a caverna dos magos

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Templarismo

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A Caverna dos Magos (Fascinantes Histrias sobre Magia e Magos)

http://br.groups.yahoo.com/group/digital_source/A CAVERNA

DOS MAGOS

Fascinantes Histrias sobre

Magia e Magos

Organizao

PETER HAINING

TraduoRoberto Argus

BERTRAND BRASIL

Copyright 2001 by Seventh Zenith Ltd.

Ttulo original: The Wizards' Den

Capa: Silvana Mattievich

2003

Impresso no Brasil

Printed in Brazil

CIP-Brasil. Catalogao-na-fonte

Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

C374cA caverna dos magos: fascinantes histrias sobre magia e

magos/organizao Peter Haining; traduo Roberto Argus. Rio

de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003

256p.

Traduo de: The wizards' den

ISBN 85-286-1036-5

1. Magia Fico. 2. Magos Fico. 3. Mgicos Fico.

4. Antologias (Literatura fantstica). I. Haining, Peter, 1940-.

II. Argus, Roberto.

CDD-808.8015 03-1550

CDU-82-312.9

Todos os direitos reservados pela:

EDITORA BERTRAND BRASIL LTDA.

Rua Argentina, 171 1. andar So Cristvo

20921-380-Rio de Janeiro- RJ

Tel: (0xx21) 2585-2070 - Fax: (0xx21) 2585-2087

No permitida a reproduo total ou parcial desta obra, por quaisquer

meios, sem a prvia autorizao por escrito da Editora.

Atendemos pelo Reembolso Postal.

Este livro dedicado a

JAMES, CHARLIE e BEN,

trs pequenos magos

A magia exerce uma atrao universal.

J. K. ROWLING, autora da srie Harry Potter

Reader's Digest (dezembro de 2001)

L em alguma caverna sombria onde os magos

preparam seus encantamentos.

ANN RADCLIFFE

Os mistrios de Udolpho (1794)

SUMRIO

O Mundo da Magia, por Peter Haining

O Professor de Lara e o Encantamento de Dois Centavos, de E. NesbitEscola para o Extraordinrio, de Manly Wade WellmanO Diretor Demnio, de Gillian CrossBandos de Fantasmas, de Humphrey CarpenterGrimnir e a Alteradora de Formas, de Alan GarnerO Misterioso Oliver, de Russell HobanOs Guardies do Descobridor, de Joan AikenOs Endiabrados, de William HarvejA Magia de Voar, de Jacqueline Wilson

O Enigma Chins, de John WyndhamO Desejo, de Roald DahlO Menino Invisvel, de Ray BradburyMeu Nome Dolly, de William E NolanAlgo para Ler, de Philip PullmanO Centsimo Sonho de Carol Oneir, de Diana Wynne JonesAgradecimentos

O MUNDO DA MAGIASe um dia voc for pequena aldeia de Cader Idris, em Corris, no vale das grandes montanhas Welsh, encontrar a entrada de algumas cavernas enormes, conhecidas como Labirinto do Rei Arthur. Em seu interior, est sentado um menino mago chamado Myrddin, popularmente conhecido como Merlin, que uma vez profetizou a chegada do guerreiro rei Arthur e previu a batalha entre um drago branco e um drago vermelho pelo futuro da nao galesa. O menino, de aparncia inteligente e cabelo louro, em sua tnica de tecido de saco, no real, claro, e sim um modelo aparentemente vivo de um dos muitos magos que, durante geraes, praticaram a sua antiga arte da magia.

Porque, acredite, os magos so reais e no apenas personagens imaginrios das mentes de contadores de histrias como T. H. White, J. R. R. Tolkien e, mais recentemente, J. K. Rowling. Fato que os magos tm estado por a h sculos. Na Bblia, no Captulo 19 de Isaas, eles so chamados de "feiticeiros", e voc pode encontr-los tambm nos poemas de John Milton, que mencionam "magos com estrelas reluzentes... exalando doces odores", e na pea de Shakespeare A tempestade, apresentando o mago Prspero. Na maioria das vezes, so descritos como homens mais velhos: altos, com barba, cabelo ondulado, vestindo longos mantos decorados com smbolos msticos e segurando bastes mgicos. Tambm existem as mulheres feiticeiras, conhecidas como magas, e uma, muito famosa, mencionada por Percy Shelley em seu livro de fantasia A bruxa de Atlas com as seguintes palavras: "Todos os dias aquela senhora maga sentava-se reservadamente, decifrando rolos de Venervel antigidade." No obstante, cada uma daquelas pessoas comeou o aprendizado da magia quando ainda jovem, e no poucas, subseqentemente, se tornaram o foco de mitos e de lendas, bem como de inspirao para contos. No passado, sempre se falava a respeito desses fazedores de magias em sussurros, numa mistura de temor e respeito; hoje, eles talvez sejam mais conhecidos como "magos".

Ento, o que um mago? Segundo os dicionrios, so pessoas conhecedoras das artes ocultas e que praticam a magia e a feitiaria. Tambm so sbios, podem ver o futuro e hipnotizar pessoas comuns. Foram instrudos na magia e nos encantamentos e usam uma linguagem caracterstica, muito diferente das expresses comuns freqentemente associadas magia, como Abracadabra! e Abre-te, Ssamo! Os magos vivem em um mundo em que praticamente tudo possvel: conseguem alterar a prpria aparncia uma habilidade conhecida como "mutao de forma", transfigurar todos os tipos de objetos inanimados e at se tornar invisveis. Podem ver fantasmas, evocar poderes sobrenaturais e criar enorme felicidade ou pr em prtica uma terrvel vingana. Mas os magos no so maus. Apesar de alguns deles terem cedido s tentaes e feito mau uso desses poderes, no os usam necessariamente para infligir danos. Embora possam faz-lo, ao lutar contra pessoas ms e criaturas mortais ou quando envolvidos em batalhas contra as foras das trevas.

Um dos primeiros livros de contos sobre magos foi O mago desmascarado, escrito em 1652.

Ningum sabe quem foi o seu autor, mas, acredita-se, pode muito bem ter sido um mago, considerando o conjunto de informaes que o livro contm acerca da arte secreta. Ele at apresenta a lista de alguns magos sobre os quais se comentava que faziam magia em Londres naquela poca. Havia o "homem astuto" em Bankside, um "mago peludo" em Pepper Alley e o "doutor Forman", com as suas "bochechas de gaita-de-foles" em Lambeth. Ainda mais intrigante eram a me Broughton, em Chick Lane, e o jovem mestre Oliver, que vivia em Turnbull Street. Ele, obviamente, foi um bom discpulo e aprendeu a arte da magia com mais rapidez do que a maioria. Embora pouco se saiba sobre Gliver alm de seu nome, ele fez parte de uma tradio antiga e foi precursor de alguns jovens magos mencionados neste livro.

.

Um mago Tradicional evocando alguns espritos interessantes em seu crculo mgico

Infelizmente, embora o livro O mago desmascarado contenha a figura de um mago em atividade em seu crculo mgico, no apresenta um retrato do extraordinrio mestre Oliver.

Entretanto, muito mais coisas so conhecidas sobre o menino mago Merlin, que cresceu para ser, provavelmente, o fazedor de magias mais famoso da histria. Os fatos sobre a vida de Merlin so, verdade, envoltos em mistrio, mas acredita-se que ele tenha vivido no final do sculo VI. Comenta-se que foi um "menino sem pai", que cresceu em Carmarthen, estudando magia com um sbio famoso, Blaise de Brittany. Foi em Gales que Merlin comeou a ganhar a reputao de profeta, quando vaticinou a chegada do rei Arthur. Ele tambm ofereceu orientao ao rei gals Gwrtheyrn, quando o monarca tentava construir um castelo em Dinas Emrys. Merlin disse que aquilo jamais se concretizaria devido a dois drages, um branco e outro vermelho, que dormiam em um lago subterrneo nas proximidades. Quando Gwrtheyrn ordenou que o lago fosse drenado, os dois drages despertaram e comearam a lutar, at que o vermelho finalmente triunfou. Embora Gwrtheyrn ainda no fosse capaz de construir sua fortaleza, diz-se que aqueles acontecimentos foram o motivo pelo qual o drago vermelho tornou-se o emblema nacional do Pas de Gales. Atualmente, Bryn Myrddin, a "Colina de Merlin", em Carmarthen comemora os dias da juventude do mago e h rumores de que aquele o lugar em que ele ainda dorme, aprisionado, conta-se, por ter revelado alguns de seus segredos de magia. Segundo uma lenda local, os "lamentos fantasmagricos" de Merlin podem ser ouvidos em noites escuras, tempestuosas, vindos das profundezas da colina.

Merlin tambm associado Cornualha, onde se estabeleceu anos aps vaguear pelo pas, tendo como nico companheiro um porco selvagem. Ali, no castelo Tintagel, diz-se que o Merlin e seu discpulo, o jovem rei Arthur, encontram-se com a Senhora do Lago menino Arthur nasceu, destinado a ser um dos maiores reis ingleses, e Merlin usou a sua magia para se tornar um membro inestimvel da corte e aliado dos famosos Cavaleiros da Tvola Redonda. De acordo com outra lenda, o mago empregou seus poderes para transportar, desde seu lar original, na Irlanda, suas rochas gigantescas, que agora formam Stonehenge. Elas foram reunidas, voaram sobre o mar da Irlanda at a plancie de Salisbury e, depois, foram ali organizadas segundo os planos de Merlin. As lembranas do grande mago so mantidas vivas em Tintagel por uma caverna sob o castelo no topo do despenhadeiro, conhecida como a "Caverna de Merlin", e tambm nas pginas do clssico romance de fantasiai espada na pedra, de T.H. White, que reconta a histria da infncia de Arthur e o papel do mago como seu tutor.

Merlin e seu discpulo, o jovem rei Arthur, encontram-secom a Senhora do Lago

No norte da Inglaterra, em Alderley Edge, num ngreme despenhadeiro de arenito que se ergue da plancie de Cheshire, pode-se encontrar um poo dos desejos que tambm associado a Merlin. No poo, formado por uma fonte natural, h a seguinte inscrio:

Beba desta at se saciar,Porque a vontade do mago Jaz a gua jorrar.

Acredita-se que Merlin realizou uma de suas maiores proezas de magia naquele local, abrindo macios portes ocultos na face da rocha para revelar uma imensa caverna. L dentro, o rei Arthur e seus cavaleiros estavam adormecidos, esperando o chamado, quando os ingleses mais uma vez necessitassem de sua coragem e bravura. Essa lenda foi utilizada no famoso romance A pedra encantada de Brisingamen, de Alan Garner, que contribuiu para este livro.

A Esccia tambm tem as suas histrias de magos. Em Selkirk, encontra-se a torre de Oakwood, o lar de Michael Scot, que, assim dizem, compilou um volume de feitios e encantamentos conhecido como Livro de poder. Scot viveu nos primeiros anos do sculo XIII e aprendeu os segredos da magia em Paris.

Segundo a lenda, ele foi um astrlogo e vidente brilhante, com tamanho controle de magia, que uma vez voou para a Frana montado em um cavalo demonaco. Acredita-se que o Livro de poder tenha sido sepultado com ele na abadia de Melrose. Mais prximo a nossa poca, no sculo XVIII, outro escocs, Alexander Skene, foi para a Itlia quando ainda era adolescente a fim de aprender tudo sobre como se tornar um mago.

Quando retornou a Aberdeen e viveu no local agora chamado de Skene House, seus poderes mgicos eram de tal ordem, que ele se tornou conhecido em toda a redondeza como "o mago proprietrio de terras". Conta-se que ele jamais produziu uma sombra, nem mesmo sob a mais intensa luz do sol, e viajava a todos os lugares com quatro pssaros um corvo, um falco, uma pega e uma gralha aos quais ele chamava de "meus duendes". Era hbil na elaborao de poes mgicas com ervas colhidas nos vales locais, empregando-as contra inmeros fazedores de mal. Na comarca de Aberdeen, ainda hoje se repetem histrias sensacionais sobre o "mago proprietrio de terras".

Outra narrativa popular escocesa famosa, "O aprendiz de feiticeiro", coletada por J. F. Campbell e publicada em seu livro Contos populares das montanhas da Esccia, em 1860, conta a histria do filho de um jovem fazendeiro que foi treinado nos caminhos da magia por um feiticeiro,

Uma aula de magia na Escola de Magia

do Grande MagoFiachaire Gobha. O rapaz aprendeu a lanar encantamentos e tambm se tornou especialista em metamorfose", transformando-se em cachorro, touro, cavalo e at mesmo em um par de foles durante um estranho incidente. O que torna essa histria particularmente interessante a referncia Escola de Magia do Grande Mago que o velho freqentou e para onde enviou seu jovem discpulo. Na histria, h pouqussima informao autntica a respeito da escola, embora haja uma sugesto de que ela estivesse localizada na Itlia e que talvez tenha sido o mesmo estabelecimento freqentado por Alexander Skene. mais provvel que estivesse situada na Esccia, possivelmente em um canto remoto das montanhas ocidentais. De qualquer maneira, pode ser considerada a precursora da Escola Hogwarts de Feitiaria e Magia, de Harry Potter, que tambm est localizada em um remoto castelo escocs.

Evidncias a respeito de magos tambm podem ser encontradas em outros locais. Algumas vezes, eles parecem ter aterrorizado tanto as pessoas, que alguns tiveram o mesmo destino de Thomas Sche que, em 1596, foi queimado na estaca. H referncia a uma acusao, em 1751, sobre "uma grande multido em Tring (Hertfordshire) que declarou vingana contra Osborne e sua esposa, acusando-os de mago e feiticeira", e, um sculo mais tarde, o autor, William Hone, em seu Every-day Book relata que, em julho de 1825, "um homem foi afogado, sob a acusao de ser mago em Wickham Skeith (Suffolk)". Outros escritores falam mais favoravelmente a respeito das atividades dos magos, incluindo Henry Mayhew em sua obra London Labour and the London Poor (1851-62), citando um homem: "Considero-me um mago, o que significa conjurador, astrlogo e leitor da sorte". Trs famosos magos do sculo XIX tambm so mencionados em obras de fico: Sir Walter Scott descreve "lorde Gifford, em sua estranha vestimenta de mago", em Marmion (1808); Gerald Dow, o mago nascido na Holanda, mencionado por Nathaniel Hawthorne, praticando sua arte nos Estados Unidos em Tangkwood Tales (1853) e Rudyard Kipling refere-se, em Life's Handicap (1891), a "Juseen Daze, o mago que tem a cabea do macaco falante".

Magos de todas as pocas tambm continuaram a aparecer na fico moderna. Em 1900, a pequena Dorothy ps-se a caminho para encontrar 0 mgico de Oz, na histria de L. Frank Baum. Ela foi seguida, em 1938, pela obra de T. H. White, A espada na pedra, apresentando o menino Wart, a quem Merlin ensinou a estria do filho de um jovem fazendeiro que foi treinado nos caminhos da magia por um feiticeiro, Fiachaire Gobha. O rapaz aprendeu a lanar encantamentos e

O mago moderno, professor de Lara e uma jovem cliente em potencialtambm se tornou especialista em "metamorfose", transformando-se em cachorro, ouro, cavalo e at mesmo em um par de foles durante um estranho incidente. O que torna essa histria particularmente

interessante a referncia Escola de Magia do Grande Mago que o velho freqentou e para onde enviou seu jovem discpulo. Na histria, h pouqussima informao autntica a respeito da escola, embora haja uma sugesto de que ela estivesse localizada na Itlia e que talvez tenha sido o mesmo estabelecimento freqentado por Alexander Skene. mais provvel que estivesse situada na Esccia, possivelmente em um canto remoto das montanhas ocidentais. De qualquer maneira, pode ser considerada a precursora da Escola Hogwarts de Feitiaria e Magia, de Harry Potter, que tambm est localizada em um remoto castelo escocs.

Evidncias a respeito de magos tambm podem ser encontradas em outros locais. Algumas vezes, eles parecem ter aterrorizado tanto as pessoas, que alguns tiveram o mesmo destino de Thomas Sche que, em 1596, foi queimado na estaca. H referncia a uma acusao, em 1751, sobre "uma grande multido em Tring (Hertfordshire) que declarou vingana contra Osborne e sua esposa, acusando-os de mago e feiticeira", e, um sculo mais tarde, o autor, William Hone, em seu Every-day Book relata que, em julho de 1825, "um homem foi afogado, sob a acusao de ser mago em Wickham Skeith (Suffolk)". Outros escritores falam mais favoravelmente a respeito das atividades dos magos, incluindo Henry Mayhew em sua obra London Labour and the London Poor (1851-62), citando um homem: "Considero-me um mago, o que significa conjurador, astrlogo e leitor da sorte". Trs famosos magos do sculo XIX tambm so mencionados nos caminhos da magia e que se metamorfoseou em diversos animais para aprender seus caminhos. Wart foi descrito como um ancestral espiritual de Harry Potter, uma opinio com a qual qualquer um que leia o livro provavelmente concordar. Merlin reapareceu em ThatHideous Strength por C. S. Lewis (194S). Em 1968, J. R. Tolkien apresentou outro personagem maravilhoso, o mago Gandalf, em 0 senhor dos anis. Em suas pegadas, chegou, por J. K. Rowling, o jovem e verstil Harry Potter, aprendiz de mago na Hogwarts School, continuando a tradio de magia de fato e fico que se comprovou to fascinante aos leitores de todas as idades.

Espero, sinceramente, que as histrias que escolhi para este livro, acerca dessa tradio h muito existente comeando com "Professor de Lara e o encantamento de dois centavos", de E. Nesbit, a escritora da qual J. K. Rowling admitiu ter recebido enorme influncia , transportem voc, leitor, ao mundo da magia onde qualquer coisa, e quero dizer qualquer coisa mesmo, possvel. E, assim espero, se a magia no for excessivamente poderosa, que lhe permitam retornar em segurana...

PETER HAINING

Dolgellau, Pas de Gales

Abril de 2001

A CAVERNA DOS MAGOS

O PROFESSOR DE LARA E O

ENCANTAMENTOE. Nesbit

O professor Doloro de Lara para cham-lo por seu nome completo um profundo conhecedor de Magia (Branca) e da Arte Negra. Ele bastante alto, tem aparncia um pouco assustadora, olhos negros e boca indescritvel, como a definem algumas pessoas que o conheceram. Ele tambm consegue alterar a prpria aparncia num piscar de olhos. Os anncios do professor dizem que instruir jovens alunos em seus prprios lares, sem custo adicional, e oferecem "perodos letivos especiais para escolas". Ele quase poderia ser um membro do staff da escola de Harry Potter, Hogwarts, o que no de surpreender, pois desde criana J. K. Rowling foi muito influenciada pelos livros de E. Nesbit, autora que tambm escreveu sobre magos e magia e preferia assinar suas obras com apenas uma inicial. Nesta histria, uma menina chamada Lucy deseja que o professor de Lara lhe fornea um encantamento para dar uma lio em Harry, seu irmo amedrontador. Mas a magia teve um resultado de certo modo inesperado, como voc descobrir...* * *Lucy era uma menina realmente muito boa, e Harry no era to mau para um menino, embora os adultos o chamassem de malandro! Ambos iam muito bem na escola c no lhes faltava amor em casa. Talvez Lucy fosse um pouco boba, e Harry era, sem dvida, suficientemente grosseiro para cham-la disso, mas ela no precisava ter retrucado, chamando-o de "besta". Creio que ela fez isso, em parte, para lhe mostrar que no era to boba quanto ele pensava e tambm porque estava muito aborrecida por ter sido enterrada at a cintura entre os arbustos de groselha espinhosa. Lucy entrou no buraco que Harry havia cavado porque ele lhe disse que aquilo iria faz-la crescer. Porm, repentinamente, ele pegou uma p e jogou no buraco uma grande quantidade de terra, pisando-a em seguida, de maneira que Lucy no conseguia se mover. Ela comeou a chorar, por isso Harry a chamou de boba e ela retrucou "besta". Ele se afastou, deixando-a "plantada l", como dizem os franceses. Ela gritou mais do que nunca, tentando livrar-se, mas no conseguiu. Embora fosse naturalmente uma criana muito doce, Lucy teria sapateado de raiva, se apenas conseguisse tirar seus ps dali. E, ento, berrou ainda mais. Logo apareceu o tio Richard, que a tirou dali, dizendo que aquilo era uma vergonha e dando-lhe dois centavos a Lucy para gastar como quisesse. Lucy pediu ama-seca que a limpasse daquela terra suja de groselha e, quando estava limpa, saiu para gastar os dois centavos. Tinha permisso para ir sozinha, porque as lojas ficavam prximo de sua casa, do mesmo lado da rua, no havendo, portanto, o perigo dos cruzamentos.

Vou gastar cada centavo s comigo disse Lucy, feroz. Harry no vai ganhar nada, a no ser que eu consiga pensar em alguma coisa da qual ele no goste e que eu possa colocar em seu po e leite! Ela jamais havia se sentido to malvada antes, mas, por outro lado, Harry nunca tinha sido to desagradvel.

Andou lentamente diante das lojas, desejando pensar em alguma coisa que Harry odiasse. Ela mesma odiava minhocas, mas Harry no se importava com elas. Meninos so to estranhos.

Repentinamente, viu uma loja que no notara antes. A vitrina estava repleta de flores rosas, lrios, violetas, cravos, amores-perfeitos , tudo que se possa imaginar, crescendo em um amontoado confuso, como se pode ver em um velho jardim no vero.

Procurou no alto o nome da loja. Em vez de um nome ou de, simplesmente, Florista, viu escrito "Doloro de Lara, professor de magia branca e negra". Na vitrina, um grande cartaz emoldurado e envidraado informava:

ENCANTAMENTOS FEITOS ENQUANTO VOC ESPERA.

TODOS OS TIPOS DE AMULETOS

CUIDADOSA E TOTALMENTE TRABALHADOS.

FEITIOS FORTES DESDE CINQENTA GUINUSA

DOIS CENTAVOS.

SATISFAZEMOS A TODOS OS BOLSOS.

EXPERIMENTE.

A MELHOR E MAIS BARATA LOJA NO MERCADO.

DESAFIA-SE A CONCORRNCIA.

Lucy leu aquilo com o polegar na boca. O que a atraa era a meno aos dois centavos. Jamais havia comprado um feitio. Mesmo um de dois centavos seria novidade. S pode ser algum tipo de truque mgico, pensou ela, e nunca deixarei que Harry veja como feito... nunca, nunca, nunca!

Ela entrou. A loja tambm era florida, parecia um caramancho, com um vermelho-rosado e um branco-lrio tanto dentro quanto fora. As cores e o odor quase lhe tiraram a respirao.

Um cavalheiro magro, sombrio e desagradvel apareceu repentinamente de um caramancho florido de beladona e disse:

O que posso fazer hoje pela senhorita?

Por gentileza, quero um feitio disse Lucy. O melhor que puder fazer por dois centavos.

Isso tudo o que tem? perguntou ele.

Sim respondeu Lucy.

Bem, no pode esperar muito de um feitio por esse valor disse ele. Entretanto, melhor que eu tenha esses dois centavos do que eles fiquem com a senhorita. Acho que compreende, claro! Agora, do que gostaria? Podemos fazer um pequeno e interessante feitio por seis centavos que far com que jamais falte gelia para acompanhar o ch. Tenho outro artigo de 18

centavos que far com que todos os adultos sempre pensem que voc boa, mesmo que no o seja, e por meia coroa...

S tenho dois centavos.

Bem disse ele, rabugento , s existe um feitio por esse preo, que, na verdade, custa dois centavos e meio, mas... digamos dois centavos. Posso fazer com que voc goste de algum e que esse algum goste de voc.

Obrigada retrucou Lucy , gosto da maioria das pessoas e todos gostam de mim.

No isso que quero dizer. No existe algum que voc gostaria de ferir se fosse to forte quanto ele e se ele fosse to frgil quanto voc?

Sim respondeu ela em um sussurro de culpa.

Ento, me passe os dois centavos disse o sombrio cavalheiro e, no se esquea, trata-se de uma pechincha. Ele arrancou as moedas quentes da mo dela. Ento, amanh de manh, voc ser to forte quanto Harry, e ele estar to pequeno e frgil quanto voc. Desse modo, voc poder machuc-lo quanto quiser e ele no ser capaz de feri-la.

Oh disse Lucy , no tenho certeza de querer isso. Acho que gostaria de mudar o feitio, por favor.

No trocamos artigos respondeu ele, rabugento , voc recebeu o que pediu.

Obrigada disse Lucy, hesitante , mas como eu...?

totalmente auto-ajustvel explicou o desagradvel senhor Doloro. No necessrio experincia prvia.

Muito obrigada agradeceu Lucy. Bom...

Ia dizer "bom-dia", mas a saudao transformou-se em "Meu Deus!", porque ela estava realmente atnita: de repente, a loja de flores metamorfoseara-se na loja de doces, que conhecia muito bem, e o desagradvel senhor Doloro transformara-se na doceira, que lhe perguntava o que queria, e, evidentemente, uma vez que gastara os seus dois centavos, a resposta foi "Nada!". Ela j lamentava t-los gasto e da maneira como o fizera e ainda se sentiu pior quando chegou em casa e Harry reconheceu, elegantemente, estar muito sentido por t-la enganado, mas realmente no pensara que ela fosse to tolinha e sentia muito era isso!

Aquilo tocou o corao de Lucy, que lamentou mais do que nunca no ter utilizado seus dois centavos de maneira mais vantajosa. Tentou avisar Harry sobre o que estava prestes a acontecer na manh seguinte, mas ele apenas respondeu:

Esquea isso, o pequeno Billson est vindo para jogar crquete. Voc pode pegar as bolas, se quiser. Lucy no queria, mas aparentemente era a nica coisa que poderia fazer para mostrar que aceitava entusiasticamente o pedido de desculpas do irmo por t-la enganado. Assim, apanhou as bolas, abatida e ineficiente.

Na manh seguinte, Harry levantou-se na hora, dobrou o camisolo e arrumou to bem o quarto, que a arrumadeira quase desmaiou de surpresa quando entrou nele. Em seguida, desceu a escada to rpida e silenciosamente quanto um Camundongo e fez as lies antes do caf da manh. Lucy, por outro lado, levantou-se to tarde, que s se vestindo apressadamente que teve tempo de preparar uma "pea" para Harry muito boa antes de escorregar pelo corrimo bem na hora em que soava a sineta do caf da manh. Lucy foi a primeira a entrar na sala. Por isso, conseguiu colocar um pouco de sal em todas as xcaras de ch antes que mais algum entrasse. Quando o estranho ch foi provado por todos, Harry foi responsabilizado.

Fui eu que fiz isso disse Lucy, mas ningum acreditou.

Disseram que ela era uma irm nobre, generosa, por tentar proteger seu desobediente irmo. Harry irrompeu numa torrente de lgrimas quando ela o chutou por baixo da mesa, mesmo odiando-se por isso, mas parecia impossvel fazer qualquer outra coisa.

Harry chorou durante quase todo o caminho at a escola, enquanto Lucy insistia em deslizar ao longo das sarjetas, arrastando Harry atrs dela. Ela comprou um estilingue na loja de brinquedos e uma caixa de tachinhas na loja de pintura. Tudo fiado, mas, como Lucy nunca havia pedido fiado antes, conseguiu o que queria.

No topo da Blackheath Village eles se separaram Harry voltou a sua escola, do outro lado da estao, e Lucy seguiu em frente, para a Blackheath High School.

A Blackheath High School tinha um saguo enorme e bonito, aonde se chegava por uma escadaria que mais parecia a de um quadro. Na outra extremidade do saguo, encontrava-se uma grande esttua de uma bela senhora. As professoras da High School chamavam-na de Vnus (francamente, no acredito que seja esse o nome dela).

Lucy a boa, delicada, pequena Lucy, amada pela professora de sua srie e respeitada por todos na escola sentou-se naqueles degraus (no sei como ningum a pegou) e, com o estilingue, lanou bolinhas de tinta (voc sabe o que so, claro!) na bela esttua branca da senhora, at que Vnus (se esse for mesmo o seu nome, o que no creio) ficasse toda salpicada de pontos pretos, como um co dlmata.

Depois, ela entrou na sala de aula e espalhou tachinhas, com a ponta para cima, em todas as mesas e assentos, um ato carregado de obscura retaliao a Blossoma Rand e a Wilhelmina Marguerite Asterisk. Outra armadilha: um dicionrio, um pote com gua, trs pedaos de giz e um punhado de papel picado foram apressadamente colocados acima da porta. Trs outras garotinhas, espectadoras boquiabertas, acompanhavam aquela movimentao. No desejo deix-los chocados, por isso nada falarei sobre o total sucesso da armadilha nem sobre a sanginria briga entre Lucy e Bertha Kaurter em um campo isolado de handebol durante o recreio. Dora Spielman e Gertrude Rook eram suas agitadas "assistentes". A luta foi interrompida no quinto assalto pela professora de Lucy, a adorada senhorita Harter Larke, que levou as acusadas, manchadas de sangue, pelo saguo e pela bela escadaria ao gabinete da diretora.

As sutis habilidades de comando da diretora da Blackheath High School conquistavam tanto os pais quanto os alunos. Ela era envolvente demais. Qualquer outra pessoa menos esperta teria expulsado a desafortunada Lucy, sobrecarregada com a natureza masculina do irmo, perante tal prova agora apresentada, mas isso no se aplicava diretora da Blackheath. Ela evitava fazer qualquer julgamento, uma atitude das mais terrveis para um culpado que, por sua vez, ficava pensando no assunto por uma hora e meia no gabinete da professora, enquanto ela, em particular, escrevia uma nota para a me de Lucy, gentilmente sugerindo que a menina estava agindo de maneira estranha, diferente de seu comportamento habitual: talvez estivesse aflita com alguma coisa. Talvez fosse melhor se ela ficasse em casa durante um ou dois dias. Lucy foi para casa. No caminho, derrubou uma garotinha que andava de bicicleta e levou a melhor em exaltada discusso com o filho de um padeiro.

Enquanto isso, Harry j havia enxugado as lgrimas e tinha ido para a escola. Sabia as lies, fato incomum e agradvel e, estimulado por grandes esperanas, resolvera envolver-se profunda e firmemente dali por diante. Mas, ao sair triunfante da escola matinal, sentira a cabea repentinamente golpeada pelo caula dos Simpkins alegando que Harry estava tentando se destacar na sala de aula. O golpe havia sido calculado e certeiro. Harry, claro, no revidara. Em uma torrente de lgrimas e com a emoo descontrolada, implorara que o pequeno Simpkins o deixasse em paz e no fosse violento. Ento, o pequeno Simpkins chutara, e outros de seus pequenos amigos se juntaram ruidosa aglomerao, que se transformara em um festival de chutes.

Quando Harry e Lucy se encontraram na esquina da rua Wemyss, o rosto de Harry estava quase irreconhecvel, enquanto Lucy parecia to satisfeita quanto uma rainha e to orgulhosa quanto um pavo.

O que aconteceu? perguntou Lucy vivamente.

Todos os garotos da escola me chutaram respondeu Harry, a voz sem entonao. Queria estar morto.

Eu tambm respondeu Lucy, com alegria. Acho que vou ser expulsa. Sem dvida eu seria, mas a minha armadilha caiu sobre a cabea de Bessie Jayne e no sobre a da senhorita No-sei-o-nome-dela, e Bessie no dedo-duro, embora tenha ficado com um galo do tamanho de um ovo de avestruz na testa e tambm toda encharcada. Mas acho que acabarei sendo expulsa mesmo.

Gostaria de ter sido disse Harry, chorando e emocionado. No sei o que est acontecendo comigo. Sinto-me todo errado por dentro. Voc acha que consegue se transformar em outras coisas s por l-las? Porque me sinto como se eu estivesse em algum dos livros que o gentil padre nos emprestou l na praia.

Que besteira! exclamou Lucy. Pois, para mim, como se o fato de eu ser ou no expulsa no tivesse a menor importncia. E vou lhe dizer uma coisa, Harry, sinto-me como se eu fosse muito mais forte do que voc. Sei que poderia torcer seu brao e machuc-lo, como voc fez comigo outro dia, sem que voc conseguisse me deter.

Claro que eu no conseguiria! Eu no posso evitar que algum faa alguma coisa que deseja fazer. Quem quiser, pode me bater sem que eu consiga revidar.

E Harry comeou a chorar de novo. De repente, Lucy ficou realmente com pena dele. Sabia que era a responsvel por aquilo; reduzira o irmo a um mero covarde, s porque ele a enterrara naquele buraco e a abandonara l. Subitamente, o remorso a envolveu com unhas e dentes.

Preste ateno! disse ela. Foi tudo culpa minha! Eu queria mago-lo porque voc me deixou enterrada, mas j no quero mais. No posso torn-lo um menino forte e corajoso de novo, mas sinto muito e cuidarei de voc, meu querido Harry! Talvez voc pudesse se disfarar, vestindo uma saia, usando cabelo comprido e indo comigo para a High School. Eu cuidaria para que ningum o ameaasse. No bom se sentir ameaado, no ?

Harry lanou os braos ao redor dela, uma coisa que jamais teria feito em pblico se naquele momento no estivesse se sentindo to frgil.

No, isso odioso ele respondeu. Lucy, desculpe-me por ter sido to sujo com voc.

Lucy tambm o abraou e beijaram-se fraternamente, embora estivessem em plena luz do dia e andando pelo Lee Park.

Naquele instante, o feiticeiro Doloro de Lara colidiu com eles na calada. Lucy berrou e Harry desferiu um golpe com o mximo de fora possvel.

Preste ateno! disse Harry. Veja por onde esbarra...

Voc estragou o encantamento, Lucy, minha menina disse o encantador, endireitando o chapu. Nenhum encantamento se mantm se voc comea a beijar o seu irmo, pedindo desculpas. No futuro, tenha isso em mente, entendeu?

Mal acabou de falar, desapareceu na nuvem branca de um carro movido a vapor que passava, deixando Harry e Lucy olhando um para o outro.

Ento, Harry voltou a ser Harry e Lucy voltou a ser Lucy at a medula de seus pequenos ossos. Nessa hora, eles apertaram as mos com toda a sinceridade.

No dia seguinte, Lucy voltou High School e pediu desculpas por tudo que fizera.

Acho que no estava sendo eu mesma e isso jamais acontecer de novo! disse diretora, que concordou totalmente com ela.

E Lucy cumpriu o prometido. Harry, por outro lado, na primeira oportunidade, deu uma surra completa na caula dos impkins, mas no bateu com exagero: dosou determinao com misericrdia.

Esta a parte curiosa de toda a histria. Desde aquele dia em que o encantamento de dois centavos fez o seu trabalho, Harry foi mais gentil do que antes e Lucy mais corajosa. No consigo compreender o motivo, mas assim . Ele no a ameaa mais e ela no tem mais medo dele. Cada vez que ela faz alguma coisa corajosa para ele ou que ele faz algo gentil para ela, eles crescem mais parecidos, de modo que, quando forem adultos, ele poder muito bem ser chamado de Lucius e ela de Harriet, independentemente de todas as diferenas existentes entre os dois.

E todos os adultos os olham e admiram. Eles imaginam que aquelas brigas incessantes produziram essa melhora. Ningum suspeita da verdade, com exceo da diretora da High School, que participou de um curso completo de Magia Social, ministrado por um professor melhor do que o senhor Doloro de Lara. Por isso, ela entendeu tudo e no expulsou Lucy, apenas a repreendeu.

Harry agora o lder na escola. Lucy est na sexta srie e um modelo de moa. Gostaria que todas as diretoras aprendessem Magia em Girton.

* * *

E. NESBIT (o "E" de Edith) foi, provavelmente, a primeira autora infantil verdadeiramente moderna. Seus contos, escritos nos primeiros anos do sculo XX, exerceram grande influncia sobre muitos outros escritores, principalmente J. K. Rowling, que declara: "Identifico-me mais com Nesbit do que com qualquer outro escritor. Ela dizia que, por algum golpe de sorte, lembrava-se exatamente de como se sentia e pensava quando era criana." Com certeza, isso verdade na histria de Lucy e do mago. Edith Nesbit comeou a escrever para ganhar algum dinheiro, depois que a empresa do marido foi falncia e nasceu o seu primeiro filho. Suas primeiras histrias baseavam-se nas experincias da prpria infncia. E logo tornou-se conhecida com as sries de contos sobre as crianas de Bastable.

Em 1906, Nesbit comeou a escrever histrias curtas de fantasia e, atualmente, reconhecida como a primeira autora a cont-las em um estilo inteligente, no muito srio e bem-humorado. Evidentemente, logo se tornou bvio que ela aprendeu muita coisa sobre magia em livros nos quais crianas comuns, de vida cotidiana, so os heris. Os magos tambm aparecem em diversos de seus contos. Mas o professor de Lara o meu favorito.

Escola para o Extraordinrio Manly Wade Wellman

Bart esta viajando de trem para a sua nova escola. Estava prestes a tornar-se aluno na antiga e famosa escola americana de Carrington, no de admirar que esteja um pouco apreensivo. Sua jornada, desde a cidade onde vive at a zona rural, deu-lhe muito tempo para pensar sobre o que est por vir, e, por isso, toda sorte de pensamentos preocupantes cruza a sua imaginao. J est escurecendo quando Bart deixa a estao para caminhar em direo escola. Subitamente, surpreendido por Hoag, um jovem de rosto plido e olhos escuros, penetrantes, que surge das sombras, oferecendo-se para mostrar-lhe o caminho. Hoag outro aluno da escola, porm seguro aperto de mo e as coisas sinistras que diz ocorrerem por l so meras indicaes das terrveis foras das trevas que aguardam Bart em Carrington...

* * *

Bart Setwick, um rapaz de fisionomia sincera, vestindo um casaco de tweed bem talhado, desceu do trem em Carrington e permaneceu, por um momento, na plataforma. Essa pequena cidade e sua famosa escola seriam seu lar pelos prximos oito meses.

Mas qual seria o caminho para a escola? O sol j se havia posto e mal se podiam ver os letreiros luminosos das lojas na modesta rua principal de Carrington. Ele hesitou por um momento. Em seguida, ouviu uma voz suave, falando bem perto:

Voc vai para a escola?

Assustado, Bart Setwick virou-se. Na penumbra acinzentada, outro rapaz, parado e sorrindo suavemente, esperava uma resposta. O estranho deveria ter uns 19 anos o que significava maturidade para o jovem Setwick, que tinha apenas 15 , e seu rosto plido mostrava as linhas da perspiccia. Era alto, desajeitado e estava vestido com uma camisa de malha de gola alta e calas apertadas, fora de moda. Bart Setwick examinou-o com um rpido e analtico olhar, no estilo da jovem Amrica.

Acabei de chegar respondeu. Meu nome Setwick.

O meu Hoag. Uma mo delgada estendeu-se. Ao toc-la, Setwick sentiu-a fria como um sapo, dando uma idia de msculos semelhantes a arames de ao. Prazer em conhec-lo. Vim na esperana de que algum descesse do trem. Permita-me lhe oferecer uma carona at a escola.

Hoag virou-se com uma rapidez felina, considerando-se sua falta de jeito, e conduziu seu novo conhecido para fora da pequena construo de madeira que era a estao ferroviria.

Atrs dela, semi-oculta na sombra, havia uma velha charrete com um magro cavalo baio atrelado.

Suba! convidou Hoag, mas Bark Setwick hesitou por um momento. Sua gerao no estava acostumada a esse tipo de veculo. Hoag riu para si mesmo e disse: Oh, isso apenas uma das esquisitices da escola. Temos hbitos estranhos. Suba!

Setwick obedeceu.

E a minha mala?

Deixe-a a. O jovem alto ajeitou-se ao lado de Setwick e tomou as rdeas. Voc no precisar dela esta noite.

Hoag estalou a lngua, incitando o cavalo baio, que os conduziu por uma estrada ladeada por arbustos. O tropel do cavalo baio soava estranhamente amortecido.

Aps uma curva e outra, chegaram a um campo aberto. As luzes de Carrington, recm-acesas, contrapondo-se escurido da noite, assemelhavam-se a uma constelao assentada na Terra. Setwick sentiu um sinal de calafrio que no parecia combinar com uma noite de setembro.

Qual a distncia da cidade at a escola? Setwick perguntou.

Cinco ou oito quilmetros respondeu Hoag com sua voz calma. Essa distncia foi decidida pelos fundadores, que desejavam dificultar as idas dos estudantes cidade para se divertir.

Isso nos obrigou a descobrir os nossos prprios entretenimentos. O rosto plido de Hoag franziu-se num dbil sorriso, com ar de gracejo. Temos apenas uns poucos sujeitos legais hoje noite. A propsito, para que voc foi mandado?

Setwick franziu as sobrancelhas, desnorteado.

Ora, para ir escola. Meu pai me mandou.

Mas para qu? Voc no sabe que isso um preparatrio para uma priso de alto nvel? Metade de ns constituda de estpidos que precisam ser empurrados; a outra metade, de sujeitos que se meteram em escndalos em algum lugar. Como eu. Hoag sorriu novamente.

Setwick comeou a no gostar da companhia. Viajaram mais ou menos dois quilmetros em silncio antes que Hoag fizesse outra pergunta:

Voc vai igreja, Setwick?

O garoto no quis parecer puritano e respondeu com indiferena:

No freqentemente.

Voc consegue recitar alguma coisa da Bblia? A voz suave de Hoag adotou um tom ansioso.

No que eu saiba.

timo! Foi a resposta quase entusistica de Hoag. Como eu estava dizendo, existem apenas alguns de ns na escola esta noite; para ser exato, s trs. E no gostamos de quem fica fazendo citaes bblicas.

Setwick riu, tentando aparentar sabedoria e cinismo.

No Sat que tem a reputao de citar a Bblia, para seu prprio...

O que sabe sobre Sat? interrompeu-o Hoag, voltando-se inteiramente para Setvvick e analisando-o atentamente com seus intensos olhos escuros. Ento, respondendo prpria pergunta, disse: Sabe pouco, aposto! Gostaria de saber mais sobre ele?

Certamente respondeu Setwick, perguntando-se qual seria a brincadeira.

Eu lhe ensinarei daqui a algum tempo prometeu Hoag enigmtico, e o silncio se fez novamente.

A lua j estava quase alta quando puderam ver um escuro amontoado de construes.

Aqui estamos anunciou Hoag e, ento, lanando a cabea para trs, emitiu um uivo selvagem, que fez Setwick quase pular fora da charrete. Isso para que os outros saibam que estamos chegando explicou.

No mesmo instante, algo parecido com um eco do uivo, estridente, indistinto e sinistro, retornou. O cavalo vacilou em seu abafado trote e Hoag o fez voltar ao passo. Entraram numa estrada com crescidas ervas daninhas e em dois minutos estavam nos fundos do prdio mais prximo. Era de um cinza-plido sob o luar, com retngulos pintados de branco como janelas. Em nenhum lugar havia luz, mas, enquanto a charrete parava, Setwick viu a cabea de um jovem aparecer numa janela no andar trreo.

J de volta, Hoag? ouviu-se uma voz aguda e alta.

Sim, e trouxe um novo homem comigo respondeu o jovem segurando as rdeas. Um pouco excitado por ouvir que se referiam a ele como homem, Setwick desceu da charrete. Seu nome Setwick continuou Hoag. Este Andoff, Setwick, um grande amigo meu.

Andoff agitou a mo em saudao e pulou pela janela. Era rechonchudo, atarracado e ainda mais plido do que Hoag, com uma pequena testa abaixo do cabelo escorrido e de aspecto molhado. Os olhos negros eram bem separados e o rosto apresentava uma aparncia idiota. A jaqueta surrada era extremamente apertada para ele. Abaixo das velhas calas apareciam suas pernas nuas e os ps descalos. Andoff deveria ser um jovem crescido demais para 13 anos ou subdesenvolvido para 18.

Felcher deve chegar em meio segundo disse espontaneamente.

Entretenha Setwick enquanto guardo a charrete Hoag instruiu. Andoff concordou, fazendo um movimento com a cabea. Hoag juntava as cordas nas mos quando parou para uma palavra final. Nada de gracinhas ainda, Andoff advertiu, srio. Setwick, no deixe esse saco de banha provocar voc ou contar histrias fantsticas at que eu volte.

Andoff riu de forma estridente.

No, nada de histrias fantsticas prometeu. Voc faz o discurso, Hoag.

A charrete foi-se e Andoff virou seu gordo e sorridente rosto para o recm-chegado.

A vem Felcher anunciou. Felcher, este Setwick.

Felcher parecia ter surgido inesperadamente do nada.

Setwick no o tinha visto vir da esquina do prdio ou escapulir por uma porta ou janela. Era, provavelmente, da mesma idade de Hoag ou mais velho, mas to pequeno, que poderia quase ser ano. Sua mais notvel caracterstica era a cabeleira. Uma grenha enorme cobria sua cabea, escorria sobre o pescoo e orelhas, caindo despenteada sobre os brilhantes e profundos olhos. Uma penugem densa descia por seus lbios e bochechas, e um tufo espesso de cabelo encaracolado despontava pela gola desabotoada da suja camisa branca. A mo que ofereceu a Setwick era quase simiesca em sua pelagem e aspereza da palma. Era tambm fria e mida. Setwick lembrou-se da mesma sensao que tivera ao apertar a mo de Hoag.

Somos os nicos aqui at o momento observou Felcher.

Sua voz, surpreendentemente profunda e forte para to pequena criatura, soou como um grande sino.

Nem o diretor da escola est? perguntou Setwick, o que causou uma exploso de risos nos outros dois, o guincho pfaro de Andoff fazendo coro voz de sino de Felcher. Voltando, Hoag perguntou qual fora a graa.

Setwick est perguntando rosnou Felcher por que o diretor no est aqui para dar as boas-vindas a ele.

Mais risadas de pfaro e sinos.

Duvido de que Setwick acharia a resposta engraada comentou Hoag, rindo baixo.

Setwick, que era bem-educado, comeou a se enfurecer.

Digam o que est acontecendo advertiu, no que esperava ser um tom severo e, ento, participarei desse alegre coral.

Felcher e Andoff olharam fixamente para ele com olhos estranhamente ansiosos e esquadrinhadores. Em seguida, voltaram-se para Hoag.

Vamos contar a ele falaram ambos ao mesmo tempo, mas Hoag sacudiu a cabea negativamente.

Ainda no! Uma coisa de cada vez. Primeiro, vamos msica.

Comearam a cantar. A primeira estrofe da oferenda era obscena, sem nenhuma mscara de humor para redimi-la.

Setwick nunca fora suscetvel, porm sentia-se totalmente repugnado. A segunda estrofe parecia menos censurvel, mas dificilmente fazia algum sentido:

0 que aqui nos tentaram ensinar

agora inato aprendizado.

Cada um, resoluto e preparado,

veio conhecimento buscar.

Aquilo que de desastre foi chamado,

mestre, no nos matou no!

Aqui, imploramos nos governar,

pensamento, olho e mo.

Era algo semelhante a um hino, concluiu Setwick. Mas diante de que altar seriam tais hinos cantados? Hoag deve ter lido aquela pergunta em sua mente.

Voc mencionou Sat na charrete, quando vnhamos. Lembra-se? A astuta face de Hoag parecia uma mscara suspensa na semi-obscuridade, perto de Setwick. Bem, essa uma cano satanista.

E? Quem a comps? perguntou Setwick.

Eu informou Hoag. Gostou?

Setwick no respondeu. Tentou detectar algum tom de zombaria na voz de Hoag, mas sem sucesso.

O que perguntou finalmente tem todo esse canto satanista a ver com o diretor?

Muito respondeu Felcher em tom grave, retornando conversa.

Muito esganiou Andoff.

Hoag fitou cada um de seus amigos e, pela primeira vez, sorriu abertamente, revelando uma aparncia dentua.

Creio arriscou de forma calma, porm veemente que podemos permitir que Setwick tambm faa parte de nosso pequeno crculo.

Ento comearia aqui, concluiu o garoto, o trote a calouros sobre o qual tanto lera e ouvira falar. Ele tinha previsto tais eventos com alguma excitao e at ansiedade; porm, agora, no mais os desejava. No gostava de seus trs companheiros, nem do mtodo empregado, independentemente de quais fossem as intenes. Deu um ou dois passos para trs, como se fosse se retirar.

Com a rapidez de um dardo, Hoag e Andoff cercaram-no.

Aquelas mos frias agarraram-no e, repentinamente, sentiu-se tonto e enjoado. As coisas, iluminadas pelo luar, tornaram-se nebulosas e distorcidas.

Venha e sente-se, Setwick convidou Hoag, como se estivesse muito distante. Sua voz no se tornou mais alta ou rude, porm incorporava uma verdadeira ameaa. Sente-se naquele peitoril da janela! Ou preferiria que o carregssemos?

Naquele momento, Setwick s desejava livrar-se do toque daquelas mos, por isso, caminhou submisso at o peitoril, subiu e sentou-se. Atrs dele, a escurido de um aposento desconhecido, e, na altura de seus joelhos, reuniam-se os trs, que pareciam vidos para contar-lhe uma piada secreta.

O diretor era um respeitvel devoto comeou Hoag, como se fosse o porta-voz do grupo. Ele no gostava de demnios ou de adorao ao diabo. Assumiu claramente sua contrariedade quando chamou a nossa ateno na capela. Isso foi o comeo.

Isso mesmo concordou Andoff, levantando seu gordo e dissimulado rosto. Qualquer coisa que ele condenasse, ns queramos fazer. No faz sentido?

Faz sentido e compreensvel concluiu Felcher, enquanto sua peluda mo direita brincava no peitoril, perto da coxa de Setwick. Sob o luar, parecia uma grande e nervosa aranha.

Hoag prosseguiu:

No sei de nenhuma outra de suas proibies que fosse mais fcil ou divertida de transgredir.

Setwick percebeu que sua boca tornara-se seca. A lngua mal conseguia umedecer os lbios.

Voc quer dizer balbuciou que comearam a render culto aos demnios?

Hoag concordou satisfeito, como um professor diante de um aluno perspicaz.

Durante umas frias, consegui um livro sobre o culto. Ns trs o estudamos e, ento, comeamos com as cerimnias.

Aprendemos os encantamentos e feitios de frente para trs e de trs para a frente.

So duas vezes melhores de trs para a frente interveio Felcher. Andoff deu uma risadinha.

Tem alguma idia, Setwick disse Hoag quase abrolhando -, do que apareceu em nossa sala de estudos na primeira vez em que queimamos vinho e enxofre, dizendo as palavras apropriadas sobre eles?

Setwick no desejava saber. Cerrou os dentes.

Se est tentando me assustar rosnou , certamente no vai funcionar.

Os trs riram mais uma vez e comearam a expressar suas declaraes de boa f.

Juro que estamos dizendo a verdade, Setwick assegurou Hoag. Quer ouvir ou no quer?

Setwick percebeu que tinha pouca escolha.

Est bem, prossiga rendeu-se, perguntando-se se adiantaria arrastar-se para a escurido do aposento atrs do peitoril.

Hoag inclinou-se em direo a ele, com ar de confidencia.

O diretor nos pegou. Pegou em flagrante.

Livro aberto, fogo aceso cantarolou Felcher.

Ele tinha algo muito interessante a dizer sobre vingana divina continuou Hoag. Comeamos a rir dele. Elese enfureceu. Finalmente, tentou executar a vingana com as prprias mos e tentou nos punir, de uma forma muito primitiva, mas no funcionou.

Andoff ria exageradamente, mantendo os gordos braos cruzados sobre a barriga.

Ele pensou que havia funcionado complementou, murmurando , mas no funcionou.

Ningum poderia nos matar acrescentou Felcher. No depois dos juramentos que fizemos e das promessas que nos foram feitas.

Que promessas? Quem fez promessas a vocs? perguntou Setwick, que se esforava para no acreditar.

Aqueles que reverenciamos disse Felcher. Se ele estava simulando seriedade, foi uma suprema representao. Setwick, quando se deu conta, estava mais assustado do que desejaria demonstrar.

Quando tudo isso aconteceu? foi a pergunta seguinte.

Quando? repetiu Hoag. Oh, anos e anos atrs.

Anos e anos atrs repetiu Andoff.

Muito antes de voc ter nascido Felcher assegurou. Os trs estavam juntos, de p, as costas viradas para a lua, que iluminava o rosto de Setwick. Ele no conseguia distinguir claramente suas expresses. Porm, as trs vozes, a suave de Hoag, a profunda e vibrante de Felcher e a alta e estridente de Andoff, eram absolutamente srias.

Sei o que est questionando em seu ntimo declarou Hoag um tanto presunosamente. Como podemos, ns que falamos sobre muitos anos atrs, parecer to jovens? Admito que isso exige uma explicao. Hoag fez uma pausa, como se escolhesse as palavras. O tempo, para ns, no passa. Parou naquela noite, Setwick, na noite em que nosso diretor tentou pr fim a nossa adorao.

E a ns! disse, sorrindo maliciosamente, o enorme Andoff, com seu ar habitual de auto-congratulao sempre que completava uma frase de Hoag.

O culto continua disse Felcher, do mesmo jeito cantado, como j fizera , o culto continua e ns continuamos, tambm.

O que nos leva questo: voc quer compartilhar conosco, Setwick? Ser a quarta pessoa nesta animada pequena festa?

Hoag interveio, animado.

No, no quero respondeu Setwick spera e veementemente.

Eles silenciaram e recuaram um pouco em resposta, tornando-se apenas um trio de bizarras silhuetas contra o tnue luar. Setwick podia ver o brilho dos olhos que o fitavam por entre as sombras de seus rostos. Ele sabia que estava com medo, mas no o demonstrava. Num impulso de coragem, pulou da soleira para o cho. O orvalho da grama esborrifou suas meias entre os cordes do sapato e a bainha das calas.

Suponho que a minha vez de falar disse a eles de modo franco e correto. Serei breve. No gosto de vocs nem do que contaram. Estou indo embora deste lugar.

No vamos deixar! disse Hoag, calmo, porm enftico.

No vamos deixar! murmuraram em conjunto Andoff e Felcher, como se tivessem ensaiado milhares de vezes.

Setwick cerrou os punhos. Seu pai lhe havia ensinado a boxear. Ele avanou rpida e desembaraadamente em direo a Hoag e o golpeou fortemente no rosto. No momento seguinte, os trs precipitaram-se sobre ele. No pareciam golpear, bater ou fazer fora, porm ele caiu sob o ataque. Os ombros de seu casaco de tweed chafurdaram na areia e ele sentiu o cheiro das ervas esmagadas. Hoag, sobre ele, imobilizou-o com um joelho em cada bceps. Felcher e Andoff estavam perto, inclinados.

Com olhar raivoso e impotente, Setwick soube de uma vez por todas que aquilo no era nenhuma travessura de colegiais.

Traquinas experientes jamais se juntam ao redor de sua vtima com tal olhar fixo, de brilho esverdeado, bochechas cadavricas, lbios tremendo.

Hoag exps os caninos brancos. Sua lngua pontiaguda passou uma vez sobre eles.

Faca! falou por entre os dentes, e Felcher remexeu desajeitadamente em uma bolsa, entregando-lhe algo que cintilava sob o luar.

A magra mo de Hoag estendeu-se e recuou rapidamente.

Hoag tinha dirigido o olhar para cima, em direo a alguma coisa estranha confuso. Lamentando-se, com voz embargada e inarticulada, levantou-se repentinamente do extenuado peito

de Setwick. Na precipitao, Hoag caiu desajeitadamente para trs. Os outros acompanharam seu olhar chocado e, imediatamente, tambm se encolheram, amedrontados.

o mestre! gemeu Andoff.

Sim! retumbou uma spera e nova voz. Seu antigo diretor. Voltei para domin-los!

Apoiando-se sobre um cotovelo, o prostrado Setwick percebeu o que eles tinham visto: uma figura alta, robusta, em um sobretudo longo e escuro, encimada por um rosto quadrado e distorcido, e despenteados cachos de cabelos brancos. Os olhos brilhavam com luz prpria, plida e inflexvel. Conforme avanava, pesada e vagarosamente, emitia um riso abafado que revelava mortfera satisfao. Ainda que primeira vista, Setwick percebeu que a figura no tinha sombra.

Cheguei a tempo falou pomposamente o recm-chegado. Iam matar esse pobre menino.

Hoag se recuperara e defendeu-se:

Mat-lo? disse em voz trmula, parecendo servil diante da figura ameaadora. No. Ns teramos lhe dado a vida.

Voc chama isso de vida! exclamou o homem de sobretudo. Voc teria sugado o sangue dele para encher as suas prprias veias mortas, amaldioando-o em prol de sua corrupta condio. Mas estou aqui para impedi-lo!

Um dedo enorme, com proeminentes juntas, foi apontado e, ento, ouviu-se uma torrente de palavras. Aos nervos atordoados de Setwick, pareciam palavras do Novo Testamento ou talvez do Livro de Orao Comum. Imediatamente, lembrou-se da declarada averso de Hoag a tais citaes.

Seus trs ex-adversrios rodopiavam, como se em meio a um forte vento que causasse tremores de frio ou queimasse.

No, no! No faa isso! imploravam miseravelmente.

O velho rosto quadrado abriu-se em uma impiedosa gargalhada. O dedo de juntas salientes traou uma cruz no ar e o trio gemeu em coro como se o sinal tivesse sido traado sobre seus corpos por uma lngua de fogo.

Hoag caiu de joelhos.

No! soluou.

Eu tenho poder zombou o atormentador. Durante os anos de confinamento eu o conquistei e, agora, farei uso dele. Novamente, uma triunfante exploso de jbilo.

Sei que so amaldioados e no podem ser mortos, mas podem ser torturados! Farei com que rastejem como vermes antes que eu d tudo por terminado.

Setwick conseguiu ficar de p, vacilante. O sobretudo e a macia cabea inclinaram-se em sua direo.

Corra! estrondou um brutal bramido em seus ouvidos.

Saia daqui e agradea a Deus pela sorte!

Setwick correu, atordoado. Cambaleou por entre as ervas da pequena via de acesso escola, alcanou a estrada. distncia, brilhavam as luzes de Carrington. medida que voltava seu rosto em direo a elas e acelerava o passo, comeou a chorar soluante, histrica e exaustivamente.

S parou de correr quando chegou plataforma da estao.

Um relgio na rua soava 10 horas, um som profundo, no muito diferente da voz de Felcher. Setwick respirou profundamente, puxou o leno e enxugou o rosto. A mo estava tremendo, como uma haste de capim sob o vento.

Com licena! Ouviu uma animada saudao. Voc deve ser Setwick.

Como anteriormente, nessa mesma plataforma, ele se virou, rpido, sobressaltado. Bem perto estava um homem de ombros largos, com cerca de 30 anos, usando culos com armao de tartaruga. Vestia uma limpa jaqueta de Norfolk e calas. Um curto cachimbo feito de raiz de urze-branca pendia de uma boca bem-humorada.

Sou Collins, um dos professores da escola apresentou-se. Se voc Setwick, deixou-nos preocupados. Ns o espervamos no trem das sete, voc sabe. Passei para ver se poderia

encontr-lo.

Setwick recobrou um pouco de seu perdido flego.

Mas eu estive na escola murmurou, protestando. Sua mo, ainda tremendo, gesticulou vagamente em direo ao caminho pelo qual viera.

Collins jogou a cabea para trs e riu, desculpando-se em seguida.

Sinto muito disse. No h nada de engraado se voc andou tudo aquilo para nada. Veja bem, aquele antigo lugar est deserto. Era um local de reunio para os incorrigveis garotos ricos. Foi fechado h uns 50 anos, quando o diretor ficou louco e matou trs de seus alunos. Por coincidncia, o diretor morreu esta tarde no sanatrio do estado.

* * *

MANLY WADE WELLMAN tornou-se famoso por escrever alguns dos melhores contos sobrenaturais passados nas reas rurais norte-americanas. Seu conhecimento das tradies folclricas do interior dos Estados Unidos d a todas as suas histrias uma atmosfera realmente autntica e bem possvel que a arrepiante escola de Carrington seja fundamentada justamente num lugar desse tipo, no agreste da Carolina do Norte, onde o autor viveu e trabalhou por muitos anos. Manly Wade Wellman nasceu na frica, onde seu pai era oficial mdico, mas estudou num colgio norte-americano antes de tornar-se reprter. Sua fascinao pelo sobrenatural levou-o a escrever suas primeiras histrias para a famosa revista de horror Weird Tales, e elas se tornaram muito populares entre os leitores. Ele criou uma srie de contos retratando John Thurnstone, um detetive ocultista, incluindo o clssico A Escola da Escurido (1985), que trata de uma escola cuja freqncia demandaria ser muito corajoso. O diretor tambm era aterrorizante, no muito diferente do que voc encontrar no prximo conto.

O DIRETOR DEMNIO

Gillian Cross

Ningum sabe o nome dele, chamam-no simplesmente de "o Diretor". No h como evitar aqueles enormes olhos verdes quando ele retira os culos escuros e hipnotiza quem quer que lhe desobedea nem o calafrio quando ele pronuncia sua j famosa frase tanto para adultos quanto para crianas: "Espero que voc no seja uma pessoa que no cooperar comigo!" 0 Diretor Demnio dirige sua escola cujo nome usualmente no pronunciado, embora tenha sido chamada de St. Campions com um poder sinistro, como se planejasse dominar o mundo. Ele uma verso moderna do "Professor Maluco". Na verdade, tudo o que est entre ele e seus planos um esperto grupo de alunos que se reuniram para formar uma organizao conhecida como Sociedade para a Proteo das Nossas Vidas Contra Eles SPVCE. Na lista de professores com poderes mgicos, o Diretor Demnio est perto do topo. Nesta histria, o homem com os olhos verdes cheios de maldade usa o seu poder para deter um de seus dios de estimao: pessoas que se divertem...

* * *

O homem alto, do outro lado da rua, est diante da casa de Bernadine, olhando para o cartaz na janela.

REUNIO FINAL DE CARNAVAL

AQUI!!!

HOJE NOITE, S 19:30!

TODOS SO BEM-VINDOS!

SE VOC SE INTERESSAR, ESTEJA NESTE LUGAR!!!

Eu serei o pssaro de fogo disse Bernadine. Estava to excitada, que repetia aquilo para todo mundo.

O homem olhou zangado atravs dos seus culos escuros.

Carnavais so barulhentos e desordenados.

Bernadine mostrou-lhe uma expresso de desnimo, esquivando-se rapidamente em direo porta traseira. Com a reunio prestes a comear, a cozinha estava apinhada* de pessoas. A me de Bernadine agitava o gravador de fita acima da cabea.

Vou gravar todos vocs! Assim saberei quem prometeu o qu!

Todos riram. Quando ela o ligou, a porta traseira foi aberta.

O homem de culos escuros entrou com passo arrogante. Por que ele tinha vindo? Bernadine olhou fixamente para ele.

Olhe os seus modos sussurrou a me.

O pai a cutucou.

No fique a feito uma boba. V casa de Stevie buscar a sua fantasia.

A fantasia de pssaro de fogo! Esquecendo-se do homem de culos escuros, Bernadine esgueirou-se pela porta traseira.

Quando essa se fechou por trs dela, cessou todo o barulho na cozinha. O que era estranho, porque as reunies de carnaval jamais eram silenciosas. Ela espiou pela janela para ver o que estava acontecendo.

Todos na cozinha estavam muito quietos, olhando para o homem alto. Lentamente, ele tirou os culos escuros. Seus olhos verde-mar eram estranhos e brilhantes.

Vocs esto todos muito cansados murmurou, e subitamente todos comearam a bocejar. Estranho, pensou Bernadine.

Ela teria ficado ali para ver o que acontecia, mas no podia esperar. Queria estar na casa do primo Stevie, experimentando a fantasia de pssaro de fogo. Quem se importava com o homem de culos Escuros?

Quando voltou, a casa estava silenciosa. Abriu a porta dos fundos e encontrou a cozinha vazia, com exceo de seus pais.

O que est acontecendo? perguntou. A reunio de carnaval terminou cedo?

No haver carnaval respondeu a me, com uma voz surda, montona.

0 qu?

O pai concordou com um movimento de cabea.

Nada de bandas. Nada de blocos. Nada de danar na rua seu tom de voz era o mesmo. Carnavais no tm importncia e so destrutivos.

Bernadine arregalou os olhos.

Nada de carnaval?

No haver carnaval! disseram os pais ao mesmo tempo.

Nada de bandas. Nada de blocos. Nada de danar na rua.

Carnavais no tm importncia e so destrutivos.

Aquilo seria tudo que diriam. As mesmas palavras, repetidas vezes sem conta. Bernadine foi para a cama, mas sentia-se muito infeliz para dormir.

uma hora da manh, repentinamente, lembrou-se do gravador. Deslizando para fora da cama, esgueirou-se at a cozinha e o encontrou. Depois de voltar a fita, abaixou o volume e pressionou a tecla PLAY.

Tenuemente, ouviu risos e brincadeiras. Depois um silncio sbito e, em seguida, a voz do homem de culos escuros.

Vocs esto todos muito cansados...

O que ele pretendia?

Subitamente, o tom de voz mudou. Vocs faro o que eu disser falou asperamente. Esto entendendo?

Entendemos. A voz de todos que responderam parecia surda e mecnica, como a dos pais de Bernadine. Ela estremeceu.

No haver carnaval disse o homem alto. Nada de bandas. Nada de fantasias. Nada de blocos. Nada de danar na rua. Carnavais no tm importncia e so destrutivos.

As vozes mecnicas repetiam as palavras do homem de culos escuros.

Sentindo-se fraca, Bernadine sentou-se. Ela agora sabia o que havia acontecido. Ele os hipnotizara, para impedir o carnaval.

Mas o que ela poderia fazer?

Ficou ali, na cozinha, durante uma hora, sentada, pensando.

Quando voltou para a cama, j tinha um plano.

No dia seguinte, na escola, todos estavam tristes.

No haver carnaval resmungava Stevie. Isso tudo o que o meu pai dizia.

Seu amigo Nathan concordou:

Nada de danar na rua. Carnavais no tm importncia e so destrutivos.

Stevie suspirou.

Parece que voc ter de desistir de ser o pssaro de fogo, Bernie.

No, de forma alguma! Bernadine sacudiu a cabea. Podemos preparar o carnaval sem nossos pais. Sabemos o que temos de fazer!

Podemos enfeitar os carros abertos disse Nathan. E preparar os alto-falantes. Mas no podemos dirigir ou tocar a msica.

Bernadine sorriu, misteriosamente.

Deixem isso comigo e com Stevie. Ela afastou Stevie para longe dos outros.

Acha que consegue editar isto? murmurou...

E retirou a fita.

No dia do carnaval, Bernadine vestiu a fantasia de pssaro de fogo e correu escadas abaixo.

O pai franziu as sobrancelhas.

No haver carnaval!

Haver sim! respondeu Bernadine.

Esquivando-se da me, que tentava agarr-la, saiu porta afora. Ao longo de toda a rua, outras crianas fantasiadas tambm estavam se esquivando dos pais. Bernadine acenou do outro lado da rua, fazendo sinal para Stevie. Ele ps o gravador em funcionamento e a voz de Bernadine irrompeu dos alto-falantes.

"CARNAVAL!"

Ela olhou pela rua, para a casa do homem alto. Vamos, aparea!, pensou.

"CARNAVAL!" - explodiu a fita.

Uma janela do andar superior foi aberta do outro lado da rua.

O homem de culos escuros olhou para fora desdenhosamente.

Vocs perderam tempo, enfeitando esses carros disse. No haver carnaval. Ele tirou os culos.

Stevie olhou para Bernadine, mas ela sacudiu a cabea.

Ainda no.

O homem olhou fixamente por alguns instantes para a multido. Ento, abriu a boca.

Prestem ateno! disparou.

Todos se viraram para olh-lo e Bernadine acenou para Stevie. Agora!

Stevie ligou o gravador. Quando o homem comeou a falar, sua voz foi abafada por ela mesma. De todos os alto-falantes trovejavam as palavras que ele pronunciara na reunio. Editadas por Stevie.

HAVER... CARNAVAL... BANDAS... FANTASIAS... BLOCOS... DANA NA RUA.

O homem olhou fixamente para Bernadine. Ela podia ver que ele estava falando ainda mais alto, mas sem qualquer resultado. Os ensurdecedores alto-falantes continuavam a trombetear a sua voz.

CARNAVAIS TM... IMPORTNCIA!

Por toda a rua, os adultos estavam pegando suas fantasias de carnaval ou dando partida nos carros abertos, ou preparando instrumentos musicais.

HAVER... CARNAVAL...

Com um som de metais e uma exploso de danas, o bloco de carnaval partiu. O homem alto fechou a janela com um estrondo, desgostoso. Bernadine sorriu, arreganhando os dentes. Ento, comeou a danar, acompanhando a banda.

Ela era o mais feliz pssaro de fogo, jamais visto no carnaval.

* * *

GILLIAN CROSS, na verdade, trabalhou em uma escola. Por isso, sabe tudo sobre a maneira como alunos e professores interagem dentro e fora da sala de aula. O que apenas uma das razes pelas quais suas sries de livros sobre o Diretor Demnio se tornaram to populares, transformando-se at em uma srie televisiva e uma pea musical. Gillian estudou na Universidade Oxford e foi orientadora infantil antes de os prmios comearem a chegar por causa dos livros que escrevia durante o tempo livre. A idia do perverso diretor na verdade surgiu de sua filha, Elizabeth, e uma vez ela planejou fazer de um dos membros da SPVCE, Harvey, um homem capaz de alterar as prprias formas, transformando-se em objetos como um pote de ch ou um gravador de fita cassete. O sucesso de seus livros tambm se deve a sua habilidade para combinar fantasia com realidade e mostrar que possvel levar a melhor sobre foras realmente malignas... no importa a sua idade.

BANDOS DE FANTASMAS

Humphrey Carpenter

A noite de Walpurgis no uma noite comum e o senhor Majeika no um bruxo comum. E a noite de primeiro de maio, quando, segundo a tradio, bruxos e bruxas se renem para uma grande celebrao. Dizem que as Montanhas Harz, na Alemanha, so o ponto mais famoso do mundo para essa confraternizao anual de bruxos, com magos chegando de todos os lugares, voando em suas vassouras. 0 senhor Majeika um bruxo que ainda no completou seus Exames de Feitiaria e, assim sendo, precisa ganhar seu sustento na Escola de Saint Barty, onde professor da terceira srie. Seus alunos o adoram, principalmente Thomas Grey e sua amiga Melanie Brace-Girdle, os nicos que conhecem o segredo do senhor Majeika com exceo do odioso Hamish Bigmore. Tom e Melanie so um pouco como Harry Potter e a temvel Hermione Granger, e consideram que qualquer pessoa capaz de fazer aparecer um prato de batatas fritas ou transformar algum em um sapo precisa ter tanta magia nas pontas dos dedos quanto o professor Snape, de Hogwarts. (Casualmente, J. K. Rowling disse que a Noite das Bruxas era a sua noite favorita e que o professor Snape teve como base um de seus prprios professores embora ela no dissesse qual deles!) Neste conto, o diretor da Saint Barty, o senhor Potter, decidiu fazer uma excurso com os alunos ao Castelo Chutney na

Noite de Walpurgis. Com o senhor Majeika na excurso, a magia e as surpresas chegam rpido e em grande quantidade...

* * *Pobre senhor Majeika. Aquela era a sua primeira Noite de Walpurgis longe de Walpurgis e ele sabia que teria que comemor-la sozinho. Aquela era a noite mais importante do ano, l em cima nos campos dos cus de onde os bruxos e as bruxas chegam e para onde todos os originrios de Walpurgis sempre tentam voltar naquela noite, de modo a no perder as maravilhosas comemoraes as danas ao redor da Eterna Fogueira ao ar livre, a Ceia de Osso com Tutano e Brometo e, o mais importante de tudo, a viso inesquecvel do Crculo Tranado das Bruxas, executando a Dana das Sete Teias de Aranha. Mas, pobre senhor Majeika! No havia modo de ele

voltar a Walpurgis para as festividades daquele ano: fora banido para Britland e ali precisaria ficar, como professor, at ter provado a si mesmo merecer voltar para casa e terminar seus Exames de Bruxaria.

"Pobre Majeika!", pensou o Venervel Bruxo, meditando sobre a situao do companheiro ali em Britland. "Pobre Majeika! E a Noite de Walpurgis, e ele ficar sozinho."

"Pobre de mim", pensava o senhor Majeika, dentro de seu moinho. "Noite de Walpurgis e ficarei aqui sozinho." Mas ele decidira organizar suas prprias festividades de Walpurgis e fingiu estar de volta quele local, com todos os outros Bruxos e Bruxas. Preparou uma enorme fogueira ao ar livre, fazendo uma pilha elevada com flores silvestres de nomes desconhecidos e ervas daninhas que infestavam a cerca viva. Fez para si mesmo uma coroa de ervas, como as que todos estariam usando l em Walpurgis. Naquela noite, quando voltasse da escola, ele acenderia a fogueira e danaria ao redor dela luz do luar, entoando cnticos de Walpurgis.

Ele quase no agentava esperar!

Ah, Majeika disse o senhor Potter, quando o senhor Majeika apareceu aquela manh na Escola Saint Barty com seu triciclo hoje um dia muito especial, no?

Sim, sim, senhor Potter respondeu o senhor Majeika ansiosamente mas como o senhor sabia? Por um momento ele pensou que a Noite de Walpurgis fosse comemorada em Much Barty. Que emocionante aquilo seria! Ele poderia imaginar a senhora Brace-Girdle e as senhoras do vilarejo danando ao redor de uma fogueira; elas pareceriam quase to notveis quanto as bruxas do Crculo Tranado.

Como eu sabia, Majeika? perguntou o senhor Potter, perplexo. Porque eu mesmo preparei tudo.

Preparou, senhor Potter?

Sim, sim, Majeika, a excurso anual da escola. Voc no se esqueceu dela, no Majeika? Faremos o nosso passeio escolar anual, e este ano o destino o Castelo Chutney.

mesmo, senhor Potter? disse o senhor Majeika. Parece emocionante. No to emocionante quanto a Noite de Walpurgis, talvez, mas, assim mesmo, ainda bastante bom. Ele jamais havia visto um castelo em Britland, embora j tivesse visitado diversos em outras partes de Walpurgis, a maioria dos quais ocupada por gigantes e ogros bastante perigosos.

O Castelo Chutney explicou o senhor Potter est de p, Majeika, desde o sculo X.

E mesmo? respondeu o senhor Majeika. Ser que ele no gostaria de sentar?

Pobre Majeika disse o Venervel Bruxo ainda outra vez, mas agora em voz alta para um dos Bruxos Sniores, o Bruxo Thymes. Se pelo menos houvesse um modo de mant-lo em contato com as nossas festividades da Noite de Walpurgis aqui em cima...

O Bruxo Thymes coou a cabea com a ponta de sua varinha mgica:

Humm murmurou, pensativo. E se um de ns fosse l embaixo visit-lo?

O Venervel Bruxo estremeceu.

Bem, um de ns, no disse com firmeza. J fiz isso uma vez e foi terrvel. Ele se lembrava dos espinheiros e de todo aquele vento na descida. Possivelmente, algum dos mais jovens em Walpurgis, algum que estivesse disposto a pegar um pouco de ar fresco e ver o mundo.

Um nibus grande estava estacionado diante da Escola Saint Barry, com as palavras Excurses Medievais de Jasper, o Alegre, pintadas na lateral.

Todos prontos? perguntou o senhor Potter. O nibus nos levar at a estao, de onde, por uma composio especial, iremos de trem a vapor at a Encruzilhada Chutney; l, outro nibus nos pegar e nos deixar no Castelo Chutney. Todos a bordo!

Ainda no posso ir disse o motorista. Jasper, o Alegre, que o patro, no apareceu.

Mas j so 10 horas disse o senhor Potter, ansioso. Desse modo as crianas perdero o delicioso almoo que lhes foi preparado no Castelo Chutney.

Faamos o seguinte props a conselheira, a senhora Brace-Girdle, que viera acompanhar a partida da filha Melanie.

Eu esperarei aqui esse Jasper, o Alegre, e o levarei at l de carro. No h motivo para ele estragar o dia de vocs.

Muito gentil de sua parte, Bunty - agradeceu o senhor Potter. A senhora Brace-Girdle, como sempre, era a salvao. Vamos partir, todo mundo! Prxima parada, a estao.

Estao? perguntou o senhor Majeika. O que uma estao?

O Venervel Bruxo convocou uma reunio com todos os walpurgianos. Fez uma pequena preleo sobre como Majeika deveria estar se sentindo solitrio. E concluiu:

Quem gostaria de ir l embaixo, apenas por um dia e uma noite, e fazer do Aprendiz de Bruxo Majeika um walpurgiano realmente feliz, festejando com ele a Noite de Walpurgis?

Ningum ergueu a mo. (Wilhelmina Worlock havia sado para uma viagem de um dia at a parte posterior da lua e no estava ali para se oferecer como voluntria.)

Hum murmurou o Venervel Bruxo. J estou vendo. Nenhum voluntrio. Virou-se para o Bruxo Thymes. Isso torna as coisas um pouco mais difceis.

O Bruxo Thymes coou a cabea mais uma vez.

Bem, nem todos esto aqui, voc sabe disso. Um nome me vem mente. E ele at capaz de concordar em ir. Se quiser v-lo, teremos de descer at as Catacumbas...

Bem Melanie dirigiu-se ao senhor Majeika , agora voc j sabe como uma estao. Estavam na plataforma, aguardando o trem especial a vapor.

Sim concordou o senhor Majeika, hesitante, olhando a volta. Mas ainda no sei para que serve.

Eu lhe explicarei disse Thomas. E o seguinte...

Mas naquele momento ouviu-se o som agudo de um apito e 5eles puderam ver o trem a vapor bufando nos trilhos em direo a eles.

O senhor Majeika gritou, apavorado, e comeou a correr.

Um drago! um drago!

Thomas e Melanie correram atrs dele e o agarraram, arrastando-o para fora da sala de espera, onde estava tentando se esconder.

No um drago informou Melanie com firmeza. apenas um trem.

O trem entrou na estao e a mquina lanou uma nuvem de vapor ao passar por eles, com o fogo bramindo na cabine. O senhor Majeika estava todo trmulo de pavor.

Olhem! Fogo, fogo! E vapor, e fumaa! gritou. S drages respiram vapor e fumaa e tm um fogo assim no ventre.

Ah, a est voc, Majeika exclamou o senhor Potter, passeando pela plataforma. Entre!

No vou subir em um drago, senhor Potter estremeceu o senhor Majeika.

Oh, vai sim intrometeu-se Melanie com firmeza. Todos a bordo, senhor Majeika!

As Catacumbas walpurgianas so um dos lugares mais escuros, fantasmagricos e medonhos de toda a Walpurgis, cheias de teias de aranha e iluminadas por uma sinistra luz esverdeada.

At mesmo o Venervel Bruxo estava um pouco nervoso quando, junto com o Bruxo Thymes, andava s apalpadelas por uma passagem estreita.

Tem certeza de que este o lugar certo, Thymes? perguntou, ansioso. Eu no gostaria de entrar em um caminho errado, pois nunca se sabe o que se pode encontrar.

Sem dvida respondeu o Bruxo Thymes. Mas esta deve ser a cmara certa. Se bem me lembro, ele mora em um caixo de vidro aqui dentro. Enfiou a cabea por baixo de uma passagem estreita em arco e conduziu o Venervel Bruxo at uma gruta de aparncia particularmente sinistra.

Um caixo de vidro? perguntou o Venervel Bruxo. Voc disse caixo?

Ento, isso no emocionante, crianas? perguntou o senhor Potter, observando o caos a seu redor dentro do trem.

No momento em que o apito soou e o trem comeou a se movimentar em direo a Much Barty, irrompeu uma briga entre os integrantes da terceira srie. Muitos subiram nas prateleiras de bagagem e o restante ficou discutindo para ver quem poderia conseguir um lugar perto das janelas.

Ah, Majeika suspirou o senhor Potter, vendo o senhor Majeika cambalear nervoso pelo corredor , voc pode tomar conta disso. E o senhor Potter passou por ele, trancando-se no banheiro.

T-tomar c-conta, senhor Potter? disse o senhor Majeika, nervoso, olhando pela janela do corredor. C-como quiser.

Mas algum no deveria ficar de olho naquele drago? Ele ainda est cuspindo fogo. Sabe disso?

Thomas e Melanie, procurando lugares para sentar, encontraram um compartimento vazio. Vazio, isto , com exceo de Hamish Bigmore, ali sentado sozinho, jogando sal em um saco de salgadinhos crocantes.

Importa-se de nos juntarmos a voc, Hamish? perguntou Melanie.

E claro que me importo respondeu Hamish Bigmore. Estou com o bilhete de temporada de meu pai e ele sempre viaja de primeira classe. Saiam, antes que eu chame o guarda! E apontou para o aviso afixado na janela: Apenas para portadores de passagem de primeira classe.

O Bruxo Thymes encontrara o caixo de vidro e estava batendo nele.

Saia, saia, seja voc quem for! entoava.

O vidro estava sujo, e o Venervel Bruxo no conseguia ver quem ou o que estava dentro do caixo.

Tem certeza de que essa uma boa idia? perguntou, ansioso.

o feitio certo para faz-los levantar, voc sabe disse o Bruxo Thymes. E entoou mais uma vez: Saia, saia, seja voc quem for!

O caixo de vidro comeou a abrir, rangendo.

O senhor Majeika estava comeando a se acostumar com o fato de estarem viajando de drago. No final das contas, a pavorosa criatura ainda no os havia devorado. Mas ele podia imaginar como seria se o tivesse feito. Uma bocarra se abriria e, repentinamente, tudo ficaria escuro quando as pessoas fossem tragadas para o ventre do drago.

Naquele momento tudo ficou escuro. E o senhor Majeika berrou.

Est tudo bem, senhor Majeika! gritou Melanie.

O drago nos engoliu! berrou o senhor Majeika.

No, no engoliu explicou Thomas, pacientemente. S estamos dentro de um tnel, nada mais.

O senhor Potter emergiu do banheiro e comentou:

Ah, Majeika, parece que voc est se divertindo. Nada como um belo dia de passeio relaxante, no ?

No, senhor Potter estremeceu o senhor Majeika.

Saia, saia, seja voc quem for! entoou o Bruxo Thymes ainda mais vez e ergueu a ponta da sua vara de maneira que a luz esverdeada na gruta se tornasse um pouco mais forte.

V embora disse uma voz fraca vindo da abertura do caixo. No gosto de luz. Ela me deixa nervoso.

Saia, saia, seja voc quem for! repetiu o Bruxo Thymes.

No sairei replicou a voz fraca.

Oh, sim, voc sair insistiu o Bruxo Thymes com firmeza, colocando a mo na abertura. Saia da!

E para fora, muito a contragosto, veio um fantasminha magro, trmulo, de longos cabelos grisalhos e rosto to branco quanto uma folha de papel.

Esse disse o Bruxo Thymes ao Venervel Bruxo Phil, o Espectro.

O pequeno rosto plido fixou-se neles.

Phil, o Espectro anunciou o Venervel Bruxo , voc foi escolhido para fazer uma visita a Britland.

Por favor, no! estremeceu o fantasma, tentando voltar ao caixo de vidro. Mas o Bruxo Thymes segurou-o pelo pescoo.

uma ordem disse ao fantasma.

No! guinchou o fantasma, retorcendo-se tanto, que a cabea caiu. Isso sempre acontece quando fico aterrorizado, explicou, colocando-a de novo no lugar.

Preste ateno, Espectro o Venervel Bruxo falou com firmeza , voc no pode passar o resto de sua vida, digo, de sua morte, enfiado nesse miservel caixo. Saia e faa o trabalho

para o qual foi treinado! Espera-se que voc assombre pessoas.

Isso mesmo, Espectro acrescentou o Bruxo Thymes. J est mais do que na hora de voc assombrar.

Mas no quero assombrar ningum, senhor argumentou Phil, o Espectro, miseravelmente. Sou muito tmido. Eu costumava assustar um pouco, na surdina, mas eu mesmo ficava mortalmente aterrorizado. Por isso, me afastei e me escondi aqui, senhor. Apenas alguns outros fantasmas passam rapidamente por aqui, uma vez ou outra.

Voc um sujeitinho infeliz, no ? observou o Venervel Bruxo. Nunca se sente solitrio?

Bem, senhor respondeu Phil, o Espectro , sinto-me um pouco s, de vez em quando.

Exatamente isso! O Aprendiz de Bruxo Majeika est muito solitrio l embaixo, em Britland, e voc foi escolhido para ir l e alegr-lo, apenas por uma noite, a Noite de Walpurgis.

Mas, senhor...

No quero ouvir mais uma palavra, Espectro. Voc vai para l!

Mas ele no estava disposto a obedecer. De modo que o Bruxo Thymes e o Venervel Bruxo tiveram de empurrar o pobre Phil, o Espectro, buraco abaixo, pelo cu, de Walpurgis para Britland. A infeliz criatura berrava enquanto caa.

Se estivesse usando um lenol branco, como os fantasmas muitas vezes usam, ele teria funcionado como um pra-quedas.

Mas aquele era um fantasma do estilo medieval, uma vez que era da poca de Henrique VIII, e seus gibo e cales no funcionavam como algum tipo de freio contra o vento. Caiu muito depressa e aterrissou com um som surdo bem perto de Much Barty. Fantasmas nada pesam, de modo que ele no se machucou, mas tudo aquilo foi um choque terrvel.

Muuu! reagiu uma vaca bem atrs dele, e o pobre Phil, o Espectro, teria largado a sua pele, se a tivesse. Da forma como as coisas estavam, ele deu um pequeno grito e o livro de Instrues para walpurgianos em Britland caiu de seu bolso.

Aquilo fez com que se lembrasse: ele deveria verificar no livro as ordens que recebera. "Aps a chegada em Much Barty", leu, "apresente-se imediatamente ao Aprendiz de Bruxo Majeika, que geralmente pode ser encontrado na escola de Saint Barty".

Phil, o Espectro, preparou-se para pegar a estrada.

Bem murmurou a senhora Brace-Girdle, entrando em seu carro e batendo a porta , basta. Dane-se esse tal de Jasper, o Alegre, por no aparecer, deixando-me aqui plantada, esperando para nada. Para mim, chega! Ela acabara de engrenar o carro quando viu algum, em roupas medievais, andando pela estrada. Ento, a est voc! bufou a senhora Brace-Girdle, abaixando o vidro da janela. Boa hora para chegar, eu diria. Sente-se no banco traseiro. A porta no est trancada. E, de fato, no estava, mas Phil, o Espectro, no precisava abrir portas. Passou atravs daquela e se materializou no outro lado, sentando-se no banco de trs do carro da senhora Brace-Girdle. Nada havia no seu manual a respeito daquele habitante em Britland, mas ele reconhecera na senhora Brace-Girdle o ar de quem espera ser obedecido. Agora disse ela, partindo , em pouco tempo estaremos no Castelo Chutney.

No Castelo Chutney, o proprietrio, lorde Reg Pickles, olhava triste pela janela para o grupo da escola de Saint Barty que acabava de sair do nibus.

Outra maldita festa de escola, no! resmungou lorde Reg.

No se aborrea, benzinho ponderou a esposa, lady Lillie. Ajuda a pagar as contas, no , Reg?

L fora, o senhor Potter estava contando a histria do Castelo Chutney ao senhor Majeika.

O proprietrio atual lorde Reg Pickles, fundador das famosas Gordas Cebolas em Conserva para conhecedores de Bartyshire, iguarias que voc sem dvida j saboreou muitas vezes, no , Majeika?

Eu no, senhor Potter respondeu o senhor Majeika.

E aqui est ele, crianas chamou o senhor Potter, vendo lorde Reg emergir sob o arco da entrada. Um verdadeiro membro da Grande Aristocracia Britnica! Um Lorde de verdade, em carne e osso!

Prazer em conhec-las, crianas cumprimentou lorde Reg, segurando um pote de Gordas Cebolas em Conserva. Permitam-me apresentar-lhes minha esposa, lady Lillie.

Certo, pessoal falou lady Lillie. A loja de souvenirs ali. Preparem o dinheiro!

As crianas dispararam em busca dos souvenirs.

Puxa, isso no divertido, Majeika? perguntou o senhor Potter. Um verdadeiro fragmento de histria.

Sim, senhor Potter suspirou o senhor Majeika, obedientemente.

Ah, Majeika, voc poderia supervisionar a descarga das sacolas de pernoite?

Sacolas, senhor Potter? Que tipo de sacolas?

Maletas, meu querido amigo. No me diga que voc no trouxe uma? Certamente sabia que iramos passar a noite...

No, no sabia respondeu o senhor Majeika, infeliz, pensando em sua fogueira ao ar livre da Noite de Walpurgis, que agora ele jamais teria a oportunidade de acender.

A senhora Brace-Girdle, ainda de muito mau humor, dirigia com bastante rapidez. Dobrou uma esquina e, vendo um sinal vermelho sua frente, precisou frear bruscamente. O carro parou de repente e a cabea de Phil, o Espectro, caiu.

Havia um policial de servio no sinal, e a senhora Brace-Girdle abaixou o vidro da janela.

Senhor guarda, pode me indicar o caminho para o Castelo Chutney?

O policial aproximou-se e lhe explicou. Ento, a luz do sinal mudou para verde e, quando o carro passou, o policial tambm ficou um pouco esverdeado, pois vira uma pessoa no banco traseiro segurando a prpria cabea no colo. E essa mesma cabea virou-se e olhou-o.

Lady Lillie Pickles estava levando ou, melhor, arrastando, as crianas em uma excurso pelo castelo. Em especial, arrastava Hamish Bigmore, que ignorava todos os avisos de No Tocar.

Por aqui, crianas chamava , lembrem-se de no tocar nada.

Enquanto ela estava de costas, Hamish pegou um vaso antigo com uma etiqueta na qual se lia Chins, Dinastia Ming.

Meu pai tem coisas mais bonitas do que essa disse Hamish.

Lady Lillie se virou e viu o vaso nas mos do menino.

Eu disse para no mexeu falou rispidamente e deu-lhe um tapa na mo.

Ento, uma das outras crianas pulou sobre um cordo e sua ateno foi desviada. Hamish deixou cair o vaso, que se despedaou em milhes de cacos.

Oh, no! sussurrou Thomas.

O senhor Majeika, conduzindo o final da fila de crianas, conseguiu acompanhar o desastre. Em um instante, seu tufo de cabelo moveu-se, rpido, e, magicamente, o vaso consertou-se sozinho, flutuando at o lugar na mesa em que sempre estivera.

Apenas Thomas e Melanie viram aquilo. Olharam um para o outro.

Ele ainda ... comeou Melanie.

...mago, Melanie! completou Thomas.

Magnfico, no , Majeika? comentou o senhor Potter com o senhor Majeika, quando entraram no Salo Nobre.

Muito lindo, senhor Potter concordou o senhor Majeika. Eu morava em lugar enorme como esse, o senhor sabe.

Como assim? perguntou lorde Reg, impressionado. Junto com outros lordes e ladies, e tudo mais?

No explicou o senhor Majeika junto com outros bruxos e bruxas. Quero dizer... que era um lugar muito encantado.

mesmo? respondeu lorde Reg. claro que no somos lorde e lady desde o nascimento.

Verdade? disse o senhor Potter. Estou surpreso, senhor.

No afirmou lorde Reg. Quando a conheci, a patroa fazia cebolas em conserva em Poplar.

No diga observou o senhor Potter. Jamais teria imaginado... e voc, Majeika?

Certamente, tambm no, senhor Potter confirmou o senhor Majeika.

Claro que agora temos muita classe observou lorde Reg.

Sim, surpreendente o que cebolas em conserva podem fazer por um homem, senhor Potter. Ele deu um sonoro arroto.

Sim? perguntou o senhor Potter educadamente.

Exato disse lorde Reg, batendo no estmago. Quero dizer, depois que se inicia a digesto das cebolas, pode-se ser um bocado barulhento. Ele deu outro arroto.

Devo dizer comentou a senhora Brace-Girdle, entrando na estrada com a indicao Tara o Castelo Chutney que, para algum que se chama Jasper, o Alegre, voc incrivelmente silencioso.

No assento traseiro, Phil, o Espectro, ajustava mais uma vez a prpria cabea sobre os ombros. E no respondeu.

E tambm no mexa naquilo ali disse rispidamente lady Lillie, afastando Hamish Bigmore de um instrumento medieval de tortura, no qual ele estava tentando enfiar o p de um menino da terceira srie.

Bem, senhor observou o senhor Potter, olhando ao dor na masmorra , certamente tem tudo aqui.

Quase tudo, senhor Potter respondeu lorde Reg, abrindo o pote e oferecendo ao senhor Potter uma cebola em conserva. S nos falta uma coisa, que seria como a cobertura da conserva, por assim dizer, se o tivssemos.

E o que , lorde Pickles? perguntou o senhor Majeika.

Um fantasma residente respondeu