as leisque governam a vida nem a realida-de que o aguarda além-túmulo.

...Oh! Insensato que reclamas

por teres de caminhar sobre as ur-zes que tu próprio plantaste, ten-tando fazer da revolta e rebeldia di-reitos legítimos, quando nada nelaspoderá mudar o destino que criastecom o livre-arbítrio, quando negli-genciaste os deveres do Espírito. Osacontecimentos do destino têm to-dos uma razão justa e lógica, poisestão rigidamente atrelados às leisque nos governam a vida!

Quando irás abandonar os fol-guedos da vida material para assu-mires a origem divina, apanágio danatureza espiritual? Os esforços querecusas empreender agora serão exi-gidos mais adiante, quiçá em cir-cunstâncias muito piores!

Perquire os refolhos da cons-ciência com serena humildade, e elaresponderá que a dor nada mais éque a alavanca do progresso! É anossa aliada na batalha contra a in-ferioridade que nos oprime. Culpá--la pela desdita será o mesmo queacusar de maligno o remédio amar-go que nos poderá curar as mazelasda natureza física! Olha e analisasem complacência a intimidade daconsciência, e procura descobrir aschagas purulentas da alma, que pre-cisam ser curadas.

Aprende que na renúncia aosprazeres, paixões e gozos da vidamaterial está a chave do céu! Silen-

cia os impulsos inferiores do cora-ção, entendendo que eles são o re-manescente da natureza animal queainda carregas, e que devem ser su-perados. Não te deixes atingir pelasfarpas agudas da inconformação, darevolta e do desespero; aceita comcoragem e resignação as inevitáveisconseqüências dos erros do passado.

Não te desculpes acusando osemelhante que atravessa teu cami-nho, por tua desdita; ele é um ir-mão, e, como tu, cheio de limita-ções e vilezas; por isso, o CriadorSupremo, algumas vezes o utilizacomo instrumento do teu progres-so, para que exercites, à custa dassuas imperfeições, os elevados atri-butos morais do Espírito que são:humildade, caridade, resignação,

paciência, complacência, tolerânciae perdão...

Homem do Mundo, por queretardas o inevitável? Não entendesque a lei do progresso é compulsó-ria? Aperta o passo; urge sacudir aindolência! Crê, a ventura é o prê-mio do esforço!

O acaso é uma palavra inven-tada pelos desesperançados e des-crentes, para ocultar a incapacidadede compreender e a falta de humil-dade para aceitar o domínio exerci-do pelas Leis do Criador sobre to-dos nós. A vida é um encadea-mento contínuo de causas e conse-qüências. Vivamos intensamente,mas com as vistas voltadas para oEspírito, natureza eterna que animatodos nós!

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A União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo realiza emCampinas (SP), no período de 17 a 20 deste mês, no Hotel Nacional Inn,o 12o Congresso Estadual de Espiritismo, com o tema central Movimen-to Espírita – Novos Horizontes. A palestra de abertura, às 20 horas do dia17, será proferida por Divaldo Pereira Franco, para o público em geral, noGinásio do Guarany.

Congresso Espírita da USE

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Reformador/Abril 2003 137 19

Já desde as primeiras horas do Movimento Espírita, AllanKardec se viu a braços com a

questão da oportunidade de se pu-blicar, ou não, o que os Espíritosproduziam pela psicografia. A suaRevue Spirite ainda não atingia osegundo ano de existência, e o pro-blema já era suscitado por um lei-tor, dando ensejo a que o Codifica-dor estampasse sugestivo texto emo número de novembro de 1859 doprimeiro periódico espírita nomundo. E, não obstante desenvol-ver o tema com abundante argu-mentação, Kardec sintetiza a res-posta logo às primeiras linhas,emitindo-a com outra pergunta:“Seria bom publicar tudo quantodizem e pensam os homens?”

O adepto esclarecido terá cer-tamente vislumbrado todo o imen-so universo implícito na expressãode Kardec, universo que ele pacien-temente desbravava, conduzido pe-los Espíritos reveladores, e de que OLivro dos Espíritos bosquejava os tra-ços principais: – entre os Espíritoshá os de todas as classes, em todosos graus de conhecimento e mora-lidade, assim como entre os ho-mens, pelo que se impõe o examerigoroso de tudo o que eles digam e

escrevam. Entre tantas expressõesjudiciosas desse artigo, destacamosa seguinte, por reconhecê-la bastan-te afinada com o propósito de nos-so escrito: “Publicar sem exame, ousem corretivo, tudo quanto vem destafonte, seria, em nossa opinião, darprova de pouco discernimento.”

O ano de 1863 denuncia ine-quívoco crescimento do Movimen-to Espírita, ainda sob a conduçãode Allan Kardec, a traduzir-se, en-tre tantos outros sinais, pelo volu-me de comunicações mediúnicas(3.600) enviadas ao Codificadorcom a esperança de publicação naRevue. Eliminadas as notoriamentemás, provenientes do elemento in-ferior do mundo invisível, grandequantidade encerrava bom conteú-do, mas nem todas preenchiam asmínimas condições para publica-ção. De modo geral, apesar de opor-tunas e úteis nos grupos em que fo-ram recebidas, assumiam carátercorriqueiro quando propostas aopúblico. Eis o juízo de Kardec:“(...) o que é de poderoso interesseindividual pode ser banalidade pa-ra a massa.” Outrossim, diante donatural desenvolvimento das capa-cidades mediúnicas e conseqüentealargamento do alcance de maissubstanciosas comunicações, aque-las submetidas a exame mostravam--se inexpressivamente bisonhas, oque também as distanciava do inte-resse do público, como o trabalho

de um escolar em comparação comas produções de um profissional.

No artigo publicado na Revuede maio de 1863, sob o título “Exa-me das comunicações mediúnicasque nos enviam”, Kardec nos ofere-ce mais esta criteriosa observação:“Uma coisa pode ser excelente em simesma, muito boa para servir deinstrução pessoal; mas o que deveser entregue ao público exige condi-ções especiais. Infelizmente, o ho-mem é inclinado a supor que tudoo que lhe agrada deve agradar aosoutros. O mais hábil pode enganar--se; tudo está em enganar-se o me-nos possível. Há Espíritos que secomprazem em alimentar essa ilu-são em certos médiuns. Por issonunca seria demais recomendar aestes não confiar em seu própriojulgamento.” (Destaque nosso.)

Das 3.600 comunicações, se-gundo o artigo supracitado, apenas100 conseguiram suportar o crivoseguro do Codificador, como por-tadoras de incontestável mérito. Émesmo provável que, dentre estas,algumas tivessem vindo a figurar noconjunto das obras da Codificação.

Nesse artigo de 1863, Kardecainda menciona os manuscritos, ouobras de fôlego, revelando igual-mente a baixíssima porcentagemdos que poderiam ser dados a públi-co sob a forma de livros. Nunca se-rá ocioso meditar acerca do que dizKardec sobre esse gênero de produ-

Critério de Allan Kardec:Salvaguarda do Movimento Espírita

Affonso Soares

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Reformador/Abril 2003138

ção mediúnica: “No mundo invisí-vel, como na Terra, não faltam es-critores, mas os bons são raros. TalEspírito é apto a ditar uma boa co-municação isolada, a dar excelenteconselho particular, mas é incapazde um trabalho de conjunto com-pleto, que suporte um exame, sejamquais forem suas pretensões e o nomecom que se proteja como garantia.Quanto mais alto o nome, mais obri-ga. Ora, é mais fácil tomar um no-me do que justificá-lo. Eis por que,ao lado de alguns bons pensamen-tos, encontram-se, por vezes, idéiasexcêntricas e os traços menos equí-vocos da mais profunda ignorân-cia. É nesta espécie de trabalhosmediúnicos que temos notado maissinais de obsessão, dos quais um dosmais freqüentes é a injunção daparte dos Espíritos para os im-primir.” (Destaque nosso.)

Quer-nos parecer que o proble-ma da inconveniência de se publicartudo o que os Espíritos dizem ou fa-lam permanece atualíssimo em nossoscírculos, não obstante os preventivosjá propostos, tanto nos escritos pes-soais de Kardec quanto, principal-mente, no próprio corpo das revela-ções que compõem o fundamentodoutrinário. Mas, infelizmente, o pre-cioso conteúdo das orientações fun-damentais tem sofrido a pressão decritérios que, por adquirirem preva-lência no mundo e contando comum certo relaxamento por parte dequem devia estar vigilante, vão inva-dindo nossos arraiais a pretexto, porexemplo, de falsa modernidade aliadaa interesses mercantis imediatistas, deduvidosa necessidade de renovação,de tolerância acomodatícia, tudo ali-mentado por um prejuízo básico queé a falta de estudo sério da Doutrina.

O fato é que hoje, no afã, em

princípio saudável, de se promovera divulgação das idéias espíritas, umfebricitante movimento editorial vaise distanciando do sólido e pruden-te critério seletivo já defendido epraticado por Allan Kardec, em fa-vor da colocação, no mercado livrei-ro espírita, de obras, principalmen-te mediúnicas, que não resistem aomais benevolente exame, assim con-tribuindo para um enfraquecimen-to qualitativo do Movimento Espí-rita, por disseminarem idéias extra-vagantes, novidades inconsistentes,

vestidas em textos sofríveis que tan-to mais prejuízos causam à divulga-ção quanto mais respeitáveis e emi-nentes são os nomes que os as-sinam. E, por enfraquecer-se o estu-do das substanciosas obras básicas,com que deveriam os novos adeptosse munir ao adentrarem nossos cír-culos, ficam estes privados do únicocritério que lhes daria possibilidadede repelir, sem condescendência, oque não encontra qualquer respaldona Revelação.

Além disso, nessa, por assim

dizer, “febre de publicação”, susci-ta-se a projeção, a evidência de mé-diuns sem qualquer lastro que asse-gure sólida confiança no que pro-duzem no campo da mediunidadepara literatura, especialidade aliásbastante rara segundo a classifica-ção dos médiuns especiais propos-ta no capítulo XVI de O Livro dosMédiuns, de Allan Kardec.

A desencarnação do querido esaudoso médium Chico Xaviertambém poderá suscitar, nos círcu-los dos aprendizes ou candidatos àmediunidade, a sugestão de que aprodução dos grandes Espíritos,que dele se serviram para ergueremum majestoso monumento lítero--doutrinário, deva ser continuada aqualquer preço. Isto certamenteensejaria novos prejuízos no campoda divulgação do Espiritismo, porpoderem disseminar-se textos abis-salmente distantes, no conteúdo ena forma, dos que hoje honram aliteratura espírita e dão créditoà mediunidade psicográfica.

Convém, portanto, a todosquantos militamos na sagrada searada divulgação e da prática do Espi-ritismo, uma séria reflexão sobre osprincípios exarados, tanto no crité-rio pessoal de Allan Kardec, quan-to nos ensinos dos Espíritos Supe-riores que revelaram a Doutrina.Não há outro caminho para evitar-mos os prejuízos acima citados. Sóassim protegeremos os novos adep-tos, fornecendo-lhes, com o bomestudo, o necessário critério paraque eles próprios rejeitem os con-teúdos notoriamente ruins. É nos-so dever, em última análise, preser-var o imenso patrimônio espirituale cultural que faz a Doutrina Espí-rita e a mediunidade respeitadas nasociedade.

20

É nosso dever

preservar o imenso

patrimônio espiritual

e cultural que faz a

Doutrina Espírita e

a mediunidade

respeitadas na

sociedade

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No trato com o invisível“E, chamando-os a si, disse-lhes por parábolas: Como

pode Satanás expulsar Satanás?” – (Marcos, 3:23.)

Esta passagem do Evangelho é sumamente esclarecedora para os com-

panheiros da atualidade que, nas tarefas do Espiritismo cristão, se esforçam

por auxiliar desencarnados infelizes a se equilibrarem no caminho redentor.

Ninguém aguarde êxito imediato, ao procurar amparar os que se perde-

ram na desorientação.

É impossível dispensar a colaboração do tempo para que se esclareçam

as personagens das tragédias humanas e, segundo sabemos, nem mesmo os

apóstolos conseguiram, de pronto, convencer as entidades perturbadas, quan-

to ao realismo de sua perigosa situação. Todavia, sem atitudes esterilizantes,

muito pode fazer o discípulo no setor dessas atividades iluminativas. Na

atualidade, companheiros devotados ao serviço ainda sofrem a perseguição

dos adversários da luz, que lhes atribuem sombrio pacto com poderes per-

versos. O sectarismo religioso cognomina-os sequazes de Satanás, impondo-

-lhes torturas e humilhações.

No entanto, as mesmas objurgatórias e recriminações descabidas foram

atiradas ao Mestre Divino pelo sacerdócio organizado de seu tempo. Aten-

dendo aos enfermos e obsidiados, entregues a destrutivas forças da sombra,

recebeu Jesus o título de feiticeiro, filho de Belzebu. Isso constitui significa-

tiva recordação que, naturalmente, infundirá muito conforto aos discípulos

novos.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, Verdade e Vida, 21. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001,

cap. 146, p. 307-308.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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22 Reformador/Abril 2003140

Neste artigo analisaremos “Nota” aos Prolegôme-nos da segunda edição francesa de Le Livre desEsprits (ver resenha em Mundo Espírita, feve-

reiro de 2002, p. 5). Tal nota foi depois retirada, apa-rentemente sem justificação explícita, a partir da 10a

edição, de 1863. A análise será feita em confrontocom a nota semelhante que existia na primeira edição,de 1857.

Forneceremos, inicialmente, as traduções dos tex-tos das duas versões da nota, reproduzindo no final doartigo os originais franceses, para conferência.

[1a edição]

Nota. – Os princípios contidos neste livro resultam, se-ja das respostas dadas pelos espíritos às questões diretas quelhes foram propostas, seja das instruções que espontanea-mente deram acerca dos assuntos que ele abrange. O mate-rial foi organizado de maneira a formar um conjunto regu-lar e metódico, e só foi entregue ao público depois de tersido cuidadosamente revisto várias vezes, e corrigido pelospróprios espíritos.

A primeira coluna contém as questões propostas, segui-das das respostas textuais. A segunda encerra o enunciadoda doutrina em forma corrida. São, na verdade, duas reda-ções, em formas diferentes, acerca de um mesmo assunto:uma tem a vantagem de apresentar como que a fisionomiados diálogos com os espíritos; a outra, a de permitir umaleitura seguida.

Se bem que o assunto tratado em cada coluna seja omesmo, freqüentemente elas encerram, tanto uma como aoutra, pensamentos especiais que, quando não são o resul-

tado de questões diretas, nem por isso deixam de ser o fru-to das instruções dadas pelos espíritos, pois nenhum pen-samento há no livro que não seja a expressão do deles.

[2a edição]

Nota. – Os princípios contidos neste livro resultam, se-ja das respostas dadas pelos Espíritos às questões diretas quelhes foram propostas em diversas ocasiões e por meio de umgrande número de médiuns, seja das instruções que espon-taneamente deram a nós ou a outras pessoas, acerca dosassuntos que ele abrange. O material foi organizado de ma-neira a formar um conjunto regular e metódico, e só foientregue ao público depois de ter sido cuidadosamente re-visto várias vezes, e corrigido pelos próprios Espíritos. Tam-bém esta segunda edição foi objeto de novo e minuciosoexame da parte deles.

O que vem entre aspas, após as questões, são as respos-tas textuais dadas pelos Espíritos. O que está em caracteresmenores, ou de outro modo destacado, consiste das obser-vações ou desdobramentos acrescentados pelo Autor, quepassaram igualmente pelo controle dos Espíritos.

Observemos, inicialmente, o detalhe da grafia dapalavra ‘espírito’: na segunda edição passou a ser cominicial maiúscula. Na língua francesa o uso de iniciaismaiúsculas é mais restrito do que em português, e nopresente caso não se justificaria senão pela intenção deKardec de diferençar as “individualidades dos seres ex-tracorpóreos” – Espíritos – do “elemento inteligenteuniversal” – espírito –, conforme adverte explicita-mente a nota após o item 76 da segunda edição. Essaimportante distinção, não assinalada na primeira edi-ção, é rigorosamente marcada por esse recurso ao lon-go de toda a edição de 1860. Temos aqui um beloexemplo da preocupação de Kardec com as nuancesde pensamento e sua correta expressão escrita.

A Nota aos Prolegômenos deO Livro dos Espíritos

Silvio Seno Chibeni

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Outro ponto diz respeito à forma de apresenta-ção do texto. Por interessantes que fossem as razõesapontadas por Kardec na nota de 1857 para apresen-tar o assunto em dois formatos, diálogo e texto corri-do, avaliou depois que seriam secundárias, relativa-mente a outras, entre as quais certamente se incluema uniformização e a concisão. Na primeira edição a ex-posição dupla era usada unicamente na primeira dastrês partes que formavam o livro. Ademais, é eviden-te que esse formato duplica a extensão total do texto;se fosse seguido em todo o livro, e ainda mais com asgrandes complementações da segunda edição, resulta-ria em um volume de dimensões impraticáveis. Preva-leceu aqui o senso estético e prático de Kardec, tão evi-dente na composição de suas obras.

Uma terceira observação refere-se ao cuidado queKardec teve de submeter o texto, em suas duas edi-ções, a acuradas verificações pelos Espíritos. Não queisso indicasse qualquer limitação de sua imensa capa-cidade analítica e independência intelectual; mas, da-do que a obra explora um território quase que intei-ramente novo, eram-lhe indispensáveis as informaçõescolhidas dos Espíritos – testemunhas e participantesdiretos da realidade espiritual, cuja investigação cons-titui o cerne da nova disciplina. Fazia-se, pois, mister,não assimilar relatos que se baseassem em observaçõesparciais, sendo por isso que o controle amplo das in-formações se mostrou indispensável.

A referência explícita, na nota da segunda edição– que, lembramos, deixou de ser impressa a partir da10a edição –, a esse controle mostra quão infundada éa posição de Canuto Abreu, expressa na introdução desua edição bilíngüe da primeira edição do Livro dosEspíritos, de desqualificação relativa da segunda edi-ção, por conta de um suposto menor controle por par-te dos Espíritos. (Para um exame crítico mais extensodessa posição, veja-se a obra Allan Kardec, de Francis-co Thiesen e Zêus Wantuil, vol. 2, cap. 1, seção 11.)

A comparação das duas versões da Nota revelaoutros aspectos importantes – talvez mais importan-tes ainda – relativos à elaboração do livro e, em parti-cular, ao papel desempenhado por Kardec. Vemos queos dois primeiros períodos dos primeiros parágrafosdas notas correspondem-se quase que integralmente:a diferença está no acréscimo, no meio do primeiroperíodo, da frase “em diversas ocasiões e por meio deum grande número de médiuns”, e depois “a nós ou a

outras pessoas”. Deve-se comparar essas afirmações ge-rais com a descrição específica, feita por Kardec emoutros lugares, do modo de elaboração do texto de OLivro dos Espíritos. No primeiro número da RevueSpirite (janeiro de 1858) há uma matéria sobre olivro. Após advertir que, por sua lentidão, a tiptologianunca foi por ele empregada nos trabalhos referentesao livro, Kardec diz: “tudo foi obtido pela escrita e porintermédio de vários (plusieurs) médiuns psicógrafos.Nós mesmos preparamos as questões e organizamos oconjunto da obra; as respostas são textualmente as queforam dadas pelos Espíritos; a maior parte foi escritasob nossos olhos. Outras foram extraídas de comuni-cações enviadas por correspondentes, ou que coleta-mos onde quer que tenhamos tido a ocasião de reali-zar estudos”. No parágrafo seguinte Kardec acrescenta:“Os primeiros médiuns que ajudaram em nosso tra-balho foram as senhoritas B*** [Baudin], cuja boavontade jamais faltou: o livro foi escrito quase que in-teiramente por meio delas...” (os itálicos são nossos).

Na seção inicial da segunda parte de Obras Pós-tumas, Kardec comenta que quando o trabalho alcan-çou as dimensões de um livro pensou em “submetê-loao exame de outros Espíritos, com o auxílio de dife-rentes médiuns”. No entanto, ao começar a fazer isso,levando os pontos às reuniões do senhor Roustan, nasquais atuava a médium sonâmbula senhorita Japhet,os próprios Espíritos disseram que preferiam empreen-der a delicada revisão em sessões privativas com a mé-dium, isto é, sem assistência. No referido artigo da Re-vue, Kardec afirma, a propósito da revisão, que “essaparte essencial do trabalho foi feita com o concurso dasenhorita Japhet”, ressaltando sua nobreza de carátere infatigável dedicação à tarefa.

Aquela seção de Obras Póstumas contém aindaoutras informações relevantes para o assunto de que es-tamos tratando. Uma delas é que as senhoritas Baudinse casaram já no final de 1857 e que, em conseqüên-cia, as reuniões na casa do senhor Baudin cessaram.Mais importante do que isso é o que lemos um poucoantes: “Não me contentei, entretanto, com essa verifi-cação [pela senhorita Japhet]; os Espíritos assim mo ha-viam recomendado. Tendo-me as circunstâncias postoem relação com outros médiuns, sempre que seapresentava a ocasião eu a aproveitava para propor al-gumas das questões que me pareciam as mais espi-nhosas. Foi assim que mais de dez médiuns prestaram

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24 Reformador/Abril 2003142

concurso a esse trabalho. Da comparação e da fusão detodas as respostas, coordenadas [coordonnées], classi-ficadas e muitas vezes remodeladas [remaniées] no si-lêncio da meditação, foi que elaborei a primeira ediçãode O Livro dos Espíritos...” (os destaques são nossos).

Todas essas passagens, bem como os textos inte-grais dos quais foram extraídas, ressaltam, primeiro,que o Livro dos Espíritos não surgiu, como às vezesingenuamente se assume, de uma grande massa de res-postas vindas de inumeráveis pontos. Embora, comoKardec assinala, ele tenha aproveitado algumas comu-nicações que lhe foram enviadas, o grosso do livro, emsua primeira edição, foi fruto de um trabalho sistemá-tico concebido por ele e desenvolvido com a ajudamediúnica das duas irmãs Baudin, e depois da senho-rita Japhet, para a revisão. Somente quanto a algunspontos mais delicados é que julgou prudente conferiras opiniões com o auxílio de outros poucos médiuns.

Afora as declarações específicas de Kardec, as cir-cunstâncias históricas também indicam a necessidadede não se tomar à letra a frase da Nota aos Prolegôme-nos da segunda edição que motivou estes comentários.Por mais extensas que se tenham tornado as relaçõesde Kardec, como resultado da publicação de seus li-vros e, especialmente, da Revue, está claro que na cur-ta fase de elaboração do Livro dos Espíritos, em suaprimeira e, talvez, segunda edição, simplesmente nãohavia uma extensa rede de colaboradores, e muito me-nos de colaboradores perfeitamente sintonizados comum projeto de tal complexidade.

Em segundo lugar, as citações que fizemos mos-tram que é igualmente ingênuo assumir que a contri-buição pessoal de Kardec se limitou a compilar a su-posta massa de respostas, organizando-a em forma delivro. A denominação comum de ‘codificador’ pare-ce embutir, ou ao menos favorecer essa interpretaçãoinsustentável; deveria, pois, ser evitada (e não só portal motivo). O estudo atento das declarações de Kar-dec sobre seu papel e, sobretudo, a reflexão madurasobre o conjunto de sua produção, não deixa dúvidaquanto à centralidade de sua contribuição no estabe-lecimento das bases do Espiritismo. Ela não se limi-tou nem mesmo à reescrita de parte das respostas, aque ele explicitamente alude, e que se torna evidentepelo confronto do material da Revue com o texto dasegunda edição. A concepção e condução de todo oprograma de pesquisa espírita, em seus múltiplos des-

dobramentos, bem como a lucidez e precisão supe-riores de seus próprios textos, indicam de forma in-conteste que Kardec não foi mero auxiliar dos Espí-ritos – exceção feita, é claro, ao Cristo, coordenadorgeral dos destinos da humanidade terrena –, mas, aocontrário, estes é que eram seus auxiliares; eles mes-mos, aliás, reconheceram esse papel em diversas oca-siões. Justifica-se, pois, a asserção de Francisco Thie-sen, de que Kardec foi o “co-autor” do Livro dosEspíritos (Allan Kardec, vol. 2, p. 85); mas talvez pos-samos mesmo ir um pouco além disso. (Sobre a en-vergadura da contribuição de Kardec, ver nosso arti-go “Por que Allan Kardec?”, citado na lista de re-ferências, no final.)

Diante disso tudo, não parece inteiramente im-provável que a nota aos Prolegômenos tenha sido maistarde retirada não por mero lapso editorial, mas porpotencialmente favorecer interpretações incorretas.Ademais, o que ela tem de essencial já é dito em ter-mos adequados nos próprios Prolegômenos e na notade rodapé do item 1 do próprio livro.

Apêndice: Originais franceses das notas.

[1a ed.] Nota. – Les principes contenus dans ce livrerésultent, soi des réponses faites par les esprits aux questionsdirectes qui leur ont été proposées, soi des instructions don-nées par eux spontanément sur les matières qu’il renferme.Le tout a été coordonné de manière à présenter un ensem-ble régulier et méthodique, et n’a été livré à la publicité qu’après avoir été soigneusement revu à plusieurs repriseset corrigé par les esprits eux-mêmes.

La première colonne contient les questions proposées sui-vies des réponses textuelles. La seconde renferme l’énoncé dela doctrine sous une forme courante. Ce sont à proprementparler deux rédactions sur un même sujet sous deux formesdifferentes: l’une a l’avantage de présenter en quelque sortela physionomie des entretiens spirites, l’autre de permetre unelecture suivie.

Bien que le sujet traité dans chaque colonne soit le mê-me, elles renferment souvent l’une et l’autre des pensées spé-cialles qui, lorsqu’elles ne sont pas le résultat de questionsdirectes, n’ en sont pas moins le produit des instructionsdonnées par les esprits, car il n’en est aucune qui ne soitl’expression de leur pensée.

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[2ª ed.] Nota. – Les principes contenus dans ce livrerésultent, soi des réponses faites par les Esprits aux ques-tions directes qui leur ont été proposées à diverses époqueset par l’entremise d’un grand nombre de médiums, soi desinstructions données par eux spontanément à nous ou àd’autres personnes sur les matières qu’il renferme. Le touta été coordonné de manière à présenter un ensemble régu-lier et méthodique, et n’a été livré à la publicité qu’aprèsavoir été soigneusement revu à plusieurs reprises et corrigépar les Esprits eux-mêmes. Cette seconde édition a pareil-lement été de leur par l’objet d’un nouvel et minutieuxexamen.

Ce qui est entre guillemets à la suite des questions estla réponse textuelle données par les Esprits. Ce qui est mar-qué par un autre caractère, ou désigné d’une manière spé-ciale à cet effet, comprend les remarques ou developpmentsajoutés par l’auteur, et qui ont également subi le contrôledes Esprits.

REFERÊNCIAS

CHIBENI, S. S. “Por que Allan Kardec?” Reformador, abril/1986,

p. 102-103. (Também disponível no site do Grupo de Estudos Espíri-

tas da Unicamp: http://www.geocities.com/Athens/Academy/8482.)

KARDEC, A. Le Livre des Esprits. Reprodução fotomecânica da 2a ed.

francesa, com adendos do Autor. 1a ed., Rio, Federação Espírita Brasi-

leira, 1998.

_______. Le Livre des Esprits. Reprodução fotomecânica da 1a ed.

francesa. 1a ed., bilíngüe, trad. e ed. Canuto Abreu. São Paulo, Com-

panhia Editora Ismael, 1957.

_______. Revue Spirite. Texto eletrônico, Centre d’Études Spirites Léon

Denis: http://perso.wanadoo.fr/charles.kempf/

________. OeuvresPosthumes. (Ed. André Dumas.) Paris, Dervy-

-Livres, 1978. Também na edição original de Leymarie, em texto

eletrônico, Centre d’Études Spirites Léon Denis: http://perso.

wanadoo.fr/charles.kempf/

________. Obras Póstumas. Trad. Guillon Ribeiro. 18a ed., Rio, Fe-

deração Espírita Brasileira, 1944.

WANTUIL, Z. & THIESEN, F. Allan Kardec, 3 vols. 1a ed., Rio, Fe-

deração Espírita Brasileira, 1979/80.

Fonte: Jornal Mundo Espírita de julho/2002, p. 6-7.

A Prece de CerintoSenhor de Infinita Bondade.

No santuário da oração, marco renovador domeu caminho, não te peço por mim, Espíri-to endividado, para quem reservaste os tribu-

nais de tua Excelsa Justiça.A tua compaixão é como se fora o orvalho da es-

perança em minha noite moral e isso basta ao revelpecador que tenho sido.

Não te peço, Senhor, pelos que choram.Clamo por teu amor, a benefício dos que fazem

as lágrimas.Não te venho pedir pelos que padecem.Suplico-te a bênção para todos aqueles que pro-

vocam o sofrimento.Não te lembro os fracos da Terra.Recordo-te quantos se julgam poderosos e

vencedores.Não intercedo pelos que soluçam de fome.Rogo-te amor para os que furtam o pão.Senhor Todo-Bondoso!...Não te trago os que sangram de angústia.Relaciono diante de ti os que golpeiam e ferem.Não te peço pelos que sofrem injustiças.Rogo-te pelos empreiteiros do crime.Não te apresento os desprotegidos da sorte.Depreco teu amparo aos que estendem a aflição

e a miséria.Não te imploro mercê para as almas traídas.Exoro-te o socorro para os que tecem os fios en-

venenados da ingratidão.Pai compassivo!...Estende as mãos sobre os que vagueiam nas

trevas...Anula o pensamento insensato.Cerra os lábios que induzem à tentação.Paralisa os braços que apedrejam.Detém os passos daqueles que distribuem a

morte...Ajuda-nos a todos nós, os filhos do erro, porque

somente assim, ó Deus piedoso e justo, poderemosedificar o paraíso do bem com todos aqueles que játe compreendem e obedecem, extinguindo o infernodaqueles que, como nós, se atiraram, desprevenidos,aos insanos torvelinhos do mal!...

Cerinto

FONTE: XAVIER, Francisco Cândido. Vozes do Grande Além.4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1990, cap. 24, p. 103-105.

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Qual é a finalidade, o objetivo,de um Centro Espírita? llllllll– Muitos acham que uma

Casa Espírita é uma escola, umtemplo e um local especial destina-do a estudo e orientação espiri-tual.

Esta definição lembra, de umcerto modo, o que era a Sinagoga,no tempo de Jesus. A Sinagoga eraum local de reunião da comunida-de,onde os judeus podiam se con-fraternizar. O seu nome, tanto emgrego (SIN = juntos; AGOGE =reunião em assembléia), como emhebraico (BEIT HA-KENESSET =casa de reunião) tem o mesmo sig-nificado.

Era na Sinagoga que os meni-nos aprendiam a ler e a interpretara TORÁ (os 5 primeiros livros doVelho Testamento; o pentateuco ju-deu). (As meninas estavam excluí-

das desta tarefa); onde os adultospodiam orar juntos; discutir e resol-ver os assuntos comunitários; feste-jar um acontecimento e, até, darabrigo a um viajante, quando ne-cessário.

Atualmente os nossos CentrosEspíritas visam ajudar o aprimora-mento espiritual dos seres huma-nos, proporcionando-lhes oportu-nidades de elevar-se ética e moral-mente, cada vez mais, através doconhecimento e assimilação dosprincípios cristãos do Espiritismo.

Qualquer atividade que favore-ça a solidariedade, a prática da fra-ternidade e da caridade para com opróximo, deve ser estimulada, poisse harmoniza com o ideal cristão--espírita de altruísmo, que é umsentimento universal e se opõe aoegoísmo e ao imediatismo.

Nos dias atuais devemos apren-der a pensar de maneira ampla, demodo universal, nos lembrando:

1o) que somos também cida-dãos do mundo;

2o) que há outros povos, com1ínguas diferentes, ignorando amensagem espírita-cristã;

3o) que tais povos também pre-cisam ter acesso à essa mensagemredentora. Mas, como levar essamensagem a seres humanos que vi-vem em outras terras e falam lín-guas diferentes da nossa?

Sabemos que a diversidade daslínguas constitui uma verdadeiramuralha, dificultando a divulgaçãodo Espiritismo entre outros povos.

Existem, pelo menos, 3.000línguas diferentes no mundo! Isto éum sério obstáculo ao livre inter-câmbio de idéias e de ideais.

Para que ocorra uma maior di-vulgação da Doutrina Espírita, énecessário que se utilize a única so-lução racional e perfeitamente ade-quada para tal fim que temosdisponível.

Refiro-me ao emprego da lín-gua Esperanto, genial criação domédico e humanista Dr. L.L.Za-menhof. O Esperanto é o mais per-feito e o mais prático meio, inspira-do pela Espiritualidade Superior,para auxiliar na divulgação interna-cional do Espiritismo.

É, portanto, absolutamente ne-cessário que nos conscientizemosdo valor do Esperanto, como efi-ciente instrumento a ser usado napropagação mundial da DoutrinaEspírita. Ideal seria que cada Cen-tro Espírita tivesse um grupo de es-tudiosos e usuários dessa língua.

O Esperanto, como o Espiritis-mo, encerra em si a idéia de frater-nidade e de paz; ele nos liberta dorestrito círculo local ou nacional, aoqual estamos ligados e limitados, enos ensina a pensar mais ampla-

A FEB E O ESPERANTO

O Esperanto presente na Casa Espírita, colaborando para o futuro da Humanidade*

Alberto Flores

*Palestra proferida, em Esperanto, por ocasião

do 9o Encontro de Esperantistas-Espíritas doEstado do Rio de Janeiro, realizado em1/12/02 na sede da União das Sociedades Es-píritas do Estado do Rio de Janeiro –USEERJ. A presente versão em português é dopróprio autor.

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mente, para nos tornarmos cida-dãos de uma pátria universal.

Usando o Esperanto podemoslibertar os nossos pensamentos daslimitações da nossa língua nacionale passar a entender como vivem esentem os nossos irmãos de outrasnações, que falam outras línguas,mas que são todos filhos do mesmoPai, que é Deus.

O Esperanto é, para os espíri-tas e para os idealistas, uma estradade duas mãos (de ida e de volta);por meio dele levamos aos outrosnossas idéias, e recebemos em trocasugestões para solucionar os nossosproblemas.

Em todo Centro Espírita devehaver solidariedade e cooperaçãoentre os grupos de freqüentadores,sentindo todos a alegria e o prazerde conviver irmanados pelo mesmoideal.

O estudo do Esperanto numaSociedade Espírita abre-lhe umaimensa janela para o resto do mun-do. Esse estudo não é, como algunspensam, mera esquisitice de umgrupo de sonhadores que deseja ummundo mais pacífico, mais frater-no, mais justo, mais humano emais cristão!

É mais do que isto. Cada espí-rita que aprende o Esperanto tor-na-se um cidadão do mundo-novoque está surgindo, e exemplo dohomem de boa vontade, que traba-lha para que haja Paz na Terra en-tre todos os povos! Cabe aos Cen-tros Espíritas a nobre tarefa decontribuir para o real progresso daHumanidade no Terceiro Milênio.Os espíritas-esperantistas já estãofazendo a sua parte nesse meritóriotrabalho.

Eles plantam hoje visando ofuturo. Quem semeia não é um

egoísta, nem um imediatista; massim um altruísta que, ao semear, sa-be que um dia a colheita virá. E se-rá farta e benéfica para todos.

Trabalhar por uma causa nobrenos traz enorme satisfação e umafelicidade imensa, toda especial eindescritível!

É a alegria de servir! De ser útilao próximo!

Os esperantistas e os espíritasconstituem o embrião da grande fa-mília universal que será formada,em futuro próximo ou remoto, pe-la aproximação e respeito entre to-dos os povos, convivendo fraternal

e pacificamente! E é nos CentrosEspíritas que os espíritas-esperan-tistas se preparam para dar a suacontribuição na construção do mun-do melhor que todos desejamos eque, para se efetivar, depende dotrabalho de cada um de nós.

Conclui-se, por tudo isto, serdesejável que o estudo do Esperan-to esteja presente em toda Casa Es-pírita, colaborando, assim, efetiva-mente, para que haja um futurobelo e feliz para toda a Humanida-de!

Que Deus permita, que assimseja!

Com a idade de 85 anos, de-sencarnou no Rio de Janeiro (RJ),em 9 de dezembro de 2002, o nos-so estimado companheiro José Yo-lando, cuja simplicidade e humilda-de ocultavam um verdadeiro espí-rita, segundo a definição de Kardec.

Nasceu ele em Aracaju (SE),aos 19/3/1917, vindo para a cidadedo Rio de Janeiro, onde foi admiti-do, por concurso, em 1942, comofuncionário do Banco do Brasil,aposentando-se posteriormente.

Reconhecido pelos seus dotesmorais e profundo conhecimentoda Doutrina Espírita, a FederaçãoEspírita Brasileira elegeu-o 2o Pro-curador, de 1959 a 1969; Diretor--Adjunto em 1977; Tesoureiro de1978 a 1984, quando foi substituí-do, em 1985, por Waldir Hugue-nin Bittencourt, passando Yolan-do a ser simplesmente Diretor. De1986 a 1990 ocupou a suplência doConselho Superior da FEB, nãomais sendo eleito em razão do seu

precário estado de saúde.Como médium de desdobra-

mento ficava fora do corpo carnaldurante longo tempo e, por vezes,receava não mais retornar ao corpo,tal o desprendimento.

Deixa viúva D. Maria Alberti-na de Machado Santos, três filhos euma filha, todos estes casados.

Jesus o ampare e fortaleça paraque, dentro em pouco, possa con-tinuar o bom trabalho na Seara doBem.

José Yolando dos Santos

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Com este título, a revista Veja,de 29 de janeiro de 2003, pu-blicou uma reportagem sobre

a experiência da clonagem da gati-nha “Rainbow” e os resultados, apartir do nascimento de sua cópia ede outros clones observados. A con-clusão dos veterinários da Universi-dade do Texas A&M, responsáveispelo nascimento da Cc (cópia car-bono) de “Rainbow” foi a seguinte:“apesar de compartilharem o mes-mo código genético, os animais clo-nados não são cópias fiéis dos ori-ginais.”

Essas primeiras conclusõesabrem um grande espaço para as re-flexões de todos nós, em especial,quando possuidores dos conheci-mentos auferidos da Doutrina Es-pírita.

Não basta levantarmos a expli-cação sumária de que a existênciado Espírito e a sua individualidadefaz-nos compreender o fato. Cien-tistas ocupados com a área da gené-tica, pesquisadores dos programasde estudo dos códigos genéticos,certamente, já haviam pensado naspossibilidades de mutações diversas,as quais poderiam provocar os re-sultados agora encontrados.

Os acostumados com a obser-vação das etapas da leitura do DNA(ácido desoxirribonucléico) sabemque, mesmo em uma mesma cria-

tura, os RNAs mensageiros produ-zidos a partir de um único gene po-dem conter diferenças na seqüênciade bases, que ao serem traduzidaspelos ribossomos, possibilitarão amontagem de proteínas distintas, àsvezes, de funções distintas e até an-tagônicas. O fenômeno responsávelpor esses acontecimentos é tecnica-mente denominado “splicing”, pa-lavra inglesa que significa “emendar,unir, juntar”.

Na realidade, o que acontece(simplificadamente) seria o seguin-te: para a informação contida noDNA ser transferida para as diver-sas funções celulares, ela precisa pri-meiramente ser copiada, num pro-cesso chamado transcrição, gerandoo RNA (ácido ribonucléico). ORNA difere daquele por ter apenasuma cadeia e por apresentar no lu-gar da base timina a uridina. Entre-tanto, ele só se tornará funcionaldepois que partes desta cadeia fo-rem retiradas ou reorganizadas,dando origem a uma nova seqüên-cia de bases, no chamado “spli-cing”, formando o RNA mensa-geiro. As partes retiradas são cha-madas “introns” e as reintroduzidasem outras áreas ou unidas são os“exons”.

As pesquisas atuais não têmrespostas definitivas para a existên-cia desses “introns” e o porquê dodirecionador desse processo de mo-dificação da mensagem celular.

O certo é que fenômenos co-mo esse e outros já observados se-riam cientificamente a explicação

para as possíveis individualizaçõesda mensagem genética, que come-ça a ser comprovada pela experiên-cia com os clones de animais e que,certamente, ficaria mais evidentecom a clonagem de humanos, pelamaior individualização do princípioespiritual, em sua fase hominal. Pa-ra o materialista, no entanto, as res-postas seriam insatisfatórias, produ-zindo novos questionamentos, emespecial: o que levaria a essas mu-danças? Qual o elemento direciona-dor desse processo?

Os estudiosos sobre os frac-tais, já de algum tempo, levantamque os fenômenos na natureza, di-ferentemente dos produtos fabri-cados seriadamente pelos homens,seriam semelhantes e não idênti-cos em seu todo e em suas partes,criando para explicar tais condi-ções equações matemáticas de altacomplexidade. Essa constataçãofalaria da ação de uma InteligênciaSuperior a direcionar todo o pro-cesso da criação e da implemen-tação de uma marca individual nascriaturas, dando-lhes desde já umaqualidade própria e um caminhopessoal, a partir de determinadaetapa de crescimento.

Se a experiência com a clona-gem demonstra que um mesmoprincípio material (DNA) produzresultados materiais diferentes, issoimplica numa hipótese de que algo,transcendente a esse princípio di-recionaria as diversas etapas do pro-cesso, produzindo tal resultado fi-nal. Esse elemento transcendente,

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“Clone, mas diferente”Roberto Lúcio Vieira de Souza

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ainda rejeitado por uma parte doscientistas, é o espírito, que segundoos orientadores de Kardec, é a indi-vidualização do princípio inteligen-te, presente no Universo, que se fazdistinto do princípio material, “mas,a união do Espírito e da matéria énecessária para intelectualizar a ma-téria”.(O Livro dos Espíritos – perg.79 e 25.)

Os estudos que se sucederão, apartir das conclusões atuais sobre osclones, certamente confirmarão aspalavras de Emmanuel, contidas naquestão 35 do livro O Consolador1:

“As leis da genética encontram--se presididas por numerosos agen-tes psíquicos que a ciência da Ter-ra está longe de formular, dentrodos seus postulados materialistas.Esses agentes psíquicos, muitas ve-zes, são movimentados pelos men-sageiros do plano espiritual, encar-regados dessa ou daquela missãojunto às correntes da profundafonte da vida. Eis por que, aos ge-neticistas, comumente se deparamincógnitas inesperadas, que deslo-cam o centro de suas anterioresilações.”

É importante frisar que An-dré Luiz, já em 1958, através dapsicografia de Francisco C. Xaviere de Waldo Vieira, no livro Evolu-ção em Dois Mundos2, antecedia osresultados que começam a ser en-contrados, oferecendo-nos uma ex-plicação mais ampla de suas causas:

“No ato da fecundação, reú-nem-se os pronúcleos masculino e

feminino, mesclando as unidadescromossômicas paternas e mater-nas, a fim de que o organismo, obe-decendo à repetição na lei da here-ditariedade, se desenvolva, dentrodos caracteres genéticos de que des-cende; mas agora, no reino huma-no, o Espírito, entregue ao coman-do da própria vontade, determinacom a simples presença ou influên-cia, no campo materno, os maiscomplexos fenômenos endomitóti-cos no interior do ovo, edificandoas bases de seu próprio destino, noestágio da existência cujo início oberço assinala.”

André Luiz apresenta-nos, ain-da, um importante caminho de pes-quisa, que nos possibilitará, no fu-turo, a compreensão desses meca-nismos modificadores individuaisda mensagem genética, através dateoria dos “bióforos”. Sobre o as-sunto, ele assim se expressa, no li-vro citado acima:

“Portanto, como é fácil de sen-tir e apreender, o corpo herda natu-ralmente do corpo, segundo as dis-

posições da mente que se ajusta aoutras mentes, nos circuitos da afi-nidade, cabendo, pois, ao homemresponsável reconhecer que a here-ditariedade relativa mas compulsó-ria lhe talhará o corpo físico de quenecessita em determinada encarna-ção, não lhe sendo possível alterar oplano de serviço que mereceu ou deque foi incumbido, segundo as suasaquisições e necessidades, mas po-de, pela própria conduta feliz ou in-feliz, acentuar ou esbater a colora-ção dos programas que lhe indicama rota, através dos bióforos ou uni-dades de força psicossomática queatuam no citoplasma, projetandosobre as células e, conseqüente-mente, sobre o corpo os estados damente, que estará enobrecendo ouagravando a própria situação, deacordo com a sua escolha do bemou do mal.”

Fica, portanto, para nós estu-diosos e, em especial, para os pes-quisadores a compreensão real deque estrutura celular seria os cha-mados “bióforos”, estudando, pos-teriormente, os seus mecanismosde ação. No entanto, a Ciência,em sua caminhada, apresenta,mais e mais, questionamentos detal profundidade, a exigirem umavisão de maior transcendência,

deixando mais evidente a realidadeda hipótese do elemento espiritual,de sua individualidade e de sua su-premacia sobre o elemento mate-rial. Enfatizando, também, que se-ria a postura dessa individualidadeespiritual a responsável pelas possi-bilidades ou não de modificaçõesno campo da matéria, clareando--nos que a verdadeira eugenia só serealizará pela transformação moraldo homem e, conseqüentemente,da Humanidade.

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1 XAVIER, Francisco C. O Consolador, peloEspírito Emmanuel, 23. ed. Rio de Janeiro,FEB, 2001 p. 37.2 ––––––– e VIEIRA, Waldo. Evolução emDois Mundos. 18. ed. Rio de Janeiro: FEB,1994, cap. VII, p. 57, 58 e 59.

“O corpo herda

naturalmente do

corpo, segundo

as disposições

da mente que se

ajusta a

outras mentes”

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Há quatro anos a revista IstoÉregistrou a seguinte reporta-gem: “Uma overdose de festas

voltadas para jovens de classe mé-dia garante o alto consumo de be-bidas. No feriado de Finados, opanfleto de uma festa levou quatroamigos, três deles menores de idade,a uma boate no Lago Sul, área no-bre de Brasília. A R$ 20,00 porcabeça, conseguiram passaporte pa-ra o paraíso adolescente: mulherbonita, som tecno e bebida degraça. Três deles deixaram a boateem mau estado. O quarto precisousair carregado. Desfalecido, foi co-locado pelos amigos no banco detrás do carro e levado às pressas pa-ra o hospital. No caminho, cruza-ram com outros jovens desmaiadosna calçada à espera de que, ao che-gar, o pai os identificasse.” 1

Pesquisas mostram que oitoem cada dez estudantes já usaramálcool. A escola é a grande parceirada família na tarefa de educar, semprecisar impor, é claro, regras nos la-res alheios. Em Brasília, uma esco-la2 tomou uma medida controversaque dividiu a opinião de pais e irri-tou alunos ao entregar um docu-

mento que sugere aos pais que proí-bam os menores de 21 anos de to-marem bebidas alcoólicas nas festase eventos sociais promovidos pelosadolescentes em suas casas.

Pode parecer algo um poucoexagerado, mas a questão mereceuma análise, até porque há estatísti-cas que apontam que os jovens estãobebendo cada vez mais cedo (porvolta dos 11 anos de idade). Mesmoque a Direção da escola esteja restri-ta aos seus muros, não basta dizeraos pais, nessa conjuntura, que seusfilhos estão bebendo. Desta sorte,estão empurrando o problema devolta para a família. Cremos que asescolas deveriam debater com maisênfase sobre bebida alcoólica, essadroga legalizada.

Não existe uma idade definidapara qualificar a criança dependen-te de álcool. Segundo a Dra. San-dra Scivoletto, coordenadora doGREA – Grupo Interdisciplinar deEstudos de Álcool e Drogas –, res-ponsável pelo Ambulatório de Ado-lescentes e Drogas do Sepia –Serviço de Psiquiatria da Infância eAdolescência –, do Instituto de Psi-quiatria da Universidade de SãoPaulo, “estudos epidemiológicos bra-sileiros e do exterior mostram que aidade de início de uso de álcool edrogas vem diminuindo. Uma pes-quisa realizada em 1993, em dezcapitais brasileiras, mostrou que aidade média do início do uso era de13 anos. Em 1997, um trabalhorealizado com adolescentes em tra-

tamento no GREA mostrou que elestêm começado a beber, em média,aos 11 anos de idade, com casos ra-ros em que iniciou-se aos 4 anos deidade” 3, alerta a médica.

As pesquisas realizadas peloGrupo Interdisciplinar de Estudosde Álcool e Drogas demonstramque o Brasil é o quinto maior pro-dutor de cerveja do mundo e tem aterceira maior empresa da área. AOrganização Mundial de Saúde(OMS) divulgou, em abril de 1999,que o Brasil é o quarto colocado nomundo em acidente de trânsito. Aingestão de álcool é uma das maio-res causas de acidentes – 60% a80% das mortes no trânsito sãoprovocadas por motoristas alcooli-zados, segundo estimativa do IMLde São Paulo.

Alguns acreditam ser muito di-fícil definir o exato momento emque o uso de álcool merece ser cata-logado como dependência. Assimcomo é tênue a fronteira entre ochamado heavy drinker (bebedorpesado) e o alcoólatra, aquele cujoorganismo necessita de álcool paravoltar a funcionar ou que desenvol-veu a dependência psicológica dagarrafa. Ou seja, há um mecanismopsicossocial que o leva a beber, eum mecanismo fisiológico que oimpede de parar de beber.

No eterno desculpismo, os be-

Goles inofensivos?Jorge Hessen

1 Revista IstoÉ – edição 17/11/99.2 Escola Americana do Brasil – Av. L-2 Sul –Brasília-DF.

3 Informativo/dez-2001, ABRAFAM (Associa-ção Brasileira de Apoio às Famílias de Droga-dependentes).

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bedores se refugiam no chamado“drink social”. Bebedor social? – se-rá?? – pesquisas americanas atestamque uma pessoa, para tornar-se al-coólatra, pode levar de 8 a 20 anos eos bêbados começaram com “ino-fensivos goles festivos”. Desde 1935,os fundadores do AA (AlcoólicosAnônimos) – Bill Wilson e RobertSmith – afirmam que em cada doisbebedores um desenvolverá a doen-ça do alcoolismo. Sabe-se hoje tam-bém que, no início do processo, nãohá diferença entre o bebedor social eum futuro alcoólatra.

O alcoolismo não é here-ditário. As pessoas bebem por ques-tões psicoemocionais e criam de-pendência por questões fisiológicas.O que existe é um fator genético depredisposição ao consumo excessi-vo de álcool. Traduzindo, genetica-mente, ninguém tem compulsãopara a bebida conforme escreveu arevista americana US News &World Report: “nenhum gene tem opoder de fazer com que você com-pre uma garrafa de uísque, a vertanum copo e a tome toda”.

A Doutrina Espírita ensina quea propensão ao alcoolismo pode es-tar no Espírito, como herança devidas passadas.

No Brasil toda esquina temum botequim, um bar, um quios-que com as portas escancaradas, pa-ra a larga distribuição do venenoletal. Na televisão, as propagandasmais sedutoras são de bebidas. Nosrestaurantes, a primeira perguntado garçom é – o que você vai be-ber? Nas competições automobilís-ticas, o vencedor derrama sobre si achampanhe; a cada segundo os ca-nais de televisão estão convidandoos incautos a beberem, e para issoinvestem bilhões de dólares para

vender a droga “legal” e o governovai gastando muitos outros bilhõespara cuidar das doenças do alcoolis-mo, como a cirrose do fígado, a en-cefalopatia alcoólica ou a polinevri-te alcoólica, o delirium tremens, aafetação dos pulmões (tuberculose),a decadência física e mental, a ca-quexia (desnutrição), isso sem es-quecer as vítimas do trânsito e ou-tras conseqüências.

No livro Missionários da Luz,Alexandre explica que “(...) usarum aperitivo comum (...) de modoalgum significa desvios espirituais;no entanto, os excessos representamdesperdícios lamentáveis de forças,os quais retêm a alma nos círculosinferiores. (...)” 4 Ao considerar es-sas ponderações, urge também re-fletirmos que para muitos encar-

nados até mesmo o “inofensivo”aperitivo pode desencadear pro-cessos de dependência nos exces-sos, por isso toda vigilância é im-periosa.

Desconhecemos se alguém dafamília carrega uma certa predispo-sição ao álcool, que pode ser poten-cializado com o primeiro gole, porisso cremos que no bom senso umespírita consciente não mantém emseu lar um barzinho com garrafasrotuladas de “bebida importante”,contendo o inferno da droga legali-zada, que tem levado muitos ho-mens aos escombros dos desvios es-pirituais.

4 XAVIER, Francisco Cândido. Missionários

da Luz. Pelo Espírito André Luiz. 36. ed. Rio

de Janeiro: FEB, 2001.

A Voz de DeusPaulo Nunes Batista

A Voz de Deus falou. E foi ouvidapelas almas sedentas da Verdade.A Voz de Deus é a Voz da própria Vidacorrendo em busca da Felicidade.

A Voz de Deus nos fala na descidae na subida, pela eternidade.A Voz de Deus é Luz – e é transmitidapelos Mestres de nossa Humanidade.

A Voz de Deus me fala a cada instante.Ouço-a no olhar de cada semelhantee encontro-a na doçura de um Sorriso.

A Voz de Deus é Amor – tudo iluminano milagre da Graça, que é divina,e abre as Portas de Paz do Paraíso.

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32 Reformador/Abril 2003

Várias vezes já nos perguntarampor que não respondemos,em nosso jornal, aos ataques

de certas folhas, dirigidos contra oEspiritismo em geral, contra seuspartidários e, por vezes, contra nós.Acreditamos que o silêncio, em cer-tos casos, é a melhor resposta. Aliás,há um gênero de polêmica do qualtomamos por norma nos abster-mos: é aquela que pode degenerarem personalismo; não somente elanos repugna, como nos tomaria umtempo que podemos empregar maisutilmente, o que seria muito poucointeressante para os nossos leitores,que assinam a revista para se ins-truírem, e não para ouvirem diatri-bes mais ou menos espirituosas.Ora, uma vez engajado nesse cami-nho, difícil seria dele sair, razão porque preferimos nele não entrar,com o que o Espiritismo só tem aganhar em dignidade. Até agora sótemos que aplaudir a nossa mode-ração, da qual não nos desviaremos,e jamais daremos satisfação aosamantes do escândalo.

Entretanto, há polêmica e po-lêmica; uma há, diante da qual nãorecuaremos jamais: é a discussão sé-ria dos princípios que professamos.Todavia, mesmo aqui há uma im-portante distinção a fazer; se se tra-

ta apenas de ataques gerais, dirigidoscontra a doutrina, sem um fim de-terminado, além do de criticar, e separtem de pessoas que rejeitam porantecipação tudo quanto não com-preendem, não merecem maioratenção; o terreno ganho diariamen-te pelo Espiritismo é uma respostasuficientemente peremptória e quelhes deve provar que seus sarcasmosnão têm produzido grande efeito;também notamos que os gracejosintermináveis de que até poucotempo eram vítimas os partidáriosda doutrina pouco a pouco se ex-tinguem. Perguntamos se há moti-vos para rir quando vemos as idéiasnovas adotadas por tantas pessoaseminentes; alguns não riem senãocom desprezo e pela força do hábi-to, enquanto muitos outros absolu-tamente não riem mais e esperam.

Notemos ainda que, entre oscríticos, há muitas pessoas que fa-lam sem conhecimento de causa,sem se darem ao trabalho de a apro-fundar. Para lhes responder seria ne-cessário recomeçar incessantemen-te as mais elementares explicações erepetir aquilo que já escrevemos,providência que julgamos inútil. Jáo mesmo não acontece com os queestudaram e nem tudo compreen-deram, com os que querem seria-mente esclarecer-se e com os que le-vantam objeções de boa-fé e comconhecimento de causa; nesse terre-no aceitamos a controvérsia, semnos gabarmos de resolver todas as

dificuldades, o que seria muita pre-sunção de nossa parte. A ciência es-pírita dá os seus primeiros passos eainda não nos revelou todos os seussegredos, por maiores sejam as ma-ravilhas que nos tenha desvendado.Qual a ciência que não tem aindafatos misteriosos e inexplicados?Confessamos, pois, sem nos enver-gonharmos, nossa insuficiência so-bre todos os pontos que ainda nãonos é possível explicar. Assim, lon-ge de repelir as objeções e os ques-tionamentos, nós os solicitamos,contanto que não sejam ociosos,nem nos façam perder o tempocom futilidade, pois que represen-tam um meio de nos esclarecermos.

É a isso que chamamos po-lêmica útil, e o será sempre quandoocorrer entre pessoas sérias que serespeitam bastante para não se afas-tarem das conveniências. Podemospensar de modo diverso sem, porisso, deixar de nos estimarmos. Afi-nal de contas, o que buscamos to-dos nessa tão palpitante e fecundaquestão do Espiritismo? O nossoesclarecimento. Antes de mais nadabuscamos a luz, venha de ondevier; e, se externamos a nossa ma-neira de ver, trata-se apenas da nos-sa maneira de ver, e não de umaopinião pessoal que pretendamosimpor aos outros; entregamo-la àdiscussão, estando prontos para re-nunciá-la se demonstrarem que la-boramos em erro. Essa polêmicanós a sustentamos todos os dias em

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PÁGINAS DA REVUE SPIRITE

Polêmica Espírita

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nossa Revista, através das respostasou das refutações coletivas que tive-mos ocasião de apresentar, a propó-sito desse ou daquele artigo, e aque-les que nos honram com as suascartas encontrarão sempre a respos-ta ao que nos perguntam, quandonão a podemos dar individualmen-te por escrito, uma vez que nossotempo material nem sempre o per-

mite. Suas perguntas e objeçõesigualmente são objeto de estudos,de que nos servimos pessoalmente,sentindo-nos felizes por fazer comque nossos leitores os aproveitem,tratando-os à medida que as cir-cunstâncias apresentam os fatosque possam ter relação com eles.Também sentimos prazer em darexplicações verbais às pessoas que

nos honram com a sua visita e nasconferências assinaladas por recí-proca benevolência, nas quais nosesclarecemos mutuamente.

Allan Kardec

Fonte: Revista Espírita – novembro de1858. Tradução de Evandro Noleto Be-zerra.

151

Muitas vezes já nos dirigiramperguntas sobre a maneirapor que foram obtidas as

comunicações que são objeto de OLivro dos Espíritos. Resumimosaqui, com muito prazer, as respos-tas que temos dado a esse respeito,pois que isso nos ensejará a ocasiãode cumprir um dever de gratidãopara com as pessoas que de boavontade nos prestaram seu con-curso.

Como explicamos, as comuni-cações por pancadas, ou tiptologia,são muito lentas e bastante in-completas para um trabalho alen-tado; por isso não utilizamos ja-mais esse recurso: tudo foi obtidoatravés da escrita e por intermédiode diversos médiuns psicógrafos.Nós mesmos preparamos as per-guntas e coordenamos o conjuntoda obra; as respostas são, textual-mente, as que foram dadas pelos

Espíritos; a maior parte delas foiescrita sob nossas vistas, algumasforam tomadas das comunicaçõesque nos foram enviadas por cor-respondentes ou que recolhemospara estudo em toda parte ondeestivemos: a esse efeito, os Espíri-tos parecem multiplicar aos nossosolhos os motivos de observação.

Os primeiros médiuns queconcorreram para o nosso trabalhoforam as senhoritas B***, cuja boavontade jamais nos faltou: este li-vro foi escrito quase por inteiropor seu intermédio e na presençade numeroso auditório que assistiaàs sessões e nelas tomava partecom o mais vivo interesse. Maistarde os Espíritos recomendaramsua completa revisão em conversasparticulares para fazerem todas asadições e correções que julgaramnecessárias. Essa parte essencial dotrabalho foi feita com o concursoda senhorita Japhet, que se prestoucom a maior boa vontade e o maiscompleto desinteresse a todas as exi-gências dos Espíritos, pois que erameles que marcavam os dias e as ho-

ras para suas lições. O desinteressenão seria aqui um mérito particu-lar, visto que os Espíritos reprovamtodo tráfico que se possa fazer desua presença; a senhorita Japhet,que é também sonâmbula notável,tinha seu tempo utilmente empre-gado, mas compreendeu, igual-mente, que dele poderia fazer umemprego proveitoso, consagran-do-se à propagação da doutrina.Quanto a nós, temos declaradodesde o princípio, e nos apraz rea-firmar aqui, que jamais pensamosem fazer de O Livro dos Espíritosobjeto de especulação, devendosua renda ser aplicada às coisas deutilidade geral; por isso seremossempre reconhecidos aos que se as-sociarem de coração, e por amordo bem, à obra a que nos estamosconsagrando.

Allan Kardec

Fonte: Revista Espírita — janeiro de1858. Tradução de Evandro Noleto Be-zerra.

O Livro dos Espíritos

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Transformai-vos pela reno-vação da vossa mente. Pau-lo (Romanos, 12:2).

O II Encontro Nacional deCoordenadores de ESDE, progra-mado para o período de 25 a 27 dejulho de 2003, em comemoraçãodos vinte anos do lançamento daCampanha do Estudo Sistematiza-do da Doutrina Espírita, terá porobjetivo geral refletir sobre o obje-tivo do ESDE e sua importânciacomo instrumento de transforma-ção do ser.

Essa reflexão se justifica pelofato de que o correto entendimen-to do objetivo do ESDE é de vitalimportância para que o ensino doEspiritismo se mantenha dentrodos parâmetros idealizados porAllan Kardec, no Projeto 1868, edifundidos pelos Espíritos Supe-riores, principalmente a partir dequando se iniciaram os primeiroscursos regulares de Doutrina Es-pírita.

Note-se a propósito que, nãoobstante se veja por toda parte in-tensificar-se o interesse pelo estudodo Espiritismo, nem sempre temhavido uma exata compreensãodesse objetivo, que, em síntese, éestudar o Espiritismo de forma me-tódica, contínua e séria, com pro-

gramação fundamentada na Codi-ficação Espírita. Em decorrênciadisso, não é raro serem introduzi-das, nos Programas de Estudo doESDE, teorias estranhas ao conti-do nas obras básicas, além de algu-mas atividades que não dizem res-peito ao estudo propriamente ditoda Doutrina Espírita. Tudo isso le-va ao enfraquecimento da Campa-nha do ESDE pela falta de uni-dade de vistas justamente entreaqueles que têm a incumbência dedinamizá-la.

Assim, a reflexão que se preten-de fazer será de grande valia nestemomento, quando se completamduas décadas do lançamento daCampanha em referência.

Por outro lado, para eixo temá-tico do Encontro, foi escolhida aexpressiva exortação de Paulo deTarso, em epígrafe.

Emmanuel, ao comentar a re-ferida passagem da epístola de Pau-lo aos Romanos, destaca a impor-tância da nossa renovação moral,apontando o aspecto ilusório dastransformações exteriores da perso-nalidade, as quais, por vezes, se con-vertem em mero agravo de nossasresponsabilidades. Em razão disso,o preclaro instrutor espiritual nosconcita a que nos renovemos pordentro, o que se consegue pelaaquisição e prática do conhecimen-to superior. A certa altura da suamensagem, assinala:

“Renovemos nossa alma, dia adia, estudando as lições dos van-guardeiros do progresso e vivendo anossa existência sob a inspiração doserviço incessante.”1

Com efeito, o estudo das gran-des verdades espirituais aliado à prá-tica do bem incessante resulta na re-novação moral do Espírito. A essedesiderato conduz o Espiritismo,desde que o estudemos, partindodos seus magnos alicerces – a Codi-ficação Espírita – de forma metódi-ca, séria e continuada, de modo aassimilar-lhe o conteúdo, educan-do, ao mesmo tempo, os própriossentimentos. Pode-se dizer, dessa

II Encontro Nacional deCoordenadores de ESDE

– I –José Carlos da Silva Silveira

O estudo das grandes

verdades

espirituais aliado à

prática do bem

incessante resulta na

renovação moral do

Espírito

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Reformador/Abril 2003 35153

forma, que o estudo do Espiritismoé obra de educação, não da educa-ção, como diz Kardec “(...) que ten-de a fazer homens instruídos, maspela que tende a fazer homens debem”.2

A tarefa não é fácil, pois queexige seriedade e perseverança, oque levou o Codificador a afirmar:“(...) o estudo de uma doutrina,qual a Doutrina Espírita, que noslança de súbito numa ordem decoisas tão nova quão grande, só po-de ser feito com utilidade por ho-

mens sérios, perseverantes, livres deprevenções e animados de firme esincera vontade de chegar a um re-sultado.” E mais adiante: “O quecaracteriza um estudo sério é a con-tinuidade que se lhe dá.”3

Possamos nós aproveitar oensejo do II Encontro Nacional deCoordenadores de ESDE para re-fletir sobre os pontos acima ali-nhados, de modo que o Estudo Sis-tematizado da Doutrina Espíritapossa constituir-se, de fato, em ins-trumento excelente de transfor-

mação do ser para a regeneração daHumanidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

1 XAVIER, Francisco Cândido. Fonte Viva. Pe-

lo Espírito Emmanuel. 26. ed. Rio de Janeiro:

FEB, 2001, cap. 107, p. 247-248.

2 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.

Tradução de Guillon Ribeiro. 83. ed. Rio de

Janeiro: FEB, 2002, q. 917, p. 421.

3 Idem, ibidem. Introdução, item VIII, p. 31.

Numa análise do MovimentoEspírita atual, argumenta-mos que os livros espíritas

devem continuar a produzir, comseus textos, uma educação com-plementar à formação do cidadão--espírita e de todos aqueles queprocuram a leitura espírita. É queobservamos, ainda, na sociedadebrasileira, após as eleições, um al-to nível de desinformação educa-cional. A Doutrina Espírita, comseus livros, não pode deixar de la-do esta questão: admitimos quepode e deve também possuir afunção de estar inserida neste con-texto de formação. Daí necessitavivenciar esta realidade social emque vivemos, notadamente comtemas pertinentes às necessidadesbásicas, como educação, fome-mi-séria-doença, assistência social eoutras. Admitimos ainda que afunção da Imprensa Espírita (jor-nais, revistas e livros) é também

preparar futuras gerações de brasi-leiros para serem úteis à Sociedade,como aliás, no passado, a própriaFederação Espírita Brasileira (FEB)se colocou a serviço da abolição daescravatura.

Tem-se ainda o exemplo domédico e político Adolpho Bezerrade Menezes, Presidente da FEB,que se responsabilizou pela coluna“Estudos Filosóficos”, no jornalO Paiz, do Rio de Janeiro, editadosob direção de Quintino Bocaiúva,um dos fundadores da Repúblicabrasileira. Portanto, admitimos quetodos aqueles colaboradores, aoanalisarem um livro, devem obser-var que o escritor e o leitor se co-nhecem mutuamente: aquele parasaber o que escrever e este, para sa-ber como assimilar conscientemen-te textos doutrinários, complemen-tando sua educação-cidadã. É queo atual mercado editorial espíritaestá exigindo progressivamente me-lhor qualificação de novas obras es-

píritas, com abordagens úteis ao in-divíduo, sem adulterar os textos bá-sicos da Codificação. Estas obrasedificantes fazem com que o leitordescubra os conceitos, princípios ea organização de seu novo mundoque irão ajudá-lo a orientar e a seestruturar como adulto na Doutri-na. A base, contudo, está na Codi-ficação de Allan Kardec e seus con-tinuadores doutrinários. Não existenem existirá Espiritismo sem osfundamentos doutrinários da Codi-ficação. As novas obras doutriná-rias, portanto, procuram esclarecere orientar as abordagens, dandocontinuidade aos rumos já traçadosna Codificação. E ainda mais: assu-mir uma postura construtiva dian-te da realidade em contínua trans-formação no Brasil para que elacontinue a crescer e a se manter nasociedade brasileira, em face dosavanços marcados pelo poder eco-nômico, e por alguns segmentosreligiosos.

Livros Espíritas e Educação complementarDulcídio Dibo

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Omundo atual está caracteriza-do por uma pluralidade decostumes, por diferentes ma-

nifestações religiosas e por uma di-versidade cultural marcante. A Hu-manidade deste milênio deverá,desde cedo, aprender a convivercom a divergência e com as maisopostas características sociais, de-correntes da rapidez e praticidadedos diferentes meios de comunica-ções e dos sofisticados e operantestipos de transportes que têm favo-recido a aproximação e a miscigena-ção de diferentes povos.

No grande futuro que nos aguarda, haverá aproximação maisefetiva entre as raças humanas, re-curso necessário à organização dafamília terrestre, tendo em vista aimplantação da mensagem cristã:“Haverá um só rebanho e um sópastor.”

Se a pluralidade das culturasrepresenta, por um lado, um pro-gresso nas relações humanas, pode,por outro, criar obstáculos de difí-cil resolução se as criaturas detento-ras de maior conhecimento e deboa vontade permanecerem indife-rentes às manifestações dos acon-tecimentos. Há, neste sentido, umponto que merece maior reflexãopelas conseqüências que poderão

advir: diz respeito à questão reli-giosa.

A pluralidade de interpretaçõesreligiosas existentes no mundo ho-dierno é do conhecimento de to-dos. Se no passado representou amatriz geradora de guerras e decombates insanos, pode, perfeita-mente, tornar-se um fato de uniãoe de progresso, dependendo dasações desenvolvidas pelos represen-tantes das religiões. É viável pensarnum entendimento religioso entreas criaturas humanas, a despeito dossérios desentendimentos existentesno momento nos campos social,econômico e cultural. É possível,sim, pensar em união religiosa por-que, ao longo dos séculos, benfeito-res espirituais são enviados ao renas-cimento corporal no seio de di-versas culturas com objetivos deaproximar, uns dos outros, Espíri-tos mais moralizados.

A título de exemplo, podemos,resumidamente, lembrar que o en-sinamento de Jesus que representaa regra áurea de conduta moral en-contra similitude nos ensinamentosbásicos de povos não cristãos. As-sim, quando o amorável Mestre Je-sus nos orienta que “devemos fazeraos outros tudo aquilo que gostaría-mos que os outros nos fizessem”,encontramos os seguintes ecos:a) entre os judeus: não fira teu ir-

mão para não ser ferido;b) entre os muçulmanos: o ponto

de honra mais elevado deve ser

aquele de só fazer ao outro oque não lhe causa sofrimento;

c) entre os budistas: esclarecemosque faça ao outro o que quere-mos que o outro nos faça;

d) entre os hindus: entendemosque não se deve fazer o mal pa-ra não receber o mal em nóspróprios;

e) entre os povos que vivem emregime tribal: o mal feito aooutro voltará para quem o pra-ticou.Nesse contexto, podemos in-

terpretar que o amor ao próximoestá suficientemente apregoado en-tre os praticantes de diferentes sei-tas religiosas. São ensinamentos queremontam a séculos e que ao longodos tempos têm sido a diretriz parao relacionamento humano.

Acima e apesar das divergênciasque o mundo globalizado nos reve-la, encontramos um ensinamentobásico, capaz de manter unidos osseres humanos. É dessa forma, ami-gos, que as promessas do Cristo sãocumpridas. Façamos, pois, a parteque nos compete nesta empreitadade fazer do nosso Planeta uma habi-tação de paz e de amor.

Que as bênçãos de Jesus nosenvolvam e nos protejam.

Fred Figner

(Mensagem psicografada na reunião dogrupo mediúnico de quinta-feira, na FEB,em Brasília, em 28 de março de 2002.)

Amor ao próximo:denominador comum das religiões

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1 – A importância do livroMuitos marcos históricos e cul-

turais da humanidade têm sido in-dicados pelo livro: O povo judeu,conhecido como o povo do livro,devido a seus livros sagrados. Os Li-vros da Boa Nova, caracterizandoos primeiros cristãos (a propósito:os textos eram anteriormente escri-tos em rolos de papiro ou pergami-nho chamados em latim de volu-mem, depois surgiram os códices,folhas costuradas, como atualmen-te são os livros e esta mudança, se-gundo alguns historiadores, está as-sociada à difusão do cristianismo)[1-3]. No início dos tempos moder-nos temos a epopéia das navegaçõesem Os Lusíadas, de Camões, e oDo Movimento dos Corpos Celestes,de Copérnico, ambos no séculoXVI. O nascimento da Químicamoderna com o Tratado Elementarde Química, de Lavoisier, em 1789.Citamos apenas alguns exemplos.O surgimento da Doutrina do Es-píritos não poderia ser de outra for-ma: o lançamento de O Livro dosEspíritos, de Allan Kardec, em 18de abril de 1857.

Lembremos aqui uma mensa-

gem recebida na Sociedade Espíritade Paris em 19 de fevereiro de 1864e que está publicada na Revue Spi-rite (Revista Espírita) [4], assinadapelo Espírito Guttemberg. Ele dis-serta sobre o surgimento da im-prensa, em 1456, mostrando queaté aquela época, as civilizações seexpressavam através dos monumen-tos de pedra, a partir daí “o pensa-mento mistura-se ao ar, espiritua-liza-se, será indestrutível”. É inte-ressante este contraponto: a transi-toriedade da pedra e a perenidadedo que se mistura ao ar.

O livro foi, é e será, por muitotempo ainda, um dos principais ins-trumentos de instrução e aprendiza-gem, de transmissão e armazenagemde idéias. Melhor que qualquer pro-sa são os versos de Castro Alves:

Oh! Bendito o que semeiaLivros... livros à mão cheia...E manda o povo pensar!O livro caindo n’almaÉ germe – que faz a palma,É chuva – que faz o mar

(Castro Alves, O Livroe a América)[5]

Como dissemos, a DoutrinaEspírita surge com o livro. O Mo-

vimento Espírita vai se formando,se estruturando sobre o livro, ini-cialmente na França e, depois, noresto do mundo, com as traduções.No Brasil, o Espiritismo é inicial-mente conhecido apenas por algunsintelectuais, ou seja, pessoas letra-das e conhecedoras da língua fran-cesa, capazes de ler as obras de Kar-dec no original [6]. O Espiritismotorna-se um pouco mais populardepois que surgiram as primeirastraduções (não podemos nos esque-cer que o Brasil, na época, era umpaís em que a grande parte da po-pulação era analfabeta). A primeiratradução, no Brasil, de O Livro dosEspíritos foi em 1875, por JoaquimCarlos Travassos, sob o pseudônimode Fortúnio (Editora Garnier, Riode Janeiro) [7]. Entretanto, dois fa-tos históricos interessantes, do iní-cio deste século, mostram a impor-tância da imprensa na difusão doEspiritismo: Na cidade de São Paulo, Antô-

nio Gonçalves da Silva, o Ba-tuira, fazia circular (a partir de1890), o periódico espírita Ver-dade e Luz, com tiragem de 15mil exemplares! [8].Em Matão, interior de SãoPaulo, Cairbar de Souza Schu-tel inaugura, em 1905, o perió-

O Livro Espírita:algumas considerações

(Parte I)Aécio Pereira Chagas*

*e-mail: [email protected]

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38 Reformador/Abril 2003156

dico O Clarim, de grande pe-netração e que circula até hoje[7].

2 – Uma definição e uma classi-ficação da literatura espírita

O conjunto de obras escritas so-bre um determinado assunto é cha-mado bibliografia ou literatura. As-sim podemos falar de BibliografiaMédica ou Literatura Médica, signi-ficando o conjunto das obras escritas(livros, revistas etc.) sobre Medicinaou que tenham interesse médico.

Fala-se também em literaturaespírita ou bibliografia espírita, po-rém é necessário uma definição damesma: Literatura Espírita é oconjunto de obras que versam sobrea Doutrina Espírita, ou foram es-critas sob sua inspiração ou mode-lo, ou ainda, que foram incorpora-das por lhe serem concordes. Noteque há uma diferença entre a Bi-bliografia Espírita e a Doutrina Es-pírita [9].

A Bibliografia Espírita constaatualmente mais de 3.000 títulosdisponíveis no mercado, ou seja,obras listadas nos catálogos das dis-tribuidoras e das livrarias espíritas.

Para auxiliar os estudantes daDoutrina Espírita, é interessanteconsiderar dois critérios de classifi-cação dessas obras, mais para mos-trar o que há para ler, do que exter-nar alguma posição doutrinária.Estamos menos na posição de umbibliotecário, porém mais na de umlivreiro, ou melhor, de alguém quesimplesmente resolve arrumar suabiblioteca.

O primeiro critério consideraque a obra pode ser mediúnica ounão mediúnica. As primeiras sãoaquelas em que o autor é um espí-rito desencarnado, que, através de

um médium, transmitiu sua obraaté nós. As não mediúnicas são, evi-dentemente, as obras comuns, deautores encarnados. Do ponto devista jurídico, o autor de uma obramediúnica é o médium. Muitasobras espíritas são constituídas porpartes mediúnicas e partes não me-diúnicas, como por exemplo O Li-vro dos Espíritos [10].

O segundo critério é uma clas-sificação das obras espíritas em cin-co grupos:

Obras de KardecObras complementaresObras de divulgação ou didáti-casRomances e poesiasPeriódicosVejamos um pouco de cada

uma delas.

2.1 – Obras de Kardec: Po-dem ser também divididas em:

As cinco obras básicas: O Livrodos Espíritos, O Livro dos Mé-

diuns, O Evangelho Segundo oEspiritismo, O Céu e o Infer-no e A Gênese.Outras obras, inclusive de di-vulgação: O que é o Espiritis-mo, O Espiritismo em suaMais Simples Expressão, ObrasPóstumas, Viagem Espírita de1862 e outras.Revista Espírita, editada porKardec, perfazendo, neste pe-ríodo, 1858 a 1869, 12 vo-lumes.A Revista Espírita, pouco co-

nhecida pelos próprios espíritas,constitui um repositório de ensaios,relatos de fatos espíritas ocorridosem diversas partes do mundo e emvárias épocas, análises de vários pro-blemas à luz da Doutrina Espírita,mensagens espirituais, citações daimprensa de vários países, refuta-ções a acusações levantadas ao Espi-ritismo etc.

2.2 – Obras complementares:São as obras escritas por outros au-tores que complementam, desenvol-vem, ampliam os temas apresenta-dos nas obras de Kardec, desdo-bram determinados assuntos commais esclarecimentos ou que trazem,inclusive, acréscimos e novidades,nos aspectos científicos, filosóficos ereligiosos do Espiritismo. São cons-tituídas por obras mediúnicas e nãomediúnicas, englobando as escritasdesde o século passado até recente-mente. Dentre os autores espirituaiscitamos alguns: Emmanuel, AndréLuiz, Philomeno de Miranda, Be-zerra de Menezes. Entre os encarna-dos podemos citar: Léon Denis, Ga-briel Delanne, Bezerra de Menezes,Herculano Pires, Hermínio Miran-da. Note que Bezerra de Menezes fi-gura entre os dois grupos.

A Revista Espírita,

pouco conhecida pelos

próprios espíritas,

constitui um

repositório de ensaios,

relatos de fatos

espíritas ocorridos em

diversas partes do

mundo

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2.3 – Obras de divulgação oudidáticas: São obras destinadas a di-vulgarem a doutrina entre as pessoasque desconhecem o Espiritismo ouàqueles que começam a estudar aDoutrina, caracterizando-se, muitasvezes, por uma linguagem mais sim-ples. Algumas são destinadas acrianças e jovens, outras a pessoas de“poucas letras”. Vamos destacar al-gumas a título de exemplo: O Espi-ritismo em Linguagem Simples[11] e Ensinamento dos Espíritos,ambas de Homero Barros [12], des-tinadas a pessoas, crianças e adultos,que têm ainda dificuldades na leitu-ra. Estudando a Mediunidade, deMartins Peralva [13], indicada paraaqueles que começam a estudar amediunidade. O Principiante Espí-rita, de Kardec [14], destinada apessoas que querem ter uma idéia doque é o Espiritismo, insere-se tam-bém nesta categoria.

2.4 – Romance e poesia: Estacategoria constitui o maior contin-gente de obras, pois os romancestêm a grande preferência do públi-co. Os romances são às vezes obrasde ficção, onde o elemento espiri-tual tem um aspecto importante,outras são narrativas verídicas, rela-tadas pelos próprios protagonistasque, na maioria das vezes, estão noplano espiritual. Parte são mediúni-cos e parte são não mediúnicos.Além do deleite da leitura, os ro-mances trazem também muitos en-sinamentos doutrinários. Os livrosde poesia, principalmente os me-diúnicos, em menor número, sãotalvez mais significativos, pois alémde seu lado belo, trazem também,em termos de estilo, a marca regis-trada do autor.

Façamos agora um parêntesis

para comentar um pouco sobre umlivro de poesia muito importante,chamado Parnaso de Além-túmulo,que é o primeiro livro psicografadopor Francisco Cândido Xavier, lan-çado em 1932 [15]. No caso, par-naso significa antologia, coletâneade poesias. São cerca de 40 poetasbrasileiros e portugueses que se ma-nifestaram através do médium, comsuas características, seus estilos pró-prios, alguns inconfundíveis. Comoexemplo, uma estrofe de Castro Al-ves (espírito), para ser comparadacom a que já mostramos no iníciodeste artigo:

Oh! Bendito quem ensina,Quem luta, quem ilumina,Quem o bem e a luz semeiaNas fainas do evolutir:Terá a ventura que anseiaNas sendas do progredir.

(Castro Alves (espírito),Marchemos!, Parnaso de

Além-túmulo)[16]

Na linguagem literária, pasti-cho significa escrever imitando o es-tilo de outro autor. Pastichar umautor é coisa comum. Dois, é difí-cil. Três é raridade. 40 então...! Aprimeira vista, poder-se-ia dizer queO Parnaso seria um pasticho feitopelo próprio Chico Xavier. Para is-so ser possível ele deveria ter lido eestudado muito a literatura brasilei-ra e portuguesa, além de ter dotesintelectuais muito raros. Quando olivro foi lançado o médium tinhacerca de vinte anos (muito jovempara tanta leitura), apenas o cursoprimário (4a série de hoje) e não de-monstrava os raros dotes intelec-tuais necessários. É mais lógico esimples admitir a mediunidade que

apelar para teorias do inconscienteou coisas semelhantes. E há aindavários outros livros deste tipo (an-tologias poéticas), psicografados pe-lo Chico, envolvendo ainda outrosautores.

No segundo semestre de 2001,Alexandre Caroli Rocha defendeusua tese de mestrado, “A poesiatranscendente de Parnaso de alémtúmulo”, no Instituto de Estudosda Linguagem, na Unicamp (Cam-pinas, SP) [18], tendo sido aprova-da. Neste trabalho, utilizando asferramentas da Análise Literária,Rocha compara os poemas do Par-naso com os poemas escritos pelosautores “vivos” (João de Deus, An-tero de Quental, Guerra Junqueiro,Cruz e Souza e Augusto dos Anjos),concluindo que ambos os gruposde poemas têm as mesmas carac-terísticas. Rocha ainda mostra algomuito interessante: o plano do Par-naso é o mesmo de O Livro dos Es-píritos, ou seja, para cada capítulodeste último, há pelo menos umpoema no Parnaso, que ilustra eexemplifica o tema tratado (Deus,Lei divina ou natural, prece etc.)[19].

De qualquer forma, cabe aindaa pergunta: São eles mesmos? Narealidade a identificação dos espíri-tos é um problema difícil, confor-me já disse Kardec:

“A questão da identidade dosEspíritos é uma das mais con-trovertidas, mesmo entre osadeptos do Espiritismo. É que,com efeito, os Espíritos nãonos trazem um ato de notorie-dade e sabe-se com que facili-dade alguns dentre eles tomamnomes que nunca lhes per-tenceram. Esta, por isso mes-

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mo, é, depois da obsessão, umadas maiores dificuldades do Es-piritismo prático. Todavia, emmuitos casos, a identidade ab-soluta não passa de questão se-cundária e sem importânciareal.” [17]

Este parágrafo resume tambémas considerações que há no restantedo capítulo. Kardec enfatiza sempreque o importante é o conteúdo damensagem e não quem a assina.

Na Revista Espírita [20] háuma interessante polêmica entre es-píritos, com relação aos estilos. Noséculo XVIII, Buffon, célebre natu-ralista e escritor francês, em seu dis-curso de posse na Academia, profe-riu o aforismo que “O homem é oseu próprio estilo” e que ficou co-nhecida na forma mais abreviada“O homem é o estilo”. Em 19 dejulho de 1864, na Sociedade Espíri-ta de Paris, Lamennais, outro desta-cado autor francês, dita uma comu-nicação em que contradiz Buffon,mencionando que muitas vezes apessoa afirma algo que lhe é contrá-rio e “longe de ser o autor moral desuas obras, é apenas o autor mate-rial,...”. Lamennais refere-se ao fatode muitas vezes o autor atuar comomédium. Dias depois o próprioBuffon envia uma réplica ao ditadode Lamennais, reafirmando seu afo-rismo, proferido quando encarnado,e tecendo alguns comentários sobreLamennais. O espírito Buffon res-ponde também a perguntas feitaspor Kardec. Depois, em defesa deLamennais há outras comunicaçõesenvolvendo luminares das letrasfrancesas, além de respostas de Buf-fon e de Lamennais. FinalmenteErasto, mentor da reunião, comen-ta sobre o “torneio literário e filosó-

fico ocorrido nas últimas sessões devossa sociedade”. As conclusões quepodemos tirar é que todos estão cer-tos: o homem é o estilo, porém nemsempre ele é o autor moral de suaobra.

Há um romance mediúnicopsicografado por Waldo Vieira, cha-mado Cristo Espera Por Ti [21] cu-jo autor espiritual é Balzac, um dosmais importantes escritores france-ses. O prefácio, que ele indica ape-nas por um ponto de interrogação,começa assim:

?E o leitor dirá: “Será mesmo?”Decerto, quem nos conhe-ce não espera encontrar, nestaspáginas, o mesmo Balzac, emtudo semelhante àquele demais de século atrás. Imensastransformações se operaramdentro e fora de nós, tivemosoutras experiências, passamosenormes temporadas sem vestiro burel, sem empunhar a pena,sem ingerir café... Mas isso nãoquer dizer que deixamos deser nós próprios. Quem quiseraveriguá-lo analise com impar-cialidade os múltiplos ângulosdeste volume e nos encontrará,intrinsecamente qual éramos,apresentando, não qualquerreedição do que já escrevemos,mas uma história original.

O que é chamado de burel erauma bata que Balzac vestia sobre aroupa, quando escrevia, o que faziatomando café o tempo todo.

Mas o convite feito por Balzacfoi atendido por Osmar Ramos Fi-lho, do Rio de Janeiro. Psicólogo deprofissão, porém profundo conhe-cedor da obra de Balzac (este dei-

xou cerca de 120 romances), resol-veu “psicanalisar” não Balzac, mas apsicografia. Os resultados de suapesquisa estão no livro O Avesso deum Balzac Contemporâneo [22]. Éum livro com quase 600 páginas eletra miúda (para comparar, a psi-cografia tem 325 páginas, metadedo formato e letra grande) e a con-clusão a que ele chega é que CristoEspera por Ti é um pasticho daobra de Balzac, feito à moda de Bal-zac, com o estilo de Balzac e que,portanto, só poderia ter sido feitopelo próprio Balzac. Osmar mostra,por exemplo, que Balzac se repetia,pois personagens secundários deum romance surgem em outros co-mo principais e vice-versa, situaçõesda vida se repetem (Balzac é umhistoriador dos costumes), e o mes-mo padrão de repetição encontra-sena psicografia. É algo impressio-nante acompanhar esta análise. Se-gundo Hermínio Miranda, no pre-fácio de O Avesso, trata-se de obraúnica no mundo.

Com respeito a análise de umaobra mediúnica, pode-se ainda le-vantar a questão: “e a participaçãodo médium?”

A respeito disto há um estudointeressante na Revista Espírita[21]. Alguém escreve a Kardec per-guntando sobre a validade de umacomunicação recebida por uma mé-dium, em que aconselhava um ou-tro médium a cobrar pelas suasconsultas e distribuir o dinheiro aospobres. A comunicação era atribuí-da ao Sr. Jobard. Na Revista Espíri-ta há várias comunicações de Jo-bard, figura destacada, na época, daindústria belga: sua carta, quandoencarnado, comunicando sua ade-são à causa espírita e várias outrasapós sua desencarnação. Kardec en-

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via a pergunta a seis médiuns daSociedade Espírita de Paris para queo próprio Jobard, se possível, pu-desse responder à pergunta. Estesmédiuns, desconhecendo que a mes-ma pergunta havia sido formu-lada a outros, trabalharam em suascasas e no dia seguinte deram suaresposta a Kardec, conforme estehavia solicitado. Todas as seis res-postas são perfeitamente coinciden-tes em sua essência, apesar das dife-renças, diríamos, de estilo. Todas,assinadas por Jobard, afirmam quenão se deve cobrar e em todas háum trocadilho: “estão querendo mefazer de jobard” (jobard em francêsquer dizer também bobo, tolo), de-vido ao fato da mensagem recebidaanteriormente ter sido assinadacom seu nome. Este é um casomuito interessante que merece seranalisado por todos aqueles que sededicam aos trabalhos de intercâm-bio com o mundo espiritual.

Bem, voltaremos aos comentá-rios das obras espíritas na Segundaparte deste artigo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] – Alberto Manguel, Uma história da leitu-

ra, Companhia das Letras, São Paulo, 1997.

[2] – Roger Chartier; A Aventura do Livro: do

leitor ao navegador, Fundação Editora Unesp,

São Paulo, 1998.

[3] – Luiz Waldvogel; A Fascinante História do

Livro, Shogun Editora e Arte, Rio de Janeiro,

1984.

[4] – Revista Espírita (Jornal de Estudos Psico-

lógicos), Allan Kardec (Ed.), trad. Júlio Abreu

Filho, EDICEL, s/ data. Abril 1864, p. 117.

[5] – Castro Alves; Poesias Completas (17a ed.),

Ediouro, Rio de Janeiro, 1995.

[6] – Ubiratan Machado; Os Intelectuais e o

Espiritismo (2a ed.), Publicações Lachâtre, Ni-

terói, 1997.

[7] – Zêus Wantuil; Grandes Espíritas do Bra-

sil (2a ed.), Ed. FEB, Rio de Janeiro, 1969.

[8] – Paulo Alves Godoy, Grandes Vultos do Es-

piritismo (2a ed.), Ed. FEESP, São Paulo, 1990.

[9] – Aécio Pereira Chagas; “A Bibliografia Es-

pírita”, Revista Internacional de Espiritismo,

setembro de 1991, p. 235.

[10] – Allan Kardec; O Livro dos Espíritos, Ed.

FEB, Rio de Janeiro, 1994.

[11] – Homero Moraes Barros, O Espiritismo

em Linguagem Fácil, Casa Editora O Clarim,

Matão (SP), s/data.

[12] – Homero Moraes Barros, Ensinamento

dos Espíritos, Casa Editora O Clarim, Matão

(SP), s/data.

[13] – Martins Peralva, Estudando a Mediuni-

dade, Edição FEB, Rio de Janeiro, 1971.

[14] – Allan Kardec, O Principiante Espírita,

Ed. FEB, Rio de Janeiro, 1969.

[15] – Francisco Cândido Xavier; Parnaso de

Além-túmulo (8a ed.), Ed. FEB, Rio de Janei-

ro, 1967.

[16] – Idem ref. [15], p. 209.

[17] – Allan Kardec; O Livro dos Médiuns, Ed.

FEB, Rio de Janeiro, 1996, segunda parte,

cap. XXIV.

[18] – Alexandre Carioli Rocha, A poesia trans-

cendente de Parnaso de além túmulo, tese de

mestrado, IEL – Unicamp, Campinas (SP),

2001.

[19] – Alexandre Caroli Rocha, “A Formação

do ‘Parnaso de Além-túmulo’”, Alavanca,

Campinas (SP), junho 2002, no 473, p. 4.

[20] – idem ref [4], Setembro de 1861, p. 273.

[21] – Waldo Vieira; Cristo Espera por Ti, Ho-

noré de Balzac (espírito), IDE, Araras (SP),

1983.

[22] – Osmar Ramos Filho; O Avesso de um

Balzac Contemporâneo: arqueologia de um

pasticho, Publicações Lachâtre, Niterói, 1995.

[23] – idem ref. [4]. Dezembro de 1864,

p. 368.

Entre o erro e o acertoCorydes Monsores

O ser eterno tem necessidadedo bem e mal para discernimento;se o mal predomina num momento,noutro momento encontra a realidade.

É pela busca incessante da verdadeque, constante, empenhamos o talento;mal empenhado vai gerar tormento,bem empregado traz serenidade.

Caminhando por séculos aforaentre o erro e o acerto, hora a horao progresso transforma nosso ser.

Apesar dos problemas infinitos,da dor suprema, tormentosos gritos,sempre o amor do PAI há de vencer.

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DIJ/FEB: Curso para EvangelizadoresO Departamento de Infância e Juventude da FEB rea-lizou na Sede Central, em Brasília, nos dias 22 e 23 defevereiro, o Curso de Atualização de Evangelizadores2003, tendo como público-alvo os Evangelizadores daInfância e Juventude do Campo Experimental deBrasília, colaboradores e interessados na tarefa de evan-gelização. Objetivos: Atualizar os evangelizadores nosaspectos pedagógicos e doutrinários; favorecer o co-nhecimento das características do desenvolvimentopsicológico das crianças e dos jovens; promover a in-tegração entre os colaboradores do DIJ, além de ou-tros. Conteúdo programático: Evangelização EspíritaInfanto-Juvenil; Planejamento Didático; RecursosDidáticos e o Processo Ensino-Aprendizagem; Técni-cas de Ensino; e Desenvolvimento Psicológico e So-cial da Infância e da Juventude.

MEDNESP 2003 A Associação Médico-Espírita do Brasil promoverá noCentro de Convenções Anhembi, em São Paulo (SP),de 18 a 21 de junho, o MEDNESP 2003, que com-preende o IV Congresso Nacional da AssociaçãoMédico-Espírita do Brasil e o II Encontro Internacio-nal de Médicos-Espíritas. O evento contará com osconvidados internacionais – Amit Goswami, físico,autor do livro O Universo Autoconsciente, e Uma Kri-shnamurthy, psiquiatra infantil, com o tema EstadosAlterados de Consciência e Saúde Mental. Pré-Congres-so: haverá um Seminário com Divaldo Pereira Franco.

ICEB: Ano letivo de 2003O Instituto de Cultura Espírita do Brasil pro-moveu em 8 de março, às 15 horas, na sua sede(Rua São Francisco Xavier, 609-fundos – Maracanã– Rio de Janeiro-RJ) a aula inaugural do ano leti-vo de 2003, pelo expositor Eduardo Guimarães (RJ).Em janeiro e fevereiro realizou palestras aos sábados,em sua “Programação de Férias”.

Alagoas: Encontro de Jovens EspíritasA Federação Espírita do Estado de Alagoas realiza, emMaceió, através de sua Coordenação para AssuntosDoutrinários (DIJ/ESDE), o EJEAL – Encontro de

Jovens Espíritas de Alagoas –, no período de 17 a 20de abril corrente, com o tema central A Conquista daPaz. No domingo, dia 20, o evento será encerradocom uma caminhada pela orla da praia de PontaVerde, com o slogan Em Alagoas, somos pela Paz, daqual participarão diversas entidades representati-vas da sociedade alagoana.

Paraná: Simpósio Paranaense de EspiritismoA Federação Espírita do Paraná promove, no pe-ríodo de 25 a 27 deste mês, o VI Simpósio Para-naense de Espiritismo, no Ginásio do Círculo Mi-litar do Paraná, em Curitiba, com o tema Faces daViolência. Os coordenadores do evento – DivaldoPereira Franco e José Raul Teixeira – abordam, emduas conferências, dois seminários e um painel, as-suntos de grande interesse nos dias atuais, como:Obsessão e violência; Educação e violência, além deoutros.

Rio de Janeiro: Simpósio de Dirigentes EspíritasA União das Sociedades Espíritas do Estado do Riode Janeiro promoveu em sua sede, no dia 23 demarço, o XI Simpósio de Dirigentes Espíritas, ten-do por objetivo o lançamento do Projeto – Preven-ção ao uso indevido de Drogas. Temas abordados, en-tre outros: Responsabilidade Social e o Papel daCasa Espírita no Trabalho Preventivo; O TrabalhoPreventivo na Comunidade e no Movimento Espí-rita.

USE/SP: Simpósio de Profissionais do DireitoA União das Sociedades Espíritas do Estado de SãoPaulo promoverá em 31 de maio próximo, na sededa Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de SãoPaulo, o I Simpósio de Profissionais do Direito Es-píritas, em conjunto com as seguintes InstituiçõesEspecializadas: União dos Delegados Espíritas do Es-tado de São Paulo, Associação dos Magistrados Es-píritas do Brasil e Associação Médico-Espírita de SãoPaulo. Serão recebidas pela USE/SP (Rua GabrielPiza, 433 – Santana – São Paulo-SP) até o dia 30 deabril, propostas escritas (máximo de 60 linhas) paraanálise.

SEARA ESPÍRITA

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