a evolução da avicultura de corte em goiás · que a própria produção do setor da indústria...
TRANSCRIPT
ii
A EVOLUÇÃO DA AVICULTURA DE CORTE EM GOIÁS
LEVY REI DE FRANÇA & JOSÉ FLÔRES FERNANDES FILHO
Sumário.
Resumo 1
Abstrat 1
I. Introdução 1
I.I. - A Evolução da Avicultura de Corte no Brasil 4
I.I. 1 – Sistema de Produção na Avicultura de Corte Brasileira 9
II.1.1 – Sistema de Produção Independente 9
II.1.2 – Sistema de Produção Cooperativo 10
II.1.3 – Sistema de Produção por Integração 10
II.2 – A Questão Locacional na Década de 70 12
II.3 – A Questão Locacional Atual 13
III – A Evolução da Avicultura de Corte no Centro-Oeste 15
III.1 – Incentivos Públicos no Centro-Oeste 19
III.2 – O Projeto Buriti em Goiás 21
III.3 – Projeto Buriti, “Justificativas” 21
III.3.1 – Redução nos Custos de Transação 22
III.3.2 – Redução nos Custos de Produção 23
III.3.3 – Redução dos Custos de Logística 24
IV – O Novo Modelo de Integração 24
V – Impactos Esperados para Goiás 25
V.1 – Em Termos Sociais 25
V.2 – Em Termos Regionais 26
V.3 – Em Termos Econômicos 26
V.4- Em Termos Ambientais 26
V.I – Conclusão 26
VII – Referências Bibliográficas 27
1
Resumo
O objetivo deste paper foi realizar uma análise das transformações recentes observadas na
avicultura na avicultura de corte, bem como a implantação dos novos projetos na região Centro-
Oeste do Brasil, principalmente no estado de Goiás. São apresentados as transformações ocorridas
na base técnica a nível mundial, sua chegada ao Brasil e mais recentemente a sua re-espacialização
no Centro-Oeste. São abordados alguns dados do estado de Goiás em função de estar se destacando
a nível nacional e ter recebido o projeto Biruti pela empresa integradora Perdigão. Este projeto
marca o início de novo modelo de produção de frangos de corte, baseado na integração de médios e
grandes produtores. Além de apresentar as principais características deste novo modelo, procura-se
apontar fatores explicativos para a sua introdução como a necessidade de ganhar competitividade
pela redução dos custos de transação, produção e de logística. O trabalho procura, também,
apresentar os prováveis impactos sócio-econômicos, ambientais e regionais que a disseminação
deste novo modelo na avicultura de corte brasileira pode desencadear.
Palavras-Chave: Avicultura em Goiás, A Nova Avicultura de Corte no Brasil.
Abstract
The objective of this paper was to accomplish an analysis of the recent transformations
observed into the broiler, as well as the introduction of the new projects in the Center-West region
of Brazil, mainly in Goiás State. The transformations occurred in the word wide technical base, its
coming to Brazil and more recently its new replace in Center-West are presented here. Due to the
following project has been a national landmark and has received the “Buriti” project by the
integration “Perdigão” companies, some data from Goiás State were approached in it. Besides
presenting the main characteristics of this new model, it tries to point explanatory factors for its
introduction as the need of winning competitiveness by the reduction of the transaction costs,
production and of logistics. The paper seeks, also, to present the probable impacts socioeconomic,
environmental and regional that the spread of this new integration model in the Brazilian broiler can
unchain.
Key-Words: Goiás Broiler, The Brazilian Broiler.
I - Introdução
Para GIANNONI & GIANNONI (1983), a avicultura nos moldes industriais teve grande
incentivo após 1940, em decorrência da fome provocada pela segunda guerra mundial, aliado ao
desenvolvimento de novas tecnologias1. MORENG & AVENS (1990) também concordam que o
desenvolvimento da indústria avícola comercial começou no início de 1940, quando vários países
do mundo começaram a se envolver com a II guerra mundial. Citam ainda que nos EUA a
avicultura cresceu independente de programas governamentais e assim manteve um caráter
competitivo que se caracterizava em procurar uma produção eficiente em um mercado altamente
disputado. Livre das medidas de racionamento e outras restrições da II guerra mundial, a produção
de carne e ovos aumentou rapidamente. Os avanços tecnológicos que foram obtidos a partir dos
resultados das pesquisas científicas deram impulso para uma expansão industrial rápida. Estas
pesquisas aplicadas na tecnologia e no manejo de produção resultaram, finalmente, num
1 Justificando o pensamento de SCHUMPETER (1943) já que nas crises é que aparecem novas tecnologias.
2
significativo crescimento da produção de carne de frango a um custo competitivo, o que possibilitou
um rápido crescimento do consumo em todo mundo.
Para FRANÇA (2000), a análise das modificações da base técnica da avicultura de corte
mostram que a tecnologia promoveu várias mudanças na produção e nas relações de produção de
frango de corte. A área da genética permitiu a substituição de raças puras de aves por híbridos
sintéticos de alta performance produzidos pelos “avozeiros”. Os ganhos genéticos, por exemplo,
permitiram a diminuição da idade de abate de 105 dias para 42 dias; a melhora na conversão
alimentar, passando de 3,5 para 1,8 ao abate e aumento do peso vivo de 1,5 kg para 2,6 kg a idade
de abate.
Os avanços na nutrição iniciaram em 1900, quando se usou ração pela primeira vez,
marcando o princípio de uma série de transformações até aparecerem as rações balanceadas. As
transformações foram percebidos nas misturas de ingredientes protéicos, na adição de aminoácidos
essenciais e mais recentemente a utilização de aminoácidos digestíveis, aumentando a precisão dos
cálculos e diminuindo a necessidade de elevados níveis de proteínas nas rações. Aliado a esses
aspectos, o aumento da precisão no levantamento das exigências nutricionais, associados à
programação linear, permitiram o cálculo de rações a mínimo custo, diminuindo o custo e
aumentando a estabilidade do preço das rações.
A área de equipamentos de alimentação foi atingida de maneira intensa pela automação.
Hoje, o funcionamento dos comedouros e dos bebedouros não dependem de mão-de-obra humana,
são mais eficientes em termos de limpeza, melhoram o ganho de peso e diminuem a mortalidade em
função da ausência de pessoas andando com freqüência dentro do galpão.
A indústria de rações, se reorganiza em função da logística de transporte, se regionaliza e
diversifica sua produção associada a tecnologia mais acessíveis de menores plantas, miniaturização
da informática e acesso ao premix em pequenas escalas. Por outro lado, com a emergência da
verticalização aparecem as grandes integrações que passam a produzir um volume de rações maior
que a própria produção do setor da indústria de rações.
A climatização passa ser um dos elementos mais importante na produção de frangos, a
tecnologia atual oferece o aquecimento por campânulas a gás com queimador de infravermelho, que
são mais eficientes, de baixo custo e aquecem o dobro de pintinhos (1000 pintinhos). A refrigeração
passa a fazer parte dos galpões, o sistema mais utilizado é a combinação de nebulizadores e
exaustores movimentando o ar de um lado a outro do galpão (sistema semi-climatizado). Quanto ao
sistema adiabático evaporativo, apesar de ser mais recente ainda tem uso bastante restrito, em
função do custo benefício questionável e ser uma tecnologia pouco difundida.
Os galpões aumentam a sua capacidade interna, passando de 100 m2 para cerca de 1600 m
2,
trocam cobertura de telhas de barro e amianto por telhas de alumínio, não utilizam mais lanternins
em função da ventilação negativa, mudam a estrutura de madeira para estrutura de cimento pré-
moldado ou metálica, as lâmpadas incandescentes são trocadas pelas lâmpadas fluorescentes,
diversificam o material utilizado como cama de frango e passam a fazer a reutilização desse
material por até 4 a 5 vezes.
A área da sanidade se apresenta como o ponto frágil da cadeia produtiva da avicultura de
corte, isso pode ser percebido pelo volume de tecnologias existentes e ainda não utilizadas. Do que
foi feito destacam-se o controle da doença de Marek, manejo sanitário, incluindo isolamento, cerca
viva, vacinas, diagnóstico e monitoramento de doenças.
A eficiência na criação é aumentada pela sexagem que permite mais uniformidade com
reflexos positivos tanto no abate como na criação e pela alta densidade que permite a otimização da
utilização dos galpões aumentando os lucros.
3
E, um novo modelo de produção de frangos surge baseado no processo de verticalização2 da
produção. As grandes empresas avícolas se apropriaram da tecnologia da genética, nutrição, abate e
processamento e da comercialização dos produtos avícolas, aumentaram intensamente suas
produções, pelo aumento de suas plantas e de consumidores e, além de atender ao mercado
nacional, passaram a atender também o mercado internacional. Associado a essa mudança observa-
se que a produção atomizada de carne de aves por parte de muitos milhares de pequenos produtores
está sendo substituída nas últimas 3 décadas por um pequeno número médios e grandes produtores
integrados, utilizando as mais sofisticadas técnicas apresentadas no corpo deste item.
As modificações da base técnica da avicultura apresentadas de maneira descritiva têm a
importância primordial de comprovar através de dados as alterações temporais sofridas no processo
tecnológico de produção. Entretanto, numa visão mais reflexiva, deve-se procurar entender por que
ocorrem essas mudanças, ou seja, quais são seus determinantes. A avicultura não foi o único setor
da agricultura a se modificar. Na verdade está inserida em um contexto maior que atingiu a
produção rural de maneira global.
Os determinantes das modificações da técnica podem ser atribuídos: a desagregação do
complexo rural e formação do complexo agroindustrial; ao apropriacionismo e o substitucionismo
industrial; as questões ligadas à terra e ao trabalho; e ao Estado através de políticas públicas e
financiamento. Em resumo, esses determinantes podem ser explicados sob a inspiração de alguns
autores da forma como segue abaixo.
Para GRAZIANO DA SILVA (1996) ocorreu uma desagregação do complexo rural e
formação dos complexos agroindustriais, ou seja, uma estrutura com características auto-suficientes
é substituída por outra ligada a jusante e a montante a indústria. Para GOODMAN et alli (1990) o
apropriacionismo e substitucionismo industrial foram os responsáveis pelas modificações ocorridas
no campo; ele se baseia na tese de que a indústria se apropria das atividades do campo através do
desenvolvimento tecnológico, substituindo com eficiência atividades, que no caso da avicultura, se
concentram na área da genética, nutrição e mecânica. Esse processo é tão intenso que sobrou para o
campo apenas a criação do frango (por isso a apropriação é dita parcial). Questões ligadas à terra e
ao trabalho para ROMEIRO (1998) explicam o que ocorreu no campo. Segundo o autor, a
economia de terra, devido o seu custo, com a aplicação de tecnologia aumentando a produtividade e
à economia da mão-de-obra, devido também ao custo e a baixa eficiência humana, tem justificado
as modificações poupadoras de terra e trabalho. Cita ainda que existe um ambiente de crise agrícola,
não apenas pelo desequilíbrio entre a oferta e procura, mas pela diminuição da flexibilidade de
ajuste face às pressões que tendem a comprimir a renda do agricultor, seja pelo lado da demanda
(tendência à queda dos preços), seja pelo lado da oferta (tendência à elevação dos custos devido à
degradação do ecossistema agrícola).
Em vários momentos o Estado, também, foi um dos elementos que contribuiu para o
desenvolvimento da avicultura industrial, seja pela regulamentação da importação de pintinhos
avozeiros, seja por financiamento, pela pesquisa através de instituições de pesquisa e universidades,
políticas públicas beneficiando o setor, utilização do frango como garoto propaganda do plano real
e participação atual no financiamento de novas unidades produtivas de frangos de corte no Centro-
Oeste.
Com relação aos impactos das transformações da base técnica, constatamos seus efeitos: nas
relações de produção, com a emergência do sistema integração de produção de frango substituindo
o sistema de produção independente e subordinando as propriedades à lógica dos grandes capitais
industriais da avicultura; no tamanho dos integrados, visto que a tendência atual é de que os
integrados sejam, cada vez maiores e em menor número em função do oferecimento de garantias 2 Em 1982 SORJ et alli assinalavam a existência de indícios de que os níveis de automação e os ganhos de escala
tornariam cada vez mais viável a granja avícola em moldes de grande empresa capitalista.
4
bancárias ao financiamento de galpões de maior tamanho, com elevado nível automação, e do
aumento da escala para viabilizar a produção; na eficiência da produção, já que da forma como o
sistema integração remunera o integrado, a eficiência aumenta e não existe pagamento de não
trabalho, o que é muito comum na atividade pecuária; na geração de empregos, pois a cada dia,
graças à automação, 1 homem cuida de mais frangos e mais galpões, contribuindo para desemprego
tecnológico e passando de um sistema de produção de frangos com base na mão-de-obra familiar
para a utilização de mão-de-obra assalariada; e na localização das granjas, pois atualmente as novas
plantas de produção de frangos são montadas no Centro-Oeste, região produtora de grãos e
fornecedora de grandes incentivos fiscais.
II – A Evolução da Avicultura de Corte no Brasil
O complexo avícola brasileiro começou com a introdução de raças híbridas no país, na
década de 1940, mas que se intensificou somente no início da década de 1960, com o programa dos
galpões de mil frangos3 e a vinda de filiais de empresas norte-americanas e canadenses, entre
outras. Para a produção local de matrizes, essas empresas trouxeram suas linhagens de avós,
intensificando sua distribuição no país, que estava restrita a poucas regiões e atendia à demanda de
criação de “fundo de quintal” (ORTEGA, 1988). Interessante observar que estas empresas
ofereciam também todo um pacote tecnológico para viabilização da avicultura.
A partir dos anos 60, a avicultura de corte brasileira surge de maneira tímida4, entendida
como uma fonte de renda alternativa e subsistência familiar. No início de 70 se verifica a
consolidação da nova técnica, iniciando um processo contínuo e gradativo de transformações que
mudariam totalmente a concepção inicial da avicultura. A década de setenta, portanto, entrou para a
história como sendo a época da consolidação da avicultura industrial no Brasil5, inclusive é a partir
desta data que passamos a ter dados de performance do setor.
Apesar das crises que freqüentemente assolam a economia brasileira, a avicultura de corte,
no que se refere à produção de carne de frango, vem evoluindo de maneira contínua, com taxas de
3 Resultado de convênio entre os Estados Unidos e o Ministério da Agricultura (SORJ et alii, 1982).
4 Na década de 1960 a avicultura de corte ganhou dinamismo, também entre outros fatores, graças a vinda para o Brasil
de um grupo de técnicos norte-americanos, e a criação de uma equipe brasileira para o desenvolvimento do projeto do
Escritório Técnico de Agricultura (ETA). É desta época a criação dos clubes 4 S que, trabalhando em nível de extensão
rural, estimularam em jovens o interesse pela avicultura. O impulso definitivo foi a visita de avicultores e técnicos
brasileiros às granjas e indústrias avícolas dos Estados Unidos (GIANNONI & GIANNONI, 1983). 5 Segundo MORENG & AVENS (1990), a base da indústria avícola começou a tomar forma em meados de 1930, com a
agregação de pequenos produtores, nos EUA, para constituir grandes unidades comerciais integradas de galinhas e
perus. Estas unidades integradas (O sentido com que o autor emprega a palavra integração não tem relação direta com o
sistema de produção de frango atual chamado sistema integração) produziam uma disponibilidade significante de
alimentos e consumiam produtos industrializados e ingredientes de rações, gerando empresas fornecedoras e
vendedoras que propiciaram o surgimento de novas fontes de renda para um segmento significante da população.
Cita ainda que durante os anos de 1929 a 1936, quando os EUA passaram por uma crise econômica, com secas severas
e tempestades de areia, muitas famílias da zona rural sobreviveram à custa da criação doméstica de galinhas,
consumindo ou vendendo-as. Mesmo após 1936, os aviários domésticos davam uma renda para a família do sitiante,
que oferecia uma estabilidade econômica principalmente durante os períodos de tensão financeira. A capacidade das
galinhas produzirem produtos alimentares de grande valor nutritivo, com um mínimo de investimento, seja em termos
de tempo e capital investido, colocou na época a produção de aves entre uma das atividades mais importantes de todas
as famílias rurais americanas. Estas vantagens de produção deram às aves o papel de fontes de alimentos nutritivos para
famílias com recursos limitados, principalmente nos países em desenvolvimento. É importante observar que a avicultura
nasce como atividade doméstica familiar, é incorporada pela indústria, mas conserva a criação na origem onde iniciou
(quem cria tem o mesmo perfil daqueles da sua instituição). O que mudou foi a forma verticalizada por força da
industrialização, já que neste nicho (criação) a indústria capitalista não teve interesse em assumir, sinalizado,
provavelmente, pelo excesso de não trabalho e grande risco já que trabalha com vida.
5
11,39% ao ano. Isso resultou num crescimento acumulado de 2.446% de 1970 até 1999, onde a
produção passou de 217.000 para 5.526.000 toneladas anuais, conforme apresentado no Gráfico 1.
GRÁFICO 1 - Evolução da Produção Brasileira de Carne de Frango, 1000t, 1970/1999.
Fonte: Dados obtidos in APA (2000). Elaboração dos Autores.
No que se refere à produção mundial, o Brasil é um dos grandes produtores de frangos de
corte, ocupando a terceira posição a nível mundial, sendo superado apenas pela China que é o
segundo e os EUA, o líder do setor (ANUALPEC, 2000). Em uma análise desses dados, GODOY
(1999) argumenta que a produção de frangos dos chineses continua irrisória frente à sua população
(consumo de 5,1 Kg per capita/ano de carne de frango em 1998, praticamente 1/5 do consumo
brasileiro). Na verdade esta constatação sinaliza para um grande potencial de crescimento baseado
na ampliação do mercado interno. Cita ainda que o desempenho expressivo do México, ocupando a
quarta posição, pode ser justificado graças à indústria americana que passou a se servir das
condições e da mão-de-obra mexicana (mais barata) para aumentar sua produção e ampliar sua
participação no mercado externo.
Fazendo uma análise dos dados de produção de carne de frango, de 1994 a 1999, a China foi
o país campeão de crescimento com taxas anuais de 5,62%, contra 5,58% do Brasil. Sendo que o
crescimento acumulado do período foi de 46,66% para a China, e 46,29% para o Brasil. Para se ter
uma idéia do crescimento da produção brasileira, os EUA no mesmo período cresceu com taxas
anuais de 3,18% e acumulou um crescimento de 24,5%. (Dados obtidos in APA, 2000. Elaboração
dos Autores).
A participação do frango de corte na mesa do consumidor cresce a taxas de 8,08% ao ano a
partir da década de 70, acumulando um crescimento no consumo per capita, no período de 1970 a
1999, em 930,4%. Para se ter uma noção da dimensão desse crescimento, o consumo acumulado per
capita de ovos, de carne de bovino e de suíno para o mesmo período foi de 45,9%, 52,2% e 11,1%,
respectivamente. (Aves & Ovos, 1999:4. Modificado pelos Autores)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
Produção (1000t)
6
O maior consumo per capita de carne de frango no Brasil deverá ser atingido em 2000,
quando se espera que cada brasileiro consuma aproximadamente 25,7 quilos de carne de frango por
ano. Essa quantidade poderia ser entendida como o limite máximo de consumo do nosso mercado
interno, entretanto, quando comparado com dados de outros países, como Hong Kong, é possível
perceber grandes possibilidades de crescimento. O Brasil atualmente ocupa a 10a posição em termos
de consumo per capita a nível mundial com 25,7 Kg /ano, isso representa 49,7% do consumo do lo
colocado que é Hong Kong com 51,7 Kg/ano. Entretanto percebemos uma certa estabilidade no
consumo de 1998 a 2000. (Dados obtidos in APA, 2000. Elaboração dos Autores).
O consumo de carne de frango no Brasil cresceu a uma razão de 5% ao ano, de 1994 a 1999,
acumulando neste mesmo período um crescimento 34%. Essa performance coloca o Brasil que é o
terceiro maior consumidor mundial em segundo lugar em nível de crescimento, sendo superado
apenas pela China que cresceu a taxas de 9,2% ao ano e acumulando um consumo no mesmo
período de 70%. Para se ter noção desse crescimento, os EUA maior consumidor do mundo, têm
para o mesmo período taxas anuais de crescimento e total acumulado de 2,7% e 17,8%,
respectivamente, manifestando característica de mercado maduro próximo ao seu limite máximo de
consumo. (Dados obtidos in APA, 2000. Elaboração dos Autores).
As primeiras exportações de carcaças de frangos foram realizadas em meados da década de
setenta, o que contribuiu para uma maior expansão desta atividade. Observa-se um rápido
crescimento da quantidade exportada a taxas de 74,75% ao ano entre 75 e 82. Ficam estagnados
com tendência de queda até 87, quando então passam a apresentar um crescimento significativo à
taxas anuais de 10,33% até 99, contra taxa de 37,33% de 75 a 87. Fazendo uma avaliação total de
75 a 99, observa-se um crescimento das exportações de 22.113,34% na quantidade (t) e 26.427,27%
no valor FOB (US$ MILHÃO), com taxas anuais de crescimento de 24,12% e 25,01%,
respectivamente. Atualmente o Brasil é o segundo maior exportador6 de carne de frango do mundo,
sendo os EUA o líder em exportações. (Dados obtidos in APA, 2000. Elaboração dos Autores).
TABELA 1 - Comparação de Índices Zootécnicos de Custos dos Principais Países Produtores de
Frango de Corte.
Brasil Holanda China EUA Tailândia França
Índices
zootécnicos
Conversão 2,0 1,9 2,3 2,0 2,0 2,0
Idade (dias) 41,9 42,0 56,0 42,0 45,0 43,0
Eficiência 227 232 201 230 211 225
Peso limpo (Kg) 1,4 1,4 2,0 1,5 1,4 1,4
Custo
Ração 100 153,9 119,5 102,5 143,5 159,1
Pintinho 100 170,4 106,5 98,8 104,3 152,3
Abatedouro 100 188,7 118,3 112,8 136,8 179,4
Total 100 191,2 109,9 109,0 124,7 185,7
Fonte: GOMES & ROSADO (1998). Adaptado pelos Autores.
Onde:
(peso médio X viabilidade) X 100
Eficiência= conversão alimentar X Idade de abate Conversão= Consumo de ração (kg)
Peso vivo da ave (Kg)
6 Em 1985 a exportação de frango em partes representava 14% do total da carne de frango exportada, enquanto em 1999
já alcançava 54,8%. Atualmente são exportados mais de 60 tipos de cortes (ORTEGA, 2000).
7
Comparativamente aos principais países produtores de frango, o Brasil tem se destacado
tanto pelos índices zootécnicos quanto pelos índices de custos, conforme apresentado na Tabela 1.
Verifica-se por meio dos índices zootécnicos que o Brasil. EUA, Holanda e França, sob o ponto de
vista de eficiência técnica, apresentaram os melhores resultados, bem acima daqueles obtidos pela
China e Tailândia.
No tocante aos custos totais é visível a diferença existente entre o Brasil e demais países. A
Tailândia mesmo apresentando custos superiores ao brasileiro (24,7%), tem ampliado a sua
participação no mercado internacional. Segundo GOMES & ROSADO (1998), isso ocorre em razão
de sua proximidade com os mercados consumidores. Citam ainda que, a França e a Holanda
produzem a um custo quase que o dobro do brasileiro, só se mantendo no mercado externo, devido
aos subsídios dados aos produtores, que chegam, às vezes, em 85% em função das barreiras
alfandegárias no mercado internacional. Os subsídios americanos às exportações, por outro lado,
chegam a US$ 360 por tonelada.
O consumo do frango industrial produziu modificações nos hábitos de consumo popular.
Anteriormente, o frango caipira7 era o preferido pelo consumidor, que considerava o frango
industrial com sua pele muito branca, sem gorduras, um frango inferior. SORJ et alii (1982)
sublinha que o frango industrial impõe-se primeiro nos supermercados, e com um público
fundamentalmente de classe média. Com o tempo, seja por oferta sistemática na maioria dos centros
de vendas de carnes, seja pelo preço relativamente inferior à carne de boi, terminou por ingressar
inclusive no consumo popular.
Os resultados da última Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), feita pelo IBGE, concluiu
que, a carne de frango está igualmente presente, com variações mínimas no tocante à quantidade,
tanto na mesa de pobres como na de ricos. Conforme pode ser observado na Tabela 2, em 1998, a
classe de renda de até 2 SM (salários mínimos) consomem 18% da carne bovina e 75% da carne de
frango consumida pela renda acima de 20 SM (IBGE, 1999.)
TABELA 2 – POF - Consumo das Carnes Bovina (de 1a) e de Frango 1989/1998, Kg Per Capita
Classe de renda Carne bovina Carne de frango
1989 1998 1989 1998
Até 2 SM 2,3 3,4 10,9 14,4
15 a 20 SM 14,1 14,3 14,1 16,8
+ de 20 SM 21,2 18,8 16,3 19,2
Fonte: IBGE (1999). Onde: SM= salário mínimo.
A avicultura tem oferecido a sua contribuição em outras áreas, por exemplo o baixo valor do
frango de corte, apresenta reflexos positivos sobre o aumento de seu consumo e tem efeitos
positivos sobre o custo do valor da força de trabalho dos trabalhadores. Se considerarmos, conforme
comenta GRAZIANO DA SILVA (1988), que o valor da força de trabalho eqüivale ao valor dos
meios de subsistência que são necessários, inclusive do ponto de vista moral e histórico, para
manter o nível de vida normal dos trabalhadores e garantir a sua procriação, a avicultura contribui
para elevar a taxa geral de mais-valia e, assim, a acumulação de capital.
7 Devido aos elevados índices de produtividade que consegue a avicultura intensiva, a avicultura tradicional fica
marginalizada, sem condições de atender às necessidades de qualidade, controle sanitário e quantidade regular, impostas
pelos segmentos de processamento e comercialização do complexo agroindustrial (CAI) avícola (SORJ et alii, 1982).
8
Para GODOY (1999:3) a atual indústria avícola brasileira é resultado direto do processo de
urbanização ocorrido no país nestes últimos 50 anos, onde essa urbanização atuou de duas maneiras
distintas na criação de um novo e amplo mercado consumidor:
1. Ao transferir, do campo para as cidades, maciças levas da população, aqui inclusos os que
produziam frangos e poedeiras para a própria subsistência e/ou para o atendimento, eventual ou
contínuo, de terceiros;
2. Ao valorizar os espaços urbanos, eliminando não só os “cinturões verdes” que cercavam os
grandes centros urbanos mas, sobretudo, as criações domésticas (são poucos os que, nascidos
antes dos anos 50, não conviveram com o galinheiro no fundo do quintal, de onde saíam os ovos
para consumo diário e o “franguinho” do fim de semana).
Essa evolução pode ser constatada, também, pela enorme rede de atividades correlatas
ligadas à avicultura e suas inovações tecnológicas8, incluindo atividades de intermediação na
comercialização, beneficiamento e prestação de serviços de seus produtos. Neste escopo geral,
devem ser incluídos: as indústrias de rações; de equipamentos para granjas, incubatórios,
matadouros e frigoríficos; de equipamentos de classificação, beneficiamento e transformação dos
produtos avícolas; de laboratórios na produção de vacinas, drogas, antibióticos e desinfetantes; a
produção de matérias primas para rações como vitaminas, elementos minerais e subprodutos
industriais; a rede de intermediários entre o produtor e o consumidor responsáveis pela
comercialização, beneficiamento, prestação de serviços e industrialização de produtos avícolas; os
agrônomos, veterinários e zootecnistas; universidades e centros de pesquisas; e muitas outras
atividades aqui não relacionadas. Para COTTA (1997) este setor agro-industrial gerou mais de 2
milhões de empregos diretos e indiretos em 1997 e dinamiza outros setores produtivos do país,
especialmente a produção de soja e de milho.
Para se ter uma noção da dimensão do setor avícola, o agronegócio representa US$ 300
bilhões dos US$ 850 bilhões do PIB brasileiro (35% do total), o setor agropecuário responde por
cerca de US$ 60 bilhões (7% do PIB) e desse montante a avicultura de corte participa com US$ 6
bilhões. As exportações do setor agropecuário somam US$ 16 bilhões enquanto as da avicultura de
corte chegam US$ 0,9 bilhões (SCHORR, 2000).
Caracterizando a avicultura em relação a outras culturas agropecuárias, SORJ et alii
(1982:10) sublinham que:
1 - Apresenta um altíssimo grau de subordinação da produção rural à moderna tecnologia
produzida pelo complexo agroindustrial, fazendo com que o complexo avícola seja um campo
privilegiado para análise das transformações das relações sociais no campo sob a liderança do
capital industrial;
2 – Passa por um crescimento vertiginoso, no bojo da expansão do conjunto do setor
agroindustrial, baseado, em boa parte, em tecnologia estrangeira, possibilitando, desse modo,
esclarecer certos problemas de caráter do setor agroindustrial, suas perspectivas, e a inserção do
Brasil no mercado mundial de produtos alimentícios; e
3 – Permite análise dos problemas da representação política das novas camadas sociais de
produtores rurais ligados ao complexo agroindustrial e que se distinguem claramente dos antigos
produtores agrícolas.
No contexto da produção animal, a avicultura no Brasil tem se caracterizado como o setor
que mais se organizou em termos empresariais, pela formação de grandes empresas verticalizadas e
em termos associativos pela representação de interesses através de varias associações9. Para
8 SCHUMPETER (1943) cita que a inovação de um setor potencializa e dinamiza o aparecimento ou o crescimento de
outros setores com novas inovações. 9 Como por exemplo: UBA – União Brasileira de Avicultura, APA - Associação Paulista de Avicultura, AGA –
Associação Goiana de Avicultura, ABEF- Associação Brasileira de Exportadores de Frangos, APINCO – Associação
dos Produtores de Pintos de Corte, FACTA - Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas, e outros.
9
ORTEGA (2000:7) a especialização da avicultura nacional resultou na emergência de formas de
representação de interesses mais especializadas. A UBA por exemplo é uma interprofissão, que
mais do que ser uma dentre muitas entidades representativas congrega uma espécie de federações
estaduais, essa representação tem como característica uma dupla função: de um lado, encaminha
politicamente as reivindicações do coletivo que representa, e, de outro, acaba desempenhando
importante papel de difusor de tecnologias.
Portanto, o nascimento do associativismo na avicultura, levantando a bandeira pelo setor,
permitiu ganhos consideráveis nos últimos anos, tanto no que se refere à produtividade como no que
tange a parte comercial. Atualmente o complexo avícola é um dos complexos agroindustriais
brasileiros de maior dinamismo, com atividade primária extremamente intensiva e integrada entre
os elos da cadeia produtiva. Em virtude das fortes relações a montante e a jusante da produção
agropecuária é considerado um complexo agroindustrial completo (KAGEYAMA & GRAZIANO
DA SILVA, 1987).
II. 1 – Sistemas de Produção na Avicultura de Corte Brasileira
A produção de frangos de corte ocorre na forma de três sistema de produção: o sistema de
produção independente, o sistema de produção cooperativo e através do sistema de produção por
integração.
II . 1. 1 – Sistema de “Produção Independente”
O sistema de produção independente é aquele onde o produtor é responsável por todo o
processo de produção do frango, toda e qualquer decisão tendo caráter pessoal. Os riscos envolvidos
na produção e comercialização são de inteira responsabilidade de tal produtor. Devido às
características próprias de tal sistema, ele é mais encontrado nas proximidades de cidades pequenas
e médias. Os criadores independentes produtores de frango de corte nem sempre possuem
abatedouros e frigoríficos, já que essa atividade significa um grande investimento, impondo
dificuldades aos pecuaristas em integrar toda a sua produção. Raros são os casos em que criadores
independentes conseguem esse grau de verticalização, desde a produção da ração até o abate
(ORTEGA, 1988).
São os criadores independentes produtores de ovos que mais comumente conseguem
integrar sua produção, mesmo porque os investimentos com separação e embalagem dos ovos são
bem menores que com instalação de abatedores. Para os criadores que vendem sua produção, seja
para abate, seja para selecionadores, embaladores e distribuidores de ovos, sua independência está
restrita ao não-controle de sua produção por uma integração e estão menos subordinados à indústria
a montante da agricultura caso produzam sua própria ração. Entretanto, sua subordinação se faz
junto às indústrias à jusante, no caso os abatedouros ou comercializadores de ovos. Portanto estão
apenas parcialmente verticalizados.
Para GODOY (2000) este sistema de produção, apesar de ter diminuído bastante, não
desaparecerá. Para ele existe muito espaço disponível, principalmente em áreas não exploradas pela
grande indústria, sem mencionar outras potencialidades como a crescente busca por alimentos
naturalmente produzidos, atendendo demanda específica, que poderiam ser direcionados a pequenos
e médios produtores, sem o compromisso de manter seu mercado mediante volume produzido.
10
II. 1. 2 – Sistema de Produção “Cooperativo”
O sistema cooperativo é aquele onde o criador participa da organização e das decisões,
correndo os riscos de um eventual fracasso comercial das operações. A cooperativa muitas vezes
produz os seus insumos, como pintinhos e rações, consumidos dentro do próprio sistema, estes são
repassados aos cooperados pelo custo de produção. No final do ciclo do lote, os frangos têm,
agregado aos insumos, as demais despesas do lote (aquecimento, cama, mão-de-obra do cooperado,
etc.). As despesas administrativas, técnicas e operacionais também são agregadas ao custo e
rateadas entre o total de frangos produzidos. Os lucros obtidos podem ser destinados a novos
investimentos pela cooperativa, com distribuição de quotas entre os cooperados; ou mantidos em
reserva, para aplicação no mercado financeiro; ou finalmente, distribuídos entre os cooperados, com
dividendos proporcionais às quotas de participação (COTTA, 1997).
A produção por parte das cooperativas, em função da necessidade de centralizar a produção
e competir com grupos privados, de possibilitar a garantia de escoamento da produção, de
sobreviver com atuação característica de grande empresa capitalista, de atuar distanciada do
conjunto dos associados encastelando de um grupo dirigente no poder e agindo de formas a garantir
interesses próprios, para ORTEGA (1988), acaba justificando sua inclusão no mesmo item da
produção integrada. De maneira que apresentando um comportamento semelhante ao de uma
empresa privada, as vantagens apresentadas pelas cooperativas são também semelhantes às
apresentadas pela integração privada
A diferença básica entre o sistema cooperativo e o sistema privado de integração, está na
participação do produtor na construção do capital social da empresa e no processo de decisão dos
destinos da cooperativa. Quanto ao futuro deste sistema, COUTINHO (1995) sublinha que haverá
necessidade de uma grande transformação no cooperativismo de produção, dessa forma o aumento
da competitividade num ambiente econômico cada vez mais liberal vai direcionar as cooperativas a
reverem diversos pontos de sua doutrina. Neste aspecto ORTEGA (2000) cita que essa forma de
produção vem sendo muito desacreditada nos últimos anos e sugere que devem ser procuradas
novas formas de associação10
para os pequenos e médios produtores ganharem competitividade.
II. 1. 3 – Sistema de Produção por “Integração”
O sistema integração na avicultura, consiste em incorporar à atividade principal de uma
empresa, todas aquelas outras que a ela se ligam no ciclo de produção do frango abatido. O contrato
de integração é feito principalmente entre empresas que se complementam no processo produtivo.
De um modo geral, a empresa maior (integradora) fornece o material de base, ou seja os pintinhos
de um dia, a ração, os medicamentos, as vacinas e desinfetantes, a assistência técnica, além de se
encarregar do transporte, do abate e da comercialização. Enquanto o criador11
(integrado) aporta as
10
Uma alternativa sugerida por ORTEGA (2000) é a utilização, via associação em condomínios, de um selo de garantia
e marca, com o marketing destacando as qualidades do frango, por exemplo: frango sem antibióticos, hormônios e
alimentado com ração que não utiliza produtos transgênicos como matéria prima. 11
As integrações no Sul têm incentivado os seus integrados a cultivarem algum produto que seja matéria-prima na
composição da ração utilizada na criação. O milho é o produto preferencial, caso o integrado tenha um misturador a
integração lhe fornece o concentrado ao qual se adiciona o milho. Não possuindo o equipamento, a firma integradora
pode comprar sua produção de milho, resolvendo parte do seu problema na aquisição de matéria-prima, fundamental na
produção de rações balanceadas e que tem apresentado problemas de oferta, mesmo porque sua produção não tem
acompanhado o aumento da demanda. Essa condição é imposta pela firma integradora, para que o produtor tenha uma
renda adicional além da criação, o que lhe permite pagar menos pela sua matéria-prima, sem com isso “não matar sua
galinha dos de ovos de ouro”. No Centro-Oeste as integrações pesquisadas oferecem a ração entregue pronta para o
11
suas instalações, equipamentos, aquecimento, forração do galpão (cama) e o seu trabalho. No final
do ciclo, o lote é retirado pelo abatedouro (faz parte da integradora), o qual se encarrega da
comercialização do frango e o integrado recebe uma remuneração12
pela criação das aves (COTTA,
1997).
Este sistema é regido por um contrato de integração feito entre as partes interessadas,
contendo os direitos e deveres recíprocos. Ele apresenta cláusulas gerais e muitas vezes mal
definidas, não se confundindo, entretanto com um simples contrato de fornecimento, tendo por
única cláusula um preço combinado
COTTA sublinha ainda que o criador de frangos encontra neste tipo de contrato com a
indústria, vantagens importantes. Entre elas se tem a garantia do escoamento da produção,
facilidades de crédito no sistema bancário, uma indispensável assistência técnica, além da certeza
de uma renda no final da criação. Entretanto, ele apresenta o inconveniente de tornar o produtor
dependente da indústria integradora, economicamente mais forte.
Para GRAZIANO DA SILVA citado por SHIKI (1996), o contrato de integração na
avicultura surge como modelo de relacionamento entre a indústria e os pequenos agricultores
familiares, e teoricamente critica a idéia de subordinação13
do agricultor à agroindústria que o
transforma em um verdadeiro trabalhador a domicílio. O argumento para essa crítica está na
autonomia do agricultor familiar em organizar o processo de trabalho, diferentemente dos
assalariados, pois o ritmo do trabalho seria determinado não pelo patrão ou pela máquina
programada, mas pelas necessidades biológicas do próprio processo produtivo. Neste sentido
BERNSTEIN também citado por SHIKI (1996), sublinha que não são uma classe de explorados
desde que suas condições gerais de reprodução são as mesmas que regulam as empresas capitalistas.
Mesmo assim, em virtude de suas debilidades, são sujeitos a todas as formas de extorsões e pressões
por capitais diversos e pelo Estado.
O contrato de integração é normalmente individual, podendo, ser celebrado coletivamente,
entre vários produtores interessados. Ele é um ato jurídico misto, ou seja civil e comercial, devendo
conter certas cláusulas que ofereçam maiores garantias ao produtor, que deve ter pelo menos a
certeza de uma renda mínima. A renovação do contrato pode ser feita tacitamente, o rompimento,
mediante aviso prévio, não dá lugar a nenhuma indenização.
A empresa integradora deve se responsabilizar pela boa qualidade dos serviços prestados e
dos insumos fornecidos, assim como pela retirada dos lotes combinados. O integrado tem o dever
integrado não existindo nenhuma relação entre ser integrado e produção de grãos, isso foi constatado na frango Gale em
Jataí e na Perdigão em Rio Verde.. 12
A remuneração é definida através do uso de um indicador de eficiência da produção, o Fator Europeu de Produção,
que assim se expressa:
(peso médio x viabilidade) x 100
FEEP= conversão alimentar x idade de abate
Existem outras formas de parceria em que o fornecimento dos insumos é computado como venda vinculada cuja fatura
é debitada numa conta sujeita a correção monetária e saldada no momento da venda ou entrega do frango gordo ao
abatedouro, ou da liquidação do lote (SHIKI, 1999). 13
As formas para se definir o pecuarista variam conforme o autor considerado, entretanto todos concordam que ele
invariavelmente é um pequeno criador. Para MULLER é um trabalhador em domicílio; para WANDERLEY é um
trabalhador para o capital; para GRAZIANO DA SILVA é um produtor tecnificado (autores citados por ORTEGA,
1988:111) e na linguagem popular da avicultura, nas grandes empresas desse setor, assim como em Rio Verde Goiás
onde a Perdigão esta se instalando utiliza-se a expressão “integrado”. Para PAULILO (1990), do produtor integrado
fala-se apenas como “o explorado”, “o subordinado”, enfim como o lado passivo, sem que haja uma preocupação maior
com o que esses agricultores pensam de si mesmos e das empresas, com opções que eles possam ter, mesmo que
reduzidas, a noção do lugar que a relação de integração ocupa em seu mundo.
12
de executar os trabalhos segundo as condições previstas, de se abastecer de insumos junto à
integradora, de aceitar a assistência técnica, etc.
Para SORJ citado por SHIKI (1996), o início do processo de produção de frangos de corte
consistia numa estrutura composta pela indústria de rações e uma constelação de produtores
“independentes”. A partir de 1961 surge o sistema integração importado do Estados Unidos, este
sistema cresce bastante a ponto de, em 1980 representar 35% da produção nacional e desta data até
2000 dobra a participação, sendo atualmente responsável por 70% do frango produzido no Brasil14
.
Dessa forma, comparando-se os três sistemas de produção, a participação da produção
independente deverá ser menor e restrita a áreas não exploradas pela grande indústria, o sistema
cooperativo bastante desacreditado atualmente também deverá diminuir a sua participação em
função de não suportar a concorrência do sistema integração. Para GODOY (2000) a produção na
forma de integração deverá ser ainda maior por apresentar a competitividade necessária pela
avicultura em ambiente globalizado.
II. 2 – A Questão Locacional na Década de 70
Na década 70 era recomendado que a instalação da granja deveria, na medida do possível,
estar próxima de abatedouros, sendo desejável que o abatedouro estivesse o mais próximo possível
da granja, mas distante pelo menos uns 5 Km, para evitar a contaminação por aves doentes que
chegassem ao abate, e num raio máximo de 60 Km, tendo em vista que a maior distância aumenta a
perda de peso e mortalidade das aves no transporte (ENGLERT, 1978). Fica claro pela proposta que
esse granjeiro deveria ser um produtor independente, pois não tinha abatedouro e comercializava as
aves vivas, na época era sugerido também que procurasse o setor de compras do abatedouro sobre a
possibilidade de efetuar um contrato de compra total ou parcial da produção da granja, para assim
ter a garantia de colocação do produto no mercado mesmo em época de crise (sendo este um dos
maiores estímulos atualmente a participação da integração).
A proximidade de incubatório15
idôneo era sugerida em função da qualidade dos pintinhos e
da idoneidade reconhecida do incubatório, com práticas de manejo, higiene e desinfecção rigorosas
e que executasse uma boa seleção nos pintinhos ao nascer. Quanto menos viajassem os pintinhos,
em melhores condições chegariam à granja, considerando um tempo ideal de 24 horas e até no
máximo de 48 horas após a eclosão, usando os mais variados meios de transporte, tais como avião
ou trem.
A proximidade de fábrica de ração ou distribuidor de rações e concentrados, era sugerida
tendo em vista a diminuição dos custos de frete, facilidade de aquisição, adquirindo produtos de
maneira mais freqüente e portanto mais frescos, já que não seria necessário armazenamento,
predispondo o produto a deterioração e intoxicação das aves. A proximidade dos integrados das
unidades de produção de ração significava, também, uma assistência técnica mais eficiente, pois
qualquer necessidade de modificação na formulação da ração, após constatação da equipe de
assistência técnica da necessidade da inclusão de um outro componente, por exemplo, um
medicamento poderia ser rapidamente elaborado e distribuído. Em outras palavras, por conhecer
perfeitamente seus consumidores e por estar localizada próxima, a firma integradora poderia
atender prontamente a requerimentos nutricionais da criação, com maior eficiência.
14
Na região Sul, mais de 80% da produção de frango é feita pelo sistema integração. 15
A produção pintinhos de um dia que era considerada a atividade avícola mais lucrativa da época e o setor de maior
concorrência o de produção de frango e ovos (produtos de consumo popular).
13
A proximidade da zona produtora de milho ou sorgo (matérias-primas), era justificada pelo
fato de que o milho representa 60 a 70% do volume das rações e, por isso, é um forte componente
do custo das rações, principalmente se considerado o efeito do frete sobre o custo do quilo de carne
de frango. Considerando a variação do preço desses grãos, era sugerido a aquisição na safra de tudo
aquilo que seria utilizado na entressafra e armazenados em silos ou depósitos na própria granja ou
arredores.
Dos motivos elencados os grãos tem grande peso na localização das granjas, mas nas
décadas de 60 e 70 não encontrávamos com a proximidade e freqüência de hoje as empresas que
produzissem farelo de soja, farinha de carne e ossos e outras matérias-primas limitando o espectro
de ingredientes para fabricação de rações, e por conseqüência a instalação de fabricas de rações e
granjas de frangos de corte em determinadas regiões.
Portanto, nesse padrão de produção existe uma grande quantidade de produtores
independentes e empresas especializadas para incubação, fabricação de rações, abate e outras
atividades necessárias para viabilizar o processo de produção. Observa-se que os motivos
locacionais estão ligados as relações que se estabelecem entre essas empresas e os produtores cuja
meta era o atendimento do mercado regional.
II. 3 – A Questão Locacional Atual
A partir de 1975, e até 1985, é percebido um processo de desconcentração espacial da
atividade econômica no país. Em princípio, esse processo de desconcentração foi interpretado como
parte integrante de uma reconcentração em uma área industrial maior, ou seja, um polígono que vai
do Sul de Minas passando pelo interior de São Paulo, abrangendo áreas industriais do Paraná e de
Santa Catarina até atingir a área metropolitana de Porto Alegre. A expansão agrícola do Centro-
Oeste foi um dos fatores apontados, como responsáveis por essa expansão. Neste aspecto, atrativos
como o preço da terra, a solução tecnológica desenvolvida para expansão agrícola dos cerrados, a
presença do Distrito Federal e os efeitos de encadeamento para a frente e para trás desse
desenvolvimento agrícola foram apontados como responsáveis pela intensificação dos
investimentos (HELFAND & REZENDE,1998).
Para MATOS (1996), a necessidade de contar com fornecimento constante e contínuo da
matéria prima para o abate impõe, às empresas produtoras, estratégias de ocupação espacial,
voltadas para as regiões onde são mais fáceis e abundantes os insumos agrícolas e pecuários. Nessas
áreas elas instalam suas unidades de primeiro processamento. De outro lado, instalações de segundo
processamento, logicamente aquelas que geram produtos finais mais sofisticados e de maior
agregação de valor, são colocadas junto aos grandes centros consumidores. Outros fatores, como as
expectativas futuras sobre a diminuição dos preços dos grãos no Centro-Oeste em função do maior
potencial de produção, e a diminuição dos preços dos transportes através de caminhões mais
eficientes, melhor infra-estrutura, melhor desregulamentação das ferrovias e melhor utilização dos
contêiners, a médio e longo prazo, poderiam estar contribuindo para esta mudança locacional. Na
verdade, ainda não se consegue estabelecer um modelo de integração da agroindústria com o setor
agrícola nos Cerrados, o que é mais um aspecto relevante para a análise da questão locacional.
Neste aspecto, segundo HELFAND & RESENDE (1998), existe uma opinião
generalizada de que a região Centro-Oeste, por produzir grãos mais baratos que os estados onde
hoje se concentram as atividades de aves e suínos (especialmente Rio Grande do Sul e Santa
Catarina), poderia ter vantagem comparativa nessas atividades da agroindústria. Assim, por
exemplo, o projeto Buriti da Perdigão estaria acompanhando a marcha das empresas avícolas e
suinícolas para o cerrado, criando uma nova geografia para o setor, baseada na proximidade com as
14
áreas fornecedoras de matérias-primas a baixo custo, principalmente do milho para ração. A
localização geográfica do Estado de Goiás e sua proximidade a grandes centros consumidores,
também, conferem grande vantagem no processamento e na produção de alimentos, aproveitando a
produção de matéria-prima da região.
A preocupação com o custo do grão está relacionada aos dois mais importantes ingredientes
da ração, o milho (aproximadamente 67%) e a soja (aproximadamente 33%), representando
portanto a quase totalidade do conteúdo das rações16
. A redução do custo de produção do frango em
Goiás em comparação com outros estados é mostrada na Tabela 3. Observa-se, por exemplo que no
Paraná o preço do milho era 3,7% menor do que em Goiás no período 1990 a 1995, enquanto que o
preço da soja era 10,5% maior. HELFAND & RESENDE (1998:30) combinaram estes dados sobre
participação do milho, farelo de soja e ração no custo do frango abatido e chegaram à conclusão de
que “uma empresa poderia economizar menos de 1% do custo do frango abatido deslocando-se do
Paraná para Goiás. Como a distância dos mercados consumidores de São Paulo ou do Rio de
Janeiro é maior em Goiás do que no Paraná, diferença no custo do transporte mais do que
contrabalançaria a redução de custo devido à ração mais barata”. Os mesmos cálculos revelam uma
redução de custo de 2,4% para o Rio Grande do Sul, com relação a Santa Catarina a redução do
custo foi calculada em 4,5% no frango abatido, entretanto uma parte dessa vantagem seria perdida
devido aos maiores custos de transporte. Dessa forma os autores concluem que “os ganhos devido a
custos menores de ração no Centro-Oeste em comparação com o Sul representam, quase sempre,
uma pequena percentagem no custo de um animal abatido”. A economia do custo da ração seria
maior, mas aumentaria o custo do transporte do produto final.
TABELA 3 - Diferenciais de Preços do Milho e da Soja e Redução do Custo de Produção do
Frango em Comparação com Goiás – 1990/95.
Estados Diferenciais de preços
do milho
Diferenciais de preços da
soja
Redução do custo de
produção do frango
abatido
Minas Gerais 28,0 10,8 12,3
São Paulo 19,8 8,7 8,9
Paraná -3,7 10,5 0,5
Santa Catarina 6,8 11,2 4,5
Rio Grande do
Sul
5,0 3,3 2,4
Fonte: HELFAND & RESENDE (1998)
Analisando os custos de produção do suíno e do frango nos estados, TALAMINI et alii
(1998) verificaram que as vantagens de uma região sobre outra não são muito evidentes, em razão
das diferenças dos preços dos fatores de produção. Dessa forma também concordam que as
constantes especulações sobre as vantagens regionais na produção de suínos e aves devem ser
atribuídas a outros fatores.
Conforme apresentado na Tabela 4, a maior variabilidade de rendimentos físicos na região
Sul, com destaque para o Rio Grande do Sul, cria, evidentemente, um problema de competitividade
para a produção animal localizada nessa região, vis-à-vis as demais regiões. A produção de grãos no
Centro-Oeste se diferencia fortemente da região Sul, já que naquela região o milho parece ser uma
lavoura consolidada, enquanto no Centro-Oeste é uma lavoura que tem crescido rapidamente, mas
de forma totalmente dependente da soja. Segundo HELFAND & RESENDE (1998), esta 16
Representa cerca de 67% do custo da produção do frango vivo e 55% do custo do frango abatido.
15
constatação explica por que o milho continua sendo produzido mesmo com problemas crônicos de
comercialização, refletindo na contínua formação de estoques e redução do preço mínimo pelo
Governo no Centro-Oeste, como no ano agrícola de 1997/98.
TABELA 4 – Variabilidade dos Rendimentos Físicos do Milho e da Soja por Regiões e Estados do
Centro-Sul – 1980/97.
Regiões Milho Soja
Sudeste 0,12 0,08
Centro-Oeste 0,08 0,09
Sul 0,14 0,15
Rio Grande do Sul 0,23 0,21
Santa Catarina 0,16 0,15
Paraná 0,13 0,11
Nota: A variabilidade é medida pelo coeficiente de variação nos resíduos em relação à tendência
exponencial.
Fonte: HELFAND & RESENDE (1998)
Para esses autores, a análise dos diferenciais de preço sugere que pode haver economia
considerável de custos, resultado da transferência da produção de animais do Sudeste para o Centro-
Oeste. Em Goiás, o preço do milho nos anos 90 foi em média 25 a 80 reais mais barato que nos
quatro estados do Sudeste, mas o mesmo não pode ser dito sobre o Sul. No Paraná os preços do
milho tenderam a ser menores que em Goiás nos anos 9017
. Dessa forma, se a produção animal deve
migrar do Sul para o Centro-Oeste, é provável que não seja em função do preço do milho.
Entretanto, outros aspectos não podem ser menosprezados para compreender esse
movimento, como é o caso da perspectiva de redução dos custos de transportes através da melhoria
da malha rodo-hidro-ferroviária, eleita pelo programa Avança Brasil como prioritária para a
redução do chamado “custo Brasil” para a Região. Não menos importantes são os incentivos fiscais
e creditícios concedidos pelos governos estaduais, que têm atraído os maiores abatedouros do País
para o Centro-Oeste. Outros fatores importantes de atração são os recursos do Fundo Constitucional
do Centro-Oeste, que, apesar de conceder crédito a taxas de juros elevadas, se comparadas às de
outras realidades internacionais, ao menos representa uma alternativa, numa conjuntura em que os
produtores rurais não têm mais acesso a grandes volumes de crédito subsidiado, como no passado.
Na verdade a escolha da região Centro Oeste para os novos investimentos em avicultura de
corte estão ligadas ao que foi apresentado aliado a um ambiente transnacional, mostrando a face da
globalização impactando sobre os processos de produção de frango. Portanto os motivos locacionais
estão ligados a produção em grande escala e neste momento Centro-Oeste foi escolhido para
desenvolver esta função.
III – A Evolução da Avicultura de Corte no Centro-Oeste
A introdução da avicultura moderna no Centro-Oeste é resultado do aproveitamento dos
principais insumos de sua produção, a soja (farelo) e o milho. Mas, para isso, foi preciso adequá-la
às condições climáticas da Região, com elevadas temperaturas médias e amplitude térmica.
17
Com exceção de alguns anos, a diferença com Santa Catarina e Rio Grande do Sul não tem sido muito grande, por
exemplo, os diferenciais de preços entre Santa Catarina e Goiás foram só 0, 9, 4, e 3 reais. Com o Rio Grande do Sul, os
diferenciais para o mesmo período foram –6, 2, 9, 7 (HELFAND & RESENDE, 1998),
16
No Centro-Oeste podem ser encontrados todos os tipos característicos de produção, como
integrações, cooperativas e produtores independentes. Entretanto, cada vez mais, vão tomando lugar
os grandes projetos de integração, implementados por grandes empresas do setor frigorífico ou
mesmo pelas cooperativas locais.
A expansão da avicultura moderna é um fenômeno recente, na Região. Em 1990, sua
produção de carne de frango representava apenas 3,7% da produção nacional, e em 1997 essa
participação atingiu 5,3%, como se pode depreender a partir dos dados da Tabela 5. No Estado de
Tocantins o movimento foi o mesmo, e nesse período sua produção de carne de frango dobrou,
passando 10.952 para 20.383 toneladas de carcaças (ANUALPEC, 1998).
Tabela 5 – Produção de Carne de Frango da Região Centro-Oeste e Estado de Tocantins
Em toneladas de carcaças
Região 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
MS 10.648 12.179 19.577 39.617 48.874 51.284 51.389 56.426
MT 17.469 19.751 23.998 44.675 54.655 61.717 61.844 67.906
GO 44.915 52.054 53.389 57.103 65.027 72.135 72.283 79.368
DF 15.903 17.545 14.905 18.647 18.700 28.309 28.367 31.148
C-Oeste 88.935 101.529 111.870 160.042 187.256 213.444 213.882 234.847
TO 10.952 12.251 13.191 14.489 16.380 18.526 18.564 20.383
Brasil 2.356.549 2.627.746 2.926.252 3.143.315 3.411.026 4.050.449 4.058.765 4.456.601
Fonte: Anuário da Agropecuária Brasileira – Anualpec 98, FNP Consultoria e Comércio.
Goiás é o maior produtor regional, seguido por Mato Grosso e por Mato Grosso do Sul. A
partir do ano de 1993 os Estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso transformaram-se em
exportadores de frango, tanto para outras Regiões como para o exterior, ainda que suas vendas
externas representem pequenas participações no total nacional. Em 1999, todas as grandes empresas
localizadas no Centro-Oeste, particularmente nos Estados de Goiás e Mato Grosso do Sul18
,
estavam com projetos de expansão da produção.
Tabela 6. Produção de Carne de Frango. Brasil, Centro-Oeste e Goiás. 1989/2001.
Ano Brasil Centro-Oeste Goiás
Volume (t) Índice Volume (t) Índice Volume (t) Índice
1989 2.083 100 77 100 40 100
1990 2.356 113 89 116 45 113
1991 2.628 112 101 113 52 116
1992 2.926 140 112 145 53 133
1993 3.143 151 160 208 57 143
1994 3.411 164 186 242 65 163
1995 4.050 194 213 277 72 180
1996 4.051 194 231 300 69 173
1997 4.460 214 259 336 67 168
1998 4.498 216 270 351 63 158
Fonte: FNP
18
Essas empresas são: Frangosul, Avipal, Seara (que adquiriu a CEVAL), Perdigão e Sadia.
17
A Tabela 6, apresenta a evolução da produção de carne de frango em Goiás, Centro-Oeste e
Brasil. Podemos observar que esta produção é pouco significativa em termo do Centro-Oeste e do
Brasil. Em 1998, a produção de Goiás eqüivalia a 1,4% da produção brasileira e a 23,3% da
produção do Centro-Oeste. A análise dos índices de crescimento da produção também aponta para
um desempenho pouco satisfatório. Enquanto no período 1989 a 1998 a produção brasileira cresceu
116% e a do Centro-Oeste cresceu 251%, a de Goiás cresceu apenas 58%. Assim, para o período
observado, a produção de carne de frango no Estado de Goiás, comparativamente ao país e à
Centro-Oeste, se apresentava pouco desenvolvida.
Os dados para o ano de 1997, na Tabela 7, já apontavam para essa expansão da avicultura no
Centro-Oeste, mesmo sem ainda registrar alguns grandes projetos de integração, como é o caso do
abatedouro da Perdigão, no município goiano de Rio Verde, nem o da SEARA/CEVAL, em Mato
Grosso do Sul. Assim, pode-se concluir que os quatro maiores abatedouros de aves do País estão
instalados no Centro-Oeste, com destaque para os Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e
Goiás19
.
Belik (1999) identifica esse mesmo fenômeno de crescimento da avicultura do Centro-Oeste
e destaque que:
“...as empresas (líderes do setor) partiram para um amplo programa de investimentos em
abatedouros e fábricas de ração na região Centro-Oeste, próximo às fontes de produção de soja e
milho. Isto pode ser constatado com o esforço da Sadia para se instalar em Goiás, ... .” (Belik,
1999:60)
Como exemplo dessa verdadeira reestruturação produtiva porque passa o setor em termos
locacionais, basta dizer que a Sadia vendeu seu maior abatedouro, no município de Américo
Brasiliense-SC, um dos mais modernos do país, e com capacidade de abate de 180 mil aves/dia. O
resultado de tudo isso, é que o crescimento do rebanho de aves na região foi de 430% 1988 e 1997.
(Belik, 1999:60).
Através dos dados da RAIS de 1996 podemos confirmar a expansão da avicultura no
Centro-Oeste. Naquele ano havia 149 abatedouros na Região, distribuídos entre todos os Estados e
o Distrito Federal. Mato Grosso do Sul concentrava o maior número deles, 56, enquanto Goiás
possuía 37, o Distrito Federal 32 e Mato Grosso 17. O Estado do Tocantins era o de avicultura mais
incipiente, aí se localizando apenas 7 empresas.
Entretanto, nos últimos anos, num fenômeno bastante recente, observa-se um importante
processo de expansão da avicultura no Estado do Tocantins. Atraídos pelos créditos especiais,
possibilidade de escoamento da produção através de sistemas de transportes intermodal (rodovia-
ferrovia-hidrovia), ampliação da oferta de energia elétrica e matéria-prima (soja e milho20
) para a
produção de ração, principal insumo na criação de frango, está em marcha a instalação de alguns
grandes projetos de integração no Estado.
Os principais projetos em instalação no Estado são os seguintes: Da Brazialian Chicken
Alimentos, que em Porto Nacional está investindo US$ 45 milhões num abatedouro para 140
frangos/dia a partir de 2001, com aves produzidas por 300 integrados. Toda a produção será dirigida
à empresa italiana Gramilini SPA. Outro empreendimento importante é o do Grupo Asa Alimentos,
de Brasília, que está investindo R$ 1 milhão para duplicar sua capacidade de 60 mil frangos/dia na
planta de Paraíso de Tocantins e instalando um abatedouro com capacidade para abater 150 mil
frangos/dia no município de Aguiarnópolis, na divisa com Maranhão, com a integração de 60
19 Atualmente a produção de aves e suínos em Goiás já seria o suficiente para abastecer o mercado nacional (VILELA,
2001).
20
A produção dessas culturas ainda é relativamente pequena, com 115 mil toneladas de soja e 109 mil toneladas de
milho na última safra. Essas cultura tem grande potencial de crescimento, mesmo porque, suas produtividades no estado
são das mais elevadas do país, seis mil quilos por hectare no caso do milho e 45 sacas por hectare na soja.
18
Tabela 7 – Maiores Abatedouros de Aves no Brasil – 1997
Empresas
Local
de
Abate
Participação
(%)
Aves
Abatida
s
Valor (R$)
1 SADIA SC-PR-SP-MT 12,28 348.088.069 547.857,10
2 PERDIGÃO SC-RS-SP 7,56 214.259.266 337.223,45
3 CEVAL SC-PR-SP-MS 6,07 172.150.639 270.948,53
4 AVIPAL RS-MS 4,53 128.381.605 202.060,28
5 FRANGOSUL RS 4,48 126.895.195 199.720,82
6 PENABRANCA RS-SP-PA-
MA-PE 3,10 87.915.457 138.370,46
7 DAGRANJA PR-MG 3,04 86.244.804 135.741,02
8 CHAPECÓ SC-SP-PR 2,59 73.298.734 115.365,15
9 AURORA SC 2,13 60.392.137 95.051,41
10 MINUANO RS 1,42 40.300.047 63.428,39
11 SERTANEJO SP 1,40 39.654.495 61.412,36
12 COPACOL PR 1,15 32.557.711 51.242,70
13 PIF PAF MG 1,03 29.255.445 46.045,25
14 COOPAVEL PR 1,02 28.788.813 44.310,82
15 SÓ FRANGO DF 0,89 25.132.221 39.555,70
16 A'DORO SP 0,87 24.630.118 38.765,43
17 BATAVO PR 0,77 21.791.314 34.297,43
18 COTREL RS 0,76 21.491.843 33.826,09
19 COMAVES PR-MS 0,75 21.162.076 32.305,07
20 FRIG. NICOLINI RS 0,61 17.259.808 27.165,28
21 MACEDO
KOERICH SC 0,61 17.166.165 27.017,89
22 COPERGUAÇU SP 0,59 16.858.795 26.534,12
23 COROAVES PR 0,58 16.299.469 25.653,79
24 BIG FRANGO PR 0,54 15.439.052 24.299,58
25 OSATO
AJINOMOTO SP 0,52 14.821.929 23.328,29
26 LANGUIRU RS 0,51 14.383.177 22.637,74
27 FRINAL RS 0,49 13.970.050 21.987,51
28 HOLAMBRA SP 0,47 13.257.767 20.866,45
29 FLAMBOIÃ SP 0,44 12.451.581 19.597,59
30 PIRATINI MS 0,41 11.613.818 18.279,03
31 MARISTELA SP 0,41 11.598.715 18.255,26
32 AVÍCOLA
PAULISTA SP 0,40 11.366.691 17.890,08
33 CALDANA SP 0,38 10.852.569 17.080,90
34 FRANCAP MG 0,37 10.545.095 16.596,96
35 NUTRIZA GO 0,37 10.461.332 15.462,13
36 FRANGOESTE SP 0,34 9.694.003 15.257,43
37 CÉU AZUL SP 0,34 9.681.705 15.238,07
38 POLIFRIGOR SP 0,34 9.636.502 15.166,93
TOTAL PARCIAL 65 1.089.048.334 1.585.083
OUTROS 35 1.829.748.212 2.875.842
TOTAL GERAL 100 2.834.306.172 4.460.925
Fonte: UBA/ANAB.
19
pequenos produtores. Esses projetos contam, ainda, com a ampliação recente da produção de soja e
milho no estado, para utilização como matéria prima na produção de ração(ORTEGA, 2000: 15).
Todavia, essas empresas não têm priorizado suas exportações através desses Estados,
utilizando suas instalações nos Estados da Região Sul, aproveitando o reconhecimento internacional
de rigoroso controle sanitário na produção de proteína animal, um aspecto fundamental para
enfrentar a concorrência internacional. A exceção é a SEARA/CEVAL, que tem exportado a partir
do Centro-Oeste.
Os Estados sulistas estão livres de doenças, como a New Castle, desde início dos anos 80.
Como conseqüência, de acordo com informações da Análise Setorial (Gazeta Mercantil),
aproximadamente 88% das exportações nacionais de carne de frango são de responsabilidade das
cinco maiores empresas do País, todas através desses Estados.
As exportações do Centro-Oeste estão concentradas, portanto, na SEARA/CEVAL, que em
1997 exportou para países asiáticos (Hong Kong, China, Japão), Europa (Alemanha, Espanha,
França, Itália, Portugal, Suíça e Rússia) e América do Sul (Bolívia e Argentina). Outra grande
empresa, a Sadia, também exportou do Centro-Oeste (para Hong Kong), mas em menor quantidade.
Além delas, atualmente a partir de Goiás a frango Gale tem exportado para Arábia Saudita e
a Perdigão iniciou suas exportações a partir de 2001 para a Rússia, Hong Kong, Arábia Saudita e
alguns países da Europa. Registre-se, portanto, no que tange à participação no comércio exterior, o
caráter concentrado que vão assumindo as exportações regionais de carne de frango e merece
destaque a grande dimensão que vem tomando a avicultura de corte goiana.
III.1 – Incentivos Públicos no Centro-Oeste
Observa-se, em momento recente, a mudança da localização dos novos investimentos na
área da avicultura de corte. O Centro-Oeste tem sido a região que mais tem recebido empresas nessa
área. A respeito deste aspecto HELFAND & RESENDE (1998) citam que as políticas públicas
nesta região estão favorecendo os investimentos. O FCO21
(Fundo Constitucional de Financiamento
do Centro-Oeste) beneficia investimentos nesta região relativamente ao Sul (local onde
tradicionalmente estão os grandes investimentos avícolas). Incentivos fiscais em nível estadual
estão, também, induzindo as empresas a se expandirem nesta direção. Além dos incentivos, a
mudança para o Centro-Oeste permite às grandes empresas começarem do zero no redesenho das
instituições de integração e tem a vantagem adicional de evitar custo de relocalização do que
poderia ser um processo penoso, e politicamente explosivo, de ajustamento no Sul.
Além desses recursos, os novos investimentos podem contar, ainda, com incentivos fiscais
do governo do Estado, e o principal deles é o Programa de Incentivo ao Desenvolvimento
Econômico do Estado do Tocantins (Prosperar), com recursos orçamentários previstos do ICMS e
sobre a prestação de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, tendo
por base o faturamento previsto no projeto. Sua liberação é de 70% do ICMS devido para os
projetos em implantação e 50% para os que queiram promover uma expansão. Os juros cobrados
sobre esses empréstimos é de 0,2% não capitalizáveis sobre o saldo devedor. (Gazeta Mercantil,
27/06/2000).
Para efeitos deste estudo, estamos considerando o Estado de Tocantins na Região Centro-
Oeste. Entretanto, como integrante da Região Norte, os empreendimentos para ali dirigidos podem
lançar mão dos incentivos da Superintendência Nacional da Amazônia (SUDAM) e do Fundo
Constitucional de Financiamento do Norte (FCN).
21
O FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro Oeste), foi o responsável pelo desenvolvimento da
avicultura de corte, com recursos subsidiados, na região de Dourados - MS (SHIKI,1996).
20
Para o escoamento da exportação, oferece-se a hidrovia do Tocantins, numa integração
intermodal com as ferrovia Norte-Sul e Carajás, para que se alcance o Porto de Itaqui no Maranhão,
mais próximo dos mercados norte-americano e europeu que dos portos do sul do país. Entretanto, é
preciso registrar que aquela hidrovia vem enfrentado problemas para sua construção, já que
movimentos ambientalistas denunciam o projeto como sendo altamente agressor ao meio ambiente.
Portanto, deve ser visto com reservas as possibilidades de sua utilização nos novos projetos em
instalação voltados para a exportação.
Outro incentivo importante para a expansão da criação animal intensiva no Tocantins vem
da oferta de energia elétrica, seja pela ampliação das linhas que interligam o Sistema Norte-Sul, seja
pela previsão da construção de mais cinco hidrelétricas de grande porte, a primeira a entrar em
funcionamento até o final de 2001. Pensando nessa ampliação da oferta é que o Governo do Estado
criou um Programa de Eletrificação Rural do Tocantins (Pertins), com recursos do Japan Bank for
International Cooperation (JIBC).
ORTEGA (2000) cita que os governos dos Estados de Mato Grosso do Sul e Goiás e o do
Distrito Federal também têm atuado mais agressivamente na atração de empresas, a partir de
incentivos fiscais. Em Mato Grosso do Sul oferece-se 67% de isenção de ICMS por até 15 anos,
prorrogável por outros 15 anos e, para o período posterior, existe uma previsão de financiamento de
parte do ICMS, a partir de regulamentação a ser elaborada. O Secretário de Indústria e Comércio de
Mato Grosso do Sul, em entrevista, aponta para um aumento da arrecadação daquele imposto em
40%, entre 1998 e 1999, apesar das isenções. Sua elevação, segundo ele, resultou do combate a
sonegação.
Em Goiás, o incentivo fica por conta do financiamento de 70% do ICMS por 15 anos, com
prazo de 15 anos para pagamento, a juros de 2,4% a.a., sem atualização monetária. O mesmo
incentivo é concedido no Distrito Federal. No caso específico da instalação do complexo
agroindustrial da Perdigão em Rio Verde (Projeto Buriti), a implantação teve a sua atratividade
baseada na concessão, pelo Estado de Goiás, do diferimento do ICMS para atrair o investimento,
em detrimento do Estado de Minas Gerais. Como têm acontecido, nos últimos anos, os Governos de
Minas Gerais e Goiás envolveram-se em uma acirrada guerra fiscal, para atrair este
empreendimento. Embora não fosse um fator imprescindível, pesou bastante na decisão final da
Perdigão, o diferimento do ICMS concedido por Goiás. Todavia o que realmente teve maior
relevância foi a possibilidade de utilização de financiamento com utilização de recursos do Fundo
Constitucional do Centro-Oeste (FCO) a taxas de juros reduzidas como incentivo de
desenvolvimento da região Centro-Oeste, fator inexistente no Estado de Minas.
Apesar dos discursos de combate à chamada “guerra fiscal”, que a debatida reforma fiscal
pode contribuir para eliminar, o Estado de Goiás, de acordo com o secretário de Indústria e
Comércio, em recente entrevista, está preparado para manter os benefícios. Entretanto, uma das
propostas mais discutidas para a reforma fiscal é a cobrança do ICMS onde o produto é
comercializado, e não no Estado onde é produzido, impedindo que estes abram mão da arrecadação
e dificultando o uso desse artifício para atrair as grandes empresas exportadoras.
As mesmas forças econômicas (preços relativos) que induzem as mudanças técnicas tendem
a induzir também as mudanças institucionais necessárias para viabilizar a introdução das novas
técnicas. Do mesmo modo, as respectivas ofertas de inovações técnicas e de inovações
institucionais são geradas por forças similares: os avanços nos conhecimentos científicos em geral
Portanto, os governos dos Estados de Mato Grasso do Sul, Goiás e do Distrito Federal têm
sido mais agressivos na atração de empresas a partir de incentivos fiscais e a existência de recursos
do FCO, a taxas de juros reduzidas para o desenvolvimento do Centro-Oeste.
21
III. 2 – O Projeto Buriti em Goiás
A década de noventa marca a chegada dos grandes investimentos no Estado de Goiás. O
projeto Buriti pode ser considerado uma referência para o estudo da agroindustrialização em função
de sua dimensão em termos de investimentos, tecnologias utilizadas e uma nova forma de
integração.
O Projeto Buriti está sendo implementado, desde 1998, pela Perdigão em Rio Verde,
cidade da região Sudoeste do Estado de Goiás, região esta que é a maior produtora de milho, soja e
algodão do Estado. A base técnica do processo produtivo das unidades agropecuárias produtoras
destes grãos é intensiva no uso de inovações tecnológicas modernas e a maior parte dos
estabelecimentos produtores destes grãos apresenta tamanho de área superior a 200 hectares
(CENSO AGROPECUÁRIO DE GOIÁS, 1995-96). São estes produtores – que, em geral, detêm
maior poder de alavancagem de recursos, na medida em que, principalmente, tem maior patrimônio
para dar em garantia do empréstimo bancário - o público alvo da Perdigão para celebrar contratos
de integração. Os grandes produtores de leite desta região, a maior bacia leiteira de Goiás, são
também público alvo da integradora.
Este projeto apresenta números nunca antes vistos em termos da avicultura de corte
nacional. Segundo informações da empresa (PERDIGÃO, 1999), quando estiver em pleno
funcionamento, a sua produção significará um aumento de 50% na capacidade de produção da
agroindústria (capacidade de 1998), em termos de produção de carne de aves e de suínos. Estão
sendo investidos R$ 550.000.000,00, sendo R$ 400.000.000,00 pela Perdigão, R$ 110.000.000,00
pelos produtores e R$ 40.000.000,00 pelas transportadoras. Desse total, o BNDES vai financiar R$
180.000.000,00 para as instalações industriais 22
e o Fundo Constitucional do Centro-Oeste - FCO,
via Banco do Brasil, vai financiar R$ 110.000.000,00 para os produtores construírem os módulos de
alojamento para aves e suínos. 23
24
A área total construída soma 1.501.650 m2 (PERDIGÃO, 2001).
A previsão inicial de que o projeto estaria operando no ano 2000 foi confirmada, mas
notícias da mídia apontam para atraso no cronograma de implantação em função de dificuldades
que a empresa estaria encontrando para encontrar produtores interessados em se integrar. A
previsão inicial de que o Projeto Buriti estará operando a plena capacidade em 2003 está mantida.
As principais características deste projeto são: produtores integrados médios ou grandes;
pequeno número de produtores integrados (seja em termos absolutos, seja em termos relativos);
produtores integrados com maior capacidade de alavancagem de recursos no sistema financeiro
(seja por ter maior patrimônio, seja por ter maior articulação com o mesmo); custos elevados para
implantação dos aviários; módulos de confinamento com capacidade individual para 25.000 aves;
módulos com automação no fornecimento de água e comida, além de equipamentos de
climatização; e produtores integrados utilizando a mesma base técnica.
III.3 – Projeto Buriti, “Justificativas”
A nosso ver, a principal explicação para a introdução deste novo modelo de integração na
avicultura de corte brasileira é a pressão que as integradoras estão recebendo do mercado para
22
. Abatedouro de aves com capacidade 281.600 aves/dia e produção 130.000 t/ano; abatedouro de suínos com capacidade de 3.520 suínos/dia e produção 73.500 t/ano; industrialização de carnes (produtos: lingüiças, salsichas, presuntos, apresentados, mortadelas, salames, hambúrgueres e empanados) com capacidade para 120.000 t/ano; industrialização de massas com capacidade para 12.000 t/ano; fábrica de rações com capacidade para 60.000 t/mês; fábrica de subprodutos com capacidade para 30.000 t/ano; incubatório de corte com capacidade para 1.460.000 pintos/semana; estação de tratamento de água com consumo previsto 8.000 m
3/dia, estação de
tratamento de efluentes com capacidade de tratamento 8.000 m3/dia (conceito misto aeróbico e anaeróbico) e sistema de transporte
com 320 veículos integrados (PERDIGÃO, 2000). 23
. Sistema produtor de leitões com 64 módulos de 520 cabeças; sistema terminador de leitões 272 módulos de 1.006 cabeças; e sistema terminador de aves com 478 módulos de 25.000 cabeças cada (PERDIGÃO, 2000). 24
. O projeto inclui, ainda a construção de uma granja de matrizes de aves com capacidade para 864.000 cabeças, um quarentenário e
um centro de difusão genética (PERDIGÃO, 2000).
22
aumento da competitividade de sua produção, tanto interna quanto externa, como forma de manter
e, principalmente, ampliar a participação no mercado.
Dentre os três setores produtores de carne, a avicultura é o setor que vem apresentando
maior crescimento da produção. Este crescimento estaria a apontar para uma situação de
comodidade do ponto de vista de manter a participação no mercado. No entanto, vimos, também,
que ocorreram grandes mudanças no controle acionário das principais empresas e ou novos
investimentos pelas mesmas, com o acirramento da luta por melhora da participação no mercado.
Nesta luta por aumento de competitividade as empresas se voltam para reduzir os seus
custos de transação, de produção e de logística. Ao mesmo tempo em que procuram adotar novos
processos produtivos industriais e novas formas de comercialização mais eficientes, procuram ter
acesso a matéria-prima (ave viva) mais barata, ter acesso a insumos a serem utilizados na produção
de aves a custo menor (milho e soja), ter menor custo para colocar o produto no mercado. Assim, a
integradora busca o aumento de competitividade via redução nos custos de transação; via redução
no custo de produção de aves; via redução do custo de logística, entre outros.25
III.3.1 – Redução nos Custos de Transação
Na avicultura de corte a agroindústria utiliza o processo de integração. Ou seja, não produz
diretamente o "frango", mas através da "parceria", consegue que outros agentes executem etapas de
sua produção. Portanto, na ótica da estrutura de mercado, a agroindústria abre mão de produzir
internamente (integração vertical) e ou comprar no mercado (mercado spot), para produzir via
integração (hierarquia) e, assim, obter ganhos de escala e redução dos custos de produção internos e
de transação. A integradora participa do processo produtivo via fornecimento dos pintinhos, de
insumos agrícolas (ração, medicamentos, etc.), assistência técnica, etc. Em troca, os produtores
integrados fornecem os frangos dentro de um padrão mínimo exigido de qualidade, num período de
tempo estipulado.
No modelo tradicional de integração os custos de transação tendem a ser elevados,
principalmente, porque: os custos de elaboração dos contratos são mais elevados em função da base
técnica dos produtores ser diferenciada; o custo de monitoramento é maior porque há um número
maior de produtores integrados por cada planta industrial; o custo de assistência técnica é maior
porque há maior número de produtores, a base técnica é diferenciada, e os problemas sanitários
tendem a ser maiores em função de uma localização inapropriada dos produtores - seja por estarem
distantes da integradora e ou por estarem localizados muito próximos entre si; e o custo de realizar
as transações entre os integrados e a integradora é maior porque como os integrados tem pequena
capacidade de confinamento, não há ganho de escala na entrega do pintinho, da ração, dos produtos
veterinários, na busca do frango para abate, e há maiores gastos com o cálculo da remuneração dos
integrados pela engorda do frango e com o pagamento dos mesmos devido ao fato de haver maior
número de integrados.
O novo modelo aparentemente contribuiria para a redução dos custos de transação porque:
ao possibilitar a redução drástica do número de integrados por planta industrial 26
, ao estabelecer
que os mesmos tenham uma mesma base técnica e façam uso das inovações tecnológicas de
maneira intensiva, ao escolher produtores para serem integrados com maior acesso a informações
(ao não se envolverem com trabalho direto no processo produtivo e sim com o gerenciamento do
negócio como um todo), haveria redução dos custos com formulação e monitoramento dos
contratos, assistência técnica, entrega do pintinho, da ração, dos produtos veterinários, na busca do
frango para abate, cálculo da remuneração dos integrados pela engorda do frango e com o
25. Na hora da escolha da localização do investimento os incentivos fiscais são muitos importantes. 26
. Novas técnicas de produção como o adensamento de aves (maior número de aves por m²) conjugadas às novas tecnológicas na
construção de galpões superdimensionados (25 mil aves/galpão), sofisticados e automatizados propiciaria, às agroindústrias
integradoras, a integração com um menor número de produtores por unidade industrial.
23
pagamento dos mesmos. Haveria, também, menor oportunismo por parte do integrado uma vez que
o custo de deixar de deixar a integração seria elevado em função dos elevados custos do
investimento. Enfim, contribuiria para reduzir os custos administrativos e, por conseqüência, de
transação. Assim, introdução do novo modelo seria explicada como uma forma de reduzir o custo
de transação
Um maior volume de aves produzidas por produtor possibilitaria a integração com um
menor número de produtores por unidade industrial, que por utilizar uma mesma base tecnológica,
possibilitaria redução no custo de assistência técnica assim como no custo de elaboração de
contratos, reduzindo custo de transação.
Para termos uma idéia de quanto se reduziria o número de integrados neste novo modelo
vamos fazer um breve exercício. Segundo o relatório de administração da empresa Perdigão, para
produzir 290.800 toneladas de frigorificados de aves havia um total de 3.260 produtores integrados
em 1998. Isto eqüivale à uma produção média de 89,2 t por integrado. Em Rio Verde, para
produção prevista é de 130.000 toneladas ano teremos, no máximo, 478 integrados, uma vez que
serão apenas 478 módulos de confinamento. Se dividirmos a produção total esperada em Rio Verde
pela produção média do modelo tradicional teríamos o número de integrados necessários segundo o
modelo tradicional que seria de 1.457 produtores integrados (130.000t/89,2t=1.457). Como
teremos, no máximo, 478 integrados no projeto de Rio Verde, haverá uma queda mínima de 67% no
número de integrados. Se, como está previsto, em média cada integrado em Rio Verde tiver dois
módulos, o número de integrados cai para 239 produtores, ou seja, uma queda de 83%. Portanto, o
número de produtores integrados no Projeto Buriti será significativamente menor que aquele que se
observaria se fosse utilizado o modelo tradicional de integração.
Se considerarmos, ainda, que estes produtores estarão usando uma mesma base técnica, e
se localizarão apropriadamente, tanto em termos de distância da planta industrial quanto entre si - o
que contribui para reduzir os problemas sanitários -, podemos concluir que os custos de assistência
técnica e com a formulação e monitoramento dos contratos, cairão ainda mais, assim como os
custos com entrega do pintinho, da ração, dos produtos veterinários, busca do frango para abate,
cálculo da remuneração dos integrados pela engorda do frango e com o pagamento dos mesmos.
Isto está a apontar que, sob estes aspectos, o custo de transação no novo modelo será
significativamente menor que no modelo tradicional.
III.3.2 – Redução nos Custos de Produção
Outra explicação para a adoção deste novo modelo de integração seria que o mesmo
proporcionaria uma menor custo de produção do frango para a agroindústria integradora, a principal
matéria-prima utilizada no processo produtivo da integradora. Esta redução do custo de produção,
em nível das unidades confinadoras, se daria: pela maior escala de produção (aviários com maior
capacidade de confinamento); utilização mais intensiva de tecnologia de automação e de
climatização que permitiria maior produtividade da mão-de-obra empregada no processo produtivo
e melhor aproveitamento da estrutura física (maior quantidades de aves confinadas por metro
quadrado de aviário); menor incidência de problemas sanitários; menor custos de transporte de
ração, pintinhos, produtos veterinários e do frango vivo para a integradora devido ao maior volume
transportado;
Podemos concluir, portanto, que a adoção do novo modelo de integração deve permitir
uma redução do custo de produção de ave viva - principal matéria-prima da agroindústria
integradora - e, consequentemente, uma melhoria da competitividade da agroindústria, embora não
tenha sido possível dimensionar esta redução uma vez que não foi possível ter acesso aos dados da
empresa.
24
III.3.3 – Redução dos Custos de Logística
A redução dos custos de logística com a adoção do novo modelo vai ocorrer,
principalmente, devido ao fato de que o custo de suprimento dos integrados, por parte da
agroindústria - em termos de pintinhos, ração, produtos veterinários diversos - assim como o custo
de transporte do frango vivo até a integradora, serão menores pelo fato de que o volume
transportado será maior que no modelo anterior, devido à maior escala de produção neste novo
modelo.
Dessa forma, a redução do custo de logística proporcionado pelo novo modelo seria aquele
obtido pela redução do custo na entrega de ração e de pintinho e na “busca” do frango vivo para o
abate. Como seriam menores o número de produtores integrados e maior o volume de ração e de
pintinhos a serem entregues, assim como menor o custo de buscar o frango vivo, seja porque são
poucos os produtores, seja porque estão localizados perto da agroindústria integradora, seria menor
o custo de logística. Pode-se concluir, portanto, que a adoção do novo modelo de integração venha
permitir redução dos custos de logística da integradora.
IV – O novo modelo de “Integração”
As principais características do novo modelo de integração são: alto nível de automação
dos aviários; alto volume de aves confinadas por aviário/produtor integrado; redução significativa
no número de produtores integrados para cada planta industrial e, portanto, do número de contratos
estabelecidos pela firma agroindustrial integradora; produtores integrados de tipo médio ou grande
decorrente da exigência de que os integrados tenham maior capacidade de alavancagem de
financiamento em função do aumento significativo nos custos de instalação de novos aviários (seja
pela maior automação, seja pela ampliação no tamanho do aviário); produtores melhor informados
sobre o mercado; produtores que buscam alternativas de investimento (melhor retorno do capital
investido, e não simplesmente uma nova fonte de renda); uso predominante de mão-de-obra
assalariada nos aviários; e re-espacialização das agroindústrias integradoras em função da
necessidade de se localizar em regiões que tenham características fatores como concentração de um
número significativo de produtores com maior capacidade de alavancagem de financiamento e que
queiram se integrar, concessão de benefícios (incentivos) fiscais necessários para a redução do risco
de possíveis perdas financeiras com o investimento, e oferta abundante de matérias-primas (milho e
soja), de forma a ter acesso às mesmas em condições favorecidas.
As principais diferenças entre estes dois modelos se referem: ao tipo de produtor integrado;
ao grau de heterogeneidade da base técnica de produção; ao número de produtores integrados por
estabelecimento agroindustrial e, portanto, do número de contratos; ao número de aves confinadas
por produtor; ao nível de automação dos aviários; ao uso de mão-de-obra assalariada; e às
exigências mínimas de aporte de capital para se tornar integrado.
Como o Projeto Buriti é o primeiro onde se procura adotar as características deste novo
modelo no Brasil, algumas características do mesmo ainda não podem ser plenamente visualizadas
uma vez que o mesmo não está plenamente implementado. Assim, variáveis importantes para
análise do modelo, como grau de organização e representação dos produtores, ainda não podem ser
avaliadas. No caso específico desta variável, dado as características dos produtores integrados
(maior acesso a informações, não envolvimento direto no processo produtivo, alto volume de
capital investido no mesmo, etc.) é de se esperar que os produtores integrados apresentem maior
nível de organização e representação, o que terá impactos diferentes nas relações entre integrado e
integrador.
O novo modelo é fruto de um lento processo de evolução do modelo tradicional de
integração de avicultura de corte brasileira. Várias das características deste novo modelo,
particularmente no que se refere à utilização de inovações tecnológicas, como automação de
25
alimentação, uso de equipamentos de climatização, módulos de confinamento maiores entre outros,
podem ser observadas, ainda que de maneira parcial, no modelo tradicional de integração, daí a
característica do modelo tradicional de heterogeneidade da base técnica. Uma grande diferença
entre os dois modelos está, portanto, na homogeneização destas características no conjunto de
integrados de uma mesma planta industrial.
É importante salientar que a essência da idéia do que vem a ser integração não muda, seja o
integrado pequeno ou médio/grande produtor. Em qualquer dos modelos a integradora fornece ao
integrado, a ave de um dia, a ração para alimentação do mesmo, e a assistência técnica. O integrado
se responsabiliza pela construção dos aviários e instalação dos respectivos equipamentos, de acordo
com as determinações da integradora, e entrega a ave para a integradora quando a mesma estiver
com o peso apropriado para abate. O pagamento da integradora ao integrado é feito de acordo com
indicadores técnicos constantes do contrato de integração celebrado entre as partes. A integradora,
portanto, terceiriza a engorda das aves junto aos produtores integrados.
V – Impactos da Produção Industrial de Frangos de Corte, Esperados para Goiás
Neste item vamos analisar alguns impactos que a adoção generalizada deste modelo de
integração baseado no médio/grande produtor poderia causar em termos econômicos, sociais e
ambientais.
V.1 – Em Termos Sociais
Uma disseminação do modelo de integração baseado no médio/grande produtor teria
impacto social dos mais significativos. Um primeiro impacto seria o provocado pela exclusão do
pequeno produtor da condição de integrado se mantidas as condições institucionais referentes às
exigências para concessão de empréstimos bancários, as quais excluem os pequenos produtores.
Portanto, a maior parte dos produtores agrícolas brasileiros, que é aquela formada pelos pequenos
produtores, deixaria de poder ser integrado da avicultura de corte.
Um segundo impacto, seria a substituição dos pequenos produtores, ainda hoje integrados,
por médios/grandes produtores. Ou seja não só os pequenos produtores não conseguiriam mais se
tornar integrados, como uma parcela significativa dos mesmos deixaria esta condição. Para termos
idéia deste potencial de substituição vamos retomar o exercício realizado no item 3.1, Seguindo
aquele raciocínio, para cada integrado incorporado com as características do novo modelo - que, no
mínimo, vai produzir 271 t de carne de frango frigorificada - serão substituídos, no mínimo, 3
(271,9t/89,2t=3) produtores integrados do modelo antigo - uma vez que, em média, produzem 89,2 t
de carne frigorificada, em média, por produtor. Se, como se espera, sejam dois módulos por cada
integrado no modelo novo, a substituição vai ser de no mínimo 6 (543,9t/89,2t=6) produtores
integrados do modelo tradicional por cada integrado incorporado do modelo novo. Ou seja, se o
novo modelo fosse disseminado, haveria uma queda brutal no número de produtores integrados.
Esta substituição pode ser ainda maior se o número médio de módulos por produtor integrado no
modelo novo for superior a 2.
As conseqüências para estas unidades de produção que perderiam a condição de integrado
poderia ser caótica. A concentração de renda decorrente seria das mais significativas.
Outro impacto significativo da disseminação do modelo é a redução do número de pessoas
que trabalham nos aviários e ou prestando assistência técnica. Embora não tenha sido possível fazer
um cálculo aproximado a redução nos dois casos será elevada, devido, de um lado, ao elevado nível
de automação dos aviários e, de outro, devido ao menor número de aviários, ao melhor
planejamento da localização dos aviários visando evitar problemas sanitários, e à menor distância
dos integrados da integradora.
26
Portanto, se o novo modelo se disseminar, deverá se reduzir drasticamente o número de
integrados, o número de pessoas que trabalham nos aviários e o número de pessoas que prestam
assistência técnica. O impacto sobre a concentração de renda, na ausência de políticas
compensatórias, tende a ser significativo.
V.2 - Em Termos Regionais
A disseminação deste modelo, sem alteração na condição de financiamento aos produtores
integrados, e portanto, com a exclusão dos pequenos produtores, pode levar a impactos regionais
profundos. É de se esperar que os novos projetos se localizem em regiões em que hajam médios e
grandes produtores interessados em se integrar. Assim pode ocorrer uma re-regionalização da
avicultura de corte brasileira. Portanto, as áreas propícias ao desenvolvimento desta atividade
deixariam de ser as áreas com grande concentração de pequenos produtores passando a ser as áreas
com grande concentração de médios/grandes produtores. Esta modificação espacial seria tão maior
quanto maior fosse a substituição dos pequenos produtores integrados por novos médios/grandes
produtores. Pode-se dizer, portanto, que a disseminação do modelo poderia levar a um significativo
aumento, em termos absolutos e em termos relativos, da produção de aves naquelas regiões onde há
maior presença de médios/grandes produtores, como a região dos cerrados e ou do Centro-Oeste.
Neste sentido, a escolha de Rio Verde para instalar o projeto da Perdigão é exemplar.
Uma possível re-espacialização da produção de frangos, particularmente se houver
concentração da produção em região que não a Sul do país, fará com que os impactos sociais
aventados no item anterior sejam ainda maiores, uma vez que se concentrarão numa região.
V.3 - Em Termos Econômicos
Os impactos econômicos da disseminação do novo modelo podem ser dos mais
significativos, particularmente se a redução dos custos de transação, de produção e de logística
foram tão significativos quanto se espera. Se a competitividade crescer, tende a haver um aumento
das exportações de frango e da produção interna.
Um crescimento expressivo da produção interna pode atenuar os impactos sociais
aventados no item V.1, uma vez que reduziria os impactos negativos em termos de emprego, seja
pela expansão da produção de aves, seja pela expansão da produção de insumos (milho e soja), seja
pelo crescimento do emprego direto nas instalações industrias da integradora.
V.4 – Em Termos Ambientais
A concentração da produção de aves em poucas unidades de produção e ou em uma
determinada região faz com que o potencial de poluição dos dejetos produzidos nos aviários seja
ainda maior. Portanto, a disseminação do novo modelo de integração pode aumentar as dificuldades
de manejo dos dejetos, do odor e da poluição da água, causando danos à natureza. Apesar de serem
áreas de maior altitude e temperatura (diferentes daquelas do Sul), facilitando o manejo e a redução
do maior risco de doenças entre os animais, não se podem atenuar os riscos ambientais.
VI – Conclusão
A avicultura de corte se diferencia dos outros setores da produção animal em vários
aspectos, vale destacar o pequeno espaço de tempo entre a sua chegada no Brasil por volta da
década de 40 e a sua consolidação como atividade industrial na década de 70. As transformações da
base técnica são bem características neste setor e ocorreram intensamente nas áreas da genética,
nutrição, mecânica, instalações e sanidade. Fazendo uma análise hoje, os números existentes em
27
termos de produção, consumo, exportação e importância para o agronegócio, evidenciam o grande
dinamismo desta atividade, justificando o fato de ser reconhecida como o setor mais tecnificado da
produção animal.
Os determinantes das transformações da base técnica na avicultura de corte são o resultado
de vários fatores tais como: a desagregação do complexo rural e a formação do complexo
agroindustrial, ao apropriacionismo e substitucionismo industrial, a necessidade de economia de
terra e de mão-de-obra e a participação do Estado através de políticas públicas e financiamentos.
Dentro da produção animal chama a atenção também a forma como se organizou a
avicultura de corte, hoje mais de 70% da produção de frangos de corte brasileira e feita na forma de
integração, sendo que até 1961 toda a produção era constituída por produtores independentes. Deve
se destacar que hoje a avicultura de corte brasileira é a que apresenta o menor custo de produção a
nível mundial, esse menor custo somado às mudanças tecnológicas e de organização da produção é
que construíram essa grande competitividade desse setor. Hoje a avicultura de corte tem um papel
destacado dentro do agronegócio brasileiro.
A partir da década de 90 a avicultura de corte inicia um intenso processo de reestruturação
produtiva, a atividade que concentrava principalmente na região sul, inicia a instalação de grandes
projetos no Centro oeste. Atualmente Goiás é o maior produtor regional, seguido por Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul. Com o surgimento de novos condicionantes interferindo na questão locacional,
a estrutura especializada de produção independente de fabricantes de ração, incubatórios,
abatedouros e pequenos produtores de frangos é substituída pela integração vertical de todos essas
atividades dentro de uma mesma empresa. Aliado à essas mudanças ocorre a emergência do sistema
integração materializando-se na forma de uma novo modelo de produção que atualmente integra
médios e grandes produtores.
Vários fatores como a oferta de grãos (milho e soja), clima, incentivos fiscais e a
necessidade de um modelo mais eficiente de produção diante da competitividade internacional
direcionaram os novos projetos para o Centro-Oeste, e dentro desta região, Goiás tem posição de
destaque.
Dentre os projetos que se instalaram em Goiás, merece destaque o projeto buriti. Este
projeto apresenta números nunca antes visto em termos de avicultura de corte nacional,
representando um aumento de 50% da capacidade de produção da sua idealizadora, a Perdigão.
Deve se destacar também que existe grandes transformações na estrutura desta atividade em Goiás.
Finalmente deve-se destacar que a constituição do novo modelo de integração para a
produção de frangos de corte reflete o resultado da pressão por aumento da eficiência produtiva e
por conquista de novos mercados internacionais a que às agroindústrias integradoras estão
submetidas. A partir do que foi apresentado pode concluir que o novo modelo que se instala em
Goiás tende a ser mais vantajoso do ponto de vista técnico e econômico da produção, que o modelo
de integração baseado na integração com pequenos produtores característico do Sul, uma vez que o
mesmo proporcionaria dos custos de transação, de produção e de logística. Isto, no entanto, não
significa que a disseminação do mesmo não possa proporcionar impactos sociais, ambientais e
regionais negativos, o que indica uma necessidade de avaliação melhor da oportunidade de destinar
fundos públicos para o fomento do mesmo ou para políticas compensatórias redutoras desses
impactos.
VII – Referências Bibliográficas
ANUALPEC (1998), Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo, FNP Consultoria & Comércio.
ANUALPEC (2000), Anuário da Pecuária Brasileira. São Paulo, FNP Consultoria & Comércio.
CENSO AGROPECUÁRIO DE GOIÁS (1995-96). Fundação Brasileira de Geografia e Estatística.
Rio de Janeiro, FIBGE
A.P.A. (2000). Associação Paulista de Avicultura. Disponível na Internet: www.apa.com.br.
28
AVES & OVOS (1999). Associação Paulista de Avicultura. São Paulo: APA, no4.
BELIK, W. (1999). Muito além da porteira. Mudanças nas formas de coordenação da cadeia
agroalimentar brasileira. Campinas: IE/UNICAMP. (Tese de Livre Docência)
COTTA, T. (1997). Produção de Carne de Frango. Lavras:UFLA/FAEPE.
COUTINHO, A. (1995). Sistema Cooperativo de Produção de Frangos de Corte. in: I Simpósio
Goiano de Avicultura. Goiânia: Redentorista.
ENGLERT, S. I. (1978). Avicultura. Porto Alegre: Editora Leal, 2a ed.
FRANÇA (2000), L. R. A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE
NO BRASIL: Transformações, determinantes e impactos. Uberlândia, IE/UFU. (Dissertação de
Mestrado)
GIANNONI, M. A. & GIANNONI, M. L. (1983). Genética e Melhoramento de Rebanhos nos
Trópicos. São Paulo: Nobel.
GOODMAN, D.; SORJ, B.; WILKINSON, J. (1990). Das Lavouras às Biotecnologia. Minas
Gerais: Campus.
GODOY, J. C. (1999). A Evolução da Avicultura Brasileira: Uma Visão Estatística. In: II Simpósio
sobre Assuntos Empresariais. São Paulo: FACTA.
GODOY, J. C. (2000). Espaço para Todos. In: Agroanálisis. Rio de Janeiro: FGV, Vol. 20, no 8.
GOMES, M. F. M. & ROSADO, P. L. (1998). O Agronegócio de Aves e Suínos. In: Congresso
Nacional dos Estudantes de Zootecnia. Viçosa: Suprema Gráfica e Editora LTDA.
GRAZIANO DA SILVA, J. F. (1988). O Progresso Técnico na Agricultura. Campinas:
UNICAMP/IE. Texto Didático para Uso Interno.
GRAZIANO DA SILVA, J. F. (1996). A Nova Dinâmica da Agricultura Brasileira. Campinas:
UNICAMP/IE.
HELFAND, S. M. & RESENDE, G. C. (1998). Mudanças na Distribuição Espacial da Produção de
Grãos, Aves e Suínos no Brasil: o Papel do Centro-Oeste. Rio de Janeiro: IPEA, ISSN 1415-
4765. Texto para Discussão.
IBGE (1999). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Anuário Estatístico do Brasil.
KAGEYAMA, A. A.& GRAZIANO DA SILVA (1987). Do Complexo Rural aos Complexos
Agroindustriais. Campinas: Instituto de Economia/UNICAMP, Texto para Discussão.
MATOS, V. A. (1996). Estratégias Competitivas das Empresas Líderes do Segmento Avícola
Brasileiro in: Economia Ensaios. Uberlândia: UFU.
MORENG, R. E. e AVENS, J. S. (1990). Ciência e Produção de Aves. São Paulo: Roca.
ORTEGA, A. C. (1988). RAÇÕES: da Especialização a Integração Vertical. (Dissertação de
Mestrado), Campinas: IE/UNICAMP.
ORTEGA, A. C. (2000). Competitividade dos Complexos Agroindustriais de Aves e Suínos do
Centro-Oeste in: Projeto: Programas Setoriais de Promoção da Competitividade do Norte e
Centro-Oeste: NEDRIJ, IE/UFU.
PAULILO, M. I. S. (1990). Produtor e Agroindústria: Consensos e Dissensos. Florianópolis: ed. da
UFSC.
PERDIGÃO (1999), Relatório de Administração 1998. www.perdigao.com.br
PERDIGÃO (2000), Projeto Buriti. www.perdigao.com.br
29
PERDIGÃO (2001), Relatório de Administração de 2000. www.perdigao.com.br
ROMEIRO,R. (1998).Meio Ambiente e Dinâmica de Inovações Na Agricultura. São Paulo:
Annablume, FAPESP.
SCHORR, H. (2000). Asas para o Futuro. In: Agroanálisis. Rio de janeiro: FGV, Vol. 20. no 8.
SCHUMPETER, J. A. (1943). Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio Janeiro: Zahar Editores.
SHIKI, S. (1996). Agroindústria y Transformación Produtiva de la Pequeña Agricultura – El Caso
COAGRI. Uberlândia: CEPES.
SHIKI, S. (1999). Agroindústria e Transformação Produtiva da Pequena Agricultura: Avicultura na
Região de Dourados - MS. In: Reestruturação do sistema agroalimentar. Rio de janeiro:
UFRRJ/CPDA.
SORJ, B. et alii (1982). Camponeses e Agroindústria: Transformação Social e Representação
Política da Avicultura Brasileira. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
TALAMIN, D. J. D.; CANEVER, M. D.; SANTOS FILHO, J. I. (1998). Vantagens Comparativas
Regionais na Produção de Aves e Suínos. SL: Mimeo.
UNIÃO BRASILEIRA DE AVICULTURA. Revista da União Brasileira de Avicultura. Vários
números.
VILELA, L. (2001). O Agronegócio Goiano em Ascensão. In: Informe Comigo. Rio Verde:
COMIGO, Ano XVII, no195/Outubro.