2012. segata, j.; mÁximo, m. e.; baldessar, m. j. olhares sobre a cibercultura - e-book

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  • Olharessobre a

    cibercultura

    OrganizaoJean Segata

    Maria Elisa MximoMaria Jos Baldessar

    ISB

    N: 9

    78-8

    5-00

    000-

    00-0

  • OrganizaoJean Segata

    Maria Elisa MximoMaria Jos Baldessar

    Olhares sobre a cibercultura

    1 edio

    FlorianpolisCCE/UFSC

    2012

  • Olhares sobre a cibercultura

    OrganizaoJean SegataMaria Elisa MximoMaria Jos Baldessar

    Projeto grfico e editoraoRodolfo Conceio

    Reviso geralMaria Jos Baldessar

    Universidade Federal de Santa CatarinaNcleo de Televiso Digital Interativa - NTDI

    CoordenaoMaria Jos Baldessar

    SubcoordenaoLuiz Alberto Scotto

    O45 Olhares sobre a cibercultura / organizao Jean Segata, Maria Elisa Mximo, Maria Jos Baldessar. 1. ed. Florianpolis : CCE/UFSC, 2012. 154 p. : il.

    ISBN: 978-85-00000-00-0 Inclui Referncias

    1. Cibercultura. 2. Tecnologia e civilizao. 3. Cultura e tecnologia. 4. Sociedade da informao. 5. Ciberespao Aspectos sociais. 6. Mdia Digital. I. Segata, Jean. II. Mximo, Maria Elisa. III. Baldessar, Maria Jos. CDU: 007

  • Comit editorial

    Dra. Ademilde Silveira SartoriDra. Adriana da Rosa AmaralDra. Aglair Maria BernardoDr. Alberto E. M. Gmez de la TorreDr. Alckmar Luiz dos SantosDr. Bruno de Vasconcelos CardosoDra. Ceclia Noriko Ito SaitoDra. Cllia Maria L. M. CampigottoDr. Edilson CazelotoDra. Edna Lcia SilvaDra. Elizete Vieira VitorinoDra. Eugnia Maria M. R. BarrichelloDr. Fabro Boaz SteibelDra. Geovana M. Lunardi MendesDra. Gilka Elvira Ponzi GirardelloDra. Gisela Granjeiro da Silva Castro Dra. Graziela Soares BianchiDr. Gregrio Jean Varvakis RadosDra. Karla Schuch BrunetDra. Lilian Carla MuneroDr. Lourival Jos Martins FilhoDra. Lynn Alves

    Dra. Magda Rodrigues da Cunha Dra. Maria Luiza P. Guimares FragosoDra. Maria Cristina R. Fonseca da SilvaDra. Maria Elisa MximoDra. Maria Jos BaldessarDra. Marileia Maria da Silva Dra. Marta Luiza StrambiDra. Martha Kaschny BorgesDr. Massimo di FeliceDr. Mauricius Martins FarinaDra. Najara Ferrari PinheiroDra. Nara Cristina SantosDr. Nelson de Luca PrettoDra. Neusa Maria Bongiovanni RibeiroDr. Othon Fernando Jambeiro BarbosaDra. Raquel Gomes de OliveiraDr. Rodrigo Garcez da SilvaDra. Snia Maria Martins de MeloDra. Tattiana TeixeiraDr. Theophilos RifiotisDra. Suely Dadalti FragosoDra. Yara Rondon Guasque Arajo

  • Sobre os autoresAna Lcia Migowski da SilvaMestranda do Programa de Ps-Graduao em Comunicao e Informao da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Desenvolve pesquisas focadas em prticas sociais na internet e tem experincia nas reas de arquitetura da informao e produo de contedos digitais.Contato: [email protected]

    ngela Pintor dos ReisDoutoranda pelo Programa de Estudos Ps-Graduados em Comunicao e Semi-tica da Pontifcia Universidade Catlica de SP, com pesquisa que discute as relaes entre comunicao e violncia silenciosa na produo miditica das organizaes empresariais na cibercultura. Membra do Centro Interdisciplinar de Pesquisas em Comunicao e Cibercultura, do PEPGCOS/PUC-SP. Assessorou a Presidncia da ABCiber em 2008 e 2009.Contato: [email protected]

    Cntia Silva da ConceioGraduanda do curso de Comunicao Social do Centro Universitrio Uninter.Contato: [email protected]

    Fausto AmaroMestrando do PPGCom da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Graduado em Comunicao Social, com habilitao em Relaes Pblicas pela Faculdade de Comunicao Social da UERJ.Contato: [email protected]

    Gabriela da Silva ZagoMestre e doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Comunicao e Informa-o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com bolsa CAPES. Desenvolve pesquisas nas reas de jornalismo e redes sociais.Contato: [email protected]

    Gustavo Guilherme da Matta Caetano LopesDoutorando em Comunicao e Linguagens pelo programa de Ps Graduao Stricto Sensu da Universidade Tuiuti do Paran. Mestre em Comunicao pela UTP, Ps-Graduado em Comunicao e Informao pela Universidade Tecnolgica Federal do Paran, graduado em Comunicao Social (PP) pela Hlio Alonso (FACHA-RJ) e

  • Olhares sobre a cibercultura

    em Fsica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experincia nas reas de Comunicao com nfase em Cibercultura, Novas Mdias, Transmdia, Marketing, Criao Impressa e Produo Grfica.Contato: [email protected]

    Kamila Regina de SouzaMestranda em Educao na Universidade do Estado de Santa Catarina, pela linha de pesquisa Educao, Comunicao e Tecnologia. Graduada em Pedagogia pelo Cen-tro Universitrio Municipal de So Jos. Membro do Grupo de Pesquisa em Educa-o, Comunicao e Tecnologia UDESC/CNPq.Contato: [email protected]

    Lindevania de Jesus Martins SilvaMestranda em Cultura e Sociedade na Universidade Federal do Maranho.Contato: [email protected]

    Luciana Silva dos SantosMestranda do Programa de Ps-Graduao em Educao da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro. Graduada em Pedagogia pela PUC-Rio. Participa do grupo de pesquisa em Educao e Mdia (GRUPEM), coordenado por Roslia Du-arte e vinculado ao Departamento de Educao da PUC-Rio.Contato: [email protected]

    Luis Eduardo TavaresGraduado na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo e com mestrado na mes-ma instituo. Trabalhou como pesquisador no Departamento de Sociologia da Uni-versidade de Sevilha, com uma bolsa MAEC-AECID.Contato: [email protected]

    Maria Cristina Palhares ValenciaDoutoranda e Mestre em Comunicao e Semitica pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo; Especialista em Lngua e Literatura pela Universidade So Judas Tadeu e Bacharel em Biblioteconomia e Cincia da Informao pela Fundao Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo. Tem experincia na rea de Cincia da Informao, com nfase em Tecnologias da Informao e Comunicao.Contato: [email protected]

  • Moiss SbardelottoMestre e doutorando em Cincias da Comunicao pela Unisinos, na linha de pes-quisa Midiatizao e Processos Sociais. Bolsista do CNPq. Graduado em Comuni-cao Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.Contato: [email protected]

    Natasha BachiniGraduada na Pontfica Universidade Catlica de So Paulo e mestranda na mesma instuio. Atualmente desenvolve sua pesquisa sobre as campanhas eleitorais e par-ticipao poltica online via Twitter nas eleies majoritrias de 2010.Contato: [email protected]

    Onol Neves de OliveiraGraduado em Histria pela Universidade Regional Integrada, especialista em Edu-cao a Distncia pela Faculdade de Tecnologia Senac, especialista em Mdias na Educao pela Universidade Federal do Rio Grande.Contato: [email protected]

    Raquel SouzaMestre em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Graduada em Comunicao Social - Jornalismo pela UFRN. Desenvolve pesquisa na rea de Antropologia e Comunicao, com nfase em Cibercultura, Ciberespao, Etnografia Virtual, Ciberativismo, Redes Sociais e Mdias Sociais.Contato: [email protected]

  • Olhares sobre a cibercultura

    Apresentao

    A presente obra rene trabalhos aprovados e apresentados durante o V Sim-psio da ABCiber, realizado entre os dias 16 e 18 de novembro de 2011, na Universidade Federal de Santa Catarina em Florianpolis, e indicados para publicao por um Comit editorial formado por professores/pesquisadores de diversas instituies. O Simpsio, organizado numa parceira entre a UFSC e a UDESC, teve na proposta de sua Comisso Cientfica o estabelecimento de um diferencial na histria dos simpsios da ABCiber, atravs de um processo de qua-lificao dos trabalhos submetidos ao Simpsio. Para tanto, a Comisso Cientfica convidou pesquisadores de vrias instituies do pas para integrarem um corpo de pareceristas responsveis pela avaliao, aprovao e recomendao dos trabalhos submetidos para essa publicao. Este processo que envolveu quarenta e quatro pa-receristas , resultou na avaliao de 358 trabalhos inscritos nas comunicaes co-ordenadas, mesas redondas, oficinas e performances; destes, 158 foram aprovados para serem apresentados e 11 para a publicao neste ebook. Cabe salientar, que cada trabalho foi analisado/avaliado por pelo menos dois pareceristas e, agora na sua publicao contou com minuciosa reviso dos autores, bem como autorizao para publicao.

    No contexto do V Simpsio, todos estes trabalhos estiveram organizados em torno de oito eixos temticos que, por sua vez, contemplam questes que esto sem-pre na pauta das discusses da rea de cibercultura. So eles: educao, processos de aprendizagem e cognio; jornalismo, mdia livre e arquiteturas da informao; pro-cessos/estticas em arte digital: circuit bending, instalaes interativas, curadorias distribudas; jogos, redes sociais, mobilidade e estruturas comunicacionais urbanas; meio ambiente, sustentabilidade e economias solidrias; comunicao cooperativa e prticas de produo e consumo online; articulaes polticas, govenamentais e no-governamentais no ciberespao; arquivos: taxonomias, preservao e direito autoral.

    Este livro foi concebido, portanto, como uma das marcas fundamentais do V Simpsio da ABCiber e resultado de um esforo coletivo que inspira muitos agra-decimentos. Devemos agradecer, primeiramente, aos pareceristas que aceitaram avaliar voluntariamente os trabalhos submetidos ao Simpsio. Alm disso, cabe-nos agradecer aos nossos alunos/bolsistas que somaram s suas atividades de pesquisa a tarefa de colaborar na organizao dos Anais: em especial, Dalila Petry Floria-ni (GRUPCIBER/UFSC), Amanda Melo (bolsista PIBIC, Jornalismo/UFSC) e Luis Gustavo Varela (bolsista do NECOM/IELUSC). Por fim, agradecemos a to-dos os autores que integram este ebook que, antes de tudo, levaram seus trabalhos ao debate durante o V Simpsio da ABCiber. Os artigos aqui reunidos evidenciam a amplitude e a diversidade caractersticas do campo de estudos da cibercultura no

  • Brasil, apontando para a centralidade que a comunidade cientifica brasileira vem conquistando no mbito das pesquisas acerca desta inevitvel articulao entre as tecnologias e a constituio do mundo contemporneo.

    Boa leitura.

    Jean SegataMaria Elisa MximoMaria Jos Baldessar

  • Olhares sobre a cibercultura

  • Sumrio

    Entre o pblico e o privado:Questes sobre autoria a partir da internet

    Lindevania de Jesus Martins Silva

    O BlogEbook Grtis como ferramentapara o download de e-books

    Gustavo Guilherme da Matta Caetano LopesCntia Silva da Conceio

    O fake e o Twitter: Identidade e estigma no movimentosocial da hashtag #ForaMicarla em Natal-RN

    Raquel Souza

    Breves apontamentos e contribuies tericas deMcLuhan para o estudo de vlogs

    Fausto Amaro

    A transparncia pblica na era digitalLuis Eduardo TavaresNatasha Bachini Pereira

    Comunicao e violncia silenciosa:Relaes de dominao espelhadas na produomiditica das organizaes empresariais na cibercultura

    Angela Pintor dos Reis

    15

    25

    39

    53

    69

    83

  • A Cibercultura como campo de conhecimento:Constituio a partir do campo da Comunicao

    Maria Cristina Palhares Valencia

    'HXVGLJLWDOUHOLJLRVLGDGHRQOLQHHOFRQHFWDGRUm estudo sobre a interface em sites catlicos

    Moiss Sbardelotto

    Jogos digitais:Motivao para a aprendizagem contepornea

    Onol Neves de OliveiraKamila Regina de Souza

    Implicaes do status de nativos digitais paraa relao entre geraes (professor e aluno)no contexto escolar

    Luciana Silva dos Santos

    Imagens nas redes sociais mveis:Mdias locativas e memrias coletivas sobre lugares

    Ana Lcia Migowski da SilvaGabriela da Silva Zago

    95

    103

    117

    Olhares sobre a cibercultura

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  • Olhares sobre a cibercultura

    15

    Entre o pblico e o privadoQuestes sobre autoria a partir da internet

    Lindevania de Jesus Martins SilvaResumoEste artigo discute os efeitos que as operaes permitidas pela internet teriam de-flagrado nas concepes sobre autoria de textos escritos, ampliando e atualizando questes que lhe antecederam, bem como trazendo novas problemticas. Foca nas relaes entre a abundncia e escassez, na tenso entre profissionais e amadores, na naturalizao da participao, colaborao e compartilhamento, bem como no aprofundamento da crtica aos Direitos Autorais e Copyright. Por fim, trata do au-mento de uma percepo da existncia de uma esfera pblica e da atuao na mesma. Conclui, enfim, que as questes levantadas pela autoria, a partir da internet, realizam um movimento inverso ao individualismo, restaurando o senso comunitrio e am-pliando o espao pblico.

    Palavras-Chave: Autoria; Internet; Espao pblico.

    AbstractThis paper discusses the effects internets operations would have deflagrated in the conceptions of authorship of written texts, expanding and upgrading issues that preceded it, as well as bringing new problems. It focuses on relations between abun-dance and scarcity, the tension between professional and amateur people, on the naturalization of participation, collaboration and sharing, as well as deepening criti-cism on Direitos Autorais and Copyright. Finally, it addresses on the awareness of the existence of a public sphere and the acting in it. It concludes, eventually, the questions raised by authorship, from internet, perform a reverse movement to indi-vidualism, restoring a sense of community and expanding the public space.

    Keywords: Autorship; Internet; Public space.

  • 161. Introduo

    A escrita uma coisa poltica. No por ser um instrumento de poder ou a via real de um saber, mas porque seu gesto pertence constituio esttica da comunidade e se presta, acima de tudo, a alegorizar essa constituio (RANCIERE, 1995, p. 7), informando a identidade dessa comunidade. A ateno apaixonada que as sociedades escolarizadas dedicam ao aprendizado da escrita revelam que escrever no apenas o exerccio de uma competncia, mas uma forma de ocupar e dar sentido ao sensvel (Ranciere, 1995).

    A escrita um mito moderno. O mundo em que se vive e morre nela ancorado e, no que se refere internet, no diferente. ela que permite a construo e o ingresso no mundo virtual, onde as identidades se estabelecem, mais que atravs de imagens, atravs do que escrito, onde teclar rpido ou usar as palavras de modo elegante e eficiente equivale a possuir um corpo atraente no mundo fsico.

    O presente estudo pretende tratar sobre o fenmeno da autoria a partir da inter-net. No se tratar aqui de qualquer autoria, mas apenas da autoria de textos escritos, independente de sua classificao: literrio, jornalstico, cientfico, etc. Tal recorte se justifica tanto pela importncia da escrita na constituio de nossa sociedade, quanto pelo fato deste ser um tipo de autoria acessvel para um grande nmero de pessoas, seja pela maior simplicidade em criar um texto que uma msica, um filme, um programa de computador, etc., ou pelo pouco ou nulo investimento financeiro que requer.

    2 . O autorTextos usam como matria-prima algo que pertence a todos:Partindo desse princpio que, na dcada de 60, Roland Barthes (2004) decretou

    a morte de um autor que nada mais faria que misturar escritas que lhe antecederam, construindo um texto composto por um tecido de citaoes. Afastando qualquer reivindicao de originalidade, afirmou que a emergncia do autor estaria ligada ao crescente prestgio do indivduo ocorrido na modernidade e que escrever, partindo de uma impessoalidade prvia, seria impossvel: pois a linguagem que fala, no o autor.

    A concepo de Barthes sobre o autor se aproxima daquelas j formuladas na idade mdia, quando Deus era o substituto de linguagem (BURKE, 1995). Com efeito, se para Barthes o autor aquele atravs do qual a linguagem age, na viso medieval, o autor seria aquele atravs do qual Deus agiria. Assim, tambm no ca-beria qualquer reclame originalidade, na medida em que os textos derivariam da criatividade e autoridade divina para o qual a mo do escriba seria mero instrumento.

    Em ambos os casos, os textos no se originam nem findam com a ao individu-al. Seja porque a linguagem que fala atravs do autor, seja porque Deus. O que transforma os textos mais em uma questo pblica, que privada.

  • Olhares sobre a cibercultura

    173. Autoria a partir da internet

    As teorias de Barthes, bastante discutidas e criticadas mundialmente, com o sur-gimento da internet encontraram o exemplo perfeito, pois esta se tornou, por ex-celncia, o local da experimentao da linguagem escrita. Digitalizados, os textos se tornaram disponveis para vrios tipos de manipulaes, emendas, edies. Em grupo, as pessoas puderem se reunir, ainda que espaos fsicos muito distantes, para produzir e compartilhar um imenso volume de textos, tanto disponibilizados espon-taneamente por aqueles que os escreveram, quantos disponibilizados por outros sem aprovao ou conhecimento dos autores.

    Os textos transitam na internet com uma dupla acelerao: de velocidade e de quantidade. Estes movimentos sintetizam aquilo que a internet : apenas um con-junto de acordos sobre como mover dados entre dois pontos(SHIRKY, 2011).

    3.1. Abundncia Versus EscassezPublicar um texto sempre foi uma atividade cara. Um manuscrito era o resultado

    de uma atividade longa e dispendiosa financeiramente, pelo que poucos poderiam se dar ao luxo de pagar por ela e pelo que o copista se ocupava principalmente dos clsssicos, que poderiam garantir o retorno do investimento. O invento de Guten-berg barateou a produo de livros, os tornando acessveis para parcelas sociais que antes no podiam pagar por eles, aumentando vertiginosamente o nmero de textos em circulao e permitindo o surgimento de novidades: novos autores, o romance, lucro, etc. No entanto, foi a tecnologia mais recente que eliminou por completo custo da publicao.

    Com a possibilidade de disponibilizar um texto para um amplo pblico atravs de um mero clique, a autopublicao, a internet encorajou os indivduos a produzir nova informao e a interagir com a informao j existente, em lugar de apenas consumi-la de forma passiva. Como resultado desse estmulo, o crescente excesso de informao na web.

    Ocorre que a abundncia ou escassez de algo tm uma estreita relao com o valor que lhe atribudo. Quando uma coisa rara, acredita-se que mais valiosa do que algo que abundante, sem que seja avaliado quanto do seu valor est condicio-nado a sua escassez. E quando algo que foi raro se torna abundante, deflagra uma desorientao entre os que se acostumaram escassez (SHIRKY, 2011). O recurso da autopublicao teria feito com que aqueles acostumados publicao tradicional, impressa, tomassem a publicao virtual por amadores como algo menor e frvolo. No entanto, a publicao tradicional ocorria dentro de um contexto de comrcio, envolvendo srios riscos financeiros em funo do alto custo da atividade. Quando o custo da publicao removido, como ocorre na internet, o risco tambm desapa-rece, demonstrando que o valor atrelado aquela atividade era absolutamente casual.

    Da se percebe que a abundncia ameaa o mercado e a atividade financeira. Se acessvel a todos, o valor mercantil de uma publicao desaparece e tende a ser zero. Assim, somente atravs da produo de uma nova escassez, ainda que artificial, se

  • 18pode conferir s mercadorias o valor incomparvel, imensurvel, particular e nico das obras de arte, que no possuem equivalente e podem ser postas venda por pre-os exorbitantes (GORZ, 2005, p. 11).

    3.2. Tenso entre Profissionais e AmadoresIntegrava a utopia iluminista, segundo Chartier (1998), o sonho de que os ho-

    mens pudessem, a partir de suas experincias privadas, produzir um espao co-mum de troca crtica de opinies e ideias, bem como sonhava Kant com a pos-sibilidade de que os indivduos pudessem ser leitores e autores, emitindo juzos prprios sobre as instituies de seu tempo e refletindo sobre os juzos de seus semelhantes.

    As propostas iluministas e kantianas, se concretizadas, implicariam numa monta-nha de textos. Implicariam, ainda, na possibilidade de um total dissensso, em razo da heterogeneidade dos que assim pudessem emitir seus julgamentos.

    Em 1845, Edargd Allan Poe afirmou que um dos maiores males da terra era a en-xurrada de livros em todos os campos do conhecimento, pois estes se apresentavam como obstculos para a obteno da informao correta, apresentando ao leitor pi-lhas de lixo que precisavam ser removidas para que fossem encontradas sobras utis (SHIRKY, 2011).

    O sonho dos iluministas e de Kant parece ter se realizado. E o discurso de Poe, atualizado, continua a ser reproduzido. Keen (2009) aponta que o ritmo alucinante de autopublicao na internet corrompe e confude a opinio pblica sobre todas as coisas, misturando notcias crveis de jornalistas profissionais e verses nada con-fiveis de amadores. Afirma que a Wikipedia, produzida por amadores de forma annima, uma enciclopdia em que qualquer um com um polegar opositor e com mais de cinco anos de idade pode publicat qualquer coisa, sem qualquer exame sobre sua exatido.

    Seu discurso no isolado. De fato, acompanha a crescente produo de textos na internet uma tambm crescente acusao de baixa qualidade, dirigida maioria do material que encontrada em meio virtual. Aparentemente, a liberdade para produ-zir seria inversamente proporcial qualidade do que publicado.

    Admitindo problemas relativos qualidade, Shirky (2011) afirma que no este o ponto, que, de fato, mais importa. Sustenta que mais importante liberdade de participar da discusso conferida a um nmero cada vez maior de pessoas, o que teria efeitos compensatrios quanto alegada baixa qualidade. Adicionalmente, aponta a importncia das experimentaes possibilitadas pelos custos reduzidos para a pro-duo. A reduo de custos, especialmente quando se trata da comunicao, susten-ta o autor, permitiria novas experincias naquilo que pensado e dito, aumentando tambm o nmero de criadores e sua diversidade. Sob essa tica, aponta o surgi-mento de jornais, romances e publicaes cientficas propiciadas pelo surgimento da prensa de Gutenberg e defende que, se a abundncia implica numa rpida queda da qualidade mdia, com o tempo, a experimentao traz resultados, a diversidade

  • Olhares sobre a cibercultura

    19alarga os limites do possvel e o melhor trabalho se torna melhor do que aquele que havia antes.

    O autor tambm rebate as crticas de Keen (2009) ao amadorismo. Afirma que se os amadores frequentemente se diferenciam dos profissionais por habilidade, com mais frequncia ainda se distinguem dos mesmos por motivao. Os primeiros usa-riam o espao pblico para alcanar pessoas iguais a si mesmos, no a mais ampla audincia, como o fazem os profissionais, ancorados no valor existente no fato de pessoas comuns partilharem o que sabem e de fazerem algo que gera um sentimento de participao e generosidade.

    As acusaes de Keen (2009) contra a qualidade do que produzido por des-qualificados na internet explicitam um outro fato: o de produtores profissionais de textos se incomodarem com a atividade dos amadores. Os segundos no apenas competem no mesmo espao por ateno, ameaando a atividade econmica dos primeiros. Mas, como se no bastasse, rompem com uma tradio que designa o lugar que pertence a cada um, misturando a diviso das ocupaes e identidades: os amadores deixam de ser apenas consumidores passivos e os profissionais podem passar a ser com os mesmos confundidos A atividade dos amadores, ainda, afronta uma hierarquia que assinala um inferior e um superior, trazendo uma perturbao que Rancire (2003) denominaria como heresia democrtica: a chegada ao palco de uma voz popular que recusa qualquer tentativa de conter suas possibilidades de expresso e rejeita as distribuies tradicionais de papis e competncias.

    3.3 Participao, Colaborao e Compartilhamento NaturalizadosA rede mundial de computadores , por excelncia, um espao de participao,

    colaborao e compartilhamento cujo sucesso, enquanto propiciadora de tais ativi-dades, est diretamente relacionado ao nmero e engajamento de participantes que, frequentemente, sequer conhecem de fato um ao outro. Da se infere que mesmo quando uma ao se desenvolve de forma individual, recebe valor oriundo da presen-a de outros indivduos e da interao com os mesmos.

    Se as limitaes e dificuldades para a publicao puderam originar uma classe de profissionais com acesso privilegiado ao discurso pblico, o computador, devi-damente conectado rede, tornou possvel ao discurso pblico contar com a mais ampla participao. Tornou possvel, principalmente, a elaborao de discursos ou textos gerados de forma coletiva, muitos de natureza annima, como a Wikipedia.

    Pode-se usar a televiso para demonstrar como a internet propicia um ambiente social que sugere participao, colaborao e compartilhamento. A televiso teria tido um papel decisivo na troca das atividades sociais pelas solitrias, fazendo com que os indivduos subestimassem a importncia das relaoes interpessoais para uma vida satisfatria, superinvestindo em atividades geradoras de renda e subinvestindo em atividades relacionais (SHIRKY, 2011). A internet teria ativado um desejo laten-te pela conexo com o outro, que persistiria mesmo quando a mquina desligada, invandindo o mundo fsico.

  • 20Shirky (2011) identifica quatro esferas de compartilhamento: a pessoal, que ocor-

    re quando algum posta, por exemplo, em seu blog na internet; a comum, que ocorre quando existe um grupo de colaboradores; a pblica, quando um grupo de colabora-dores deseja criar ativamente um recurso pblico; e a cvica, quando um grupo tenta ativamente transformar a sociedade. Se na primeira esfera o valor de compartilhar distribudo apenas entre os participantes imediatos, na ltima esfera o comparti-lhamento visa gerar uma mudana real na sociedade na qual os participantes esto inseridos.

    Os autores do blog coletivo Trezentos1 declaram que a vida no se limita s rela-es de mercado, que gostam de compartilhar ideias e que se voltam contra aqueles desejosos por diminuir ou bloquear a liberdade e a diversidade cultural. O site Baixa Cultura2 se define como espao de divulgao e criao de conceitos, acontecimen-tos e propostas ligados cultura livre e contracultura digital, declarando que lhe interessa tudo que contribui para a construo de um contexto cultural mais acess-vel para criadores e espectadores, mecionando explicitamente o download e a cpia livre.

    A simplicidade das operaoes de escrever, digitalizar, publicar e compartilhar fez com que elas parecessem naturais aos olhos de seus usurios. No entanto, os Di-reitos Autorais e o Copyright no cansam de fazer lembrar que tais atividades no so naturais, mais culturais, devendo se sujeitar ao controle de uma economia de mercado e sua proteo jurdica.

    assim que, em sites como 300, Baixa Cultura, etc., existe a expectativa de que as discusses travadas na rede em torno de temas ligados aos direitos autorais e copyright, por exemplo, possam deflagrar efeitos reais nos documentos jurdicos que os asseguram. Assim, efeitos de aoes cuja origem se encontra na rede mundial de computadores poderiam atingir at mesmo pessoas que nunca houvessem tido qualquer contato com ela.

    3.4 Aprofundamento da Crtica aos Direitos Autorais e CopyrightDireitos Autorais e o Copyright so instrumentos jurdicos, leis escritas, que

    definem e regulam direitos de autores de obras artsticas, literrias ou cientficas e o acesso a elas. Estabelecem prazos dentro dos quais os autores podem explorar suas obras de forma exclusiva, impedindo o acesso de terceiros s mesmas. Quando o prazo finda, a obra torna-se pblica, o que faz com um bem, aps ter sido individual, venha a ser comum.

    Leis so projetos polticos e constituem, assim como a digitalizao, formas de desmaterializao dos textos que protegem, que so destacados da realidade. O que protegido sempre um ideal. Um ideal no qual vigoram, entre outros, a escassez, o profissionalismo e ideia de originalidade.

    Alm de coisa poltica, a escrita tambm uma coisa cultural e econmica. E

    1 Disponvel em: http://www.trezentos.blog.br/?page_id=2. Acessado em: 20.07.2011.2 Disponvel em: http://baixacultura.org/baixacultura/. Acessado em 20.07.2011.

  • Olhares sobre a cibercultura

    21protegida pelo Direito. O fundamento dessa proteo reside numa suposta origina-lidade. No entanto, se o autor no fala por si mesmo, sendo antes um instrumento da linguagem, sem que se possa falar em originalidade, como quer Barthes (2004), a proteo dada a ele perde seu sentido.

    Os Direitos Autorais e o Copyright se revelaram como barreiras para o que a internet oferece de mais atraente: a possibilidade de participao e compartilhamen-to. A barreira que tais institutos representam se liga diretamente a sua capacidade de punir atravs de processos reais algumas das aes mais comuns na internet: a manipulao e compartilhamento de textos sem autorizao de seus autores. Isto ilustra exemplarmente o fato de que a rede mundial de computadores no pode mais ser encarada como desvinculada do mundo fsico. No possvel isolar o mundo on line do mundo off line. Ou sob outro ponto de vista, pode-se dizer que as questes que a internet traz permanecem mesmo quando o computador desligado.

    O advento dos computadores deflagrou uma crise nos Direitos Autorais e Co-pyright, tornando possvel o surgimento de propostas alternativas, que tanto retira-vam barreiras para sua utilizao, como Copyleft (STALLMAN, 2002)) e Creative Commons (LESSIG 2004), quanto o aboliam de forma definitiva (SMIERS, 2006). Lessig (2004) enftico ao afirmar que as regras jurdicas definidoras dos direitos autorais e copyright no fazem sentido quando se considera as atuais tecnologias digitais.

    3.5 Aumento da percepo e atuao numa esfera pblicaArendt (2007), falando a partir do paradigma greco-romano, no qual a esfera

    pblica seria o reino da liberdade, regida pela ao e pelo discurso, enquanto a esfera privada seria o reindo da necessidade, daquilo que tornava possvel a sobrevivncia, postula que tais esferas foram esvaziadas com o surgimento do social, quando o que era privado passou a ser preocupao de todos e o que era pblico foi esquecido. A partir de ento, o que as pessoas passaram a possuir em comum eram apenas seus interesses privados, reduzidos os laos societrios e a possibilidade de ao poltica.

    Condorcet, ao se referir aos efeitos da prensa de Gutemberg, assegurou que tal inveno, multiplicando indefinidamente e com pouco gasto os exemplares de uma mesma obra, permitiria que cada homem pudesse receber instruo pelos livros no silncio e na solido, mas alertou que a mesma inveno afastaria esse homem do exame crtico das ideias, do julgamento das opinies e das paixes oriundas e exalta-das pela fala viva entre os homens (CHARTIER, 2003).

    Diferente da prensa de Gutemberg, cujo surgimento j se vincula explorao individual, a internet foi construda como um bem comum. Se nela se ingressa como indivduo, gradativamente, esta singularidade confrontada ante a um crescente senso da existncia de iguais no ciberespao, permitindo, inclusive, modos de exis-tncia em conjunto e ao poltica.

    Jordan (1999), tratando especificamente sobre a distribuio de poder na inter-net, fala de trs nveis interconectados, permeados por diferentes tipos de poder: um

  • 22nvel individual, no qual aponta a internet como playground do indivduo, no qual este se senta a frente do computador, digitando comandos e realizando escolhas; um nvel social, entendendo-se a internet como um lugar no qual uma comunidade possui existncia e localizao, no qual muitos, aps algum no espao virtual, passa a entender que a comunidade possui direitos alm do indivduo; e um terceiro nvel no qual a internet compreendida como uma sociedade imaginada, uma nao digital, na qual os indivduos reconhecem entre si um comum compromentimento com a vida virtual.

    imaginada, segundo o mesmo autor, que cita Benedict Anderson, em funo da impossibilidade de todos os participantes dessa sociedade virem a se encontrar e se conhecer, o que os faz apenas imaginar a existncia de algum tipo de afinidade, bem como em razo de, qualquer que sejam as diferenas entre os seus membros, serem eles concebidos como uma profunda e horizontal fraternidade, partilhando o mesmo projeto.

    Assim, o indivduo ingressa singularmente no mundo virtual onde descobre exis-tncia dos outros, com os quais interage atravs da troca de contedo, principalmen-te escritos. Impedimentos ou tentativas de restrioes para essa troca de contedo, como o so a Lei de Direitos Autorais e o Copyright, fazem com que as discusses sobre a esfera pblica possam vir tona, atravs da resistncia individuais e de gru-pos que descobrem a existncia da comunidade.

    4. ConclusoAs manipulaes e modos de construo de textos pela internet permitidas, en-

    caradas como naturais pelos seus usurios, exemplificaram as nooes trazidas por Barthes (2004) de que autoria sempre uma construo coletiva, na medida em que um autor nada possuria de original, visto sua atividade consistir na apropriao do trabalho dos que lhe antecederam, misturando textos e usando a linguagem que comum a toda coletividade.

    Funcionando como um lugar social de encontro, o meio virtual propicia a par-ticipao, a colaborao e o compartilhamento que se realizam sobretudo atravs de uma abundncia de palavras e textos, tanto oriundos de participantes que os produzem e os disponibilizam na rede para apropriao de outros, bem como de participantes que usam palavras e textos de terceiros e do mesmo modo os tornam disponveis para a manipulao pblica na rede mundial de computadores.

    Tais comportamentos, que possuem sua prpria lgica, ligada ao custo zero de publicao de textos, ferem a lgica do mercado e as regras do direito autoral e co-pyright, que ameaam a livre transmisso de textos pela internet ao impor barreiras para circulao dos mesmos, pelas possibilidades jurdicas de punio. No entanto, dessas lgicas conflitantes surge um senso de comunidade e atuaoes que, superan-do interesses privados e o individualismo, defende um incremento no espao do comum e do pblico.

  • Olhares sobre a cibercultura

    23RefernciasARENDT, Hannah. A Condio Humana. Rio de Janeiro: Forense, 2007. BAR-THES, Roland. O Rumor da Lngua. So Paulo: Martins Fontes, 2004.BURKE, Sean. Authorship: from Plato to the postmodern. Edimburgh: Edimbur-gh Univ. Press, 1995.CHARTIER, Roger. A Aventura do Livro: do leitor ao navegador. So Paulo: UNESP, 1998.DE CERTEAU, Michel. A Inveno do Cotidiano: 1. as artes de fazer. 16 ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.GORZ, Andr. O Imaterial: conhecimento, valor e capital. So Paulo: Annablu-me, 2005.JORDAN, Tim. Cyberpower: the culture and politics of cyberspace and the in-ternet. London and New York: 1999, Routledge.KEEN, Andrew. O Culto do Amador: como blogs, MySpace, YouTube e a pira-taria digital esto destruindo nossa economia, cultura e valores. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.LESSIG, Lawrence. Free Culture: how big media uses technology and the law to lock down culture and control creativity. New York: Penguin, 2004.RANCIERE, Jacques. Polticas da Escrita.Rio de Janeiro: Editora 34, 1995._________________. Politics and Aesthetics: an interview. Angelaki: journal of theoretical humanities. London and New York, v. 8, n. 2, p. 191-211, aug. 2003.SMIERS, Joost. Artes sob Presso: promovendo a diversidade cultural na era da glibalizao. So Paulo: Escrituras, Pensarte, 2006.STALLMAN, Richard. Free Software, Free Society: selected essays from Richard Stallman. Boston: Free Software Foundation, 2002.SHIRKY, Clay. A Cultura da Participao: criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

  • 24

  • Olhares sobre a cibercultura

    25

    O BlogEbook Grtis como ferramentapara download de e-books

    Gustavo Guilherme da Matta Caetano LopesCntia Silva da Conceio

    ResumoO presente artigo tem como objetivo mostrar de que forma o BlogEbooks Grtis vem sendo utilizado para o download de e-books. Analisaremos a estrutura do blog, como ela constituda e sua ligao com as redes sociais. Passaremos por questes como a relao dos livros digitais e editoras e como a questo de direitos autorais so aplicadas quando se trata de e-books.

    Palavras-Chave: Blogs; BlogEbook; Direitos autorais; Download; Editoras.

    AbstractThis article aims to show how the BlogEbooks Grtis has been used to download e-books. We will review the blog structure, how it is constituted and the connection with social networks. We will go through issues such as the relationship of digital books and publishing companies and how the issue of copyright is applied in e-books cases.

    Keywords: Blogs; BlogEbook; Copyright; Download; Publishing companies.

  • 26Introduo

    O aparecimento dos weblogs relativamente recente. De acordo com Rebeca Blood (2002), a idia de weblog antiga, websites pessoais ou temticos que so constantemente atualizados, e remete ao incio de 1999, quando comearam a aparecer os primeiros blogs.

    Cada vez mais popular entre os usurios da internet, o blog um formato de publicao on-line que desperta interesse por suas di-tas simplicidade e facilidade de uso. Servindo a diversos tipos de sites (pessoais, notcias, intranets corporativas, etc.) os blogs so dirios on-line, que renem uma coleo de textos, cujo contedo um conjunto de mensagens (posts) publicadas instantaneamente na web, usualmente curtas e organizadas cronologicamente (PAZ, 2003, p.66)

    Com o tempo, o blog deixou de ser uma simples ferramenta de escrita de texto online para se tornar algo com objetivos mais abrangentes. Com o crescimento dos gadgets, aplicativos que podem ser instalados na pgina possibilitando que esta ad-quira funes diferenciadas, e sua popularizao, o blog passou a ser utilizado para outros propsitos, entre eles indexao de filmes e msicas, compartilhamento de imagens, notcias, venda de produtos, e o objeto de foco deste artigo, o download de livros digitais ou e-books como so popularmente conhecidos.

    Os gadgets possibilitaram que os blogs alcanassem um novo patamar, como a ligao direta com outras redes sociais, temos como exemplo destas o Facebook, Orkut, Twitter, Lastfm, entre outros. Essa nova funo acabou por ajudar na divul-gao do contedo postado nos blogs, e permitiu que houvesse uma maior interao entre os autores e os leitores dessas pginas, interatividade essa que vai alem dos comentrios postados especificamente no site e abrange outro tipo de rede. Segun-do Levy (1999 p.11), o crescimento do ciberespao resultado de um movimento internacional de jovens ridos para experimentar coletivamente, formas de comuni-cao diferentes daquelas que as mdias clssicas nos propem. As redes sociais na internet tem provado essa teoria.

    Com todo este leque de opes que os blogs disponibilizam na rea de down-loads, comea uma nova preocupao, a disseminao de contedo protegido por direitos autorais, que acabam sendo distribudos de forma ilegal. Este artigo vem com o intuito de analisar os pontos citados acima usando o BlogEbook Grtis como forma de ponto de partida para a discusso dos tpicos mencionados.

    Analise de estrutura do Blogebook GrtisO BlogEbooks Grtis tem como finalidade disponibilizar os mais variados tipos

    de arquivos para que seus usurios baixem na internet. Em cada pgina do blog, so encontrados por volta de seis postagens em ordem cronolgica, do mais recente para

  • Olhares sobre a cibercultura

    27o mais antigo, e abaixo delas presena de links com sugestes de textos relaciona-dos com o tema do post principal:

    Figura 1: Tela principal do BlogEbook Grtishttp://ebooksgratis.com.br/category/livros-ebooks-gratis/coletanias especiais/

    No topo podemos encontrar guias com as pginas secundrias. Dentro das pginas secundrias vemos o Frum onde o usurio faz um cadastro, podendo assim compartilhar arquivos e interagir com outros leitores. Dicas de post, onde os indivduos podem deixar dicas de filmes e livros interessantes para se-rem disponibilizados no blog. E a guia Parcerias, onde autores de outros blogs que desejam ser parceiros do BlogEbook Grtis encontram as informaes ne-cessrias para faz-lo, esta guia tambm contem os links dos blogs que j so parceiros.

    Os arquivos do blog so divididos em categorias e subcategorias. A primeira categoria chamada de Comunicados e Notcias, onde so postadas notcias relacionadas cultura em geral e comunicados com promoes realizadas pelo blog e seus parceiros. Em seguida o blog apresenta a categoria Filmes e Docu-mentrios, nessa categoria se encontram links para baixar os vdeos, algumas imagens, traillers e uma breve sinopse. A terceira categoria foi nomeada de In-formao e Cultura, contendo curiosidades, dicas de leitura, fragmentos de po-esias. Dentro desta se destacam as subcategorias, Leia mais, com propagandas e informaes de projetos relacionados literatura e o Papo Cabea com artigos e vdeos feitos por profissionais relacionados rea da literatura e de cultura.

  • 28A quarta categoria Livros (E-books Grtis) que conta com udio books,

    e-books de auto ajuda, coletneas especiais, gastronomia, literatura nacional e estrangeira, religio, romance, fico, tcnicos, entre outros. A quinta categoria Programas, contendo como subcategoria em destaque o Studio Vestibular, que disponibiliza questes de vestibulares e o dicionrio Oxford, ambos dis-ponveis para download. A sexta categoria Quadrinhos, os quadrinhos esto subdivididos por editoras e temas. A stima categoria Revistas Semanais e Mensais, divididas em subcategorias com os temas das revistas e o nome da publicao. A ltima categoria Uncategorized, com postagem sem categoria definida at o momento. Alm da coluna principal, o BlogEbooks Grtis tem uma segunda coluna contendo as opes de download de arquivos, o cdigo HTML para incorporao do blog a outros sites e um box com a opo de curtir no Facebook, com uma amostra de usurios que j curtiram a pagina do blog na rede social. Espao com os parceiros e parceiros premiun. Twitter Counter com as estatsticas relacionadas ao blog no Twitter e box mostrando as ltimas posta-gens feitas pelos autores no blog no Twitter. Finalizando a coluna, est presente o feed do site.

    As ligaes com as redes sociais; Twitter, Facebook e OrkutSegundo LEMOS (2005 p.05) os blogs agregam-se ainda em comunidades, onde

    usurios/leitores podem comentar e adicionar informaes e comentrios. H al-gum tempo os blogs comearam a contar com gadgets que possibilitam sua ligao com outras redes sociais, passando assim a ter uma interatividade maior na rede, interatividade essa, que acaba indo alm dos simples comentrios. O BlogEbook Grtis mantm ligao com trs tipos de redes sociais, sendo elas o Twitter, o Face-book e o Orkut. Uma rede social definida como um conjunto de dois elementos: atores (pessoas, instituies ou grupos; os ns da rede) e suas conexes (interaes ou laos sociais) (RECUERO, 2006, p.67)

    Segundo RECUERO (2009, p.174) o Twitter um site popularmente denomi-nado de um servio de microblogging. construdo enquanto microblogging por-que permite que sejam escritos pequenos textos de at 140 caracteres a partir da pergunta O que voc esta fazendo?. A rede social Twitter teve um aumento de usurios to significativos nos ltimos que essa sua pergunta central de O que voc est fazendo, mudou para Descubra o que esta acontecendo agora em algum lugar do mundo .

    O BlogEbook Grtis usurio do Twitter sob o nome de PDL Ebooks Grtis, seus tweets so de contedo de divulgao, com o nome do post e o link endereado ao blog e retweets sobre lanamentos de livros e palestras, at o momento foram enviados 1,222 tweets. O Twitter estruturado com seguidores e pessoas a se-guir, onde cada Twitter pode escolher quem deseja seguir, e ser seguido por outros. (RECUERO, 2009, p.174), o blog conta com 5,140 seguidores, e segue 17 outros usurios da mesma rede social.

  • Olhares sobre a cibercultura

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    Figura 2 Tela principal do Twitter pertencente ao BlogEbook

    http://twitter.com/#!/ebooks_gratis

    O Facebook outra das redes sociais ao qual o blog se liga, segundo RECUERO o Facebook funciona atravs de perfis e comunidades (2009, p.172). A pgina do blog no site de relacionamentos no pessoal e sim uma fanpage. Na fanpage, intitulada PDL Ebook Grtis pode-se encontrar o mural onde so compartilha-dos links para os posts do blog, nos quais os usurios tem as opes de comentar e curtir, alm da possibilidade de enviar mensagens com o contedo desejado, que no caso, so em sua maioria pedidos de e-books, algumas sugestes, crticas e pedidos de explicao, como o de uma usuria que esta com dificuldades de acessar o frum do site:

    Figura 3: Comentrio feito por uma usuria do blog em sua fanpage no Facebookhttp://www.facebook.com/pages/PDL-Ebooks Gr%C3%A1tis/148442595216240

    tambm a categoria de informaes com o link do website, seguida da categoria fotos e discusses. A partir dessa fanpage, as pessoas que utilizam o Facebook tem a opo de curtir a pagina, recebendo assim todas as informaes divulgadas pela fanpage em seu mural, em mdia 3.876 usurios curtiram essa pgina:

  • 30

    Figura 4: Fanpage do BlogEbook Grtis no Facebook.

    http://www.facebook.com/pages/PDL-Ebooks-Gr%C3%A1tis/148442595216240

    A terceira rede social com a qual o blog se liga o Orkut, o Orkut funciona

    basicamente atravs de perfis e comunidades. Os perfis so criados pelas pessoas ao se cadastrar, que indicam tambm quem so seus amigos (onde aparece a rede social conectada ao ator). (RECUERO, 2009, p.166). O blog no possui perfil pessoal na rede, a exemplo do Facebook que cria fanpages, o Orkut possui comunidades, as comunidades so criadas pelos indivduos e podem agregar grupos, funcionando como fruns, com tpicos (nova pasta de assunto) e mensagens (que fica dentro da pasta do assunto). (RECUERO, 2009, p.167). A comunidade do blog intitulada de PDL Ebooks e Cultura, conta com a presena de 7.176 membros e o dono da comunidade serve como moderador de membros dessa comunidade, ou seja, o usu-rio que criou a pagina tem o poder de decidir quais pessoas podem ser membros da comunidade e quais no podem. Na pgina inicial da comunidade encontramos uma mensagem de boas vindas aos usurios, textos explicativos sobre o funcionamento da comunidade, links que redirecionam ao portal PDL e a categoria de frum (ver figura 6).

    Os fruns nas comunidades do Orkut funcionam como um espao para discus-so e interao entre os usurios, Rheingold, um dos primeiros autores a usar o termo comunidade virtual, as define como:

    As comunidades virtuais so agregados sociais que surgem da Rede, quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas dis-cusses pblicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relaes pessoais no ciberespao (RHEINGOLD, 1995, p.20)

  • Olhares sobre a cibercultura

    31

    Figura 5: Comunidade virtual do blog no Orkut

    http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=1701059

    Partindo dessa definio, podemos constatar que em uma comunidade esto reu-

    nidos indivduos com interesses comuns que discutem sobre determinado assunto. No caso da comunidade PDL Ebook e Cultura, o frum utilizado pelos mem-bros como meio para divulgao de artigos, livros digitalizados pelos usurios que podem vir a fazer parte do acervo do BlogEbook Grtis, divulgao de promoes, entre outros. Alm dessas funes, alguns usurios da comunidade utilizam aquele espao como meio de auxiliar a oferecer servios a outros indivduos. Um exemplo dessa prtica encontrado o tpico E book Impresso onde um usurio oferece um servio:

    Figura 7: Divulgao feita por um leitor do blog na comunidade do Orkuthttp://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=1701059

    Esse tipo de oferta acaba atraindo outros membros da comunidade que se inte-ressam pelo servio prestado. Outro exemplo de uso da comunidade o frum inti-tulado de Revista Super e Mundo Estranho, onde o usurio pergunta ao moderador da comunidade quando o blog voltara a disponibilizar as publicaes para download:

  • 32

    Figura 8: Pedido de postagem de um leitor no blog no Orkuthttp://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=1701059

    Exemplos como esses mostram como os sites de redes sociais acabam se tornando uma nova forma dos usurios para interagirem entre si e com os organiza-dores do BlogEbook Grtis.

    Os E-Books e sua relao com o Mercado Editorial Com a popularizao do e-book, surge um novo meio de leitura que vem ga-

    nhando adeptos por ser uma forma rpida de ter acesso a vrios ttulos. Segundo Amaral (2009) o termo de origem inglesa, e-book uma abreviao para electronic book, ou livro eletrnico: trata-se de uma obra com o mesmo contedo da verso impressa, com a exceo de ser, por bvio, uma mdia digital. Esse novo perfil de leitores que nasce com o e-book j conta com os aparatos tecnolgicos que fazem de sua leitura algo mais confortvel, tendo em vista que com o lanamento dos e--books readers, o leitor no precisa mais necessariamente de um computador para ler seu e-book:

    Por volta de 1998 so lanados os primeiros dispositivos ou sof-twares de leitura digital: os ebooks reader device. Tais aparelhos permitem a leitura desses livros numa tela plana de cristal lquido colorido, porttil e com grande capacidade de armazenamento. O parelho possui funcionalidades como paginao, mudana de orien-tao de pgina, marcao de pgina, destaque de texto, anotaes do leitor, busca por texto, alm de luz interna para leitura no escuro. (MESQUITA e CONDE, 2008, p.03)

    inegvel que o e-book acaba tendo vantagens sob o livro impresso em vrios quesitos, como a praticidade, j que uma biblioteca de e-books pode ser levada den-tro de um pen drive para qualquer lugar. Tambm a questo de custo, o livro digital custa menos para ser produzido e conseqentemente fica mais barato. E para aqueles indivduos que dizem no trocar a sensao de pegar no papel para ler, ou no se adaptam a ler em aparelhos eletrnicos, o e-book ainda pode ser impresso. Com essa popularizao do livro digital, as editoras esto sendo obrigadas a se especializar em uma nova rea editorial.

  • Olhares sobre a cibercultura

    33No se pode prever o futuro dessas tecnologias para o mercado edi-torial em detalhes, mas os seus efeitos gerais sero permitir aos leito-res e aos escritores um acesso bem mais direto entre si do que o pos-svel no passado e desafiar as editoras a reconhecerem a reduo de suas funes e se adaptarem nova realidade. (Epstein, 2002, p.39)

    O BlogEbook grtis oferece um leque de e-books para download, separados por categorias e temas como vimos do tpico estrutura do blog. Essas categorias contabi-lizadas se dividem em 116 temas, dentre eles o e-books em si, udio books, revistas e quadrinhos. At o momento ele conta com 1016 e-books disponveis para download.

    A categoria que conta com mais arquivos a de literatura estrangeira, com 462 ttulos, e dentro dessa, o tema literatura infanto-juvenil a que conta com o maior numero de ttulos. Outro tema que conta com um grande nmero de arquivos o de tcnicos e cientficos, ao analisar essa categoria, podemos perceber que o pblico interessado no assunto formado por estudantes e acadmicos. Exemplos:

    Figura 9 e 10: Comentrios feitos por um pblico relacionado rea acadmica.http://ebooksgratis.com.br/

  • 34A cultura de downloads desse formato de livros atinge os mais variados pbli-

    cos, tanto aqueles que precisam de um e-book para ler por lazer, quanto aqueles que realizam o download de e-books para trabalho, como os estudantes. Um fator agravante para a escolha desse formato de leitura, alm da praticidade, o preo e a questo ecolgica:

    Ao compararmos as formas de publicao dos meios eletrnicos com as dos meios impressos, chegamos inevitavelmente questo ecolgica visto que a principal vantagem do livro eletrnico sobre o impresso a no utilizao do papel (o que evita o sacrifcio de rvores), de tinta e de gua, o que os torna mais baratos, alm de ecologicamente corretos. (MESQUITA e CONDE, 2008 p.05)

    Apesar disso, os e-books ainda causam uma certa insegurana no campo editorial. Apesar de terem um custo mais baixo de produo por no usar papel, no usar es-toque, distribuio e nem ponto fsico de venda, os e-books ainda apresentam uma certa instabilidade no quesito lucratividade para as editoras. Segundo Neto o custo mdio de digitalizao de um livro de R$ 400 e este mercado, ainda em formao, no garante retorno. O diretor comercial da Livraria Cultura, Fabio Herz, diz que o preo do livro digital 30% menor que o fsico, mas as vendas no pas ainda so incipientes (2010). Esse fator tem uma ligao direta com o modo com que os e--books so distribudos, j que essa distribuio feita, na maior parte dos casos, de forma ilegal, o que faz as editoras terem um certo descrdito com a segurana da proteo das obras no mercado virtual.

    O BlogEbook disponibiliza e-books de forma gratuita, ou seja, nenhuma taxa cobrada aos leitores do blog pra que eles possam baixar os arquivos. Cada postagem do BlogEbook tem em mdia quatro comentrios, tendo como contedo principal duvidas, dicas e pedidos para que os donos do blog postem outros ttulos (ver figura 11).

    O nmero de pessoas que seguem o BlogEbook nas redes sociais, os coment-rios do blog e a quantidade elevada de e-books dentro do blog vem como uma forma de comprovar que os e-books vem ganhando um espao cada vez maior no cotidiano das pessoas.

    Download de E-Books: Um ato legal?Com esse aquecimento do mercado de e-books, aumentam as discusses sobre os

    direitos autorais relacionados as obras:

    Obviamente, ser necessrio um novo ordenamento dos direitos autorais. Sem tal providncia, a ser normalizada internacionalmen-te, ficar difcil desenvolver e consolidar o mercado do e-book. Se-gurana quanto autenticidade e legalidade dos contedos tambm

  • Olhares sobre a cibercultura

    35ser fundamental. No h dvida de que a digitalizao de conte-dos editoriais sob a tutela de direitos legais suscitar facilidades para reproduo ilegal, ampliando a ameaa de falsificao muito alm das mquinas copiadoras que enfrentamos hoje. (BOSQUI-NI, 2010)

    Figura 11: Comentrios contendo parabenizaes, dvidas e divulgao.http://ebooksgratis.com.br

    A grande maioria dos e-books no so de domnio pblico, ou seja, seus direitos autorais pertencem aos autores das obras e em alguns casos s editoras que con-tratam os escritores. Em alguns casos, se o autor da obra no permitir que ela seja disponibilizada em formato digital, ela no poder ser distribuda on-line, j que de acordo com a lei n 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, a Lei dos Direitos Auto-rais no havendo especificaes quanto modalidade de utilizao, o contrato ser

  • 36interpretado restritivamente, entendendo-se como limitada apenas a uma que seja aquela indispensvel ao cumprimento da finalidade do contrato.

    Por no serem de domnio pblico, os livros digitais deveriam ser adquiridos me-diante ao pagamento de uma taxa, como feito com os livros impressos, mas so poucos os leitores que e-books que os compram na internet. Como vimos no tpico acima, o BlogEbook um exemplo de blog que faz distribuio ilegal de e-books na internet, pratica cada vez mais frequente na rede. Segundo Schiefler:

    Na conjuntura atual, por meio da facilidade encontrada na trans-misso de informaes e, tambm, do relativo anonimato virtual verificado devido precria fiscalizao, a desobedincia da lei tor-nou-se um ato ilcito trivialmente cometido, reforado ainda pelo fato de no existir legislao prpria. Sistemas de busca virtuais re-metem o usurio a stios com banco de dados e obras integrais, na maioria, sem a devida regulamentao referente Lei de Direitos Autorais. (2008)

    ConclusoO BlogEbook Grtis prova ser uma plataforma eficiente para downloads de e-

    -books, visto que o site conta com um nmero elevado de arquivos, interativo e promove um relacionamento interessante com os leitores da pgina devido ao fato de estar inseridos em outras redes sociais. Alm de promover interatividade, a liga-o com o Orkut, Facebook e Twitter acaba servindo para o BlogEbook como uma forma de divulgao, no s do seu material, mas tambm da prpria pgina.

    A forma de como os e-books so distribudos no blog ilegal, prtica freqente na maioria dos sites que disponibilizam esse tipo de contedo. Fatores como esses fazem as editoras e os autores sentirem uma certa instabilidade no mercado virtual, visto que, a maioria dos e-books obtidos pelos leitores vem de blogs como o BlogE-book, e no so comprados virtualmente. Apesar disso, o mercado de livros digital tende a crescer com o passar do tempo, e as editoras no podem ignorar isso, ento mesmo com a baixa lucratividade, j disponibilizam esse formato de livro para com-pra em seus sites.

    Em relao funcionalidade dos e-books, podemos encontrar muitos contras, mas tambm vrios prs que no podem ser ignorados. A disponibilizao dos livros digitais de forma gratuita acaba transpondo barreiras geogrficas limitadas pelos ser-vios de venda locativos, lenado cultura para pessoas que normalmente no teriam acesso aos livros impressos. Mesmo com seus lados positivos e negativos, o e-book uma realidade que convive de perto com a dos livros impressos, com o barateamento da tecnologia, uma tendncia forte que futuramente se firmar como prtica mer-cadolgica.

    Apesar dos mais conservadores ainda no aceitarem bem o fato de abandonar o papel, as novas geraes tendem a se interessar por esse tipo de leitura mais simples e

  • Olhares sobre a cibercultura

    37at mais interativa. Isso no quer dizer que vamos abandonar o livro impresso, como diziam que a televiso iria fazer com o rdio, e sim que o mercado pode se preparar para receber esse tipo de formato e que a populao poder escolher a forma que mais lhe agrada.

    RefernciasAMARAL, Fabio Eduardo. O que e-Book?: Conceitos e definies, comparao com livros impressos. Disponvel em: http://www.tecmundo.com.br/1519-o-que--e-e-book-.htm. Acesso em: 10/06/11 BOSQUINI, Sueli. A saudvel convivncia do e-book com o livro impresso. Dis-ponvel em:http://www.bytestypes.com.br/noticias/320-artigo-a-saudavel-convivencia-do-li-vro-impresso-com-o-e-book. Acesso em: 12/06/11BLOOD, Rebecca. The Weblog Handbook. Cambridge, MA. Perseus Pu-blishing, 2002EPSTEIN, Jason. O Negcio do Livro: Passado, presente e futuro do mercadoeditorial. Rio de Janeiro: Record, 2002.LVY, Pierre. Cibercultura. So Paulo, Editora 34. 1991LEMOS, Andr. Cibercultura Remix. So Paulo, 2005.NETO, Rui Barata. Editoras investem em e-books. Disponvel em: http://www.brasileconomico.com.br/noticias/editoras-investem-em-ebooks_84893.html. Acesso em: 22/06/2010PAZ, Caroline Rodrigues. A Cultura Blog: Questes Introdutrias. Porto Ale-gre: Revista Famecos .RECUERO, Raquel. Redes Sociais na internet. Porto Alegre: Sulina. 2009 ______________. Comunidades em Redes Sociais: Proposta de tipologia baseada no Fotolog.com. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre. Tese de doutorado, 2006. RHEINGOLD, H. La Comunidad Virtual: Uma Sociedad sin Fronteras. Bar-celona: Gedisa Editorial, 1995.MESQUITA, Isabel Chaves Araujo e CONDE, Mariana Guedes. A Evoluo grfica do livro e o surgimento dos e-books. In: X Congresso de Cincias da Co-municao na Regio Nordeste. So Luiz, Maranho, 2008. Disponvel em: http://www.intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2008/resumos/R12-0645-1.pdf Acesso em: 20 de junho de 2011.SCHIEFLER, Gustavo Henrique Carvalho. Livros Digitais (E-books): A Funo Social e a Pirataria Digital - Direitos Autorais Frente aos Direitos Constitucio-nais. Universidade Federal de Santa Catarina, 2008.

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  • Olhares sobre a cibercultura

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    O fake e o TwitterIdentidade e estigma no movimento social

    da hashtag #ForaMicarla em Natal-RNRaquel Souza

    ResumoTendo como eixo central o movimento social da hashtag #ForaMicarla no Twitter movimento de oposio a atual gesto da cidade de Natal-RN, este artigo busca pensar o fake a partir de duas concepes: sujeito/identidade e arma/estigma, em que ambas convergem para o conflito online mantido entre os integrantes do #Fo-raMicarla e os twitteiros da gesto da prefeita Micarla de Sousa (Partido Verde). Desta forma, compreendemos que os pesquisadores da cibercultura devem ir alm do par oposicionista falso/verdadeiro para entender o fake como sujeito sociopol-tico.

    Palavras-Chave: Fake; Identidade; Estigma; Movimento social; Twitter.

    AbstractWith the central axis of the social movement hashtag #ForaMicarla on Twitter - opposition movement to the current management of the city of Natal, this article attempts to think the fake from two concepts: subject / identity and weapon / stigma, both converging to the conflict kept online between members of the #ForaMicarla and users from Micarla de Sousas administration. Thus, we under-stand that cyber researchers must go beyond the oppositionist pair of true and false to understand the fake as a social and political subject.

    Keywords: Fake; Identity; Stigma; Social movement; Twitter.

  • 40Introduo

    na fluidez do tempo e do espao condicionada pelas tecnologias online de inte-rao (LVY, 1999) que novas aes coletivas de protesto e ativismo surgem a cada dia no ciberespao. Se antes estas aes estavam localizadas em fronteiras geogr-ficas, hoje as aes extrapolam o local, se conectam ao global, e, ao mesmo tempo, retornam ao regional por meio da virtualidade digital (CASTELLS, 2003). Por isso, nos ltimos meses, as pessoas em suas vidas online e off-line puderam presen-ciar o surgimento de diversos movimentos sociais: tais como a #marchadamaco-nha, a #marchadasvadias, entre outros. Estes movimentos so de indivduos que no se conhecem de forma fsica, no moram no mesmo bairro, no estudam no mesmo colgio, mas possuem o desejo comum de reivindicao.

    Podemos encontrar no centro destes movimentos sociais online uma condio tecnolgica da plataforma de relacionamentos Twitter1 (TT), sendo a hashtag #2. Entendemos que esta tecnologia permite aos usurios o encontro em torno de tem-ticas comuns e por isso vem sendo usada de forma sistemtica como uma nova arma de protesto e ativismo online.

    Assim, dentro deste contexto do uso da hashtag em uma rede de relacionamen-tos fluida, surgiu no ms de outubro de 2010 um ponto de adensamento3 na rede Twitter denominado de #ForaMicarla, que significa a insatisfao de cibernautas do TT com a atual gesto da prefeitura da cidade de Natal-RN, Micarla de Sousa (Partido Verde). Este movimento, alm de ter sido formando em rede nesta plata-forma, mantido nela at os dias atuais pelos cibernautas por meio de suas prticas cotidianas. No final do ms de maio e no incio de junho de 2011, vrias passeatas do #ForaMicarla ocuparam as ruas da cidade de Natal-RN, que culminaram com a ocupao da sede do legislativo municipal durante 11 dias no perodo de 07 a 17 de junho.

    Para este artigo vamos trazer tona a discusso em torno de um sujeito que emerge da cultura digital - o fake o qual se apresenta como categoria analtica de fundamental importncia dentro do conflito online que protagonizado pelo mo-vimento #ForaMicarla no Twitter. A partir dos apontamentos de Simmel (1983, p.122-127), o conflito pensado neste trabalho como uma unidade de sociao positiva em torno da temtica #ForaMicarla, em que os cibernautas por meio das possibilidades das tecnologias online de comunicao podem extravasar seus senti-mentos por meio da ao de protesto e de ativismo online. Estas so aes que levam

    1 O Twitter - www.twitter.com - uma plataforma onde os usurios podem postar mensagens de at 140 caracteres para uma rede de seguidores (followers). Alm disso, a comunicao pode ocorrer de duas formas: atravs dos Replies (forma pblica) e das Messages (forma privada). 2 A hashtag no Twitter este smbolo # seguido de uma palavra ou frase. usada pelos cibernau-tas como forma de marcar assuntos na plataforma.3 Tendo o Twitter como uma rede social total, podemos encontrar vrios pontos em que esta rede !ca mais densa, entendida como redes parciais desta rede total. Densidade seria, dentro dos apontamentos de Barnes (1987, p.167-174), a extenso das relaes que determinados indivduos mantm. Estas relaes quanto mais aproximadas em torno de determinados contedos so denominadas de mais densas que outras. No caso deste trabalho, percebemos que a interao online em torno do tema #ForaMicarla por um grupo espec!co e organizado pode ser entendido como um ponto de adensamento dentro da rede total.

  • Olhares sobre a cibercultura

    41os sujeitos deste movimento no se sentirem vtimas das circunstncias produzidas pela gesto municipal da cidade de Natal-RN.

    1. Um adensamento no Twitter: o #ForaMicarlaEste trabalho tem como pilar metodolgico a etnografia virtual em conjunto com

    o modelo de rede social de J. Barnes (1957). De acordo com Chistine Hine (2000, p. 63-65), assim como a etnografia tradicional, a etnografia virtual sustenta como fundamentao a presena do etngrafo no campo, sendo que neste caso o campo a rede mundial de computadores com seus diversos espaos de sociabilidade. Por isso necessrio o intensivo engajamento do pesquisador na vida cotidiana dos ha-bitantes desses ciberespaos.

    Porm, ainda segundo Hine (2010, p.65), pensar os ciberespaos da Internet de forma totalizante negar as redes complexas em que os seus cibernautas esto inseridos, seja no mundo online ou no off-line. Ainda de acordo com a autora, no devemos separar a vida online de qualquer ligao com a interao face-a-face. Desta forma, podemos pensar o objeto etnogrfico sendo remodelado do princpio de localizao e fronteira como organizao, para debruarmos sobre fluxo e conec-tividade destas relaes mantidas na Internet.

    justamente pelos argumentos expostos neste ltimo pargrafo que esta pesqui-sa acredita que a teoria de redes sociais J. Barnes pode ser pensada para o contexto de interao online, como foi apontado por Maria Elisa Mximo (2010) em seu traba-lho Blogs: o eu encena, o eu em rede. Cotidiano, performance e reciprocidade nas redes scio-tcnicas. Ao invs de buscar totalizar por meio de limites geogrficos os espaos da web, queremos observar onde as redes tm pontos de adensamento, pois acreditamos que uma forma vivel para o pesquisador que imerge na comple-xidade da conexo online.

    Como dito na introduo, este trabalho tem como ponto de partida a plataforma Twitter. Antes mesmo do intuito da realizao do trabalho acadmico, criei uma conta neste site em 2009. No incio, o que me chamava ateno era como as pessoas lidavam com o consumo de diversas redes de relacionamento online em seu dia-a--dia. A partir da minha insero no campo, atravs da construo de uma identidade nativa e tempos depois de uma identidade de pesquisadora, pude ao longo tempo compreender a linguagem, os cdigos tico e moral, e o cotidiano dos twitteiros. Estes processos foram fundamentais para que eu pudesse construir as vrias redes de relacionamento no Twitter.

    Foi nesta construo diria e na observao das prticas dos twitteiros, os quais eu seguia, que percebi um adensamento na minha rede em torno do movimento #ForaMicarla em outubro de 2010. No princpio, no pensei em tratar este assun-to como objeto de pesquisa. Porm, com o passar do tempo e aumento dos posts da minha rede com a hashtag #ForaMicarla, fui cada vez mais sendo perturbada com este movimento. Foi quando, em 25 de janeiro de 2011, realizei uma busca no site Google para contextualizar de forma espacial e temporal o movimento. Assim

  • 42encontrei a matria4 do portal de notcias Nominuto.com, do dia 21 de janeiro de 2011, a qual relatava que o protesto contra a prefeita Micarla de Sousa era o assunto mais comentado no Twitter do Brasil com a hashtag #ForaMicarla. Na mesma notcia, existia a informao de que Micarla de Sousa estaria sendo alvo de crticas por causa do aumento da passagem de nibus na capital. Por este fato os usurios agendaram uma manifestao no dia 22 de janeiro de 2011 no maior shopping de Natal. Outra informao encontrada nesta pesquisa foi a notcia do protesto contra aumento de passagens no dia 19 de novembro de 2010 do portal Tribuna do Nor-te. Nesta matria5, Dayvson Moura foi apontado como lder do movimento contra o valor da passagem de nibus que ia ser reajustado de R$2,00 para R$2,20.

    Aps esta pesquisa, passei a analisar em fevereiro de 2011 as aes de @dayvso-on, que at aquele momento eu o apenas seguia por ser um amigo da vida off-line. Foi quando percebi nas aes de @dayvsoon as diversas postagem com a hashtag #ForaMicarla e os conflitos que ele mantinha com a twitteira @thalitamoema, considerada Rainha do Twiiter pelo twitteiros do Rio Grande do Norte. Ela tam-bm funcionria comissionada da prefeitura de Natal, empossada em outubro de 2010 aps obter relevncia de celebridade potiguar no TT.

    Desta forma, no ms de fevereiro conversei com Dayvson Moura no MSN. Foi quando ele esclareceu algumas questes sobre o movimento #ForaMicarla. O twitteiro apontou @thalitamoema como cibernauta contratada pela prefei-tura para publicizar e defender Micarla de Sousa no Twitter. Bem como @dayv-soon apontou um grupo de integrantes do movimento social online #ForaMi-carla.

    Foi a partir desta conversa que cheguei ao primeiro sujeito-fake do movimen-to #ForaMicarla, o @BlockdeMicarla. A foto deste twitteiro um cachorro com uma mordaa e a hashtag #ForaMicarla. Em seu perfil ele se apresenta como: Comunidade feita para o registro de protesto dos cidados insatisfeitos e bloqueados6 pela Prefeita Micarla de Sousa que no permite crticas sua admi-nistrao.

    Assim, no dia-a-dia do conflito entre o #ForaMicarla e os twitteiros da gesto de Micarla de Sousa, outros perfis fakes foram nascendo. Neste artigo vamos tecer anlises em torno destes sujeitos, que alm do @BlockdeMicarla, apresentam notoriedade neste conflito online, so eles: @PaquitaMoema, @PrefeitaMimi e @milenatristorn.

    4 A matria pode ser acessada em: http://www.nominuto.com/noticias/politica/protesto-contra-micarla-e-um-dos-assuntos-mais-comentados-no-twitter/67615/print/.5 http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/estudantes-protestam-contra-aumento-de-tari-fa/165495.6 No Twitter, a ao de bloquear um usurio feita por meio do boto block. O twitteiro realiza este ato quando ele no quer que uma pessoa leia as suas postagens. Assim, a nica forma de banir o usurio de sua lista de seguidores bloqueando-o. Desta maneira, o ato de bloquear signi!ca que a pessoa que rece-beu o block no aparece mais na lista de contatos do usurio. Outros impedimentos: as atualizaes no podem ser vistas pelo bloqueado e a pessoa que recebeu o block !ca impedida de adicionar o twitteiro que te bloqueou.

  • Olhares sobre a cibercultura

    432. Fake: identidade, estigma e conflito

    As pesquisas sobre a cibercultura tm voltado nos ltimos anos a ateno para um tipo de sujeito que surge nas redes online de relacionamento a partir das possibi-lidades tecnolgicas de se viver uma segunda vida- o fake (CAMOZZATO, 2007; SEGATA, 2007). Na cultura online, este sujeito, como a prpria traduo da palavra aponta, um perfil falso de usurio. O fake um avatar construdo na plataforma que no faz referncia ao corpo fsico e nem aos papis sociais do sujeito off-line que comanda o perfil.

    No trabalho de Jean Segata (2007) sobre a comunidade Lontras da rede de re-lacionamentos online Orkut (www.orkut.com), o autor afirma que para os nativos desta plataforma o fake uma espcie de personagem para brincar (p.41). Entre-tanto, para os nativos do movimento #ForaMicarla do Twitter, o fake vai alm de um personagem criado com a funo de divertir os habitantes do TT.

    Dentro do contexto do movimento #ForaMicarla, o fake pensado a partir de duas concepes. Porm, partirmos do princpio de que estas concepes esto diretamente relacionadas com o conflito online entre o grupo #ForaMicarla e os twitteiros ligados gesto municipal de Micarla de Sousa. Assim, o fake o sujeito/identidade criado a partir dos contextos conflitais do movimento #ForaMicarla e em outro momento uma palavra acionada como arma/estigma por parte da admi-nistrao municipal.

    2.1 A construo do sujeito fake no #ForaMicarla

    No me considero um fake. O que um fake. Entendo que fake algum que usa uma imagem (foto) falsa, que no a sua, um nome falso com a inteno de agredir pessoas. Seria uma pessoa covarde escondida por trs de imagem e nome falsos para atingir pessoas de verdade, pessoas que tem rosto e nome prprios. Eu no uso foto nem nomes falsos. Adotei uma imagem que simboliza a mordaa imposta ao cidado que intenta lanar crticas direcionadas a um determinado perfil (no caso o da prefeita) e no pode pela censura do bloqueio.

    O trecho destacado uma declarao do @BlockdeMicarla dita em entrevista realizada por e-mail em 08 de abril de 2011, em que o sujeito da pesquisa responde a pergunta: O que levou voc a criar um fake no Twitter?. Este trecho nos faz re-fletir o quanto complexo definir o que ser fake em uma rede de relacionamentos online. Porm, defendemos que mais do que discorrer sobre a definio do que o fake, para este trabalho, o fundamental compreender o jogo poltico gerado por e atravs deste sujeito.

    Quando Erving Goffman (1985-1956) pensa a vida social como uma representa-o teatral, em que esta apresenta coisas reais, e, s vezes, bem ensaiadas (p.09), o

  • 44autor trata o indivduo com um ator que se apresenta sob a mscara de um perso-nagem para personagens projetados por outros atores (p.09). E esta apresentao ocorre em um palco que se encontra espacialmente e temporalmente localizado. Dentro deste jogo, existe a platia para qual a encenao projetada. Desta forma, na vida real, os trs elementos ficam reduzidos a dois: o papel que um indivduo desempenha talhado de acordo com os papis desempenhados pelos outros pre-sentes [...]. Ento, o jogo da vida social realizado por meio da construo diria da identidade do indivduo na relao com os outros em um determinado contexto, em que este pode conter a tradio do grupo o qual pertence a pessoa, as tradies pessoais do prprio ator, as questes morais projetadas por ele no grupo e do grupo a ele, as circunstanciais espaciais e temporais, e entre outros fatores que projetaro de maneira efetiva uma definio da situao (p.18).

    Dentro deste quadro terico de Goffman, que entendemos que o fake, assim como indivduos da interao faca-a-face, tem que ser apreendido a partir dos as-pectos e elementos que formam o quadro de referncia caracterstico da interao social.

    Este quadro de referncia formal e abstrato, no sentido de poder ser aplicado a qualquer estabelecimento social; no , contudo, sim-plesmente uma classificao esttica. O quadro de referncia est em conformidade com questes dinmicas, criadas pelas necessida-des de sustentar uma definio da situao que foi projetada diante de outras pessoas. (2003, p.219)

    O quadro de referncia que temos como base neste artigo o conflito poltico #ForaMicarla, em que toda a construo da identidade do sujeito/fake - @Blo-ckdeMicarla, @PaquitaMoema, @PrefeitaMimi e @milenatristorn - realizada de forma cotidiana no Twitter por meio da interao deste sujeito com os twitteiros do movimento #ForaMicarla, e do fake com os que apoiam o movimento. Bem como esta identidade originada nas divergncias com o grupo de twitteiros da ges-to municipal de Micarla de Sousa. Desta forma, o fake um sujeito sociopoltico.

    Como mostra o trecho da entrevista que inicia esta sesso, o @BlockdeMicarla no se afirma na rede como fake. Mesmo assim, pensamos o @BlockdeMicarla como fake a partir do que os nativos do Twitter entendem por ser um perfil verdadeiro e um perfil falso no #ForaMicarla.

    O verdadeiro aquele que a imagem e as aes esto em consonncia com a iden-tidade fsica e social do usurio que comanda o perfil. Tambm so considerados ver-dadeiros aqueles twitteiros que no tm a imagem fsica apresentada na plataforma, mas suas aes esto em acordo com sua vida off-line e no segredo para a sua rede de seguidores quem ele na interao face-a-face.

    Os perfis falsos so identificados de trs formas: 1) a imagem no de uma pes-soa que existe na interao off-line. As aes pautam-se no conflito poltico entre os pr-Micarla e os contra, porm, sua vida social apenas existe no mundo online.

  • Olhares sobre a cibercultura

    45Esta a categoria de fake em que se enquadra o @BlockdeMicarla. 2) a imagem de um dos twitteiros do #ForaMicarla , de um twitteiro da situao ou mesmo da prefeita Micarla de Sousa. Contudo, as aes so stiras aos twitteiros verdadeiros do conflito online. Nesta categoria, podemos encaixar @PaquitaMoema e @Prefi-taMimi. 3) a imagem de uma pessoa, mas nenhum cibernauta do Twitter confirma a existncia deste usurio na vida off-line. E suas aes so de ataque ou defesa da prefeita Micarla de Sousa. Reconhecemos como representante desta ltima cate-goria de fake a twitteira @milenatristorn.

    2.1.1 O fake vigilante: @BlockdeMicarlaO @BlockdeMicarla nasceu no Twitter em agosto de 2010 e mantm at hoje em

    seu perfil a imagem de um cachorro da raa pitbull com uma mordaa na boca e na parte inferior a hashtag #ForaMicarla. Em sua home page, a imagem de fundo composta pelas fotos dos twitteiros que o segue7 na plataforma. Assim, podemos inferir que esta uma forma do @BlockdeMicarla reafirmar a sua representativi-dade de porta-voz de uma coletividade insatisfeita com a atual gesto de Micarla de Sousa. Tambm o modo encontrado pelo fake de reafirmar a descrio do seu perfil, sendo o de: Comunidade feita para o registro de protesto dos cidados insa-tisfeitos e bloqueados pela Prefeita Micarla de Sousa que no permite crticas sua administrao.

    Na entrevista realizada por e-mail em 08 de abril, @BlockdeMicarla falou da sua trajetria no Twitter e em qual momento resolveu criar o fake. Segundo o Block, ele era antes um twitteiro verdadeiro que mantinha a ao de fazer crticas gesto municipal por meio da citao do perfil da prefeita @micarladesousa, bem como a de retwittar8 as crticas de outras pessoas insatisfeitas. Com esta atitude, o perfil verdadeiro dele foi bloqueado pelo de @micarladesousa. Desta forma, ele passou a observar que outras pessoas tambm haviam recebido Block da prefeita Micarla de Sousa por causa das crticas dierecionadas ao perfil. Da surgiu a idia de criar um espao para estas pessoas (assim como eu) manifestar o seu protesto do bloqueio. Bem como a de uma arena livre para fazermos as crticas gesto e debatermos entre ns, os bloqueados.

    O @BlockdeMicarla, desde o incio do trabalho de campo em 24 de maro de 2011, apenas no postou em dois dias do feriado de Tiradentes e Pscoa no ms de abril. Esta folga foi anunciada no dia anterior aos seus 1.220 seguidores, pois naquela poca existiam os rumores em relao ao enfraquecimento do movimen-to #ForaMicarla. Podemos entender com estas aes que o @BlockdeMicarla possui uma vida digital e uma agenda virtual, isto podemos pensar a partir dos apontamentos da antroploga Laura Graziela (2007).

    Entendemos a vida do @BlockdeMicarla como digital no momento em que esta apenas existe por meio das condies tecnolgicas do Twitter. E por meio 7 No Twitter, existem os followers, usurios que recebem diariamente postagem que voc posta, e os following, twitteiros que voc segue, e assim recebe informaes destes. 8 a ao de repassar informaes de uma pessoa que voc segue para os seus seguidores.

  • 46desta possibilidade da ferramenta que o Block pde nascer e desenvolver at os dias atuais um fazer cotidiano. Desta maneira, todos os dias o @BlockdeMicarla fiscaliza os atos da prefeitura postando links de matrias de sites jornalsticos da cidade de Natal e dos atos administrativos publicados no Dirio Oficial do Mu-nicpio (DOM). Por muitas vezes, o @BlockdeMicarla diz: devemos ficarlizar o DOM todos os dias. O contedo destes links so todos relacionados a supostos casos de improbidade administrativa da prefeita Micarla de Sousa. Podemos citar como exemplos: a greve das escolas municipais, a compra de copos descartveis por R$1,50 a unidade, e, a contratao de uma empresa de Pernambuco pelo valor de R$ 8,1 milhes para gerenciar durante trs meses aes de combate a dengue em Natal-RN.

    @BlockdeMicarla tambm sempre realiza a ao de retwittar as postagens de twitteiros que lhe enviam casos de fraude administrativa da gesto de Micarla de Sousa. Nestes tweets, as pessoas contribuem com o @BlockdeMicarla ofere-cendo informaes sobre absurdos realizados ou pela omisso da Prefeitura de Natal. O twitteiro @JobsonAlvaro enviou o link de uma matria da Tribuna do Norte que descreve a espera da populao para recarregar o NatalCard - carto de passagem de nibus. Outro twitteiro, @_MrAlex, enviou ao @BlockdeMicarla a informao de que os funcionrios da Samu iam entrar em greve aps descum-primento do acordo por parte da Prefeitura de Natal. O twitteiro @joaovictorgd chamou a ateno do @BlockdeMicarla sobre a situao da Zona Norte da cidade, que apresenta casos de dengue, buracos nas vias pblicas e falta de energia nos bairros.

    O @BlockdeMicarla tambm conversa com outros twitteiros e dentre eles os integrantes do #ForaMicarla e polticos que fazem parte da bancada oposi-cionista. So eles: @KallynaKelly (jornalista), @PauloSBarbosa (perfil acusado de ser um fake), @LidianeMary (jornalista), @profluiscarlos (vereador de Na-tal), @vereadoranieri (vereador de Natal), @celinhahc_, @flanelson, @dayvson (twitteiro#ForaMicarla) e @DELLRN (twitteiro #ForaMicarla).

    Afirmamos que o @BlockdeMicarla mantm uma agenda virtual porque perce-bemos em sua ao uma rotina constante de aes cronolgicas. Ele amanhece sau-dando os seus seguidores com um Bom dia! e no mesmo post ele coloca a hashtag #ForaMicarla. Em seguida, o Block tweeta assuntos polmicos que foram publi-cados pelos jornais online e no DOM. A partir destes temas, ele mantm debates com a sua rede tendo como base a polmicas trazidas tona por estas postagens. Ao mesmo tempo, ele ajuda os integrantes do movimento #ForaMicarla na articula-o online das passeatas que so realizadas nas ruas. Antes de dormir ele deseja Boa Noite aos twitteiros que o segue.

    2.1.2 O fake cmico: @PrefeitaMimi e @PakitaMoema@PrefeitaMimi nasceu em 11 de maio. Ela se descreve como uma pessoa que ama

    os buracos, a merenda escolar, a dengue, o trnsito, a insegurana e os problemas na

  • Olhares sobre a cibercultura

    47sade. Ou seja, uma pessoa que Ama Natal!. Todos estas citaes fazem referncias s polmicas em torno da gesto de Micarla de Sousa trazidas tona para o Twitter pelo movimento #ForaMicarla.

    Diferente do @BlockdeMicarla, @PrefeitaMimi tem uma atuao cmica e assu-me uma identidade escrachada da prefeita Micarla de Sousa. Estas caractersticas podem ser facilmente identificadas por meio do nome do fake, pela autodescrio e pela imagem do perfil - uma foto de Micarla de Sousa fazendo um sinal de V com a mo em um anglo que no contexto evoca a imagem de uma prefeita ameninada e que debocha da populao. @PrefeitaMimi no dia 03 de junho mudou a imagem do perfil para uma foto de um buraco aberto em uma rua por causa das chuvas que caram naquele dia na cidade de Natal-RN.

    Em suas primeiras postagens, ela ironiza o caso da merenda escolar e dos contra-tos de aluguis de imveis realizados pela prefeitura para abrigar as sedes de algumas secretarias municipais. A merenda escolar foi alvo do #ForaMicarla depois da vei-culao em rede nacional, na noite do dia 08 de maio de 2011, de uma reportagem que descrevia a falta de merenda nas escolas da rede municipal de ensino e do forne-cimento de alimentos que estavam fora do prazo de validade aos alunos. A reporta-gem foi publicada no programa Fantstico da Rede Globo de Televises. Assim, @PrefeitaMimi escreveu: almocei merenda escolar e passei o dia com dor de barriga.

    Os twitteiros #ForaMicarla apontavam possveis irregularidades nos contratos de aluguel de imveis que servem como sede das secretarias municipais. Por isso que @PrefeitaMimi perguntou aos seus seguidores: Pessoal!!! To procurando p alugar a preo de mercado! Apartamento quarto/sala por R$ 15.000. Algum tem um?.

    @PrefeitaMimi em pouco tempo conseguiu um nmero expressivo de seguido-res e hoje tem 2.700 followers (dados acessados em 10 de julho). um nmero expressivo ao comparar com o nmero de habitantes da cidade Natal-RN, que de pouco mais de 800 mil. Porm, @PrefeitaMimi no vem postando desde 6 de junho de 2011.

    Um movimento empenhado por @PrefeitaMimi e retwittado pelos seus segui-dores foi o #CanteComAPrefeitaMimi. uma sria de postagens que fazem pa-rdia com msicas conhecidas e a letra ironiza a situao da cidade e a prefeita @micarladesousa.

    Msicas do #CanteComAPrefeitaMimi:a) Vou no cabelereiro/No esteticista/Malho o dia inteiro/Na prefeitura sou

    uma artista.b) Dengue, Chuva, Buraco, salada mixta/Diz o que voc quer/ Sem eu dar

    nenhuma pista (2x).c) Foge, foge dos buraquinhos/Foge, foge com seu carrinho/A cidade est

    esburacada/Agora no tem mais sada!J o fake @PaquitaMoema nasceu em 31 de maio de 2011. O interessante no

    caso da criao deste fake a relao com o momento em que estava vivendo o movimento da hashtag #ForaMicarla. Em 25 de maio de 2011, os twitteiros mar-caram a primeira passeata do movimento social da hashtag #ForaMicarla, que saiu

  • 48do Twitter para as ruas da cidade. A passeata reuniu o nmero indito de duas mil pessoas em um nico protesto em Natal-RN. Assim que o ato terminou, os mani-festantes retornaram ao Twitter e marcaram uma nova passeata para o dia primeiro do ms de junho.

    Com o aumento das manifestaes tanto no Twitter como nas ruas da cidade, @thalitamoema comeou a intensificar seu ataque aos twitteiros do #ForaMicarla. Uma das aes da Rainha do Twitter neste momento do conflito era o de retwittar as postagens do Twitter oficial da prefeitura - @AvancaNatal que publica notcias do site da gesto municipal (www.natal.rn.gov.br).

    Foi tambm no dia da criao de @PaquitaMoema que o @PauloSBarbosa ame-aou @thalitamoema por causa da sua atitude de defesa Micarla de Sousa. Em seguida, @thalitamoema perguntou se ele estava ameaando-a. Desta forma, @Pau-loSBarbosa respondeu dizendo que no ameaa ningum, mas estava de olho nas atitudes da Rainha do Twitter.

    @PaquitaMoema tinha como imagem do perfil a foto de @thalitamoema. A au-todescrio do fake era: S vence quem se vende, sendo um trocadilho com a des-crio do perfil verdadeiro de Thalita Alves: S vence quem supera.

    Assim que @thalitamoema soube da existncia de @PaquitaMoema, ela pediu aos seus seguidores: Pessoal gostaria que vocs ajudassem a denunciar este FAKE que est usando a minha imagem. Depois a Rainha do Twitter disse: Tudo bem um dia vai e outro vem. Fazemos hoje e colhemos amanh.

    @PaquitaMoema tambm fazia stira a partir das aes do seu perfil original e sua relao com a gesto da prefeita Micarla de Sousa. Em uma das postagens, o fake disse: Tooda louca no. Odeio gente pobre! Ainda mais sabendo que Miguelzinho (grifo meu - Miguel Weber marido da prefeita de Natal-RN) odeia gente sem dente.

    @PaquitaMoema morreu em 03 de junho de 2011.

    2.1.3 fake? @milenatristornEu conheci @milenatristorn no dia primeiro de junho de 2011 atravs de um dos

    integrantes do #ForaMicarla, sendo o @DELLRN. Aps a passeata realizada nes-te mesmo dia, que ocorreu das 18h00 s 21h00, conversei com este integrante por meio do MSN Messenger. Foi quando @DELLRN disse que passou por um dos momentos mais tenso da manifestao do #ForaMicarla.

    Segundo o manifestante, ele e @dayvsoon estavam nas proximidades do estdio de futebol Machado, quando se aproximou uma mulher de vestido vermelho e decotado. @DELLRN disse que logo relacionou a @milenatristorn, pois ela ha-via dito no TT que ia aparecer desta forma na passeata. DELL se aproximou da mulher vestida de vermelho e perguntou se ela era Milena. De acordo com o ma-nifestante, a mulher de vermelho saiu correndo. Desta forma, @DELLRN disse: descobrimos mais uma fake e agora @dayvsoon est trollando com ela no Twitter.

    Existia uma dvida at aquele momento entre os twitteiros do #ForaMicarla

  • Olhares sobre a cibercultura

    49se @milenatristorn era ou no um fake . Este perfil tem como ao a defesa de Mi-carla de Sousa e o ataque ao movimento #ForaMicarla. No dia 25 de junho, @milenatristorn postou: Parece o povo do #foramicarla RT:@BrunoGiovanni: @thalitamoema A torcida do Amrica quebrou banheiros, vazos, pias, e no ultimo jogo quebrou um bar e bateu num ambulante..

    @milenatristorn tem a em seu perfil a imagem de uma mulher que no uma fotografia de um artista, mas no de uma pessoa que algum twitteiro de Natal co-nhea na vida off-line. Em seu perfil ela se descreve como algum que acredita na vida e nas pessoas de bem. Pronta para amar e ser feliz (risos).

    2.2