a verdadeira surdez
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CENTRO UNIVERSITÁRIO AGESBACHARELADO EM PSICOLOGIA
SURDEZ MENTAL COMO A VERDADEIRA SURDEZ. A INCURAVEL SURDEZ.
Robson S. Silva
Paripiranga/BAOutubro de 2016
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SURDEZ MENTAL COMO A VERDADEIRA SURDEZ. A INCURAVEL SURDEZ.
Robson Santos Silva¹
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo discutir alguns aspectos da surdez mental tendo como
eixo norteador de discussão o Eixo-I LIBRAS do projeto integrador alem de discussões
presentes ao longo do semestre em sala de aula. Como norte referencial à presente discussão,
o presente trabalho utiliza-se da entrevista de profissionais de pedagogia e psicologia no que
se refere à compreensão da surdez à ótica profissional dos entrevistados. Foram selecionados
algumas pergunta e respostas que julguei mais pertinentes para a presente discussão no que se
refere a surdez iniciando-se o trabalho com a seguinte questão: o que é surdez? Espera-se com
esta pergunta, identificar algumas diferenças no conceito de surdez, tanto física quanto mental
bem como esta se estabelece em nossa sociedade ou em nosso meio social.
¹Robson Santos Silva. Bacharelando em psicologia pelo Centro Universitário de Ciências Humanas e Sociais UniAGES.
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DESENVOLVIMENTO
O que é surdez? Para Fernando Berthier (1945), surdo Francês, citado por Gesser
(2009, p. 63), “[...] A verdadeira surdez, a incurável surdez, é a da mente. ” Partindo desta
observação, percebe-se que a surdez tem um aspecto mental, ou seja, abstrato, e não
necessariamente um aspecto físico, diferentemente da definição como fomos ou somos
condicionados a conceber, idealizar, imaginar ser a surdez uma deficiência do canal auditivo,
procedida de uma natureza orgânica, abrangida como dificuldade física que impeça a pessoa
de ouvir, onde o deficiente auditivo, se caracteriza como um sujeito falho, incompleto,
imperfeito (Biderman, 1998). Neste sentido, se a surdez é compreendida como o estado de
quem não ouve diametralmente nada, para Berthier, a surdez é compreendida como uma
patologia mental na cabeça de quem pode ouvir e insiste em ignorar ou não ouvir nada. Ou
seja, a impressão que temos segundo a análise que se observa à luz da definição de Berthier, é
que surdo não é quem não ouve, mas todo e qualquer indivíduo que não quer ouvir. Impressão
esta, não muito diferente das encontradas nas falas dos entrevistados do projeto integrador,
com exceção apenas às falas das psicólogas, ao que nos leva entender, que a definição de
surdez encontrada em Berthier, não se diferencia muito das definições deparadas pelos
pedagogos entrevistados. Observemos suas respostas às definições de surdez:
1. Para você, o que é surdez e o que é ser surdo?
1. Surdez é uma pequena barreira que o indivíduo surdo encontra para interação
social. (Rubinaldo, Professor de Português e Inglês, Lagarto-SE, 25 anos).
2. Surdez ou ser surdo é uma barreira para que se possa estabelecer uma
comunicação oral, que pode ser substituída pela língua de sinais. (Vera, Pedagoga, Poço
Verde-SE, 32 anos).
3. Surdez é a perda parcial ou total da audição. Ser surdo não é apenas não
ouvir ou ouvir pouco, mas é ter uma característica diferente, ver o mundo e apreender a
realidade com os olhos. É ter uma cultura própria com sua língua natural e buscar a
interação social a partir dela. (Carmem, Psicóloga Escolar, Paripiranga-BA, 25 anos).
4. É a perca parcial ou total da audição. São pessoas que criam a sua própria
cultura, uma relação diferente com o mundo e com a comunidade em geral. (Ana, Psicóloga
Escolar, Paripiranga-BA, 28 anos).
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Tanto a resposta 1 (um) quanto a resposta 2 (dois) – e estas ora aqui são as que
nos interessam-, apresentam a surdez como barreiras encontradas ou estabelecidas no meio
social que dificultam aquela pessoa que não dispõe da linguagem oral de interagir ou se
comunicar. Neste sentido, tanto a resposta 1 (um) quanto a resposta 2 (dois), levantam outras
questões: quem estabelece estas barreiras e, como são estas barreiras estabelecidas? Resposta
a estas questões, podem ainda serem encontradas nas falas dos pedagogos entrevistados,
especificamente a fala de Rubinaldo, vejamos: “[...] a surdez se configura como uma pequena
barreira que o indivíduo surdo encontra para interação social” neste sentido, concordemos que
esta barreira seja criada pela própria sociedade, esta que regula e normatiza modos de vida,
ditam regras de convivência e modos de como devamos nos portar, agir e pensar para sermos
aceitos ou incluídos no meio social. A mesma sociedade, formada por indivíduos, detentores
da linguagem oral sobrepondo seu poder de domínio e controle sobre a cultura ou sociedade
surda (GESSER, 2009), quando na verdade, os verdadeiros surdos, os verdadeiros deficientes,
são estes mesmos indivíduos que ao deterem a linguagem oral, se fazem surdo no momento
ou instante que não propiciam ou privam a pessoa que não dispõe de linguagem oral espaços
de interação social, espaços de escuta, espaços de respeito e aceitação do novo e do diferente,
por que o novo assusta e o diferente amedronta (GESSER, 2009)
Tanto nas respostas de entrevistas de Rubinaldo e Vera quanto na análise do
sentido que nos queira passar Berthier, é que surdo não é o sujeito que perdeu sua capacidade
de audição ou deveras nascera sem esta capacidade, haja vista, substituída pela linguagem de
sinais como observa a pedagoga entrevistada e como bem observamos no espaço de debates
acadêmicos. A surdez como deficiência, e deficiência mental, difícil de ser curada, é
entendida pela incapacidade de oportunizar espaço de escuta ou interação social à pessoa que
não dispões do dispositivo oral e fonador como forma de se comunicar no modo de como
normatiza a sociedade oralizada (GESSER, 2009). Sociedade que desconhece ou ignora a
língua de sinais como uma linguagem universal.
Sociedade que desconhece a língua de sinais como língua natural como natural
tanto quanto a língua oral, sendo ainda difícil, para uma sociedade oralizada, conceber que a
linguagem de sinais seja capaz de expressar ou transmitir conceitos abstrato, como respeito,
amor, amizade, escuta, reflexão e outros como coloca Gesser (2009, p. 23): “É correto afirmar
que as pessoas que falam línguas de sinais expressam sentimentos, emoções e quaisquer
idéias ou conceitos abstratos. Tal como os falantes de línguas orais, os falantes de línguas de
sinais podem discutir filosofia, política, literatura, assuntos cotidianos.”.
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Para a entrevistada, Carmem, psicóloga escolar, ser surdo é ter uma característica
diferente, ver o mundo e apreender a realidade com os olhos. Com efeito, o conceito de
diferente, como coloca a psicóloga, foge à característica do que seja normal, e normal neste
sentido que a psicóloga talvez intente nos transmitir, seria se o surdo ouvissem. Logo, se ser
surdo é ter uma característica diferente, e diferente da norma, se sobrepõe que “O ‘normal’ é
ouvir, o que diverge desse padrão deve ser corrigido, normalizado. Nesse processo
normalizador, abre-se espaços para estigmatização e para a construção de preconceitos
sociais” (GESSER, 2009, p. 67). Percebe-se aqui, que normal é que a pessoa surda, como
entende a psicóloga o que seja surdez, apreende a realidade com os olhos, todavia, de que
outro modo não apreenderíamos a realidade senão pelos órgãos dos sentidos, da audição,
visão, do tato e do paladar, como bem sabemos pelas próprias experiências ou como ainda
aprendemos nas aulas de ensino fundamental? Reconhece a psicóloga entrevistada ser pelos
os olhos que o surdo apreende a realidade? Como esta realidade surda é apreendida?
As barreiras estabelecidas no processo de inclusão ou interação social, são
construídas a partir de uma narrativa assimétrica de poder e saber, onde a pessoa surda, aquela
que não dispõe da linguagem oral como forma de se comunicar ou interagir - haja vista que
até o ponto em que chegamos tenha ficado claro, que surdo, mediante analise que se faz da
apreciação de surdez em Berthier, é aquele que não quer ouvir -, “ [...] é vista como portadora
de deficiência física que precisa de recursos ou de intervenções cirúrgicas para se tornar
‘normal’ e fazer parte do grupo majoritário na sociedade em que vive” (GESSER, 2009,
p.63). Logo, o que se conclui é que as barreiras estabelecidas pela sociedade majoritária que
desprestigia não só o discurso mas tambem o não reconhecimento lingüístico e cultural das
minorias surdas, são estabelecidas por uma sociedade majoritária, que apesar de dominarem a
linguagem oral e dispor de um aparelho fonador em perfeito estado de funcionamento físico,
se faz de surdo, surgindo-se daí, o que Berthier designou como surdez mental.
Questionados sobre qual a importância da Libras e quais as principais dificuldades
encontradas para o trabalho com essa língua, a psicóloga Carmem responde que “A libras é a
porta de acesso para inclusão social, e merece ser inserida no dia-a-dia das pessoas [...]” Duas
coisas que aqui nos chamam atenção na fala da psicóloga é, a LIBRAS como porta de acesso
de inclusão social e o fato de que a LIBRAS deve ser inserida no dia a dia das pessoas.
Chama-nos a atenção por que a pergunta que agora se faz em cima desta receita de solução
para o problema da falta de inclusão social, proposta pela psicóloga, é; a) como a língua
brasileira de sinais será inserida no cotidiano de aproximadamente 200 (duzentas) milhões de
pessoas em todo o território brasileiro frente à falta de incentivo ou investimento por parte do
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Estado em problemas de consideráveis magnitudes como educação, segurança, saúde? b) se a
LIBRAS é a porta de acesso para a inclusão social para a pessoa que não dispõe da linguagem
oral, e não dispõe por não o ter aprendido, como foi colocado na entrevista, salvo se em
algum momento de sua vida sua surdez fora adquirida em decorrência da perda de audição,
que outros mecanismos foram ou tem sido utilizados que não necessariamente a LIBRAS
para inserir o indivíduo surdo no convívio social da sociedade majoritária que dispõe da
linguagem oral? Deixemos que as psicólogas tragam noutra oportunidade respostas a tais
perguntas.
CONCLUSÃO
Que importa a surdez da orelha, quando a mente ouve? A verdadeira surdez, a
incurável surdez, é a surdez da mente. É com esta epígrafe, de Ferdinande Berthier, que
Audrei Gesser abre o terceiro capítulo do livro LIBRAS? Que língua é essa?
A surdez não está localizada no não funcionamento “normal” dos lobos temporais
do encéfalo humano, responsáveis estes lobos pela interpretação das ondas de ar que chegam
ao nossos ouvidos e são decodificados como linguagens de som. A surdez está situada em
nossos olhos, no momento que não queremos aceitar o Outro como diferente, respeitando e
compreendendo que cada pessoa é um ser único, distinto em todo seu processo de organização
seja ela física ou mental. É deste modo, que a surdez se faz presente não quando tem alguém
dificuldades para falar, materializar ou oralizar os fios de seus pensamentos, na forma de
como o mundo se organiza e se estabelece a partir de sua apreensão de mundo não sendo esta
apreensão pelo canal oral transmitidos àquele que detem a linguagem oral. Surdo, é que não
quer ouvir, pois se o cérebro não ouve pelos ouvidos, apreende o encéfalo a realidade auditiva
pelos sentidos dos olhos e dos gestos das mãos.
A surdez se predomina nas salas de aula, quando não proporcionam os professores
aos seus alunos, oportunidade de escuta, sobrepondo sua autoridade de saber ou o poder de
sua caneta em cima das falas ou dos argumentos de seus alunos, quando vier estes argumentos
contraria o poder de sua autoridade pedagógica. Se a surdez se compreende pela falta da
oralização de um discurso, podemos pensar neste caso, que a surdez esteja presente nas
relações sociais, nas relações afetivas, ou nas relações de poder, onde se faz presente o
discurso do quem manda quem pode obedece quem tem juízo. Surdos somos nós, eu e você,
que mesmo dispondo de um canal fonador capaz de apreender a realidade do mundo pelos
estímulos auditivos que nos cercam, nos mostramos ncapazes de compreender ou
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proporcionar escutamos àquele que sempre tem algo a dizer ou sempre tem que dizer alguma
coisa. É neste sentido, que a pior surdez, a surdez incurável, é a surdez da ignorância, da
prepotência, da arrogância e do orgulho de muitas vezes não querermos ouvir ou escutar o
Outro, por julgar que não seja este Outro, capaz de nos dizer alguma coisa.
Surdo é o psicólogo, o médico ou o psiquiatra quando em seu consultório, mesmo
dispondo de um canal auditivo que se mostre capaz de ouvir o menor ruído que se faça
presente ao alcance dos seus ouvidos, permaneça indiferente para a dor do outro, para o
desespero, à agonia ou angustia de seus pacientes. Um sujeito que expressa seu mundo, suas
vivencias ou seus conflitos, seus medos ou suas fantasias por meio de uma linguagem de
sinais, não pode ser considerado surdo. Consideremos surdo quem não quer ouvir, ou que por
certo, não aprendeu a se oralizar na arte da sensibilidade às falas do outro mesmo quando são
ditas estas falas no silencio dos gestos, independente de como se expresse ou venha a se
manifestar estas falas, se de forma oral ou se por meio da linguagem de sinais.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
BIDERMAN, M. T. C. (1998). Dicionário didático de português. São Paulo: Editora Ática.
GESSER, Audrei, 1971 – LIBRAS?: Que lingua é essa? : crenças e preconceitos em torno da lingua de sinais e da realidade surda. – São Paulo: Parábola Editorial, 2009.