a prosa deficyio sáo-tomense:a presen~a obsidiante do colonial · oral (poesía oral, adivinhas,...

38
Re~islo dr Filología Romñnka. Anejos ISSN: 02l2~999X 2001,11: 207-244 ISBN: 84-95215-15-7 A prosa deficyio sáo-tomense: a presen~a obsidiante do colonial INOCÉNCIA MATA Universidade Clássica de Lisboa Cabeleira de fo/has a chuva ternamente amolentando teu ventre de banana-páo que se deja: cm cachosfálicos símbolo da pujan~a da terra. (Francisco José Tenreiro) 1. «Quando esta ¡1/za de Sáo Tomé fil descoberta era toda e/a bosque cerrado, com órvores v¡<osas e tóo grandes que parecia tocarem o céu» Espa~o caracterizado por urna Natureza prodigiosa em que pontuarn acidentes, vales abissais, obás e falésias, um clima generoso, urna vegetayáo exuberante —cm que o verde reina em regime absoluto—, urna terra ubé- rrima e urna variedade ornitológica e flórea (em que se contam espécies en- démicas de pássaros e únicas de orquídeas...), a Natureza foi, desde sempre, Piloto anónimo, Navegayóo de Lisboa ú it/la dc Sán Torné. Primeira tradu~áo portuguesa do italiano de Sebasliáo Francisco de Mendo Trigoso (1773-1821), publicada em 1812 peía Acade- mia Real das Ciéncias; notas de Augusto Reis Machado. In Navegay2o dc Lisboa & dha de Sdo Torné, escrita por um piloto anónimo, trad. e notas de Rui Loureiro, Lisboa, Grupo de Trabaiho do Ministério da Fduca~áo para as Comemora9óes dos Descobrinentos Portugueses, 1989. (Apud. Arlindo Manuel Caldeira, Mu/heres sexualidade e casarnento no arquipélago dc 5. Torné e Príncipe <sécídos XV a XVIII>, lisboa, Grupo de Trabalbo do Ministério da Educay5o para asCo- rne,nora 9óes dos Descobrimenlos Portugueses, 1997. p. 200). 207

Upload: ngothu

Post on 11-Nov-2018

219 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Re~islo dr Filología Romñnka. Anejos ISSN: 02l2~999X2001,11:207-244 ISBN: 84-95215-15-7

A prosadeficyiosáo-tomense:a presen~aobsidiantedo colonial

INOCÉNCIA MATAUniversidadeClássicadeLisboa

Cabeleiradefo/hasa chuvaternamenteamolentandoteuventrede banana-páoque se deja: cmcachosfálicossímbolodapujan~ada terra.

(FranciscoJoséTenreiro)

1. «Quandoesta¡1/za de SáoToméfil descobertaera todae/a bosquecerrado,comórvoresv¡<osase tóo grandesquepareciatocaremo céu»

Espa~ocaracterizadopor urnaNaturezaprodigiosaem quepontuarnacidentes,valesabissais,obáse falésias,um climageneroso,urnavegetayáoexuberante—cm queo verdereinaem regimeabsoluto—,urnaterraubé-rrimae urnavariedadeornitológicae flórea(em quesecontamespéciesen-démicasde pássarose únicasde orquídeas...),aNaturezafoi, desdesempre,

Piloto anónimo,NavegayóodeLisboaú it/la dc SánTorné. Primeiratradu~áoportuguesadoitaliano deSebasliáoFranciscodeMendoTrigoso(1773-1821),publicadaem 1812peíaAcade-mia Real dasCiéncias;notasdeAugustoReis Machado.In Navegay2odcLisboa & dha deSdoTorné,escritapor um piloto anónimo,trad.enotasdeRui Loureiro, Lisboa,GrupodeTrabaihodoMinistériodaFduca~áopara asComemora9óesdos DescobrinentosPortugueses,1989.(Apud.Arlindo Manuel Caldeira,Mu/heres sexualidadee casarnentono arquipélago dc 5. Torné ePríncipe <sécídosXV a XVIII>, lisboa, GrupodeTrabalbodo Ministério daEducay5oparaasCo-rne,nora9óesdos DescobrimenlosPortugueses,1997. p. 200).

207

InocénciaMala A ¡nasa¿le fuyac sao—toniensc:a presen<aabsidianteda ¿~alan¡a/

O /eitniotiv (le certaescritade «motivagáosáo-tomensc».Com efeito,fakirde urnaproduyáo,poéticaou ficcional. cm SáoTornée Príncipeé referir,sempreconceitos,os escritoresmetropolitanosde passagempelasjihas emaistarderadicadose quesáo.grosso modo, os autoresdasprimeirasma-nifestayóesdeescritade intenyáoliterária sobre/em/deSáoTornée Prínci-pe. Homensdeslumbradoscoma rnagnific6nciae grandiosidadedaquelavegeta9áo.dio diferenteda sua,as impressóesquedeixararnsobreessamí-

turezamais naoeraque o (primeiro) registodo fascinio eda insignificánciado homernperanteeta.

Há, assim,quepartirdo seguintepostulado:queasprimeirasmanifes-ta9óesliterárias dinaaté as primeirasimpressñes—de temáticasáo-to-menseé marcadamentede urnamatriz lírica, de ohservayñopessoalizadaeintimista. Essasprimeirasmanifestayóesde inteNáoliteráriaremontamaGaetanoCostaAlegre,autorde Veisos(edi~ñopóstumacm 1916)e Fran-cisco Stockler,com poesiadispersacm jornais e no Almanaquede Loní-hran~as,naturaisde Sáo Tomé, e António Lobo de Almada Negreiros,com£quatoriais (1896). A poesiade Gaetanoda CostaAlegre terásido amaisconsistenteem revelarurnaprotocon.scíenc¡a nacionale rau natívisinoexpressivoda vivénciaculturalesocialinenteinsular,nosdois primeiros.eadesáoao espayoe integrayáoneleetentativade o compreender,no casodeAntónio Lobo deAlmadaNegreiros AlmadaNegreirosqueé tambémau-tor da pnirneiraHis5ria etnográficada illía dc8. Tomé , cuja importánciaaindaé consideradapelopioneirismodo estudoetnográficoe sociológicodaspopula~óesda dha,suasorigens,organizayáofamiliar. vida nasropas,religiosidade,costumese crenyas,medicinatradicional.alérnde se consti-tuir tarnbémcornoaprimeiradescriyáohistóricae linguistica(do «dialecto»da dhade SáoTomé),acompanhadade umapequenarecolhada literaturaoral (poesíaoral, adivinhas,fórmulas de esconjum,etc.). Todavia,a ím-portánciade António Lobo de AlmadaNegreirosparaa literatura, isto é,parao sistemade textosde inten9áoliterária. interessaEquatorjais.E queestelivro é a primeiraexpressaoda fascina~áodo exótico,dabelezanatural,atravésde urna escritamemorialistaern queo sujeitoda enunciayño,me-tropolitano,seconfronracorn a grandiosidadedo espa~ofísico, impenetrá—vel e indornável,nos seuscontrastescom anaturezametropolitana,previ—sível e inteligivel. Logo á partida,esteespayose constítuicomoo «outro».peíaestranhezae difereiwa,emboraa admirayáoe a cdenizayñosejamca.—tegoriassubjacentesnessaobservayáo.Estaprirneira relayiode alteridade,manifestani) enfrentamentodo sujeitoda escritacom a magnificénciadaNaturezaavaliza,nilo obstante,um objectotangível,emborasensivel,cuja

Rc’i1sta~K Iublagu~Ran>ánit a. Anejos2<5)1 Ii: 207-244 208

InocénciaMata A prosadefic~áosda-tamense:a presengaabsidianteda colonial

apreensáoe inteligibilidade se proeessamporvia espiritualjá noscontornosde idealiza9áo:

«Esta1/ha [de SúnTomé] (..) deve ú na/urezatudaoque¡he po-dia dar de maissurpreendente.Quaseassentesobrea linha equato-rial, a suama/estosavegeta<ño,atestandoa naturezaubérrimado seasolo, infundeo respeitoe o pasmocias coisasincomparóveis.Vistadomar, é menosagrad¿ve/quea fi/ha! do Príncipe na variedadedassuasperspec/¡vas e nofrondosoarvaredoqueIran¡a ospenhascasquesedebru<’amsobreo Oceano:massempremaismajestosa,maisaltivana suagrandezadeRainhado Golfo dosMafias (...).

A atmosférasaturadade vapores,e/chapeíaman/ládo arvoredomilhñesde péro/asde mil cores,que o solegotvtavemdepoisraubarpara o seatesouro.O quadraqueentáase observaé deverassurpre-ene/ente<.).

A Naturezagigante sugestiva,nava,elevaa almamenoscontenz-pía/iva (.3.

As árvorescolossais.erguidascomosen/me/asno cima dosoitei—ros pareceque levantamos bra~os secularessobie a Jormidóreíescrutoqueas rodelapara regerema orquestra~óadivinalproducidapelo ven/oqueasacoita.»

(AlmadaNegreiros,Historia Etnográficada 1/ha de 5. Torné,Pp. ¡28-131).

Apesarda intenQioinformativadestetexto de António Lobode Alma-da Negreiros,queé evidentee quesevai tornandocadavez niaisexplícitaá medidaqueo temaevolui parao socioeconómico,estadescri~áoda terrae assazcelebrativaparaesconderumainten9ioedificantee apologéticadaextensáodaspossessñesultramarinas,o quecolocaa funQio conativades-te texto ao ladoda referencial.Podetalar-seaqui, semque a funy’áo rete-rencialdeixede dominar,de urnaexpressiodo locus amwnusatravésda re-presentayiode umareguilo fértil habitadapor «indígenas»falantesde urna«algaravia confusa»mas inofensivos(embora«preguiyosos»)e atravésde um pormenorizadoitinerário de aventurasnurnanaturezarica e descon-heelda.

Nesteperíododo final do séc.xix SáoTomée Príncipenilo serviudematériaparaaestetizayáoficcional. talvezpelofaetode a naturezasertiloavassaladoraquea primeiramanifestayáoverbalda suagrandiosidadenilopermitir seniodiscursolírico - e ainda náo o discursoficcional, urn pro-cessocm queumadascoordenadasé o distanciamento,quepropiciaumatendénciaparao reflexáosobreea apreensiocognitivado objecto (o es-

209 Rcvistc, de li/ala qia Rarná,ii¿a Anejc,s2001.11: 207-244

InacénciaMata A prosadefhydcsac—t(>tnensc:a Jresen~aobsidiante¿la ¿cl¿,nial

payo).Todavia, desdecedocrónicas,apontamentosde viagerne escritosuti[itários registaramas particuLaridadesdaTerrae dassuasGentes.

2. 0 DISCURSODA IMPERIALIDADE.«As estacóes[climóticas], nestai/ha. sóomuito difr’rentes das

quenóstemos»2

Podedizer-se,pois, quetal comooseronícoesse constituemcomoan-tepassadosdirectosdasprimeirasformasda prosaliterária portuguesa,tarnbémnaliteraturasáo-tomenseosprirnórdiosda práticanarrativaseen-contramna cronísticamastambémnostextosde intenyáoutilitária dosfi-naisdo Séc.~x sobreascaracterísticase recursosnaturaise as potencia-lidades da terra. Entre os «sucessores»do piloto anónimo portuguésdoSéc. xvi, cuja partedaobraque se reitre an arquipélagoé o trecho«Via-gemde Lisboa á líha de 5. Torné»~, destacam-se,aindanO Séc.xix, Rai-mundoJoséda CunhaMattos, comCorografia histórica das ii/tas de 5.Tomée Príncipe. Ano Bom e FernandoPó, 1842; Joio Maria de SousaeMmeida, o Baráode Água Izé, quedeixou escritossobrea geografia,afauna e sobretudoa flora de Silo Tomé e Príncipe,sobrea cultura docacaueda fruta-páoe outrosescritosinformativos,algunspublicadosnoRoletimOficial dasProv/nt ja de 5. Tomée Príncipee nosAnaisdo Con-seiho Ultramarino, nos anos 60 do séculopassado;Manuel FerreiraRi-beiro, autor d’A provincia de 5. lomé e Príncipe e~s~asdependéncias,1877; VicentePinheirode Melo e Almada,Viscondede Pindela,autordeAs 1/hasdeS.Tomée Príncipe, 1884; JoséJoaquimLopesde Lima, eomEnsaiossobreestansucadas jíhasdc 8. Tomée Príncipe, 1844: AdrianoVieira, «Aves da dhade 5. Tomé»(publicadon’O Instituto, 1887): A. F.Nogueira,A ¡¡ha de 8. Tomé, 1893; o já citadoAntónio Lobo de AlmadaNegreiros,com a sin Histório etnográficada ii/tu deS.Tomé, 1895; e,jáno dealbardo Séc.xx, António de CastroMoraes.Uni breve esbo<odoscoslumesde 5. Tomée Príncipe e dos governosdo generalLuir .IoaquimLisboa e do capitño de fragala Joaquin¡ Ben/odA/meida, 1901: FranciscoSilveira,como seuimportanteartigo«Sobrealgunscostumesde 5. Torné»(publicadono Boletim da Sociedadede Geografia de Lisboa, 1903); e o

— Ibid., p. 202.Op. ¿it. ApudA,nánd jo César,Prcscoy¡<.1<’ 8 Tanté eP,ía<¡Pc oc moderna<altmv i,artu—

gucs¿¡.S. Tomé, 968.

R,i isla le lila/al la ka,náah a. Anejos2001.11: 2(/2044 210

InacénciaMata Aprosadefic<áosáo-wmense:a pesen~aabsidiantedo colonial

Condede Sousae Faro, autor de A i/ha de 5. Tomée a ro<~a Agua Izé(1908),entremuitosontrosnarrativas,diários,rela~óese roteiros de vi»-gem.Em todaessaliteraturainformativahá subsidiosapreciáveissobreahistória, corn referénciasás personalidadesquetiveram um papelna his-tóriae na vidacolectivacomoo Baráode ÁguaIzé, seufilbo ViseondedeMalanza,Ana de Chaves,donatáriadastenasde 5. Toméno Séc.XVI e seumaridoGonyaloGon9alves,Maria Correia,a «princesanegra»do Príncipe,JoáoMelAo, o mulatoda PraiaMeláo que,em pleno«GrandePousio»,Ii-derou o desafioá Coroae ao poderda Igreja...enfim, estóriashistóricasquefazempartedo irnagináriohistóricodossio-tomenses;há inforrnayáosobreascondiyóesde vidadaspopu1a~óes,a fertilidadeda terra,asrique-zas naturaise as potencialidadeseconómicas.Há, assim,umatentativade aproxima~ioá realidadesocial (emboranumaperspectivaetnocéntri-ca...), ápaisagernhumana,marcasda tenta9ioe do encantamento,da fi-sionomianatural (o densoverdeda terra,o azul do mar, o aleantiladodasmonranhas,aardénciae a humidadedo clima, a abundánciahídrica, age-nerosidadedaschuvas,o multicoloridodaspraiasde areiabranca,pretaedourada.a vibra~io da luz e da cor, enfim). Aproximando-seda cons-tru9io das imagomundi,estaé,todavia,umaprodu0oque, ultrapassandoo campoespecíficodo conhecimentoda terra, funcionaem sistemade«vasoscomunicantes»com o código ideológico da expansioe consoli-dayío do império quea poucoe poucose val ultramarinizando, isto é, co-meyandoa servistocorno território do a!ém-mar.Visio aindamarcadaporurnarelayio de exterioridadecom a terra,porquerelevandode umapers-pectiva de estrangeiro,quea citaQio ern epígrafesintetiza(«diferentesdasque nós ternos»),essaalteridadeé ainda refor~adapelo facto de odestinatárioser tarnbémestrangeiro,emboraresidenteou em vias de -

aliás,essaliteraturaconciliaa fun~io ético-pedagógicaeomaideológica:instruir sobreo modusfaciendí dosrecursosnaturaise dasactividadepro-dutivasde Silo Tornée Príncipee enformaro horizontede expectativasdofuturo morador4:

Dcsignay~o dos primeiros brancos povoadores das libas de S~o Tomé e Príncipe, que ¡eva-varn cadas régias de privilégios. Cora o tempo a designa~áo passou tambéra a aplicar-sc aos seusdescendentes, mcsti~os, que fornsariam a oligarqula que dirigia a colónia depois do abandono dosengenhos do a9úcar pelos pais (que passaram a demandar o Nordeste do Brasil onde florescia e55aactividade económica). Assim, morador (no crioulo fon-o: moladó) passou a significar gente daclasse miPs favorecida, a cUte dos filhos-da-terra e os funcionários públicos e, boje, a burgoesia,a narnenklauwa,os técnicos superiores

211 ReI¿.vta de AY/a lagía Ra,ndnica. Anejos2001.11:207-244

¡nocénciaMata A prosadefic<úo sáa—tarnense:¿¡ presen<aabsi¿li¿rntedo colonial

«Parase conseguirurnaregular plantayio. deveserabandonadoportodosos lavradoreso péssimocas/amedesemearemunza um oudaisa daisos grdosde cacau,e/icaremde veznosterrenosdestinadosparoessejun<3.

Conrindo que os agricultorese/esta ib’za, saib¿nno modo conve-nientee único.deplaníar e cultivar a úrroí-e denonunadafruta—pdo,afonde queos individuos¿íes/eútil vege/alquevenlzanza desenvolver-sepossamproduzir/do saborosofra/a, e uÑo,tzqueínsendasimplesmenteama be/acirvorc•’, sení resultado.eníendie/crerpor estenielo fazer¿he-gar a todososinteressa¿losas adverténcías,quesesegucín,a/ene/ene/o¿uque lwje estaraopróviínosa produzirparaman-¿le 150 a,hustos¿¡estaespécie,queen> 1862 distrihui a diversospropuietaí¡ose ¡aviadoíes.

A drvorede/ruta—pdocm tresanosdepoisdc,plantada.produz,emeihorcm tenashumidas,e o/hzduasvezasno ant>: depoise/estapri—meiraprodu(ao,e so en/no sepoderatirar a semen/cijaque /orízece,pois que.nen> da teira nen,dasramas st’ obten>píapagaydo(...). »

(JoáoMaria de Sousae Almeida.Barñodc Agua Izé, 18655.)

A informaQiosobreosrecursosda terracontinuarlacorn VicentedeAL-mada,já nosanos‘80 (do Séc.xix), comtodosospormenoressobreo scucultivo e o seuconsumo,as particularidades.as vantagense as desvanta-gens,desdeos frutos tropicaiscomofrutosqueserverndebaseda alimen-tayio (banana-pilo,a fruta-pilo, o izaquente.o milho, o feijáo) a produtosdeinteresseeconómicocomo asmadeiras,acana-de-a9úcar,a quina.. Tudonum discursode valorizagáo,engrandecimentoe divulgagaodasriquezasdaterra,discursotributário do aliciamentoá demandadaquelasterrascomoforma de garantirapossedelas.a explora~iodassuasriquezase a sobera-nia da coroa:

<A variedadedasfrutas exóticas¿¡tic’ sucess¡vamente51’ téIn iii-

troduzido un ilha é numerosa,¿le excelentesqualidadesque se dúohoje nun, es/tídosabespantchheo.As mac/elías¿la ilh¿¡ sdoínagn/hc¿íse¿auhecidas.tuindaque ¡¡do ciendficaiueíuccl¿ísslficadas(...).

As b¿as niadeiras na¿) se eucout¡wncm ta¿¡a,s as vúrmase di/tien-tes zonasda ¡¡ha, e, ndo obstanteti síqí ewelém.iae belesa,os ma-e/elíasde5. Tona!uñoprovaní izada bern izas can.struyñes queíd sezem.Excessivameuteresinastís,sc) secas,o qí.íc pee/emuitosanos,équepoe/emresistir ¿) acc;úodo lempo<Y

Apud Arnáridio César, a,> ¿it pp 6~-64.Ibid.. Pp. 73-75.

Revista dr Pitaiogio R,oióni,o . Awcjos2001, II: 207-244 212

InocenciaMata A prosadefic~ñosña-tamense:a prcsen<aabsidiante da colonial

Dá-seo cruzamentoda intenQiotextualprimariamenteinformativaedi-dácticacom o discursoencomiásticosobrea tena,no liiniar do discursoufanista,quese prolongaporurnalinha nativistaquecomegaa desenhar-se;um nativismo colonial, porém,em queavisáocelebrativada tenasugereurnatropicalizayáodo olharsobreaqueleespa9o,manifesta9áodadinámi-cade adesáoá Terra.Essaatitudedo olbarmanifesta-senurnaenuncia~áoestéticade superlativose prolíferaadjectivagáo,numacomucópiade farturareveladorasdaspotencialidadesdatena.A empatiaéconfessadaern algunstextos pelosujeitode enunciagáo/narrador,comona já citadaobrado Baráode AguaIzé. talvezdosprimeirosescritoress~o-tomenses:

«O vercladciro intcressee amor, que sempreconsagrelñ líhas¿le 8. Tomée Príncipe, uño sétomo pásria, masaludo pelo «nautacías merecenípeíafertilidade do seasolo, beniguidadedo clinza en>reíageta etos diferentespo¡itas da costaad/acente(...).»

(JoséMaria de Sousae Almeida, in «As planta9ñesde cacaunaslibas deS. Torné e Príncipeern 1851 e 1858-1898>0.)

Essesprimeiros registosnarrativos,de valor mais históricoe socioló-gico do quecientífico e, claro, estético,balizamas primeirasmanifes-tagóesliteráriase podemclassificar-secomo «literaturade informa9io»:apontarnentosnarrativos,crónicas,memórias,testernunhos,biografias,iti-nerários,roteiros,diárioserela~óesde viagem- textosqueSilo verdadeirosregistos¡tveiadortsde urnacuriosidade,fornedo exóticoe do maravilfiosoedeslumbramentoe que, num segundomomento,apóssatisfeitoo vectorda dinámicaexpansionista,desvelamum conhecirnentode dentro,o quepassa,parece,peíaenunciagáode um saberexperiencialequaseconviven-

cml, de sentimento(talvez) já de integra~io.Horas dócio no equador.de(1908),de ManuelJoaquimGon9alvesde Castro(tambémautordo Iivro depoemasO cora=óode luto, 1907), a prirneiraexperiénciada práticanarra-tiva (literária)de motivaqilosáo-tomense,é tambémo pioneirono processode «passagemda imperialidadeparaa ultramarinidade»: sáovinte e seíscontosde ~<eáe de lá», paraparafrasearFemandoReis¾talvezmaisapon-lamentosreflexivosdo quecontos,sobrea condigáohumana,os vícios edefeitos,as virtudese qualidadesqueno «Prólogo»o autorresumecomoa

Ibid., op. cii., p. 61.Título de um Livro em prepara~áo, segundo inlbrma§áo contida cm lilia da nícia da manda,

Lisboa, 1982.

213 Revista <le Fila! agio Rano/oh a. Anejas2001.11:207-244

InocéizciaMata A prascíde/zc<o sña—/auzcnses a piescí><a absidiaizíeda ¿olaizíal

«trindadeaugusta»a queaqueles«quevivem fora da terranatal,deitamoprodutode todososesfor9osfísicose intelectuaisdo seuser,adedica~áopeíafamilia, o amorá pátria e aveneragiopeíareligiáocristil>t Os contosdemotiva~io sio-tomensee de profecyioautobiográfica,celebramaquelesque,nilo obstanteanostalgia,sao obrigadosa pennanecer,ao servi9oda pá-tria, masparageusLongínquasquesáoas colónias:

«Os ralascalcinan/esdc uní solaníaiclo, atratésde unzaa/rizos—fera ba~a,a lu.a cíe unípalíe/oseuíbrilízo e as eso-ciassemciutiia§aoca;ztias/amcoin o vi<o das 1•’ec’e/ais.senicílternaulvasjía car dci silafoihageuzquea humidacleaiinzeíz/¿íe ospavorosastrovoadasiegam:oadc’¡oc <Icís passarospaz entre ci raiflclgc’uI do ¿z;voredo,con> eceio¿lee.tzbíra belezae/a sriaplzwzagení,requin/adanzenteuna/izada,sol/cine/ogar¡eiosdeeiz/ouaÉaa¿hversacíasda Europa:os iu>cl(ge¡zasdehóbitossetr¿iticose costuníesexo/Icos,com a le¡zt¡dño de mol’inzeíz/ose anadeescuraes/arnpc¡daizo rosto. tucla coi>(arre pc/ra ci tristeza¿¡¡te ¿uízostalgiaitflpriuze 1>0 seulinzc’nto¿le qucui>/c)s(ciii ¿It’ roer ucuspítigasa/ric~azas.»

(M. J. Gon~alves(le Castro,Hozase/ociono equador,1908,pp. V-VI.)

Os textosda colectánea,todosescrilosem Silo Tomé (á excepyiode«Saraudramáticomusical»a queo «Prólogo»nAo faz referénciapor essarazáo),silo expressáodo deslumbramentoquea faunaornitológicaprovocanossentidos,do éxtasee da experiénciaqueo contactocom essafríuna sus-cita, construindoumasugestivamisturade imagenssensoríais,o queapro-xirna essaescritada prosapoética.

3. DA IMPERIALIDADE A ULTRAMARINIDADE:A EMERGÉNCIADO DISCURSOCOLONIAL

Os primeirosanosdo Séc.xx trazem,assim,u¡nanovidade:ein con-trastecom o modelo «diferentesdasque nóstemos»,o próprio come~aaimpor asuaexist6ncia,semcompara~óes.E a <motivayioimediata>~—dc-sejode proveitomateriale espiritual.aqui atéentilo preenchidopelosenti-do do devercivilizacional— vai ~crandoo enriquecimentoespiritualquetrazo conhecimentodc terrasdesconhecidase exóticas.E quecomo apa-ziguamentodo «deslumbramerno»—o queval reduzindoo graue a natu-rezada alteridade—a organizayiOdiscursivadessaproduq~ovai-sefazen-

Revisz,¿ ,íe Fih,/agí¿, Ranzcinir a. Anejas2001.II: 207-244 214

InocenciaMata A prosadefic(ñosño-tornense:a presen(a obsidiamneda colonial

do de registosqueintentamurnaarticulaqáológicacom o processoexis-tenciale espácio-temporalislenho,emborase comeceamanifestara cons-tru~Aode um discursode naturalizaQñoda situa~1ocolonial e de sualegi-timízayio.

«Mas a curiosidadeda líha nñaé seguramentea suacapital Nasra(as hó a frescuraquejó nosé tóo indispeusóvel calor ca cmbalto é qualquercoisa de medonha—e nelassepodeobservara or-ganizagñodo trabaiho adaptadaquaseespontaneamentepelo génionacional,pararealizacñode urna obrade colossaigrandeza.»

(Gastáode SousaDias,4/rica portentosa,1926, p. 37.)

Urnavisáoda terracmmudanyacomonesseÁfrica portentosa(1926),

de Gastiode SousaDias,este,portanto,jáno dealbarda décadade30, ernqueo ambienteda ro9a. núcleo sémicoda «colonialidadeinsular»,se vaiimpondona ficyáo sio-tomense:

«O ób¿ é um túmulo verde,misteriosa.O preta que foge, deseepara a floresta como umn suicida, queprocura liberdade Ionge davida numaatitudede desesperadarenúnciade qucín passapara umaa/romundo.

E íd, no ¿bó,hó, na verdade,urna vida e/zfrrente.<Y .) O píe/oquefugia val viverno ¿bó0 res/o da vida Passaa ser

a alnzadomaa/ro mundo.É um regrcssoao primitivismofeliz Ah-menla-sede banana.de manga,dcjaca. A ‘fruta-pdo” jbrnece-lhere-sisténcia.Darmesabasfoihaslindasdasbananeirasnumpaganismode Le/enpeujúmado»

(Luiz Teixeira,Na ,odada batuque,1933,pp. 32-35.)

Emborano mesmotexto,No radado ha/uque, avoz narranteaindasedetenhano pormenorda for9a tentacularda vegeta9áo,comometáforadaí>auuralizayio do hornemcm cornunhiocomo espayofísico - comonessaexemplarcatálise:«A vegetayáoé densíssimae rica. Apertada, íntima,exuberante,tem umaambi~áoe esforqa-sepor um objectivo - alcangaraluz, serbeijadapeloSol» (Pp. 24-25) - apesardisso,dizia, o olhar vai assí-milando umaapeténciaetnográficae se vai deslocandoda «superficiena-tural» parase fixar no aglomeradosocial, semperserutaraindaascausas(o quesoocorrerána narrativanosanos60), masdenunciandoo lugardoolbar: a própriailha (e náojá a metrópole),em queo «lá»é o obó,«túmu-lo verde,misterioso»eo implícito g<cá»é a seguran~ada roca.

Reí isla de Iulalag 1<, Raciánha. Anejas200111:207-244215

InocenciaMata A prastícíefic<ño sc7c,—uomense7 a preven~czabsidianrecia ccilanial

As últimas cita9óes,<4/rica portentosa(1926) e Ma roe/a do batuque(1933) sáode textosdapós-/ómiliariza~óocom o espayomasda desfami-liariza~ño com o universoda linguagem.Corne~aa conceber-sea pro-duQáoescritaprimeirocornoconjuntode naturezasemióticae depoisliga-da á produ~áodo saberquese constrói n~o já peíaveracidademassobretudopeía imagina~io.Emboraaindamarcadopor um «contextodccredibilidadedocumental»(Giulia Lanciani)~, a enunciayiovai revelandomarcasde umaenunciayioestéticacomo, porexemplo,naorganiza~iodamatérianarradanum estilodirectoe vivo, na intervenyáodo narrador(comas suasreflexóes),na colectivizagáoda voz, na expressñodesentires,na es-colbade eventose protagonistasque buscarnrepresentayéesuniversaise seapresentamcomoimitayóesde umarealidadeverosímil.

E a intenyáoestéticacomeyaa insinuar-seá intenyáocronísticadirec-tamentefuncional. Claro quenestecampo dc decorrénciao resultadoéum conjuntode produtossemióticosquese vale de urnaideologiagarantedos limites da articula~ionarrativa,isto é, dastransformayóesdas ~<si-tuayóes»da coordenayáotcrnpo-espa~oe dos valoresque norteiama VOZ

narrante.De factoo texto já evidenciaalgunsprocessosde valoriza~iodalinguagerncorno a excessivaadjectivayáo,as construyóesimagéticasdeurnaimanéncíasensorialquedenunciarnumacontaminayáoficcional nes-te texto. A naturezadeixa de serdescritapararecriagio deixandoa des-cri9io de serancilla da narrativa,passandoestafunyáoa serexercidapeíanarragioe a escritasobreaqueleautro mundopassaa sermaisparadeleitardo queparainformar.

Paratrás ficaram rnanifestagóesdispersase esparsastanto na poesiacomona prosa.de quedestaco,no ámbito da práticanarrativa,o jácitadoHoras dócio no equador,de Manuel JoaquirnGonyalvesde CastroouAfrica portentosa,do jácitadotambémCaslio de SousaDias.

A décadade 30 trouxe,potianto,um novo impulso Li escritacolonial deintenya<) literária. respondendoa ¡un proccssode implantaqñoideológica,corn panicularénfaseparaa Guiné-Bissau.e Silo Tomée Príncipenilo toiexcepyáo,respondendoa um programaliterário dc expansioultramarina.

Logo em 1931 António Luz (pseudónimo«Micróbio») publica a suacolectilneade poemasFlores ¿le §ntano, obra apenasimportante.nestecontexto,peíasuaintrodu~io intitulada«Prolegómenos»cm queo autor,corneyandopor se relerir ao paíscomo «torraoubérrimopor exceléncia

Cii’ 1 ja 1 <Inc ani . Síu cs.sas¿ zzazÚiátlas das zlaus piu Iii gv¿‘sí>> 1. sboa. Ecli inrial Cam o be,1997. p 82.

Resistí, cíe FiIcílcuzí,í R,mnuh,ivcr Anejos20</Itt: 21)7-244 216

Inac.éncviaMala A prosadeflr<ñasóo-/omense:a presen<aohvidianledo colonial

ondeaNaturezamaisderramouo sémenpujanteda suaforQa, eriando-Iheuma situa~~oprivilegiada»que «contrastafestivamentecom a vaidadehumana»,critica asociedadee «asvariadasmodalidadesno atavismodastarasqueacaracteriza» e o modelode «colonialdistinto».

O anode 1933,por seuturno,dá aconhecerurnaincipiente regulan-dadena produ9io,o quefaz pensarquese tratade urnaincipientesistema-tiza9iodessasmanifesta9óesliterárias.Sáoas primeirasnarrativas(de mo-tivaQilo sio-tomense)de inten~áoliterária: Fortunasd’A[rica, urnanoveletade dupla autoria,ManuelRécioe Domingos5. de Freitas,No roda do ha-tuque,do já citado,deLuiz Teixeirae um livro decontos,Novelaafricana,de Juliio Quintinha - escritorportuguése autor de crónicasde viagemreunidasem 01ro africanoe Africa misteriosa.

Um livro decontosdequeapenasdois (de quefalarei maisadiante)silode motiva~áosáo-tomense,a saber,«Sobo luar do trópico» e «A primeiramulata loira», Novela africana introduz um elementoquedoravantecon-formaráo códigosemántico-pragmáticodostextos dacolonialidade:a con-figuragáoperforznativada portugalidade,de queo enunciado«contosde cáe de lá>~, paraparafrasearFernandoReis, é realiza~io- significandoestesdeicticosa «metrópole»e o «ultramar»,respectivamente.Com efeito,Novelaafricana compóe-sede contossobreas «andangas»de metropolitanosemÁfnica, paraarecordar,«o seuvalor, o seupitoresco,a suabelezae,princi-palmente.as vantagensda suacompletacoloniza9io».Náo em váo: se no«Prólogo»,osautoresdeclaramexplicitarnentea inten~iode o livro contri-buirparaforjar uma«mentalidadecolonial»e primeiroconto dacolectánea,«Comose faz cm colonial», podefuncionarcomo o manifestodessain-ten9áopedagógica.O contodeixaumacenteihacrítica quantoaosagentesdecolonizayáoquandose sugerequeaÁfriea surge,nilo raro,cornoromo deurnavida semrumo: Daniel, bon-vivant,pelintrae dissolutoejogadorinve-terado,cujaideia deÁfrica antesIhe causavahorror, venaem Angola, peíamAo do tio Ramiresquealenriquecera,nni modode vida. O texto tennina:

«Daniel estavaradiante. O Ño tivera algumasgenerosidadesdedinheira, e prametera-iheboa colaca~ño

Na noite negra daquela vida come~araa luzir uma pequenaes-

(JuliáoQuintinha,Novelaafricana, 1933,p. 28.)

IV Anténio Luz, Floresda Pántana,S. Tomé, Editor: FranciscoDías Júnior/tmprensaNa-

cional, 1931.p 7

217 Revista de 1 da/agfa Ranicinha. Anejos200111:207-244

InacénciaMata A prosadetu(ña vño—teníense:apresc’n(a absidianied¿> ¿alanial

É por isso queacolectáneaé umamisceláneadecontosunidos porurnatemporalidade,contoscujosespayose personageusse reportama urnaex-tensio imperial transformadaideologicamenteem espagocolonial. JuliáoQuintinha,autorquepublicousobretudonosanos20 obraconsideráveldemotivagio «ultramarina»,de quese contam crónicasde viagem,dina no«Prólogo»que:

«[Novela africana1 é despretensiosolivio de teniascalc.nziais,nial-dado no ambientee/tu selva, sobo hálito cuiden/edo Trópico, ligeira-mentesulcadode sonhoromanesco,tiuz pautodefa;ztasiae inulto derealidades>

(NovelaAfricana, 1933,p. 7.)

Do mesmomodo funcionam Fortunas d’África, urna obra dedicada«aosque labutarnlaboriosamentena hostil Africa», e Na ¡ada do hataque:umaescritaquepretendetestemunhardeleitando,no limiar entreaficyáo ea realidade.

Os tréstextosde 1933 dáoatónicade um (sub)sistemaa formar-se,oda prática narrativa,que buscaedificar a «continuidadeespaciallusa»como principio estruturanteda ultramarinidade. Tal «convergénciaultra-marina»,a publicayáoem 1937 de Metió Pó~on vem reforyar de formasignificativa,reeditandoo modeloda realizagáoper/órmativado espayoim-perial portugués:urnacolectilneadeoito contossobre5. Tomée Príncipe.Angolae Lisboa(=<MaiáPéyon»,«Oódio de rayas»,«Mateus- o clarini»,«Domingona roya»,«Vulto na sombra>~,~<N’Ga—Sakirila»,«O condenado»e «Africa»). É quesendoMetió Pó~on- cantosafricanos a primeiraobradeficyio de um autornaturalde SáoToméePríncipe,éconsideradoo textopioneiroda «ficyio nacional»sáo-tornense.O autor,bisnetodo 1/’ Bario deÁgua-lzé,JoséMariade SousaeAlmeida, já aqui citado,faz partedo gru-PO da elite dosfilhos-da-terraquenosprincipios desteséculocomeyaa fa-zer-senotarpeíasuavoz uíacionalizanue,em projectosassociativos,revistasejornais de queo próprio chegoua serpropriedadee director: Mocidade

A/Picana — revista níensalde propagandacolonial e de/Psadasineressesafricanos (1930-1932),e revistaAfrica Magazine,de que foi co-directorjuntamentecom Mário Domingues,autor de O Menino entre Gigantes,1960,urn romancepoucorelevanteparaa literaturasio-lomensecuja es-pácio-temporalidadeéa Lisboa vivida por um menino mestigode origemsio-tomense—pai brancoportuguése mie negraprincipense—que.numdiscursorememorativo,narraa suainfánciademenino diferentenummun-

Revista de Eila!as<fa Roo¿ánh a Anejos2</O, II: 207-244 2¡8

InocénciaMata A ¡‘rosa deflc~ñasña-uamense:a presen<aobsidianteda colonial

do de «iguaisbrancos»,umasituayioqueevoca,ern intertextualidadete-mática,o poetaCaetanoda CostaAlegre(designadamenteo poema~<Eueos transeuntes»)e até o sentimentotenreirianode estarna Europacomo«coragioem Africa»

MetióP«on reúnecontosem queaspersonagensrealizamum percur-so íniciático de encontrocom a Africa (SáoTomé) como«Majá Pógon»,«N’Ga-Sakirila»ou até «O ódio de rayas».Metió PóQon toma-se,asszm,numrepósitode ideiassobreo encontroPortugal/Africa,corno no últimoconto - «Africa», um discursomaiscelebrativodo quereflexivo sobreare-layáocivilizan/e Portugal/Africa.A recepgiodestaobraé, nestecontexto(anos30), umanovidade,apesarde a linha do nativismocolonial apenasvírembrulhadano olharaparentemente«de dentro»:prirneiroporqueo títulotraz urnamarcanáoapenasda cor local mascultural (naesteirade seucon-terráneoFranciscode JesusBonfim, autorde «Fajasétu»,queem criouloforro da ilha de SáoTomésignificas<falarverdade»,crónicasocialpubli-cadacm 1923 no jornal O anunciador): «MaiáPógon»significa,no criou-lo forro da ilha de Silo Tomé,«Mariada Cidade»,insinuando-senestein-cipit um sabercultural, quandonilo vivencia! - note-se,a propósito, adirnensáomuito experienciale o cunhoautobiográficodo contoepónimo,oqueé reforgadopeíaenunciayáoem primeirapessoa.Por outro lado,note-se a norneagioda mestigagememborasemqualquerpreocupagiode con-textualizagiohistóricae socioeconómica,resultandoos textosem discursomoral(ista)sobreo amorinterracial,num .rescendumencomiásticosobreamultirracialidade(ingenuamenteentendidacorno convivénciaracial) quepassapeíacelebrayáodabelezada mulhernegrae da adesáoao mundoafri-cano,alémdeobservayóesde apeténciaetnográfica.Náo é, pois, poucosig-nificativo o factode oscornosse constituíremcornopassosde um percursoultramarinoreferenciadoscomosegmentosde urn mesmoespago,uno e m-divisível, nurnarealizagioperformativada portugalidade,ultrapassando-seo oiharviajanteda expansáoimperial.

A cronísticae a narrativatestemunhale histórica,queprivilegiavamosmomentosjudiciosose as efusóeslíricas, aligeirandoa visáosubjectivadoenunciadorpassaram,mais tarde, apóso períododo deslumbrarnento,acumprira primitiva funyáodessetipo de representagiloliterária: «nilo ape-nas a de provocar a faculdadede sonhar (a fantasia)mastambéma deapontarparaum mundometafísico,quese situaparaalém da aparénciado

Sobec Viana de Almeida, consultar Inocéncia Mata, Diálogo camaslíhas(sobrecultura e

literatu,a de Sao ¡amée Pzínc!pe),Lisboa, Edi~ñcs Colíbri, 1998, Pp. 67-68.

Re vista de Filalagía Rarnúnis a. Anejos2(X)). II: 207-244219

InocénciaMa/a A prosadefic(ñasño-tamense:a presen4aabsidiantedo colonial

real k» Urnaevoluyáo«natural»,poder-se-iadizer: équeacrónicaficcio-nadae semificcionadaé um génerocultivado até recenternente,mesmodepoisda nacionalizayáoliterúria,ou seja,asáo-tomensidadeliterária serjáurnarealidade,emboraaindanáo sistematizadaenquantovertentedo cá-noneda africanidade.Paratrásficaram narrativasqueforam (re)editandoum percursoquese aproximadasnarrativasdeviagemno espagoportuguésda «reguilode Silo Tomée Príncipe».Nesteámbitose inseremcrónicase ro-teirosde viagerntaiscomoRmeirode Africa (1936>,de JoséOsóriode Oli-veira, Clardo do império (1938). de LeopoldoNunes,Aa sol do império(1938),de Femandode Pamplona,significativamentecomo subtítulo«cró-nicasafricanas»(estasduasúltimas narrativasmotivadaspeíaviagemdopresidenteportugués,o marechalAntónio Oscarde FragosoCarmona,aSáoTomé e a Luanda),Padrño de soberania (1939>, de JoséAugusto,paraalém de textosdispersoscomo «líha do Príncipe»(1936),de CastroSoromenho,e «Ossobo»(1936),dc Ruy Cinatti. Participandode caracte-rísticasgenotógicasqueosaproximarnda cronística,essestextosdes¡acarn-sepelatónicano louvor ena informa~áoconciliadacomo tom dereporta-gem. Todavia, desteconjuntodestacam-scdois textos: o apontamentonarrativo«Jíhado Príncipe»e o conto~<Ossobó»,queacentuarno aspectocontemplativosobreo narradoaproximandoo registocronísticoda «cró-nica-poema>~,mesmo nilo perdendoa fun~io primitiva de «registaroseventossemaprofundar-ihesas causason tentarinterpretá-los»~.Outrossim,estesdois textososcilamentreo relato (portantona dimensáodo vivido) ea recria~~ofantasiosa(o imaginado),num equilibrio precárioentreurnalin-guagemreferencialea poética.buscando«desentranhardo acontecidosuapor9io imanentede fantasia»~ Nestesdois textosprevalecea emo~áosobrea ideia, o «eu»,na suainterioridade,aindaquenáoassumidoao nivelda enunciagio,dissemina-seno texto e, comonarrador,confronta-secomomundocircundanteexterior,numacondensa~áoda emulsáolírica queper-passaaprosa:

«Mar sereno O muízdo.fado o mundoé azul en> redor de minz.Azul a céuinzensoeazul o mar profunda

¡2 Olegário Paz/António Monis. Dicia,zá,ia h,eve das íe,nzas lite,chias Lisboa, Ed itoeial Po>se¡wa, ¡997, p 93

¡2 Massaud Moisés. A cziay3a lÚezd,ia - prúra II Sáo Paulo. Editora Cult,is. 5> edi~áo, re-vista e atualizada. 1997, ¡t 10!.

‘‘ Ibid, p 04

R,viaa de Filalagía Raenánií a. A rejos

200111:207-244 220

InocénciaMata A prosadefiqño saa—tomense:a píesencaobsidianteda colonial

Navega o barco no Atlántico,rumo ao ContinenteAfricano - ca-minho aher/o cadestinodashomensaventureiros...

O harcadeLtaatrásda sucjornada longa estradabianca,ferie/arasgada,a sangrar,por vigorosahélice.

Seusangueé branco de nevee brancassúoassuasláguimas.O mar chorae geme...(..) Aqul come~aa ira gédia da monuanhaquequer ser cen...Petisagernde le/Ida.«.) E o barcaaproxin>a-see/evagar, lentamente¡asgandoo n>ar

serenoA jiha do Príncipe, uziradairo do Equadar, ahret~:adapelo sal,

agora já solalto e africano, é veide,todaverde,dale/amenteverde!<.3 Un> e/la, dale/u gentede cobi4us,iluminadapelo farol de Sa-

gres, chegouao péde ti - e o teu encantoquebrou-separa osportu-gueses,para toda o mundo!

(..) Otevia-seumgemido..Príncipe - calvério de homense de eternashelezas.Os homens

quepr¿meiuoforanzfecundaro teu venneubérriníamarreramdoidosdejebrese deslumbradoscoma /ua verduraexuberante(.3.

Morreraní félizesporqueatéeta momentoda ¿¡boladasé viram es-plendor,riquezasde lenda,todaa sualauta amhi(ñorealizada.

E autros homeízsvieraní,semtemeros infoitunias e a prúpríamofle, e tania sonhairameran> ncz alma que tu te rendasteti sucgb)-ría cm oferendaa Portugal»

(CastroSoromenho,líha do Príncipe. 1936’~.)

Nilo é fácil subírair-seá circunstancialidadeideológicado texto poisestenilo disfaryaa suaintencionalidaderegistando-se,assirn,a dirnensioepopeicado naveganteque tentadominarurna terra perigosamentebela,urnatemeráriaconcilia~áoentrea promessado lotusama’nuse a manifes-tagiodo ¡ocres horrendus:«calváriodehomense de eternasbelezas.»Essavariagaoemocionaldo autortextual—condensadanafigura do narrador—tambérnse encontraem «Ossobó»,quejá aproximeide «crónica-poema»(entre outrascaracterísticas,peía inexisténciada estruturado confito),masquejulgo tambémpartilfiar elementosda «crónica-conto>tCom efeito,em «Ossobó»aobserva~áoda Natureza,concentradana visáodo pássaro,cría urnaatmosferaern queo sujeito (quase)adereá situayiodo objecto(o

‘> Apud ,Xmáiidio César, op ca. pp. [30-132 (pubLicado prirneirarnente era O Mundo Por-/ugués,vol 2, ni 30, 936).

221 Rae/aa de filalagia Ramón/sa. Anejos200 1. II: 207244

¡II a(éncla ¡VI¿ztu A plazadetic<da .~áa—toínense:cz />iCsenQíobs¡diczntedo coioni¿zl

pássaro,o ossobó),em quea identiticayáodefragae anulaa rupturaentreoplanodo acontecirnento,do «nuio-eu»,e o do sentimento,do ~<eu»:o enun-ciador é um voyeure um intérpretequeacompanhae adivinhaos movi-mentose o desenrolarda situayio atribuindo-Iheum significando.confe-rindo ao obóurnaforga anímica,quaseantropomórfica:

«Pausadoutuin lanzoda aca’cia, Ossobc$¿atila e alisoaspena5df>peítacon> o hico lzuunedecidoMe/ea cabecadebaivodasasas saco—de o coipo do eízíoípecinzenta nactuino , canf>zndindo o verde das

snospenas¿orn o .y’rde e/as/ollíagens.De ¡amocm tamo,passabatendoas¿usascaí» clificuldade,¡mis os

cuí/asdistanciasinzíedenzque sc(ante izo ~ao.Por níamentos.qualqae, coiscí a a/jal lá embaixa.no chcio, e íú—

pudo desce,pausandosaíne¿u mac ía tanzadejollías secasah acunzu-ladas¡íd tanto fríuípa

<)iragédia da flaresucí.Luz.Peía Icuz os trepadeiraes/ene/cuzossuastelassobieas copas,esmagan>,cnrodilhanzen> es/úi<osgenesí-cucose soben>aasronzasníais¿¡1/osdas,hguenase das¡ac¿us<Y.)

Ascoisos sucedicunímisteriosaníenle no abc)e debaldeGuinzbúauzorcegopíacuiavapeícebez.»

(Ruy Cinatli, ()ssohú.1936,p. 27-30‘EN)

Unicaexperiénciano género—o conto—cm queo escritorrealiza asin ambkáoliterária que.dizia eni 1934,se lirnitava ~¡ artedc descrever~Ruy Cinatti concentraern «Ossóbó»a experiénciavivida nafloresta(da ilhado Príncipe),tambérnnum relato no lituiar da narrativaliterária,«O queeuvi em Africa» (1935>:(le encanto,prazer,fascrnio,¡norte,enfim de Eros eThanatosse faz a«tragédiadafloresta». A Naturezaé matériametafóricadeobservagiomastambémlugarde observagio.Porqueaflorestado con-to «Ossobó»é e nio é aque conheceuna ¡Iba do Príncipe.cia tem um ines-peradopodersimbólicoque introduz o leitor no mundo(re)criado.A flo-resta é desdeentilo urnaoutra ilha, urn topos, quesegundoPeterStilwell,«emergecedono pensamentocomo irnagenl que articula experiénciasesonhos»8

Ruy Cinatí),O/vapotñ¿a,[isboa Imprensó Nacional—Casa da Macda, 1992 publicadoprirneirarnente ern t) Mundo Pazwguéslunho dc 936)

Diáilo (23/08/1934> Apud Pe;er Su] weIl. A condi<ño Izoszocua cm Rin (.ñíouíi Lisboa, Edi-torial Presenca. 1995, p. 41

‘< PeleeStilwe¡I, op ¿,•¡ p. 248.

Revio,, de FHa/agfa Ramóni¡ a A na$ss200)1!: 207-244 222

InocenciaMc¡ta A prosadeficslasáa-tomense:a presencaobsidiarneda colonial

4. DA ULTRAMARINIDADEÁ COLONIALIDADE

Ao inaugurarurnaescritadaroga‘~ —estamosem 1937— o pioneins-mo ficcional deViana deAlmeidadá, assim,o mote de urnamotivo que,deurn modoou de outro,consoanteo embasarnentoideológico, irá funcionarcomo umapresengaobsidiantena fic~io sio-tomense.Na expansioideo-lógicado espa~odo «ultramar»outra alteragioestruturalse operana orga-nizagionarrativa,queatéentilo tem nametrópoleo inicio enáoraramenteo desenlace.A introdu9ioda estruturadeconfito,apartirdoscmeiaisanos30, e a determina9ioépicada personagemcujaacyáose definepeíaproezaqueé partir da terrapátria,a metrópole,e sevai intensificandocorn o pro-cessode adaptagioe socializagioda personagemmetropolitana,branca,tomam-seevidentesnuma«evolugio»genológica.Nassuafaseideológicamais propangadística,a fungio político-ideológicadessaliteraturaé maisevidenciadado quea ético-pedagógica—na décadade 60, sobretudo—eescritorescomo Fernando Reise Luís Cajáo silo doisautores dessaescritade adesioao mundosio-tomense,queo transformamcomoum dos lugaresde suacria~io literária, nilo obstantea visio etnocéntricado(s) autor(es),própriada ideologiacolonial - Luís Cajio, escritorportuguésnascidona Fi-gueirada Foz, ern 1920,quandoda suapassagemcomoadministradordeilma rogada ilha do Príncipe,eFemandoReis,quenasceu1917 emLisboa,comofuncionárioadministrativodos servigosde saúdee da repartigiodoCentrode InformagioeTurismode Sio Tomé.

A importánciadosdois autoressupracitadostomaforma peíanecessí-dadede redimensionamentoda dicotomianacional(ista)/colonialnumcon-texto queultrapassaurnavisio redutoramentemonocolordeum sistemaIi-terárioe descobrepotencialidadesestéticasde textos(poéticosenarrativos)aparentementevazios de urna significagio socioculturalmenteválida. Eparticularmentea prosade fiegio sio-tornenserefereurnaquestioque sereportaao lugardestapráticano sistemaliterário porquenomeia,implici-tamente,os constrangimentosdo binómio colonial/nacionale desvelaoestatutode intervalaridadede SumMarky e o lugar de Alves Preto(pseu-dónimodo poetaTomásMedeirose autordedois únicoscontospublicadosno boletirn Mensagen>20 da CEI) e do caboverdianoOnésimoSilveira,autorda noveletaTodo a gentefila: Sim, senhor (1960). Assim, se os

Inocéncia Mata,a,’ tít p. 67.

255 Alves Preto, «Um homem igual a tantos» in Mensagen>, ano u, nY 2/Pevereiro dc 1959,

Lisboa & «Aconteceo no morro» in Mensagenz a,o 11, n.~ 5/6, 1960, Lisboa

223 ReviÁta eh E//a/agfa Ransán/, a. Anejos200))): 207244

InocénciaMdci A ptoiccí de .fic<áo sáa—tc>rneuzse:cz píeseízc;ac,bsícíianze¿¡ci colc>nial

c<demiurgos»do sistemaliterário sio-tomensesaoos «poetasda CasadosEstudantesdo Império», os celebradosFranciscoJoséTenreiro (alitis omareoda modernaliteraturasio-tomense),António Alves TomásMedeiros,Alda EspiritoSanto,Maria ManuelaMargando,alémde Marceloda Veiga(que, nilo tendosido, fisicamente,da Casa,o era ideologica,esteticae pro-gramaticarnente),estesautoreseramcomprometidosou produtosdos sis-temacolonial. É quea ficyio colonial (de motivayio) sio-tomenseirnpóe-se num tempo posterior á consagrayiodos poetasda CEI (CasadosEstudantesdo Império), entidadecom um estatutodemiúgicona históriadasliteraturasafricanasde Iíngua portuguesa,e particularmente,depoisde 1/ha de nomesatno (1942) e Poetas de S. Tonié e Príncipe (1963).obrasfundadorasdo quese poderáconsideraramodernidadeliterária silo-tomense2’.E isso nio obstanteapráticanarrativanáousufruirde uma le-

gitimizayóonosanos60, cm partetambémdevidoLi origemetnoculturaldosficcionistas,quasetodosmetropolitanos.

Masa importánciadessaprosade fíc~áo.já nosanos50-60, relevadeurnasistematizagiohistóricada literaturanacionalsio-tomense,o queniopressupéequalquerpropostadeterministacm relayñoLi questioda ¡ucio-nalidadeJiteráriadessecorpus.parao queserianecessárioconsiderara in-tencionalidadedo actoenunciativode queo texto é a realizagioconcreta,segundoo triángulo comum a qualquerprocessode comunicayáo:a(ideo)lógicadostextos, a ideologiado produtortextual (o autorimplícito) ea ideologiado produtorda leitura.

Sobretudoporqueé possivel,emboratemerárioe atépoucoprodutivo,sstematizarformas,temasou motivos, imagensou recursosretorícos,apar-tir de um (hipotético)«cánone»literário. Emborasejalegítimo,apartir dahistória recente,reordenarasformase formulaQóeslíteráriassobreum es-payo-tempo,a colóniade Silo Tomée Príncipe22.Oquecomeyaa ter formaé um (sub)sistematextual cujo espagoé dominado por «umapaisagemafricana [vale dizer. no caso. sio-tornense]de tipos humanosespeciais.comosseuscostumese osseusconflitos, quesio do próprio mejo, surgidosno homem que se fixou nestelugar. compelidoou voluntariamente»23

Cf «SAo Tomé e Príncipe.» in Pires Laranjeira & Inocéncia Mata & Elsa Rodrigues dosSantos.Litetaruzas afíicaízc¡s de e>prcssóa portuguesa, ¡1sboa, Universidade Aberta. 1995

22 CI. Inocéncia Mata. Diálogo can> os II/zas (sab,e Cultura e Liter<zzuza dc Sócí Torné e Pr/o-

cipe>,op. <ir pp. 143—144 0 ti vro tcm orn capítulo sobre o romance: «A Esmia — Orn típico ro-marRe colonial.»

Rodrigues Júnior, Para unza cultura ab icana ¿lee.vprcssáa ¡~aztuguescz Beaga Edilora Paxl9lSp 127.

Res/ita cíe Fila/agfa Rcsmá,íico. Ancjos2001 tt: 207-244 224

InacéízciaMata Aprosadefic=:áosáa-tornense:a presenyobsidianteda colonial

portanto,um corpusquerealizaa continuidadeespacial(geográficae ide-ológica)da portugalidade.Esquemarefor~adopelofactode RodriguesJú-nior, tal comoAmándioCésar,serum critico do núcleodo circuloda críti-calegitimadorda literaturacolonial.

5. A FICCAO COLONIAL EM QUESTÁO

Luís Cajáo é autor de A Es/tifa, romancepublicadoem 1964,o conto«O outro Menino Jesus>~(inseridono livro Torre de Vigio, 1967) —paraalérndo ensaioPanorámica de Sño Tomée Príncipe (1965)— e refiroapenasas obrasde motiva9iosáo-tomense.

Paraalémdo conto«O outro MeninoJesus»,urnasingelaestóriasobreurnamédicanegranaturalde SáoTomée o seutrabalho—um parto— nanoitede Natal,outro livro, um romance,detémaatenyáosobreesteescritornascidonaFigueirada Foz:A Estufo,é, defacto, o romancequetem um lu-gar importantema prosade tic9áosáo-tomense.O romance,cujahistória sepoderíaresumirem poucaslinhas, recria as relayóessocioculturaisentreco-lonos,e entreestese osempregadosnumaropada ilba do Príncipe,aroga«NovaAurora», cujoherdeiro,Filipe, é um jovemestudantede Direito que,peía mortedo pai, se véresponsávelpeía gerénciada roga,substituindoosenhorMacedo.E, antesde mais, urnarelagioconflituosaentrea mundi-vidénciado jovemea realidadelocal.

A voz narrante(o olhar do narrador),qual duplo da personagem,nemencobremanifestayóesde assurnidasuperioridadecultural e espirito dernssao(devercivilizacional, cívico, religioso).As personagensmetropoli-tanasvivem um exilio civilizacional e psicológico,um exilio nilo conscienteenilo assurnidopeíaconsciénciacolectiva,personagensquevagueiarnsernrumo, buscandoa suaidentidadeindividual, perdidasna «insensatez»de umespagotáoestranhoquepor vezesoslevamaclaudicar,como Benedita,aesposalasciva (p. 125), ou «exagerando»nos métodosde colonizagáo,tornando-se~<mauscolonizadores»,como o governadormegalómanoemaupsicólogo(sendoa «megalomania»adesignagioeufemistae genero-saparaaresponsabilidadepelornassacrede 1953)e seuhomicidacolabo-radorZé Mulato (p. 51), o padre quevendia vento (p. 52), o advogadoLains,desonestoe «Don Juan»,o comercianteGouveia,ladráonospesos,ou, finalmente,o Dr. Portelo,médicocuja filosofia de vidaera: «napior dashipótesesquen~morreé o doente»(p. 109).Tudo porquedevemsuportarparacumprir urna rnissáo:a empresada colonizagáoquecumprem,nilo

225 R ¿siseo dc Fi!a!esgfa Roas/oh a. Anejos200)11:207-244

InocEncia Mata A prosa deflccdo sño-tomense: apresen~x¿ obsidiante do colonial

obstanteu dificuldades que se manifestam num modo de expressioeu-rocénuicoepreconceituoso:

«Aliado se o nativo consentisse em aman/zar a terra alheia... Queera esseo morbo da Provincia: tero seni~aldeserrecrutado de idoIonge.cm CaboVerde eMo~ambique.

Estagnadopor séculosdecalor,bastavaao aborigeneestenderamáo ecoiher. lan~ar a redeepescar.apareihara árvoreeerguerahabita~¿áo.A naturezafértil nutria-ihe a indolEncia.»

(A Estufo. 1964,p. 50$>

Toma-se, assim, evidentequeo romanceE pensadono processodialó-gicocomo bitor da metrépole—natranspIanta~¡o, semrecriaqio, deva-loresmimados—n5o dando conta da realidade vivida pelo homem princi-pense. E nessaconjuntura A Estufa. mantcndo o seu lugar nas letrasportuguesas,teni outro no departamentocolonial da literatura sio-tomense.

O final do romanceremete, ideologicamente.para otriunfo da missiocivilizadora do portugués: Filipe adapta-seao melo local após um heróicopercurso de resisténciaestOica á tenaeaos bomens(seuscheiros,sabores,hábitos,seu modusvivendie seumodusoperandO:

«Umfedorrancosoexalava-sede rudo, até das muiheresescan-rranchadasnosfardosdeprovisdes,descompostas.unzasempunhan-do cachimbos,ostras,de bocaarrepanhada.a síegaren;a ponto ita-candescentedoscigarros(.9.

Um vozeargutural, risos eimpreca~óes,ameacas.íumultuavamnesseambientedeestufa.Todosdispostosa traficar aprópria alma.Li simpolicía indígena,denulos atrásdascotas,passeavaa magrain-d¿feren~ofardada dess¿oí e caqui. »

(A Estufis, 1964,pp. 49-50.)

E, no entanto, o mesmoespa~oque o hostilizan -

«A vegeta~áocrescia,hostili:ava-o,romosqueeran; ávidasindos,miresprontasa marchoremsobreele.Zimbóriosdebagas,frondeseglandes,gritavampeíavozdasavesserestaa hora decisiva.Oujkgia.esemdelongas,agora, ou todoaquelehediondoorganismoo deixariaah cativopara sempre.»

(A Estufo.p. 298.)

- essemesmoespa~oval prenunciandoa sua regenera9¡o:a imagem da ve-geta~Ao com as suasraizes a se «instalarem» na personagem,sugere a

Reviso de Fib4ogiu Románico. Anejos2001. II: 207-244 226

InocénciaMata A prosadejiccdoscio-tomense:a presenyaabsidiantedo colonial

suanatura/izoyóo, a construyaode umaidentidadeoutra, de um corpooutrora«outrox’, quepassapor um processode ontalogizaydointeractivaeomaterra: o individuo ilhado se con/mentalizoe no final Boitá,aserviyalcabo-verdianaanteriormenterejeitada,funcionacorno metáforade urnaca-pitulagio inexorável.O mesmopercursofazemÁlvaro de Fortunas dÁfri-ca. já citado,JoáoPaulode Royo, Maria Joanado conto«O parto»,(His-tóriasda royo), ambosde FernandoReis,Machadode Asmulotinhas, deSurn Marky: todassáo personagensemblemáticasqueencetamum per-cursoiniciático: iniciagio Li África, o outro Portugal.Personagensmetro-politanascuja viagem(da metrópoleparaa colónia) reforgaa alteridadecmrelagio ao espagoe enfatizaa dimensioépica:«o individuo épico»,dizGeorgLukács,«o herói de romancenascedestaalteridadedo mundoex-tenor»24 Espagoqueno final acabapor serinexoravelmenteconquistado,subjugado.

FernandoReis é o autor colonial de motivagio sio-tomensemaisprolífero.Naturalde Lisboa(1917), FernandoReisé ocasotípico de urnportuguésradicadoem África, desdede 1947,ondeescreveriaa rnaiorpar-te da suaobra, tendocolaboradonaimprensalocal. Com incursóesna his-tória, na sociologia,na crítica literária e na etnografia(de que deixouPovoflogó,aindaamaisinteressanteabordagernao teatro popularde SiloTornée Príncipe,o Auto de Floripes e o Tchiloli), paraalém de recolhasda literaturaoral sio-tomense,serácomo autor de «literaturade irnagi-nagio»queaqui o escritorinteressa:deixou,nesteámbito,A leziria e oec,mador(contos,1954),Royo (romance,1960),0 baú de/bíhas,seguidodo conto«Amy-só»(na colecgáoImbondeiro,Sá daBandeira,hojecidadedo Lubango- embora«Amy-só» já tivessesido publicadocm 1954 em A

lezírio e o equador),Histórias da royo (contos, 1920) e 1/ha do nielo domundo (romance,1982), paraalém de contosdispersos(«Maiá»),e duaspegasde teatro As mangasde o/paca (teatro, 1965) e Djamby (teatro,1969).

FemandoReis é, por outro lado,o exemplode como a colonialidadenAo se reportaá questáodetempocronológicomassim urnatemporalidadeideológica:1/ha de meiodo mundo,emboraanunciadojá nosanos60, sósaíríavinte anosdepois.Comefeito,o autorassurneno seuúltimo livro asuatntengáoliterária numadedicatóriaqueexpressabern a subjacénciacolonialistadessaescrita:

24 Georg Lukács, Teoria do lomance,Lisboa, Editorial Presen~a, s/d. p. 66.

227 Rísista ¿le Filología Románica. Anejas200111: 207-244

InocénciaMata A prosadcJíc~áasc?a—tamcnse:ci p;esen<a ol,siríiantecío colonial

<cAos rejúgiadose repatriadasdo (ex) Ultramar —especialmentede Súo Tomée Prínc:ipe—que orguihosamentesupunhamseremoscontinuadoresdci. ges/cíheroicac.ameyadahcá maisdecincoséculos,e¡oral)), tristemente,os ultimasraubadose traídos - dedicaestelitro. »

(¡lucí c/o meioda n>undo. 1982,p. 7.)

A mesmaintenyioé reforyadana faixa de apresentayáo:

c<FerncmndoReis, a esc¡ita, do famoso¡onicinceRoya. lcin~.a agc>raesteliha do meio do mundo,a livio c¡ue tíos canta cantocía ci vida cJeSáoJomé—ilha tichada deserto—cité ú suaentregcí»

E, no entanto,nem isso:1/ha do meiodo mundoé urnaamálgamaentrenarrayioe «diário» (de Fernio Ribeiro - note-sea aproximayiofónicaaonome do escritor),umaoscilayioeíitre a primeiraea terceirapessoas,o quefaz comqueo texto funcionecomournapatéticaaberturade um «eu»con-turbadopor questñesideológicasprofundase a obsessiosobrea injustiya—

e ainjusteza—da descolonizayio.O universoromanescoédominadopeíacomunidademetropolitanae brancanassuasintrigas e relayóesconflituosascom os naturais:Marcelino Ventura, PedroMonteiío, CésarHenriquesouCarlosFerro,entremuitosoutrosagentes;por seuturno.MariaToméfaz ocontrapontocomo africanoque reconheceos beneficiosda colonizayáo-

mulata,filba de pai brancoe ruile negra.contribui, segundoo «diário» deFernáoRibeiro,parao desmoronarde umacivilizayio mestiga,quecorreonscode sucumbiraosveifios do «desvario»do pós-25deAbril: «filha (...) aquemo pai deutudo, desdeo carinhoá educayáoe queo abandonouestu-pidamenteparasejuntaraoutrosmoyosqueestilo aprendendoterrorismo,láparaos paísesdo Norteda Eumpa»(líha do incio do inundo,p. 278). Náoseráestapersonagemurnarepresentayáoalegóricada própriailha, sobretu-do se se pensar,comJeanne-MarieGagnebin.quea «alegoriaimplica nos-talgia dascertezasdesaparecidas»257 E, por estatransparenciaideológica.líha do níeiodo niundoé ineficazna suaintencionalidadedoutrinária.

Royoé, de facto, o típico romancecolonial de FernandoReis,o textoem queo programada «macroetniaportuguesa»,a «raya lusa» e o pluri-continentalismose propóemcomo programas.O discursode FernandoReis. cuja dimensáoé assazapologética,mobiliza estratégiasde efeito

25 Jeanne—Marie Gagnebin I-Iisíchic e naocgc7acm WatterBeo/címin Silo Paulo Pcrspecflva,

1994, p 45

Reviso, dc tildilagfcc Raocá,sic ci. Anejos:200))): 207-244 228

InocénciaMata A prosadeficsáosúa-/omensea presencaobsidianteda colonial

per,formativo,de quese ressaltaa ausénciade mareasgráficasdealteridade(aspas.itálico, notasde rodapé)na referénciaaostermosafricanos,factomuito frequentena literaturacolonial. Portanto,já náohá nestaliteraturaurna apeténciaexotistavisível. por exemplo,na descriyáopaisagística.Equandoelaexiste, tem urnafunyilo completivamasfundamentalna lógicada heroicidadeparao queapontaacomposiyáodemiárgicadaspersonagensmetropolitanas,apósurn percursoíniciático, cm queo recém-chegadodametrópole,sc confroníacom uma naturezaindomávelenáo raro hostilqueaeentuaa insularidadevivida corno isolamento,numespagoestranho,com urnaculturaestranhae homeusestranhos:

«A pequenoroyo /Esperonya], cercadapelo abóe pelo mor, eraurna ilho dentro de antro dha andeos seushabitantestrobalhavom,amavam,repraduziam-see safriam, sobo pesodelada insularidadequeos acutilava dolorosamente.Agravandoo pesadelodo seu isola-mentc,oque/aregido era dasmaispluviosasda ilbo»

(FernandoReis, «O parto»,I-Jistórias da royo. 1970.)

O temada ii/za é, por sinaí, urnaisotopiarecorrentena escritade Fer-nandoReis, denunciando,pelasirnagense palavras,os desejose as pro-jecyóesautobiográficasdo autorna suaobra.Náo do pontode vistado po-der da sinibolizayáoás idealizayñesutópicase edénicasqueeste tópicomanifestana literatura.Em FemandoReisas imagensda i/ha reportarn-senáoa um Lotusarrumas, lugarde refúgio,masa um componentedo «lugardo purgatório»no processode adaptayáoe acentuamo carácterheróicodapersonagern.Passagenscomoasquese seguernsilo obsessivamentereco-rrentesna ficyáo de FemandoReis:

«Peloseuisalarnento,podedizer-se,sern exagero,queé urna ilbadentro de nutro ¡(ha.

A partir do mar, carneya autra: o mor vegetalAflores/aé ummor verde.cainda logoa seguir nosprojúndezas

obisscíisde umvcile (. )[A raya] PontoGandué urna dasroyas, da ilba, de maisd~¡cil

acessa.Ponto Gandu,diñamos, é quaseurna ilha dentro de autra ilba.

Par un, lado, o mor;por autro, afloresta imenso,o separaroshornens

que íd moirejan> do ca;>vívio dasantroshornens Por isso,algunsdelespassomanasseguidosna suoprisdovegetal.»

(1-listénosda raya, 1970.)

229 Revistodc Fi/o/agfa Románica. Anejos200)11:107-244

lnocéacici Mata A prascíde fir~cio ~áa—rocncnse2 ci l»cscnccí c>l,sicliante cío colonial

Podefajar-se,apartir dos excertostranscritos,da passageindo mar na-tural parao mar cultural na obradeFemandoReis.passagernem a ilha apa-rece, simultaneamente,como lugar de encontro(interior) e desencontro(cultural).

E, no enranto,FernandoReis é tambérnum escritorque tern urna«vis~ode dentro da terra»,emboraurna visio visceralmentecolonialista,portantodo ponto de vistade orn agenteda colonizayáoquea encaracomournannssaoao servko<la pátria - urnapátria queseestendepor urnagea-grafiadispersa,pelosquatrocantosdo inundo, segundournsíagando Es-tadoNovo. A suaobraconstróiem cadasegmentoumaepopeiada coloni-zayio,como seucoroláriode civilizayflo e evangelizayáodo colonizado,cm que as personagcnsmetropolitanasfazem um percursotn;cíátícodeadapiayáoLi Africa, um percursoqueurnadassuaspersonagensresumedaseguintemaneirasobre«estarapaziadaIrnetropolitanalquevem paraoultramar»:

«Atécíascincoanasscw ultramarinos;cias cinca aosvintc’, vio al—tianicírcitos.e ¿lepoisscio ultramalondícís.»

(Fernando Reis. Rayo. ¡960, p. ¡46)

Nilo obstante,este discursocom dimensáoapologéticada presenyaportuguesaem África revelaurn espirito de recusa,inconscientequeseja,de procurade exotismoe enquadra-seperfeitamentetia recepyáogeopolí-tica do binómionacionaJ/regional.com basena «pluricontinentalidadecuj-tural»,o queparececoncordantecorn a linha (ideo)lógicada suatextologia.Náo sem razio,nestecontexto,disseAugustoCasimirodaobra destees-critor colonial:

«FernandoReisvive a Africa, anta oso¡>iconos () O escritorviveno A1/e O sao vidc¡. 0 ¿~ae hcl deníais pc’rdwcivele inipc>ita bojeca portuguésfiel ú A,1¿í¿a ¿tv/O vito e ¿t17’fl/p/cntiic’ii/e <tipas/O /1031<’ 1?).’-lO.»

(Contracapade Raya, 1960.)

Digno de menyio é tambémo conto ~<anódino»Natal cm Sc2o Tomé(1962), publicadonumdosnúmerosdacoleeyio Imbondeiro,da autoriadellorácio Nogucira,um portuguéscom umaexperiéncialiterária sobreAn-golae Caboverde.

Todavia,o percursodaevoluyio daprosade ficyáo produzidacm SiloTomé e Príncipe duranteo períodocolonial tern umanova feiyáo com

Re ¡vta de FiIolc,gic, Rcsc¡scá,si, y¡. Ane>as¿200) )): 207-244 230

InocénciaMata A prosadeJYcydasáo-tamense:a presenyaobsidiantedocolonial

Sum Marky, Alves Preto e, tangencialmente,OnésimoSilveira: tangen-cialmenteporqueTodagenteMa: Sim,senhorinsere-seno corpusda «es-crita da roga» masas personagenssilo apenascabo-verdianoscontratadoscuja vida se «reduz»aomundoda raya,semqualquermntegrayáona socie-dadesio-tomense.

MasAlves Preto,com os seusdois únicoscontos«1Am homemigual atantos»e«Aconteceuno mono»,publicadosem 1959e 1960, respectiva-mente,no boletim Mensagein da Gasados Estudantesdo Império (Lis-boa)faz a diferengana medidaem queasuaficyio se inserena literaturadecompromisso,de denúnciaanti-coloniale intencionalidadenacionalistaaproximando-seda poesiade combatedos «poetasda CasadosEstudantesdo Império» de queo próprio TomásMedeirosé um protagonista.A suaficyáo é de denúnciadascondiyóesprecáriasda vidado contratado,do tra-balhoforgadodasroyas,damarginalidadedapopulagáourbanafarra.«1Amhomemigual atantos»refereo dramado contratadodesenraizadoda suate-rra original, vivendo um quotidianoviolento nasroyas,semesperangaderegressoporquea suaeondigáopoucose diferenciada do escravo(leia-se,porexemplo,o poema«Avó Mariana»de Alda Espirito Santo,ou «Um so-copéparaNicolásGuillén», do próprioTomásMedeiros),em queo tópicoda il/za é retomadomascomumamotivagio sociocultural:

«Manguyoolhava o mar.Sentiocomono pr¿iprio carpoaschico-todasdasondasno arcia quentede5. Jada. (.) Omor ¡híava-Ihe dasPoismartasnos royasde cacao.Ah! ... a mar!... os royasde cacau!...Mongu~ocuspio no peda~odo mor que chegovaópraia, sa/picadodepésinchodosdaspescadores

(..) Nopraia o desesperadocheira de ngondúe vadópanhóe acarpo deManguyo par en/re os so/picosdaspésinchadasdasango-lares.»

(«1Am homemigual a tantos>~,1959,p. 21.)

Tópico quetambéma obrade SumMarky restomapararealizaro en-frentamentoideológicoentreavisáodo «vindo»(comoo naturaldesignaoafricanocontinentalqueno contextosáo-tomenseé o contratado),do natu-ral e do metropolitano(o colono): em As mulatinhas,Tarnaleia,o moyarn-bicano contratado(quese tomaráfugido) tambémconsideraque«líha niloé terra,náo!».

Por seuturno, o conto «Aconteceuno morro» referea precaridadedapopulayáourbanasáo-toinelse(a queoutrosfiecionistasraramentesere-ferem) num dos bairrosmais pobrese emblemáticosda cidade de Sáo

231 Revisía de FiIa/agfc¡ Roas/nico Anejos200). )): 207244

InacénciaMata A prosadeJYcyáavc7a—/ornenve:a presenyaobsicliantedcc colcínial

Tomé, o Riboque.Mas os seusúnicoscontos,emborafayam a diferenyacomoatrásafirmei, n~ochegamparafundamentarumatendéncianemumsubsistemaaindaquenestese possaincluir a escritade Sum Marky, situa-dana intervalaridadedos dois discursosda práticanarrativa.

Sim Marky, pseudónimo de JoséFerreiraMarques(que adoptaonomea partirdo crioulo forro,da ilha de Silo Tomé: literalmente,«o senhorMarques»),é naturalde Silo Tomé,filho de paisportuguesescomerciantesna colónia. Da suaobracontam-seinúmerostítulos —que faráo,eventual-mente,parteda literaturaportuguesa,condiyáoqueo escritornilo enjeita,antesreivindica—masde motivayáo,on meihor.de pulsáosáo-tomensesiloapenas:O vale das ilustes (1956), No altar da /ei (1962), Vi/a flogá[vila/casa de alegria] (1963), Tempadeflagó [Tempo de brincadeira/di-versio] (1966),«Angelina»(conto, 1969)eAs mulatinhas(1973).

Na sua obra Sum Marky nomeiaos conflitos sociaiscom basenosmesmosmotivos temáticos:a roya. as potencialidadeseconómicasda co-lónia e aindaamestiyageme a multirracialidademascomomitos fazedoresda ideologiacolonial edafaláciado luso-tropicalismoatravésdaconstruyáode umasemánticaespacialda insularidadeem que sedisseminamosmitose símbolosqueconfiguramo tecidodo discursivocolonial, subvertendo-os.Nestecontexto,umadasestratégiasdessasubversioé a anti-naturalizayiodo desejo/prazer,conseguidapeíamotivayáoque se )nslnuacm cadaactodemiscigenayiorevestindo-ode realidade.circunstáncia,lugar, sujeito, ob-jecto,objectivo,fazendodo prazeredo saberum tecidoideológicoqucre-vela a gestayioeminentementesocioeconómicada Iinguagem.Assim,cmO ValedasI/usóes,TempodeFlogó, AsMula/inhase no conto«Angelina»a situayio miscigenantenilo surgetilo harmoniosacomo a celebrao dis-cursooficial com o qual os outrosticcionistassio-tomensesou de moti-vagio sio-tomense,seusconte)nporáneos,estabelecenurnaredeintertex-tual, cm quecompreendeo enquadramentosociocconómico:

«Empregoda [bronca] de mci/o. ler,c’i,o ea mesmaes¿ritcirio sétinho direito o mulber tía/iva. negro att mula/cí. Muiher brcíma. ¿liJelaxo!”

(As¡nulotinhas, ¡965,p. 59.)

Num passodo conto «Angelina>~,a relayáomiscigenantesurgecruel-mentefísica,contrariandoo ~4dea1ismo»do luso-tropicalismo:

«Ndo havio raparígc¡ no/iva que nao es/ívcssepicntci ci amigar¿cm> Corlas Pinto, um bronco impar/cinte,gerenteconíerciol.SciAn-

Rey/sca dc Fi/ala5 fa Rc,ncánic ¿j Ancjcss

20<>) U: 207-244 232

InocenciaMoví A prosadeficyda sáotarnense:a presenyaobsidiantedo colonial

gelina recusavasempre,sab oque/e estúpidopretexto: ‘Querornecasó!” Epronto.

Agora, e/citadono leita (..) retare/ayoAngelina,a estronharapo-riga.

<..) O carpo de Angelina, vermelboe quente,rinha de ser dele,qaaisquerquejbssernos rneios a empregor.Menoscasar,éclaro. Quesedina no ¿idade,en/ir osbroncos,seele cososse¿orn urnanegro? Opatrño, seo vaubesseen> Lisboa,até eracapazdenr &s pressospatao despediry’.»

Por isso,diferentementede ontrosqueconstroemepistemologiasdaLeicolonial (sacrificio, luta, dever,honestidade,generosidade,progresso>,Surn Marky faz aquestionamentodessasepistemologias,numaverdadeirasubversioda ideologiacolonial,atravésda causalidadehistóricae social27

Esta é outra opyáo estético-idelógicade Sum Marky queconstitul umatentativade rupturacomo exotismoquecaracterizaa literaturacolonial equeo afastada discursividadecolonial—constituindoumadastópicasdasuaintervalaridadeliterária. Dala inexisténciada representayáodo espagonaturale o afastamentoda descriyáopaisagística(aliásum dosvectoresdadiscursividadecolonial e que relevada representayáoexperiencia!),que,quandoaparecena obramarkiana,tem sempreurna funy~o indicial e in-formativaparaasemánticasocial on urnaconotayáopsicológicade causa-lidadesocial----narogae no heterogéneoaglomeradourbano(enestecapi-tulo tambémSum Marky se aproximade Alves Preto na representagiodosdois universos),

O espagosociale históricoé, assim,arealidadeprivilegiadadaobradeSuin Mark, marcadamenteneo-realista.A suaobraindiciaurn movimentosubversivoque, comNo altarda /ei, atingea plenitudedenunciadoraao re-ferenciaro massacredo Batepá(ocorridoem 1953). A suaposturacontes-tatáriadirecciona-separaa avaliagiloe interpretagáodasvinculaqéesentreos vários aspectosda vida humana,colectiviza)ldoa aeyáo,emborasemequacionara dimensáocultural.

Escritorda intervalaridade,entreo corpusliterário coLonial e o nacio-¡nl, aobradeSumMarky, intermediandoesteticae ideologicamenteosdoisdiscursos,é muito significativa no quadro da literaturasio-tomense,n~o

~ Sun Mraky, «Angelina» (apud Amñndio César. ¿antaspoí¡ugueses das ul!rcnnw. Porto,Poitucalense Editora, 1.” vol, 1969

27 Inocencia Ma<a,Dióloga cc,rn os ¡Itas (sob~eCultu,aeLiterauna de Sao ToméePrñicjne)op cic pp. 147-157.

233 Revista dc t/lologlo Roosánic:a Anejos200< II: 20?-244

InacénciaMata A prosadeficyñasc7atamense:ci presenyaobvie/lan/edo colonial

apenaspeloseulugarnumapráticaliterária escassacm SáoTomé e Prín-cipe,como¿anarrativa(a prosade ficyilo), comopelodestaquequea suaobraconquisrouna realizagñodessemodo edo sengénero,o romance,da-dos os temasdassuasobras,muito diversos,em termosde contextuali-zayio, dos dos seuscontemporáneos,como FemandoReis e Luís Cajio,parasócitar dois escritores.

6. A FIC§7Á0 PÓS-COLONIAL E A PRESENCA OBSIDIANTE DO

~<COL0NIAL»

Num paísde poetasse tornon SáoTomé e Príncipe logo apósamdc-pendénciaculoefeito imediatofoi a libertayáoda palavrae a liberalizayáoda escrita,deveriadizerasuamassificayáo.Num espaqocm quea palavraestavaamordayada,o detentorda palavraeda escritajogavamu papelim-portantenumasociedadecm queo poderdaescritaé (ainda)uni privilégio.Escreverse confundiucom aversificayáode.s/oganse aescritapassouporurnafasedcpanfletarizayáa.de projecyiodo ideal revolucionárioe com-bativo, de coditicayáode signosdo anticolonialismo,vitória, reconstruyáonacionaleuniio poeta/poyo2>; Organizaram-seantologias,antologiararn-se«poetasconsagrados»:cm 1977,AntologioPoéticadeS.Tomée Príncipe(com introduqáode CarlosAgostinhodasNeveseprefáciode A. EspiritoSanto)eAntolo~iaPoética.1-uvenilde 5. Tomée Príncipe, deAntónio Pin-to Rodrigues(queasstnaumaintroduyáosignificativamenteintitulada«SiloTomé e Príncipe - resisténciapopularno fascismo e colonialismo»>;cm1984 assinala-seo opúsculoantológicoA descobertadasdescober/asanasdescobertasda descobertaecm 19920 coro dospoetaseprosadoresde5.Tomée Príncipe. Obrasqueservemde confirmayáo,a estenivel, de urnarealidadecuja existénciaé marcadapor umaconstanteintenniténciamasquereafinnamo lugar dapocsrnno sistemaliterário sáo-tomensee ta)flbémo «lugarde bastardia»da práticanarrativa,cuja realizayáocontinuaa ser.aindahoje,um tanto rudimentar.

A prosade ficyio sé davanoticiascm ¡979 num pequenoopúsculomt-meografado.Makuta, on/igamenu’(ci no ‘aya, novelade RafaelBrancoqueresgata,sobum albarporvezesdocumental,a situayiodo nzicracasnzosda roya, nurna tentativade reescrevera visáo apologéticada «escritada

22 ibid p. 65.

Re ‘¡vta de Pdo/agfa J?ao;chsic o. Anejos200)11:207<244 234

lnacéncic¡Mata A prosadeficyñasáo-tamense:a presenyaabsidiantedo colonial

roya» de FemandoReise Luís Caj~o, inauguradapor Viana de Almeida.Makuta, tal comoospaisde Manguyocm «Um homemigual a tantos»,vai«enganado»paraSáoTomé, na esperanyade ganharalgum dinheiroparapodercasarcom a suaamadaMetika queficaralá, «numapequenaaldeiano sul de Mogambique».A realidade,porém,é outraeo «contrato»mais aoé do queum passaporteparaa escravidio.A «harmonia»da roqae avisáoapologéticae heroicizantedo colonizadorsilo desmontadasatravésdo des-velamentodas motivaqñesdos metropolitanosque buscamtrabalho naroya;Makuta apercebe-sede quenuncaconseguiráregressare, revoltadocom as injustiyas dossenhores,acabapor cometerum crime tornando-senuni flígido, tal como Tamaleiacm As mulatinhas,refugiando-senasflo-restasinóspitasda liha. Maso 25 de Abril já se prenunciae Makutaacreditaqueum dia poderáregressarda clandestinidade:

«O Sa/lentamentecarneyoua emparrara escarie/ño.Do la/a con-tro a ,>oite moisurna veza salsairo vencedor.Navadio. Un>a manhc2limpa,prenúnciadediosdifíceismasnovas.Mastambéma despertarde urna consciéncia (...) Mas qualquercaiso í>ascera.Noaltura eraapenasamo(llama Un> dio tornar-se-iafogueirae las/variaa todooPaís.En/ñao esperanya nao seizoumapalavravó»

(Mcikuta, ontigamenteKl no raya, 1979,p. 40.)

Em 1984,Frederico Gustavodos Anjos publica um opúsculo intitu-lado Bandeirapara uní cadóver, urnanovelaem prosapoética,de preocu-payioéticaexpressana narrativafocalizadanumaacompanhantedíssimu-lada,dentreospouquíssimosacompanhantes,de um conejofúnebre(o deKangundu),construindoum discursoespecuLativosobreaefemeridadedavida, as injustiyasdo destinoe ascontradiyóesdos momentos:

«Polavrosnóaditas,¡calidadesnñovividas, desejassatinéitaspo-den>povoarmuitosvezesum mundode sonhos.Rarassña,porén> osvezesern que a sanhanóo é sendaa imagemmaisou menosmulticordeun> paucodes/avida queseapresen/ateimosarnentemaisamo vezpaíajúzer lembrar que qualqueractualidadesucedesemprea urnpassoda.»

(Bandeirapaíwurn cadóver, 1984,p. 9.)

Contrariamentea FredericoGustavodos Anjos, queé tambémpoeta(eom poesiadispersae antologiadae um livro, So/udquia), Mann Barreto(ManuelBarreto),tal comoRafaelBranco,Albertino BranganyaeJerónimo

Rc’ vise,> Cíe ti/oIc>gfa Romcinic ~a.Anejos20011): 207244235

Inac:énciaMato A proscídefic yáascio—tc»nense:c> riesenycí obsidiantecíocolonial

Salvaterra,faz umaúnicaincursáona literaturaem 3985 comumanovele-ta, SamGentí [A senhoraGentil. A novelatem cornopanode fundo a re-layio psicossocialcomo desconhecido(feitiyaria) eoshábitosdecorrentesde urnamundividénciacomunitária.Masjulgo quea importanciade 5amGenilvemdo faetode sera primeira obraa revelarum olhar apartirde umcomplexoendógenosemter como leitrnotiv o elementobranco/colono—vale dizercolonial— queemborapresentena tramatextual,nilo a condi-ciona.

No mesmoano, 1985,Albertino Bragan§apublicaRosadoRibaqueeautroscoitos, urnacolectáneade quatrocontossobreo quotidianoda po-pulayáoafricanaurbanizada(de queo bairro do Riboque,nosarredoresdacidadede Silo Toméé o exempioda suamarginalidade).quesóencontralu-gar na obrade Sum Marky e numdoscontosde Alves Preto,«Aconteceuno morro». Esta é a inovayio assinalávelde Rosado Pi/zaquee aa/los

cantosquandohá catorzeanossaiunumarudimentarcolecgáo,«CadernosGravanaNova»/2(urna colecyáoque nilo teve continuidade).ComoSaizíGentí,Rosado Riboqaee ajaras cantossaiuda rayae deambuloupeloquo-tidiano dos naturais,cm tempocolonial. falandodas suasesperanyasetristezas,sonhose frustrayées,se~n nuncadescurara dimensáosocioculta-ral e económica.De facto,podedizer-sequeAlbertino Braganyaé. em cer-to sentido,herdeiroda ficyáo de Sum Marky: ambosautopsiamo processocolonial atravésdo socioeconómico;todavia,cm Sum Marky a dimensaocultural, isto é, o diferendocivilizacional e o antagonismoideológiconilosilo nomeados.

Na esteirado modoficcional de conteúdointimista de Bandeiraparaumn cadóver, Rufino EspiritoSantocstreia-secm 1990 comA palovrapci-dido e anisashistóríos, colectAneadetréscontoscuja temáticarecorrenteéa reflexáo éticae ontológica,num discursosemgrandeancoragemna his-tória, meihor,numatramaficcional quetraz ~ cenafragmentosperdidosdcumaconsciénciaindividual cm confrontocoma culturasocial.

Em 1 993 Maria <flinda Reja publicaQuinzedíasde regrcsso.Con-hecidacomo poetisa—já publicaraBó tendé? [Ouviste?l(1992), Leve,leve (1993) e publicariaNo pai?v da Tchil¿li (1996)— Maria OlindaRejatransportaparaa práticaticcional urna projecyio autobiográficaqueumaleitura maisatentajádescobrena suapoesia.Quinzedias de regressa,quea própriaautorainclui no queconsidera«Trilogia do afastamento»,junta-mentecom os dois primeiros livros, é um romancede reconstruyáodaidentidadeindividual de Olivia, quebuscanosfragmentosda vivénciadeXininha, a Olivia-menina,o reencontrocom os mitos e os signosda me-

Re ‘¡sta dc Fi/a/ogía Rcsmónha. Anejos20<)))): 207-244 236

InocencioMata A prosade~icyáosáa-romense:apíesenyoabsidiantedo colonial

móriapara,confrontando-oscom osda suaaprendizagemafectivae cultu-ral, cerzir a suabistóriae assimreconciliar-secomo seupresentee projec-taro seufuturo.

<¿Ossonhasde Olivia diluíram-seno tempa,camano tempasees-coararnosgotasde arvolbodumaunsiedadequepreenchearada o saoinfóncia.Lía nño viveu - sanhau.Cadadia vividoabsarveu-ade orn-biyñes,mirogens.fontasias.»

(Quinzedias deregresso,«3»dia>~, 1993, p. 47.)

Em quinzedias,cm queconhecemáe,irmá e outrosfamiliares.OLivia(re)conhece«a forya indestrutíveldassuasraizesafricanasquealevaramum diade regressoás origensprofundasdo húmusda Máe-África» (con-tracapa).Olivia, personagemqueempreendeo regressoLi ilha natalparare-construiras suasorigens,fora,tal cornoMaria OlindaBeja,aautora,afas-tadadamáe havia37 anos.A voz narrante,oscilandoentreurnaenunciagilocm terceirapessoaeem primeira pessoa(«Sentino meucomo pingosdechuva, pesados,compassados,quentes.Apressei-meentilo a travessarapista>~,p. 15), denunciaessapungentenecessidadede reconstituiqáoidea-tária, o quefazcomqueo texto signifique paraalémda suaficcionalidade.Uma obra interessante,tanto ao nivel estético(a organizayionarrativa,aconstruyiolúdicadavoz narrante,afocaiizayáocm diferentesentidades,atéespaejais)comotu suarelayáointrassistémica:defacto, aonivel actancial,o texto estabeleceuma intertextualidadecom O meninoentre gigantes(1960),de Mário Domingues.

Um anodepois,cm 1994,FranciscoCostaAlegrepublicaMussundó.Registe-seapenasa suaexisténcia,nilo obstanteo rudimentoda escritaemaisaladadaiaborayáoestética.

Rudimentaré tambémTristezasnóopagamdividas (1995),de Jeroni-mo Salvaterra,urna misceláneade contos(de criayio literária), lendasecontostradicionais(«históriasda tartaruga>~corno Ihesdesignou).Silo vin-tee tréstextosde complexaavaliayioquantoao seulugarde gestayáo,lu-gar genológicoe intengáode escrita:finalística,ou seja,de intenyáoestéti-ca,ou cultural(recolbade textosda oratura)?Testemunhalou até, apenas,apontarnentosreflexivossobreo mundoá voLta, comoessetexto «Santo-mensesilustres»?Em todoo caso,apesarde ostextosrevelarernum inci-pienteoficio de escrevere valerempeíainformayáosociológicae etnográ-fica, o conjuntoperdepeía indefiniyáo da suaintenyio: torna-seatépolémcaa suainclusáono corpus literário. Além dequeurnaúnicaobradosenautornilo ehegaparafundamentarumatendénciaou um estilo.

237 Rc vista dc liloJc>gfa Rotu,ánft a. Anejos200111:207244

InocénciaMata A ínosadeficyciascia—co,nense:cl p>cscnycl al,siclic¡nle dc> calanic>í

O rnaisprolifero ficcionistado pós-independénciaé SacramentoNeto,autorde cinconovelas:TongaSofia (1981).Milonga (1985),Pene/a(1989),A rombo (1992) e O testan>en/ade Cristina (¡995), a únicanovela cmqueo espagoda história se deslocaparaLuanda,cm quea referencialidaden~oé sáo-tomense.A ficyáode SacramentoNeto recuperao tempocolonialparanele colocaro núcleo de urnareflexio queval das relayóeshumanasno mundoda roya, entrebrancosenegroscomocm TongaSofiae Milonga,ao problemáticoquotidianoda populayiodaszonasruraise ruralizadasdacidade(Peneta)e Li discussiosobrea identidadehistóricaangolar,trazendoparaa literatura,juntamentecoma poesiade Fernandode Macedo(autordeAnguenée Mar e níógoa),a dimensioda angolaridade,construidasob osignoda memóriaétnicae histórica(A rainlía).

A rainha é aestetizayáode umamemóriade um passadohistéricocmconfrontocoma memériacolonialea eonsciénciaforra. A memóriadessepassadoangolar,miticamenteglorioso,realiza-seatravésda conselénciadcFalé, um jovem idealistaangolar,quepretendeconcentrarcm SumGobearevitalizayiodanayáoangolare lutar pelodireito legítimode suafilha, Be-tina - SumGobe,pai dc Betina,a ~<rainha»,queé o herdeirodo último reíangolar,Simio Andreza.No final. dá-seo desaparecirnentode Surn Gobeno mar e Falé,desencantado,buscaoutrascausas,nacionalistas,cm queseenvolvee cm que,mesmodcpoisda independéncia,osangolaresnAo sc en-volvem. Todo o processopodelcr-secomo metáforada exclusiodos an-golaresdo processocolonial e pós-colonial:é quena significayáotextual,essefinal podelcr-secomo índicede um longo prelúdiodesiléncio porquepassao poyo angolar.

7. AlTO I3ONFIM: ¡3M CASO DE APOSTASíAROMANESCA

Porventurao masintrigantecasoda ficyiio pós-colonialé o do poetaedramaturgoAlto Bontim (nome literario de Angelo deJesusBonfim). lii-trigante,vertiginosae quaseininteligível.Una obrasobrea loucuracomomodo(de sc ser)político cm África e o seucorolário.

Em 1992,Aíto Bonfim publicaa suaprimeira(e até agoraúnica) obradeficyio, O suicidiocultural, um romancequerelevadasprcocupayóespo-líticas do autor, tambémele autorde A berlinizayñoon partilba de Africa(1985)e Ogo/pc - urna autópsia(>996) textos dramáticosque,tal comooseulivro Poemas(1990), denunciama cumplicidadedos africanosno es-tadodo continente.O suicidiocal/aralé ahistóriade urn ~~C5()político no

Revisto ch i:ilc,/cwf¿, Rooca’nic .c¡ Anejos21)0) )): 207-244 238

InacénciaMata A prosadeftcyúasán-larnense:apresenyaobsidiantedo colonial

limiar da loueurae que se dispóea escreverahistóriado seuoutro «en»,desdobrando-secmpsicanalíticasreflcxóesquepretendetero leitor cornoseninterlocutor.Mais do queisso,éumaobraem queo autorpretendeen-cenaro resultadodasrelagóesentreosafricanoseoseuropeusatribuindoaosprimeirosa «responsabilidadee aculpa» de terem desenvolvidoumprojectopolítico eculturalconducenteá perdada identidadeafricana.Osafricanose os seusideais,simbolicamenterepresentadospeíamAc Kafraepelo corredor(atleta) etíope,váo perdendoa suaidentidadehistóricaeculturalámedidaqueabrayamosvalorescuropeuse negamosseus.

Grandeparteda intriga desenvolve-seatravésde um diálogo que oprotagonista,o Velho Kakólo, presopolítico, mantémcom outrasduaspersonagens,Ká eKaké,quemais nilo silo do queo desdobramentode sipróprio cm fasesanterioresda suapersonalidade:respectivamente,itainfáncia(Ká) e najuventude(Kakó, jovemrevolucionário).Na suacelademofle, nosmomentosderradeirosda suavida, enquantoaguardaa ehegadado pelotio de fuzilamento,a personagemrememoraaté á exaustáo,cmfracyóesde segundo,a trajectóriada suavida e da suacomunidadedesdeamaisremotainfanciaatéao corredorda mofle, passandopeíasuaatribula-da e revolucionáriajuventude.Paralelamente,é apresentadoo quadrodete-rror quevive na prisio (política), a suadegradayáofísicae psicológicae aconscíénciadessasituagio.

«Jó metransportonípa¡aa martuório, Kokó. Enojo-metodoes/apoisagemdedesgroyodose despee/agados.

Nascisem o mecí va/a.. inútil»(O suiciulio cultural, 1992,p. 83.)

Fm vez dos algozes,apareceum emissárioparao libertarexplicando-me asrazóespor quenuncaehegaraaconsumar-sea exeeugáoqueIhe fora<¿sentenciada».Em contrapartida,Kakólo conclui queasuacomunidade,asuamótria africana,fora vítima de um suicidio nilo apenascultural mastanibémbiológico cojoprenúnciose manifestalogo Li saidadaprisio aoen-contrarcrianyasquenAo falam eque chegamatéa rejeitara ]ínguadosan-cestraisqueconstitui o suportesimbólicoda suacultura.

«Marnentasdepoisodarmecianumcanta.Gritonasde cniangaseos cascosde bananaslanguciascontra ele acordum-no.Sen/a-seso-nolentae semprecan> os albosfe(hadase manalaga:

239 Res/ha dc Filado5fa Raescialca. Anejos

200), 11: 207=44

tnacéncic¡Mata A p~osc~ deficyaasáo—Iameose:ci piescoyaahyidic¡ote dc) co/c)lIia/

—NominhoAfrica t,adicianculos velhossñoosmaisrespeitadaseocorinhadas,porque50c)elesos mataresdetentarescío sabeí e o sabere vive¡>cial (.3.

Pergantoudepais/oosmiúcías/se scíbiomffiíor unzalíngucí a/}i—cono As respastc¡sford> diversczs. A/cia presta ; ‘A/do servepalonodo’ ; Ninguémtúla : ‘‘O tucapoiséflílcí c:crnz a nuinhcíovén>as que[¿dare escreverbenzci línguo . ci ízcssalíngaa ; E ¿¡líogacícías velbinhasn>uita velhinhas (..

Sozinhoita salir/ño parricida da indifi-’íc’íya dosquepasscun.me-neando o cabeycí, >‘é os nutras azuispintacicís cíe lz¡/rí cítrcívésdasseasolhc,sescozase murmuro¿onzvoz~~ec.a:

¡Vda [¿il cernsimplessuicidiocultural, uño. E o 4’c’nocídlc/ bio/c~girve c:ultural »

(Os¡dc icho cultural, 1992.p. 2(18.

E interessantenestecontextoda preservayioda identidadeculturalatravésdaexpressiolinguistica ver comoo texto ensaiaumaestratégialú-dica com a traduyio: osdiálogosaparecemcomo«tradugioparao portu-gués»de urnaIíngua africanavirtual (quenuncaé noineadaemborao leitorpossa,por ilayio, pensarnumalínguaetíope).

Vm texto densoe dessacralizantcdo cánoneromanesco,umaapóstro-fe aosregimestotalitáriosafricanos.Ao mesmotcmpo,um romancequescdesenvolvenumalógica antiépica.cm quenema res)stencialogra vingar—emboraKakólo sobreviva—se concordarmoscom Hegel, GeorgesLukácsou Emil Steigcr,Dionisio de Oliveira Toledo segundosos quaisaépica,cuja origcm etimológicaé narrayáo,presentificaum passadodistan-te. um mundojá inexistenteapresentandoheréisque sc tornam,paranós,verdadeirosarquétipos29

8. CONCLUSÁO: A PROSADE FICQAO SÁO-TOMENSE- UMA

PRÁTICA (AINOA) PERIFÉRICA

Falarda prosadcficyio sáo-tomenscé falardc um (sub)sistemaigno-rado,parao queconcorretanto a origem dosautores(maioritariamcnteme-tropolitana,europeia),aatitudeparcial da críticaea recepyiodo círculo deIcitura (a«cornunidadeinterpretativa»,segundoStanlcy Fisb).

—“ AA VN’. Iearic¡ ¿¿ci Liten,tu pci — fc),!? alisIas Rc,ssas Porto Aleere. Ecl ¡ )oro (lío Lv, 4”edigao 1978, p 278.

Rcvishs dc Filc>/ogfa Rc,ttsclni, a. Anejos200J 11: 207-244 240

In<)cénc:iaMata A prosadeficyáosc7a-tomense:a presenyaobsidiantedo colonial

A prosade ficyAo no períodocolonial, parteda literaturacolonial dequeapoesiacontestatáriados«poetasda CasadosEstudantesdo Império»seconstituiucomo contradiscursoera,grasssamodo—á excepyAode Al-vesPretoe da obraintervalarde SumMarky— urnaliteraturaqueexpres-sayaas condiyóesexistenciaisdos portuguesescm SAo Tomé e Príncipe,«provincia»de Portugal,nassuasrelayñescomanaturezatropicalecomamassahumana,numa perspectivamissionária.Funcionandocomo reali-zayAo regionalistada literaturaportuguesa,dessaliteraturavai emergindo,porém,o «sentimentonativista»,com subjaeénciaideologicamentecolonial,que gradualmentevai configurandoumafeiyAo de diferenciayiocom osistemaliterário portugués.Datandodosanos30 do Séc.xx (emboradesdeo principio do séculosc assinalemesporadicamentecrónicase apontamen-tos literários sobreas ilbas),éurnaescritaqueconfiguraumamodalidadedo discursocolonial, cm estreitaintertextualidadecomcssadiscursivida-de >~. E umaescritamarcadapor umasubjacénciaexpansionistaque sealiceryanacelebrayáodaspaisagens,narepresentayáodo fascínioperanteaexuberAnciada natureza,na descriqAo«naturalista»de feiyáocrónico-me-morialista, na expressáoexóticae mágicado espago,visto como umava-riante da reguilo portuguesa,cm queo espayocultural é pinturescornentepreenchidocom motivosafricanos,naexemplaridadesociocconómicadaroqaparamostraro esforyoépicodo agentecolonizador.Nilo admiraqueum dostópicosda dessaliteraturasejaa naturalizayáotanto do sistemaco-lonial comoda relayáomiscigenantecomodemonstrayáodahumanidadedoprocessocolonizador.

Hoje cm Silo Tomé e Príncipea ficyio narrativaé (ainda) umarudi-mentarp)áticade realizagáointermitente,tal comoa práticapoéticaqueseanunciaraauspiciosalogo apósa independéncia- pelo menoscm termosquantitativos.Existemexperiénciasinteressantes,emboraincipientes,con-tos, novelase atéromances,apresentadosa concurso(designadamentePré-mio CPLP/1998ePrémioPALOP/1998)e outrosquea autoradestetextopossui(inéditos) e queapenasa )nexisténciade umaúnicaeditorano paísnilo proporcionaa suadivulgayio.

>‘ Sobre esta questáo, da inteilextualudade colonial: Inocencia Mala, «Teno e ideologia»,Ernergéncicíe cxisténcic¡de urna lileraturc, - o ¿císa scíntcnnense Linda—a—aVelha, Edigñes ALAC,1993.

241 Rcviv?cc de tilologfcc Rotodscica Anclo>200). )1: 207-244

1nocéncuaMata A prosa def;cyaosño—totnense:a í»e>~ca c,l,stdic¡nícdc> colonial

BiBLIOGRAFIA LiTERÁRIA

ALEGRE, FranciscoCosta(1994): Mussundá, Col. Gibela,Ed. Autor, SáoTomé.

ALMHDA, Viana (1937):Maió Póyon(con/os),Edi~ÓcsMomento,Lisboa.

ANJOS, FredericoGustavo(dos) (1984):Bandeirapcíro orn coclóver,DirecyáoNa-cionalde Cultura,Silo Tomé.

BARRElO, Manu(1985): 5am Genil, PublicayñesPoyo,SáoTomé.

BEJA, Maria Olinda(1993):Quinzedios de tegressa.Ediyño daCámaraMunicipalde Aveiro, Aveiro.

BONFIM, Alto (1992): 0 suicidio ru/lamí,Ediyñodeautor,Sáo Tomé.

BRACANyA, Albertino (1997): Rosado Riboc1uee aa/loscotí/os,Editorial Canjin—ho, Lisboa.

BRANCÚ, Rafael(1979):Mata/a, atiligamenteNno ¡aya SáoToné(mirneografado)

CAJÁo, Luís (1964):A estufé(romance),Sociedade(le ExpansáoCultural,Lisboa.

(1967): Toite de vigic¡ (coí>ías), Sociedadede ExpansáoCultural, Lisboa, 2.”ediyáo.

CAsTRo,ManuelJoaquim(dc) (1908): Horas décio no equador.TypographiaE.da Culturae Sá,Lisboa.

CNATTI, Ruy (1992):Obra poético,ImprensaNacional-Casada Moeda,Lisboa.

flAS. Gastñode Sousa(1926):¿¿fricopor/en/oscí,Lisboa.

GARCÉS, Costa (1955): Viogem maravilbasapor tercas de 5. Thmée Príncipe,CampanhaNacionalde Educayáodc Adultos,s/d., Cobnbra.

Luz, António (1931):Flotes do Pántono, Editor: FranciscoDiasJúnior/ImprensaNacional,5. Tomé.

MARKY, Sum (1962):Nao/torda /ei (romance),Jornaldo Fundio.

— (1963): Ovaledasilusc3es (romance),Jornal do Fundáo,Fundáo,2.’ cd.

(1963): Vilo jiagá. Jornaldo Fundño.

— (1969): Tempodeflogc¿.Lisboa,s/d.

— (1969): «Angelina» in AmándioCésar,Con/asportuguesescío ul/rcínícir, Fbi—

tt)csIlenÑet E,ditnrn Pntl o 1’ vol

(1973): Asmu/ati¡>has,RecoróEditora,Rio dc Janeiro,s/d.

NEGRuRoS, António Lobo de Almada(1895): llistéria c/nog,óficcída ilhcí tic 5Torné Lisboa.

Revi cccs tic Filologfa Rc¡,>schci,sc. Asic os2c>0) )): 207-244 242

InoceOciaMala Aprosadejicyáosña-rarnense:a presengaobsidianredo colonial

NETO, Sacramento(1981): TangoSofia, EÚ. autor, Amadora.

— (1985):Milonga, Ed. autor,Lisboa.

(1989):Pene/a,Ed. autor,Lisboa.

— (1992):A rainha, Ed. autor.Lisboa.

— (1995): 0 testamentocíeCristina. Ed. autor,Lisboa.

Nocurutá,1-lorácio(1962):Nc¡ío/ en> 5. Tomé,Ed. lmbondeiro/27,Sá da Bandeira.

PRETO,Alves (1959):«Um liomem igual a tantos»in Mensagern,n.»2. Lisboa.

(1960): «Acontcccuno morro» in Mensagem,n.0’ 5/6, Lisboa.

QUINrINnA, Juliáo (1933): Novela africana, Editor: Nimesde Carvalbo,Lisboa,2,” cd.

RÉcio, Manuel:SousA,Domingos8. (dc) (1933):Fortunase/Africa,CasaVentu-raAbrantes,Lisboa

Rus,Femando(1954): A lezíria ea equadar(Contos),Editorial Adastra,Lisboa.

— (1965):Raya (romance),Sociedadede ExpansáoCultural, Lisboa.

(1961): 0 baú dejéihas,(seguidodo conto«Amy-só»),Ed. lmhondeiro/15, SádaBandeira.(¡969): «Majá»in AmAndio César,Co¡¡/asporiuguesesda u/tramar, Portuca-

lenseEditora, Porto, 1. vol.— (1970): Histériasda raya, Sociedadede ExpansAoCultural/Liv. EditoraPax,

Lisboa.

(1982): ¡(ha do meiado manda(romance),Lisboa.

SAIvATERRA, Jerónimo(1995): Tristezasnñopagorndividas,SAo Tomé.

S,xNro, Rutina Espirito (1990): A polavra perdida e aa/ras bis/cirios, EdiyáoCDTC, S~oTomé,s/d.

TE)xInRA, Luiz (1933):A/arodadobatuque,Livraria BertrandEditora, Lisboa.(Re-edi~ao:¡l4ensoge¡n,¡960,n.’» 5/6, Lisboa).

BIBLIOGRAFíA DE REFERÉNCIA CITADA

AAVV (1978): Teoria dc> Literatura - FormalistasRussos,EditoraGlobo,PortoAlegre,4? edi~áo.

243 Re vista dc’ Filolos<fa Raindol, a. Anejos2001 1: 207-244

fnc>cénciciMcíca A proscíde ficycia srio—taníense: a í’ resenycí obsidiantedo colonial

CArDuRÁ, Arlindo Manuel (1997):Muiheres,sevuolidodee casamen/ono orgía-pélagade 5. Tomée Pííncipe(séculasXV o XVII!), Grupode Trabalhodo Mi-nislério daEducayáoparaas ComemorayñesdosDescobrimentosPortugueses.Lisboa.

CÉsAR,Amándio (1968):Píesenyacíe5. Ton¡ée Príncipeno modernaculturopoi-tuguesa,S. Tomé.

GACNErnN,Jeanne-Marie(1994): Histéria e narroyclo cm Walter Ben¡amin, Pers-pectiva.SáoPaulo.

JÚNIOR, Rodrigues(1918): Poro amo culturo ojrirrína de evpressaaportuguesa,EditoraPax,Braga.

LANCIAN, Giulia (1997): Suressose naufragiosdasticias pcwtugaesas.EditorialCaminho,Lisboa.

LARANjuRA, 1. L. Pires; MATA. Inocéncia,y SANTos, ElsaRodrigues(dos) (1995):Literatara.scihicanosde expressñaportuguesa.UniversidadeAberta,Lisboa

LOÚREIRo, Rui (1989): A/ove~ayñade Lisboa 4 ill>c¡ cíeSñoTomé,escíjiapor unípilatr) o¡>én¡n>o, (trad. e notasdc Rul Loureiro),Grupode Trabalhodo Minis—tério da EducayáoparaasComemora=éesdos DescobrimentosPortugueses,Lisboa.

LUKÁcs, Gcorg:Teario do romance.Editorial Presen~a,Lisboa.sAl.

MATA, Inocéncia(1993): Erneigéncioe evis/éncíciríe asnoli/ero/uro — a ¿cisc> son—tamense,Edi~óesALAC, Linda-a-Vclha.

(1998): Diálogo ¿orn fis I/h¿is (sobrí’ ¿ni/ura e lucro/uro de Sño Troné e Prín-cipe), EdiyócsColibri. Lisboa.

MosÉs,Massaud(1991):A crio~ao literária - prosa/1. Edilora Cu]trix, SaoPau-lo, 15.” cdi9io, revistae atualizada.

PA2, Olegárioy MONLZ, António (1 997>: Dhionóíio bine daslermosliterarias,Editorial Presen~a,Lisboa,

S¡ícwEzi,Peter(1995>:A condéñohumanacm¡<uy Cinau/i, Editorial Pesenya.Lisboa.

Revisto ¿dc’ 1- ilolc>s<í¿c R,’rrccinicyj A nejas21)1)) )): 207244 244