1 tese marcos capa intro e capitulo 1 (revisado)

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  • 7/30/2019 1 Tese Marcos Capa Intro e Capitulo 1 (Revisado)

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIAINSTITUTO DE GEOGRAFIA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA

    REA DE CONCENTRAO EM GEOGRAFIA E GESTO DO TERRITRIO

    GEOTECNOLOGIAS APLICADAS AO MAPEAMENTO DO

    USO DO SOLO URBANO E DA DINMICA DE FAVELA EMCIDADE MDIA: O CASO DE MONTES CLAROS/MG

    MARCOS ESDRAS LEITE

    Uberlndia - MG2011

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    MARCOS ESDRAS LEITE

    GEOTECNOLOGIAS APLICADAS AO MAPEAMENTO DOUSO DO SOLO URBANO E DA DINMICA DE FAVELA EM

    CIDADE MDIA: O CASO DE MONTES CLAROS/MG

    Tese de doutoramento apresentada ao Programa

    de Ps-Graduao em Geografia daUniversidade Federal de Uberlndia, comorequisito obteno do ttulo de Doutor emGeografia.

    rea de Concentrao: Geografia e Gesto doTerritrio.

    Orientador: Prof. Dr. Jorge Luis Silva Brito.

    UBERLNDIA MG

    2011

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA

    MARCOS ESDRAS LEITE

    GEOTECNOLOGIAS APLICADAS AO MAPEAMENTO DOUSO DO SOLO URBANO E DA DINMICA DA FAVELA EM

    CIDADE MDIA: O CASO DE MONTES CLAROS/MG

    ___________________________________________________

    Professor Doutor Jorge Lus Silva Brito (Orientador) - UFU

    ____________________________________________________Professor Doutor Ailton Luchiari - USP

    ____________________________________________________

    Professora Doutora Anete Marlia Pereira - UNIMONTES

    ___________________________________________________Professor Doutor Roberto Rosa - UFU

    ____________________________________________________

    Professora Doutora Beatriz Ribeiro Soares - UFU

    Uberlndia, ______ de__________________________ de 2011.

    Resultado:____________________________

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    Dedico esta tese a Tatiana e aos meus filhos,Matheus e Esdras, pela paz e felicidade queproporcionam.

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    AGRADECIMENTOS

    A Deus por sempre iluminar meu caminho e colocar as melhores pessoas ao meu

    lado.

    A Fundao de Amparo Pesquisa de Minas Gerais FAPEMIG pela bolsa dedoutoramento e pelo estgio tcnico cientfico na Universidade Nova de Lisboa.

    A Universidade Estadual de Montes Claros UNIMONTES atravs doDepartamento de Geocincia, pelo apoio incontestvel.

    Ao Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlndia pela oportunidadede evoluir academicamente.

    Ao Centro de Estudo de Geografia e Planejamento Regional da Universidade Novade Lisboa pelo acolhimento durante o estgio tcnico cientfico.

    Ao Professor Doutor Jorge Luis Silva Brito pela contribuio para meu crescimentocientfico e humano.

    Ao Professor Doutor Roberto Rosa pelo acompanhamento desde o incio destacaminhada.

    Ao Professor Doutor Vitor Ribeiro pela presteza e solicitude.

    Ao Professor Doutor Antonio Tenedrio, de Lisboa, pelas contribuies na aplicaodas geotecnologias no estudo do urbano.

    Aos membros da minha famlia Leite, em especial a minha referncia de av, Zez.

    A minha Me que me ensinou os valores para uma vida digna.

    Aos meus irmos Cludia, Marcelo, Joo e Manoel que tero sempre meu amor ecuidado.

    Aos colegas do Departamento de Geocincias/UNIMONTES, em especial as ProfessorasAnete Marilia Pereira e Maria Ivete soares de Almeida.

    A todos os professores, funcionrios do Instituto de Geografia da UFU que, de umaforma ou de outra, contriburam para esta conquista.

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    RESUMO

    O crescimento das cidades um fenmeno global, sobretudo nos pases em

    desenvolvimento. No contexto brasileiro, as cidades classificadas comointermedirias ou mdias destacam-se como polo convergente de imigrantes, porapresentarem caractersticas importantes na atrao populacional. Essa situaogera transformaes significativas no sistema urbano, como, por exemplo, na formade ocupao do solo. A cidade mostra grande complexidade de uso do solo, devido concentrao populacional e centralidade regional. Logo, h espaos especficospara determinadas funes. O uso predominante nas cidades o residencial, isto ,destinado para a moradia. Entretanto, a demanda de moradia incompatvel com aoferta, isso fora a populao de menor renda a ocupar espaos irregulares, atravsda compra de lotes em situao informal, ou mesmo a invadir terrenos de terceiros.Esse cenrio descreve a realidade da cidade de Montes Claros, uma vez que ela sedestaca como polo de uma vasta regio que abrange todo o Norte de Minas Gerais.Alm disso, a interveno estatal, com a instalao de indstrias, e a legilsaotrabalhista fizeram com que a migrao para essa cidade acelerasse. Por estar emuma regio de pequeno dinamismo econmico e de baixos indicadores sociais, operfil do imigrante no oferece grandes oportunidades de trabalho, ficando, partedessa populao, marginalizada. Esse foi o quadro que predominou em MontesClaros aps a implantao das indstrias, durante as dcadas de 1970 e 1980.Como consequncia, a cidade se expandiu sem um controle efetivo do poder pblicomunicipal e invases para fins de moradia ocorreram. O uso das geotecnologias,notadamente o sensoriamento remoto, com imagens de alta resoluo espacial, e o

    SIG permitiram extrair dados sobre a organizao do uso do solo urbano de MontesClaros. Nesse momento foi possvel quantificar e qualificar as classespredominantes nesse espao. A construo de uma metodologia de mapeamento doespao intraurbano foi imprescindvel para criar uma legenda em nveis hierrquicos,permitindo mapear o uso do solo com vrios focos, sendo que o interesse principalera identificar, na classe de baixa renda, as reas classificadas como favelas. Comesses recursos tecnolgicos foram identificadas 21 favelas. As favelas estoconcentradas nas zonas norte e sul da cidade. Na parte norte esto as maioresfavelas que surgiram com a criao do distrito industrial, e as ocupaes da zona sulso as mais recentes. A comparao das imagens de satlites Ikonos, de 2000, eQuick Bird, de 2005, mostrou que o crescimento das favelas de Montes Claros foi

    representativo e concentrado nas favelas que dispunham de espaos vagos no seuinterior, alm disso, constatou-se que as favelas da regio norte so as que maiscrescem. Os resultados obtidos nesta tese mostram que 68,5% da rea residencialdesta cidade ocupada por populao de baixa renda e desta 33,4% estoocupando o solo urbano de maneira irregular. Com os dados extraidos das imagensde resoluo de 2005 foi possvel estimar o crescimento das edificaes em favelasem 2005, em que se constatou que o crescimeto percentual foi superior a mdianacional. Diante dessas anlises, importante o monitoramento constante, atravsdas geotecnologias, do uso do solo urbano, uma vez que a ocupao ilegal dessesolo um problema recorrente nas cidades mdias brasileiras.

    Palavras-Chave: Geotecnologias; Favelas; Cidade; Sensoriamento Remoto; MontesClaros.

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    ABSTRACT

    The growth of cities is a global phenomenon, especially in developing countries. In

    the Brazilian context, cities are classified as intermediate sized or medium sizedstand as convergent pole of immigrants, because they have important characteristicsin the population attraction. This situation creates significant changes in the urbansystem, for example, in the form of land use. The city shows great complexity of landuse due to population concentration and the regional centrality. There are specificareas for certain functions. The predominant use in cities is residential, that is,intended for housing. However, the demand for housing is incompatible with supply,this forces the low income population to occupy irregular spaces through thepurchase of lots in an informal manner, or even invade the land of others. Thisscenario describes the reality of the city of Montes Claros, since it stands as a pole ofa vast region that encompasses the whole North of Minas Gerais, and part of thesouthern state of Bahia. Furthermore, state intervention, with the installation ofindustries, has made the move to speed up this city. By being in a small region ofeconomic dynamism and low social indicators, profile of the immigrant does not offergreat job opportunities, being part of this population, and is marginalized. This wasthe context that prevailed in Montes Claros after deployment of the industries duringthe 1970s and 1980s. As a result, the city has grown without an effective control ofmunicipal government and encroachments for housing purposes occurred. The useof geo-technology, especially remote sensing, images with high spatial resolution,and the Geographic Information System - GIS allowed to extract data on theorganization of urban land use in Montes Claros. At that moment it was possible to

    quantify and qualify the dominant classes in this space. The construction of amethodology of mapping intra-urban space was essential to create a legend inhierarchical levels, allowing the mapping the land use with multiple focuses, with themain aim to identify the class of low-income areas classified as slums. In mappingthe distribution of income classes, it was noticed that there is a predominance of low-income population, concentrated in the areas north, east and south of the city,leaving the western part for the higher income population. The slums areconcentrated in areas north and south of town. However, there are slums in thecentral-west, these being the oldest, which emerged in the 1930s. In the northernpart are the largest shantytowns that arose with the creation of industrial clusters,and the occupation of the south are the most recent. A comparison of Ikonos satellite

    images of 2000, and Quick Bird, 2005, showed that the growth of slums in MontesClaros was representative and concentrated in the slums that had vacant spaceswithin it, moreover, it was found that the slums in the north are the fastest growing.Given this analysis, constant monitoring is important, through geo-technology and theuse of urban land, since the illegal occupation of that land is a recurrent problem inmedium-sized cities in Brazil.

    Keywords: Geo; Slums; City; Remote Sensing; Montes Claros.

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    APP: rea de Preservao Permanente

    BID: Banco Interamericano de DesenvolvimentoCAD: Computer Aided Design (Desenho Auxiliado por Computador)CAIC: Centro de Ateno Integral Criana e ao AdolescenteCBERS: China-Brazil Earth Resources Satellite (Satlite Sino-Brasileiro de Recursos

    Terrestres)CEMIG: Companhia Energtica de Minas GeraisCEPAL: Comisso Econmica para Amrica LatinaCOPASA: Companhia de Saneamento do Estado de Minas GeraisCORINE: Coordination of Information on Environment (Coordenao de Informao

    Ambiental)

    DER/MG: Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas GeraisEMBRAPA: Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuriaERTS: Earth Resources Technology SatelliteESRI: Environmental System Research InstituteETE: Estao de Tratamento de EsgotoFACIT: Faculdade de Cincia e TecnologiaFACOMP: Faculdade de ComputaoFASA: Faculdades Santo AgostinhoFASI: Faculdades de Sade IbiturunaFIP: Faculdades Integradas PitgorasFUNORTE: Faculdades Unidas do Norte de MinasGIS: Geographical Information SystemsGPS: Sistema de Posicionamento Global (Global Positioning System)IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaIDH-M: ndice de Desenvolvimento Humano MunicipalIFET: Instituto Tcnico FederalINPE: Instituto Nacional de Pesquisas EspaciaisIPEA: Instituto de Pesquisa Econmica AplicadaISEIB: Instituto Superior de Educao IbiturunaMAXVER: Mxima Verossimilhana

    MNT: Modelagem Numrica do Terreno

    NCA/UFMG: Ncleo de Cincias Agrrias da Universidade Federal de Minas GeraisONU: Organizao das Naes UnidasPDI: Processamento Digital de ImagemPMCC: Prefeitura Municipal de Montes ClarosPNAD: Pesquisa Nacional de Amostra DomiciliarPNUD: Programa das Naes Unidas para o DesenvolvimentoPSF: Programa Sade da FamliaSAD 69: South American Datum de 1969SEPLA: Secretaria Municipal de PlanejamentoSEPLAN: Secretaria Municipal de Planejamento e Coordenao

    SIG: Sistema de Informaes GeogrficasSPRING: Sistema de Processamento de Informaes GeorreferenciadasSUDENE: Superintendncia de Desenvolvimento do Nordeste

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    UFMG: Universidade Federal de Minas GeraisUN-HABITAT: Programa de Assentamentos Humanos das Naes UnidasUNFPA: Fundo de Populao das Naes UnidasUNIMONTES: Universidade Estadual de Montes Claros

    UNIPAC: Universidade Presidente Antnio CarlosUNOPAR: Universidade do Norte do ParanUTM: Universal Transversa MercatorZEIS: Zonas Especiais de Interesse Social

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 01 - Vista parcial da Favela Ciudad Bolvar, em Bogot............................................28

    Figura 02 - Tecnologias de integrao com o SIG................................................................59Figura 03 - Os quatro nveis de pesquisa geogrfica de Libault (1971)................................76Figura 04 - Visualizao do software Spring 4.2...................................................................82Figura 05 Imagem Quick Bird do permetro urbano de Montes Claros, 2005.....................86Figura 06 - Visualizao do software Auto Cad Map 2000....................................................88Figura 07 - Visualizao do software ArcView GIS 3.2.........................................................90Figura 08 - Elementos socioambientais mapeados...............................................................92Figura 09 - Etapas para gerar mapas hipsomtrico e clinogrfico.........................................95Figura 10 - Organizao dos mapas no Arc GIS 9.3.............................................................96Figura 11 - Legenda hierrquica com os cinco nveis de classificao de uso e ocupao do

    solo urbano de Montes Claros........................................................................102Figura 12 - Legenda da classificao das classes de renda por grupos de densidade de

    ocupao........................................................................................................110Figura 13 - Imagem das favelas do setor norte de Montes Claros......................................114Figura 14 - Imagem das favelas do setor sul de Montes Claros..........................................115Figura 15 - Imagem das favelas do setor centro-oeste de Montes Claros...........................116Figura 16 - Vetorizao sobre raster no Arc GIS 9.3...........................................................118Figura 17 - Shopping Montes Claros, primeiro shopping center da cidade.........................139Figura 18 - Shopping popular Mrio Ribeiro da Silveira, localizado no centro de Montes

    Claros.............................................................................................................140Figura 19 Ibituruna Center, localizado no setor oeste de Montes Claros.........................140Figura 20 - Carta Imagem do bairro Ibituruna em Montes Claros........................................148Figura 21 - Conjunto habitacional Clarice Atade, na zona norte da cidade........................149Figura 22 - Bairro Vilage do Lago, na zona norte da cidade...............................................149Figura 23 - Centro da cidade de Montes Claros com construo de novos edifcios....... ...151Figura 24 - Crescimento urbano de Montes Claros de 1970 a 2005...................................152Figura 25 - Estrutura geomorfolgica do relevo da cidade de Montes Claros.....................156Figura 26 - Vista panormica da regio leste de Montes Claros.........................................158Figura 27 - Avenida Castelar Prates...................................................................................169Figura 28 - Avenida Francisco Gaetani...............................................................................169Figura 29 - Prdio da antiga fbrica de culos, atualmente supermercado da rede Wal Mart

    ....................................................................................................................... 170Figura 30 - Comparao da ocupao entre bairro de renda alta e bairro de renda mdia 176Figura 31 - Modelo digital de elevao da cidade Montes Claros.......................................181Figura 32 - Extrao e sobreposio das informaes espaciais da tese...........................202

    Figura 33 - Ocupao de terreno prximo a talude na Vila Atlntica...................................212Figura 34 - Construes na encosta do Morro do Frade, na Vila So Francisco de Assis. .214Figura 35 - Anncio de leilo pblico para venda de terreno municipal..............................221Figura 36 - Terreno pblico municipal ao qual o anncio se refere.....................................221Figura 37 - Favela do Vilage do Lago, localizada em uma vooroca..................................222Figura 38 - Favela da Vila Campos, localizada na margem do Rio Bicano.........................222Figura 39 - Vertente oeste do Morro do Frade na Favela do Vila So Francisco de Assis..233Figura 40 - Beco asfaltado da Favela So Vicente.............................................................234Figura 41 - Beco asfaltado da Favela Vila Alice..................................................................234Figura 42 - Favela Cidade Industrial sob faixa de domnio da rede de alta tenso de energia

    ....................................................................................................................... 235Figura 43 - rea de expanso da Favela da Vila Atlntica..................................................236

    Figura 44 - Favela Castelo Branco sob a rede de energia..................................................237Figura 45 - Espao pblico vago no interior da Favela do Vilage do Lago..........................238Figura 46 - Novas construes na Favela Nova Morada.....................................................238Figura 47 - Favelas do setor norte de Montes Claros.........................................................239

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    Figura 48 - Ocupao das margens do crrego dos Mangues na Favela do Ciro dos Anjos....................................................................................................................... 241

    Figura 49 - Favela da Vila Campos nas margens do crrego Bicano..................................242Figura 50 - Favela da Vila Itatiaia nas margens do crrego Bicano....................................242Figura 51 - Novas construes na Favela do Chiquinho Guimares...................................243Figura 52 - Favela da Rua Vinte, no Bairro Major Prates....................................................244Figura 53 - Favela da Rua da Prata, no Bairro Major Prates...............................................244Figura 54 - Rua da Favela Baro de Mau.........................................................................244Figura 55 - Favela da Vila Telma, prximo rodovia BR-135 e Ferrovia Central Atlntica

    ....................................................................................................................... 245Figura 56 - Favelas do setor sul de Montes Claros.............................................................246Figura 57 - rea de expanso da Favela Cidade Cristo Rei, prximo a Ferrovia Central

    Atlntica..........................................................................................................248Figura 58 Escadaria da Favela Morrinhos, com elevado adensamento de residncias. . .248Figura 59 - Favela Santa Ceclia, prximo ao crrego das Lages.......................................249Figura 60 - Becos com elevado adensamento na Favela da Vila Tup...............................249

    Figura 61 - Favela da Vila Mauricia sob a rede de transmisso de energia......................250Figura 62 - Favelas do setor centro-oeste de Montes Claros..............................................251

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    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 01 - Climograma da cidade de Montes Claros, 2008...........................................125

    Grfico 02 Evoluo da estrutura etria da populao de Montes Claros.....................128Grfico 03 - Crescimento da populao urbana de Montes Claros..................................143Grfico 04 Crescimento da rea ocupada em Montes Claros (Km2)..............................155Grfico 05 Propriedade dos terrenos das favelas de Montes Claros.............................209Grfico 06 - Favelas do setor norte de Montes Claros: crescimento de domiclios entre

    2000 e 2005.................................................................................................240Grfico 07 - Favelas do setor sul de Montes Claros: crescimento de domiclios entre 2000

    e 2005..........................................................................................................247Grfico 08 - Favelas do setor centro-oeste de Montes Claros: crescimento de domiclios

    entre 2000 e 2005........................................................................................252

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    LISTA DE MAPAS

    Mapa 01 - Montes Claros: renda domiciliar mdia mensal, 2000....................................107

    Mapa 02 - Mesorregies de Minas Gerais.......................................................................122Mapa 03 - Localizao do Municpio de Montes Claros no Norte de Minas Gerais....... ..124Mapa 04 - Unidades de Sade da cidade de Montes Claros...........................................134Mapa 05 - Escolas pblicas da cidade de Montes Claros................................................136Mapa 06 - Instituies de Ensino Superior da cidade de Montes Claros.........................138Mapa 07 - Subcentros comerciais e shopping centers da cidade de Montes Claros.......141Mapa 08 - rea urbana de Montes Claros na dcada de 1970......................................145Mapa 09 - Crescimento urbano de Montes Claros entre 1970 e 2005.............................153Mapa 10 - Montes Claros: hipsometria do permetro urbano...........................................157Mapa 11 - Uso do solo de Montes Claros/MG, Nvel I.....................................................165Mapa 12 - Uso do solo de Montes Claros/MG Nvel II..................................................171Mapa 13 - Uso do solo de Montes Claros/MG Nvel III.................................................174

    Mapa 14 - Uso residencial por classes de renda de Montes Claros/MG Nvel III.........178Mapa 15 Montes Claros: classe residencial por densidade de edificao.....................180Mapa 16 - Montes Claros: uso residencial - classes de renda por densidade.................184Mapa 17 - Montes Claros: rea residencial de baixa renda.............................................190Mapa 18 - Formas de ocupaes ilegais de baixa renda.................................................193Mapa 19 - Cronologia de formao das favelas de Montes Claros..................................206Mapa 20 - Montes Claros: Hipsometria e favelas............................................................211Mapa 21 - Montes Claros: Declividade e favelas.............................................................213Mapa 22 - reas pblicas com risco de formao de favelas..........................................219Mapa 23 - Favelas de Montes Claros..............................................................................229Mapa 24 - Setorizao das favelas de Montes Claros.....................................................232

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro 01- Conceitos e critrios para definio de favelas e assemelhados utilizados

    pelas prefeituras do Brasil, IBGE e ONU........................................................36Quadro 02 Nveis de mapeamento do uso do solo urbano de Anderson et al. (1976)....98Quadro 03 Nveis de mapeamento do uso do solo urbano do CORINE/1990..................99Quadro 04 Descrio das amostras de espaos No Ocupados...................................103Quadro 05 Descrio das classes de uso do solo de Nvel II.........................................105Quadro 06 Descrio das classes de renda - Nvel III...................................................108Quadro 07 Descrio das classes de densidade - Nvel III............................................109Quadro 08 Descrio das classes de risco de formao de favelas..............................113Quadro 09 - Assentamentos ilegais da cidade de Montes Claros....................................195Quadro 10 Assentamentos ilegais da cidade de Montes Claros....................................208

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01 Estimativas da populao em favelas ou assemelhados por regies do

    mundo/2003...................................................................................................26Tabela 02 As dez maiores favelas do mundo (2005)......................................................29Tabela 03 Cidades com maior ndice de populao favela no Brasil em 2000...............30Tabela 04 Quantidade demogrfica para classificao de cidade mdia em alguns

    pases da Unio Europeia..............................................................................38Tabela 05 Nmero de favela em municpios brasileiros (por faixas de populao) 2000

    .......................................................................................................................41Tabela 06 Loteamentos ilegais em algumas cidades mdias brasileiras/2001...............44Tabela 07 Mdia de moradores nas favelas de Montes Claros recenseadas pelo IBGE

    em 2000....................................................................................................... 119Tabela 08 Estimativa da populao em favelas no recenseadas pelo IBGE em 2000120Tabela 09 Municpios mais populosos do estado de Minas Gerais/2007......................127

    Tabela 10 Indicadores socioeconmicos de Montes Claros - 1991 e 2000...................129Tabela 11 Os dez municpios com os maiores PIBs de Minas Gerais/2007.................132Tabela 12 Renda e Densidade (km)............................................................................ 183Tabela 13 - Dados sobre as formas de ocupao ilegal do solo urbano.........................194Tabela 14 - Dficit Habitacional Bsico de Montes Claros..............................................225Tabela 15 - Domiclios em favelas de Montes Claros: crescimento entre 2000 e 2005...253Tabela 16 Estimativa de moradores nas favelas de Montes Claros em 2005...............257

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    SUMRIO

    INTRODUO..................................................................................................................... 16

    CAPTULO 1 GEOTECNOLOGIAS, ESPAO URBANO E ASSENTAMENTOSINFORMAIS..........................................................................................................................21

    1.1 As transformaes do espao urbano e a formao de assentamentos informais... .221.1.1 Definio de favela no Brasil............................................................................311.1.2 Favela em cidades mdias...............................................................................371.1.3 Loteamento informal.........................................................................................42

    1.2 A Geografia e as Geotecnologias..............................................................................461.2.1 As Geotecnologias...........................................................................................511.2.2 Sensoriamento remoto.....................................................................................551.2.3 Sistema de Informao Geogrfica..................................................................60

    1.3 Geotecnologias aplicadas ao estudo do espao urbano............................................65

    CAPTULO 2 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS.......................................................752.1 A metodologia da pesquisa.......................................................................................762.2 Procedimentos operacionais..................................................................................... 79

    2.2.1 Tratamento das imagens de alta resoluo......................................................802.2.2 Construo e adaptao da base cartogrfica.................................................872.2.3 Mapeamento dos elementos socioambientais..................................................912.2.4 Mapeamento do uso do solo urbano................................................................962.2.5 Mapeamento das favelas e sua dinmica.......................................................112

    CAPTULO 3 O ESPAO URBANO DE MONTES CLAROS............................................121

    3.1 Aspectos socioeconmicos de Montes Claros.........................................................122

    3.2 A expanso urbana de Montes Claros.....................................................................142CAPTULO 4 INTEGRAO DE IMAGEM DE ALTA RESOLUO E SIG NOMAPEAMENTO DO USO DO SOLO URBANO.................................................................160

    4.1 O mapeamento do uso do solo urbano....................................................................1614.2 O espao urbano ocupado e no ocupado: Nvel I do mapeamento do uso do solo

    ................................................................................................................................1634.3 Setores funcionais: Nvel II do mapeamento do uso do solo...................................1674.4 Setor residencial por classes de renda e de densidade: Nvel III do mapeamento do

    uso do solo urbano..................................................................................................1724.5 Espao residencial de baixa renda legal e ilegal: Nvel IV do mapeamento do uso do

    solo urbano..............................................................................................................185

    4.6 Tipo de moradia ilegal de baixa renda: Nvel V do mapeamento do uso do solourbano..................................................................................................................... 192

    CAPTULO 5 CENRIO E PERSPECTIVAS DAS FAVELAS DE MONTES CLAROS:ANLISE AUXILIADA PELAS GEOTECNOLOGIAS........................................................198

    5.1 Favelas em Montes Claros: cenrio e perspectivas.................................................1995.2 Monitoramento do crescimento das favelas.............................................................224

    5.2.1 Estimativa de populao em favela em perodo intercensitrio......................2545.3 A regularizao fundiria e urbanstica como alternativa para as favelas................258

    CONSIDERAES FINAIS................................................................................................265REFERNCIAS.................................................................................................................. 272

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    INTRODUO

    O desenvolvimento tecnolgico trouxe avano na qualidade de vida do ser humano,pois produzir conhecimentos e instrumentos para mitigar os problemas da sociedade

    um dos objetivos da cincia. Em consonncia com essa situao, as tecnologias

    de informao geogrfica, entendidas neste trabalho como geotecnologias,

    trouxeram benefcios para a sociedade. Esses ganhos ocorrem quando o homem

    utiliza os instrumentos tecnolgicos para gerenciar de maneira planejada os

    eventuais problemas decorrentes do uso do espao terrestre e os recursos nele

    disponveis.

    So diversas as aplicaes das geotecnologias no monitoramento e gesto de

    problemas espaciais. Essa aplicao vai desde o monitoramento do uso do solo

    para aumentar a produtividade agrcola at a reduo dos impactos ambientais

    provenientes da agricultura. Da mesma forma, podem ser usados para identificar

    pontos de grande ocorrncia de alguns fenmenos (hot spot), como criminalidade,

    epidemiologia, indicadores sociais e outros. Diante dessas variadas aplicaes, as

    geotecnologias se destacam, tambm, no estudo dos problemas urbanos, haja vista

    que o processo de urbanizao crescente e traz consigo problemas de diversas

    ordens.

    O crescimento da populao urbana e, consequentemente, a expanso da fsica da

    cidade preocupao dos organismos internacionais, embora a gesto dos

    problemas da urbanizao seja responsabilidade direta dos governos locais. Por

    isso, o uso das geotecnologias para o planejamento de aes e para a tomada de

    deciso fundamental para minimizar os problemas urbanos. Com aplicao

    direcionada ocupao e uso do espao urbano, as geotecnologias so usadas

    para definir instrumentos de planejamento e gesto urbana, alm de auxiliar na

    identificao e diagnstico dos problemas, trazendo resultados positivos para a

    sociedade.

    Essa ocupao do espao urbano de maneira rpida, devido intensa urbanizao,

    provocou a formao de assentamentos ilegais, os quais se caracterizam pela

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    informalidade da ocupao e por abrigarem populao com baixos indicadores

    sociais. Essa uma realidade nas grandes cidades brasileiras e, tambm, nas

    cidades mdias que apresentaram, nos ltimos vinte anos, ritmo de urbanizao

    acima da mdia nacional.

    Essa forma de moradia se configura como ponto de preocupao dos gestores

    urbanos, pois sua presena interfere no sistema social urbano, haja vista que local

    de baixa condio de vida e sua populao no tem o efetivo direito cidade,

    gerando rea de excluso que contrasta com o restante da cidade. Essa situao

    exige medidas que devem ser pensadas de maneira meticulosa, pois a dinmica

    urbana mostra que esses espaos esto em constante formao nas cidades maisatrativas, como as cidades mdias. Diante dessa realidade, as geotecnologias so

    valorosas tcnicas para instrumentalizar o poder pblico, a fim de minimizar o

    problema da falta de moradia e regularizar a situao das ocupaes ilegais.

    A migrao intensa para as cidades mdias, como Montes Claros, provoca a

    expanso rpida do espao urbano. Logo, o governo local tem dificuldade em

    planejar poltica habitacional para incluir as famlias migrantes. Esses novoscitadinos, em geral, apresentam pequena qualificao profissional e baixa renda, o

    que dificulta o acesso moradia legal. Nesse contexto, proliferam nas cidades

    mdias as invases de terra e a formao de favelas.

    A partir dessa necessidade, os estudos sobre os assentamentos urbanos ilegais em

    cidades mdias so relevantes, no intuito de contribuir com novos conhecimentos

    sobre a questo da moradia, alm de propor novas metodologias para esse tipo deestudo. Dentro da necessidade de estudar a ocupao informal urbana, objetivando

    auxiliar na gesto dessas cidades, o uso das geotecnologias surge como

    instrumento com grande potencial de aplicao nas atividades de gesto urbana.

    Nessa perspectiva, a construo desta tese teve como ponto de partida a aplicao

    prtica das geotecnologias, notadamente o sensoriamento remoto e o Sistema de

    Informao Geogrfica, em uma cidade mdia, a cidade de Montes Claros, para

    apresentar a potencialidade dessas tecnologias aplicadas ao estudo do uso do solo

    urbano e da ocupao ilegal por populao de baixa renda.

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    Nesse sentido, o objetivo geral desta tese foi compreender as formas de uso do solo

    urbano e a dinmica dos assentamentos ilegais na cidade de Montes Claros, a partir

    do uso de imagens de alta resoluo integradas ao SIG. De maneira especfica este

    trabalho objetivou criar uma metodologia de mapeamento do uso do solo urbano, a

    partir de uma legenda hierrquica sucessiva para atingir o nvel de interesse, a

    favela. Objetivou, tambm, analisar a forma de expanso do espao urbano entre

    1970 e 2005 com uso de produtos cartogrficos e orbitais; mapear os usos do solo

    urbano; classificar as ocupaes ilegais do espao urbano; analisar a dinmica de

    expanso das favelas entre 2000 e 2005 por imagens de alta resoluo; e estimar a

    populao em favela na cidade de Montes Claros, em 2005.

    A tese defendida neste trabalho consistiu na possibilidade de construo de novos

    nveis de mapeamento do uso do solo no espao intraurbano, notadamente em

    cidade mdia. Para tal foram adaptadas as propostas de Anderson et al. (1976) e do

    Sistema europeu do Corine Land Cover. Dessa forma foi possvel criar uma nova

    legenda com nveis de mapeamento do solo urbano. A inteno ao criar uma

    legenda com nveis hierrquicos para mapeamento do solo urbano foi atingir o nvelmximo de interesse nesta tese, a favela.

    Acredita-se, tambm, que a partir do uso de uma metodologia definida com

    utilizao de imagens de satlite de alta resoluo (Ikonos e Quick Bird) seja

    possvel definir o padro de localizao das favelas, bem como as variveis que

    atuam na formao de novas favelas em Montes Claros. Com isso, possvel

    classificar as reas de maior potencial para novas invases de baixa renda. Por fim,os dados extrados das imagens Ikonos e Quick Bird podem fomentar a estimativa

    de populao em favela em perodo intercensitrio. Esse ltimo ponto se destaca

    pela necessidade de dados demogrficos atualizados sobre favelas, pois os dados

    oficiais so coletados apenas por dcada.

    Para facilitar a compreenso, o texto da tese foi dividido em sees, apresentando

    as atividades prticas e os resultados obtidos. O texto est estruturado em cinco

    captulos; essa definio foi pensada de forma a manter a coerncia das ideias e

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    discusses apresentadas, o que facilita a leitura e a compreenso de toda a

    pesquisa realizada neste doutoramento.

    No primeiro captulo foi construdo o referencial terico com o objetivo de mostrar as

    teorias, os princpios e as definies que fundamentaram o trabalho, com isso h

    uma discusso terica sobre as geotecnologias e suas aplicaes no urbano e uma

    anlise aprofundada sobre as cidades mdias e o uso ilegal do solo urbano,

    notadamente as favelas.

    O segundo captulo trouxe o procedimento metodolgico, haja vista que, para atingir

    os objetivos propostos neste trabalho, foi definida uma metodologia de pesquisa, naqual so expostas e analisadas as etapas de trabalho. Nessa parte justificada a

    escolha dos instrumentos usados, alm da apresentao das variveis utilizadas

    para obter os dados e informaes esperadas. Nesse momento so apresentados

    os padres de resposta espectral para interpretao das imagens de satlite e os

    parmetros definidos para gerao dos mapas temticos. Alm disso, so descritas

    as atividades executadas para obteno de informaes em arquivos pblicos.

    O captulo trs configura-se como incio da apresentao dos resultados, pois traz a

    anlise do espao de interesse da pesquisa, a cidade de Montes Claros. Nesse

    ponto foram usados dados socioeconmicos e fsicos para caracterizar essa rea.

    Esses dados foram obtidos de diversas fontes e so usados para diagnosticar a

    realidade do espao intraurbano de Montes Claros, so apresentados atravs de

    mapas, grficos e tabelas.

    O quarto captulo traz o resultado do mapeamento de uso do solo urbano, definido

    na metodologia da pesquisa. Foram criados cinco nveis de mapeamento do uso do

    solo, sendo que o objetivo chegar ao ltimo nvel da legenda, as favelas. Para

    atingir esse objetivo foi preciso identificar e classificar outros usos que esto

    presentes no solo da cidade de Montes Claros. Com os dados resultantes dessa

    etapa foi possvel entender os usos e suas caractersticas no espao urbano, alm

    da respectiva representao quantitativa no permetro urbano. As informaes e

    produtos cartogrficos dessa seo foram fundamentais para iniciar o quinto

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    captulo, pois com a classificao das formas de ocupao do espao urbano

    chegou-se s reas de favelas.

    No ltimo captulo esto os resultados sobre a anlise das favelas de Montes Claros.

    Esse captulo objetivou compreender a formao dos assentamentos ilegais

    associados ao crescimento urbano de Montes Claros. Alm disso, analisou-se,

    nessa parte do trabalho, a expanso das favelas, atravs da construo de novas

    edificaes. Nesse momento, foi apresentada a estimativa de populao em favelas

    na cidade de Montes Claros, usando imagem de alta resoluo. As informaes

    obtidas subsidiaram uma anlise sobre as favelas e as alternativas para a

    administrao pblica intervir nesse tipo de moradia.

    Os resultados desta pesquisa, expostos nesta tese, revelaram que a situao

    habitacional de Montes Claros carece de estudos sobre a dinmica espacial das

    ocupaes ilegais, sobretudo as favelas. Este tipo de moradia ocupa percentual

    representativo na cidade de Montes Claros. No atual cenrio, em que esta cidade

    desenvolve centralidade crescente na rede urbana regional, essa situao tende a

    se agravar, haja vista que o crescimento demogrfico elevado e a urbanizaosegue o mesmo ritmo.

    Diante dessa situao, a aplicao de instrumentos tecnolgicos de resposta rpida

    para subsidiar o planejamento urbano e a definio de polticas habitacionais torna-

    se imprescindvel. O uso de imagens de alta resoluo integrado ao ambiente SIG

    possibilita simular cenrio e fazer prognstico, a fim de auxiliar na gesto da cidade.

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    CAPTULO 1

    GEOTECNOLOGIAS, ESPAO URBANO EASSENTAMENTOS INFORMAIS

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    1.1 As transformaes do espao urbano e a formao de assentamentos

    informais

    O processo de urbanizao cresce globalmente, embora sejam os pases pobres ou

    pases perifricos os que contribuem de forma incontestvel para esse ritmo

    acelerado. Essa concentrao de pessoas nas cidades cada vez maior, sendo que

    na proporo em que a dimenso dessas cidades aumenta a desigualdade

    socioespacial se torna mais intensa, provocando uma srie de problemas

    congneres.

    A preocupao com esse fenmeno faz com que os organismos internacionais

    pesquisem sobre essa tendncia. Nesse sentido, o Fundo de Populao das

    Naes Unidas (UNFPA) divulgou, em julho de 2007, um relatrio intitulado

    Situao da populao mundial em 2007: Desencadeando o potencial para o

    crescimento urbano. Nesse relatrio, o crescimento da populao mundial em

    2050 estimado em cerca de 2,5 bilhes de habitantes a mais do que em

    2007, esse nmero elevar o total de habitantes do planeta para nove bilhes.O ponto de maior enfoque desse relatrio trata do crescimento da populao

    urbana do planeta, prevendo nesse documento que, em 2030, cinco bilhes de

    pessoas vivero nas cidades, o que representar 60% da populao mundial

    nesse perodo.

    A urbanizao (aumento da parcela urbana na populao total) ser desigual entre

    os pases do globo, pois, em 30 anos, a populao urbana nos pases ricosaumentar em apenas 100 milhes de pessoas, o equivalente a 11% da populao

    urbana de 2007 nesses pases. Entretanto, na Amrica Latina, 200 milhes de

    citadinos a mais surgiro at 2030, isso significar um aumento de 50% em relao

    a 2007. Na sia e na frica, principais responsveis pelo crescimento populacional

    das cidades, a populao urbana dobrar at 2030. Dessa forma, com as cidades

    desses dois continentes crescendo ao ritmo de um milho de habitantes por

    semana, quase sete em cada dez cidados urbanos sero asiticos ou africanos em

    2030 (UNFPA, 2007).

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    Essa tendncia consequncia da primazia urbana por parte dos pases centrais,

    visto que a urbanizao nos pases pobres considerada recente se comparada

    com os pases ricos, pois nesses ltimos a urbanizao se iniciou ainda no sculo

    XVIII, ao passo que nos pases perifricos, de modo geral, esse processo s teve

    incio a partir da dcada de 1950, com a internacionalizao do capital, fruto da

    busca por reproduo de capital por parte dos pases centrais. Desde o incio, no

    processo de urbanizao dos pases perifricos ocorre o crescimento desordenado

    das cidades, causado pelo intenso fluxo migratrio da populao rural para as

    cidades.

    Analisando o processo de industrializao da Amrica Latina, Daz (2005) colocaque esse processo, tanto com a substituio das importaes, quanto com a

    internacionalizao da economia, foi motivador para a sada do homem do campo

    em busca das novas oportunidades oferecidas nas cidades.

    Alm da industrializao, a sada da populao do campo, nos pases pobres,

    motivada por fatores de ordem econmica, social, poltica, climtica e cultural; dentre

    as causas mais comuns dessa repulso do homem do campo destacam-se: acompetio desigual entre o pequeno produtor e o grande, a concentraofundiria,

    a mecanizao agrcola, a ineficincia de polticas pblicas de apoio ao pequeno

    produtor, as secas prolongadas e a falta de equipamentos pblicos de sade e

    educao.

    Logo, as cidades dos pases perifricos multiplicaram os problemas sociais de forma

    exponencial, considerando que so vtimas de um crescimento populacionalincompatvel com a capacidade de absoro econmica desses imigrantes, alm de

    estarem desprovidas de infraestrutura para atender a todos. Sietchiping (2000, p.

    399) afirma que [] slums and squatter and informal settlements in those cities are

    the expression of a marginalization of a big and growing part of city dwellers.

    Essa dinmica faz com que Daz (2005, p.76) conclua que

    [...] as cidades so construdas em espaos contraditrios. Por um lado, so

    vistas como geradoras de oportunidades, em relao ao emprego e aoacesso ao conhecimento, mas, por outro lado, se tornam os lugares ondeexiste a mais variada problemtica social, pobreza, marginalizao,insegurana, violncia, entre outras coisas.

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    O problema socioambiental da cidade uma parcela da transformao da paisagem

    urbana, pois, alm da ocupao residencial h novas formas de uso do espao

    urbano. E essas mudanas no uso do solo so determinantes para agravar o

    problema da moradia. Portanto, h uma lgica em que o crescimento populacional

    cria uma demanda por espao, no apenas para habitao, mas tambm para

    outras atividades. Essa transformao no padro de uso do solo levar aos conflitos

    mercadolgicos do espao urbano.

    Com o crescimento da populao urbana e, consequentemente, a expanso fsica

    da cidade, surgiram novos processos espaciais, como a centralizao, adescentralizao, a coeso, a sucesso e a segregao. Esses processos

    influenciam no valor do solo urbano e isso determina a distribuio da populao

    pela cidade, gerando, assim, o contraste social. Essa situao define as reas de

    melhor infraestrutura urbana. Em resumo, os processos espaciais da cidade so

    interligados, deste modo, qualquer alterao em um desses, e o sistema urbano

    afetado completamente.

    Essa constatao imprime a necessidade de se pensar o uso do solo urbano, por

    isso, o planejamento urbano moderno exige um zoneamento, no qual se tem de

    objetivar um melhor ordenamento da cidade, sem que exista privilgio a

    determinadas classes sociais e interesses individuais. Essa medida intervencionista

    importante para minimizar a apropriao desigual do espao urbano; concernente

    a esse objetivo a Lei de Zoneamento, estabelecida no Artigo 30 da Constituio

    Federal, prev que esse instrumento promova o pleno desenvolvimento das funessociais da cidade, garantindo o bem-estar de seus habitantes e o cumprimento da

    funo social do solo urbano.

    O tipo de zoneamento e as classes de uso do solo so definidos pelo municpio

    respeitando as peculiaridades de cada rea. Mas, Souza discute a necessidade de

    se pensar um zoneamento com uma proposta diferente da Carta de Atenas, ou seja,

    um modelo que no esteja baseado, apenas, na funcionalidade. De acordo com

    esse autor, [...] nem todo zoneamento de uso de solo precisa ser funcionalista e

    conservador (2006, p.260). Como alternativa proposto um zoneamento de

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    prioridades, no qual se identifiquem os [...] espaos residenciais dos pobres

    urbanos e a sua classificao de acordo com a natureza do assentamento (favela ou

    loteamento irregular) e, adicionalmente, conforme o grau de carncia de infra-

    estrutura apresentado. (SOUZA, 2006. p. 263).

    Frente a essa anlise, a questo da moradia se torna o ponto de maior preocupao

    no espao urbano, pois a necessidade de moradia inerente a qualquer ser

    humano, sendo assim, formas alternativas de habitao surgem nas cidades. Da

    surge a ocupao ilegal de terra urbana, culminando na formao de assentamentos

    urbanos informais, exigindo, por parte do poder pblico, medidas que auxiliem na

    gesto desse espao.

    Davis (2005, p. 27) traz um dado espantoso ao afirmar que [...] desde 1970, o

    crescimento das favelas em todo hemisfrio sul ultrapassou a urbanizao

    propriamente dita, ou seja, nessa viso o nmero de pessoas nos pases pobres

    que se deslocam para as favelas, a partir de 1970, maior que o nmero de

    pessoas que vo para as cidades. Em Lima, a porcentagem de moradores de

    favelas chega a 75% da populao total e, em Caracas, esta proporo de 30% dapopulao total.

    Frente a esse quadro preocupante, o processo de formao de favelas e de

    implantao de loteamentos ilegais tema de estudos, tanto nas academias quanto

    nos organismos pblicos, ambos, de certa forma, buscando auxiliar na tomada de

    deciso dos administradores urbanos.

    Em 2003, foi publicado pelo Programa de Assentamentos Humanos das Naes

    Unidas (UN-HABITAT), o trabalho mais completo sobre as favelas no mundo, The

    Challenge of Slums: Global Report on Human Settlements, 2003 . Nas 310

    pginas desse relatrio h exposio de experincias vividas pelos autores, bem

    como anlises sobre o problema da favelizao nos pases pobres. Algumas vezes o

    Brasil citado, sobretudo as favelas das cidades de So Paulo e Rio de Janeiro.

    O objetivo do UN-HABITAT ao fazer esse estudo foi mostrar a dimenso do

    problema das favelas nos pases perifricos, esse relatrio estima que mais de 1

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    bilho de pessoas no mundo vivam em favelas ou assemelhados em 2003, o que

    representa 42.4% da populao do planeta.Desse total, 43% esto nas cidades dos

    pases em desenvolvimento, dos quais 78% esto nos pases menos desenvolvidos

    desse bloco.

    Outro dado relevante desse relatrio trata do incremento de populao nessa

    estatstica de populao em favelas e assemelhados, como apresentado na tabela

    01. Com base nesse estudo, entre 1990 e 2000, o nmero de habitantes nessas

    reas aumentou 36%. O mais intrigante que, nos prximos 30 anos, a

    Organizao das Naes Unidas (ONU) estima que a populao nessa situao

    tenda a duplicar, chegando a dois milhes de pessoas.

    Tabela 01 Estimativas da populao em favelas ou assemelhados por regies do mundo/2003

    Regio PopulaoTotal

    (Milhes)

    PopulaoUrbana

    (Milhes)

    PopulaoUrbana

    (%)

    Populaoem favelasestimativa

    (%)

    Populaoem favelasestimativa

    (Mil)Regiesdesenvolvidas

    1.194 902 75.5 6.0 54.068

    Regies emdesenvolvimento

    4.940 2.022 40.9 43.0 869.918

    Pases menosdesenvolvidos

    685 179 26.2 78.2 140.114

    MUNDO 6.819 3.103 47.5 42.4 1.064.100Fonte: UN-HABITAT, The Challenge of Slums: Global Report on Human Settlement, 2003

    O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) tambm realiza estudos para

    subsidiar aes de fortalecimento da poltica de moradia de interesse social, atravs

    do financiamento de projetos de melhoria das condies de habitao nos pases da

    Amrica Latina. As experincias de alguns projetos financiados pelo BID foram

    publicadas, em 2002, no livro/relatrio Ciudades Para Todos: la experiencia recienteem programas de mejoramiento de barrios. Nesse trabalho, organizado por Brakarz,

    Greene e Rojas (2002), foram divulgados casos de implantao de infraestrutura e

    desenvolvimento social das populaes de cidades brasileiras, colombianas,

    chilenas, argentinas e bolivianas. Alm da exposio da experincia, o relatrio traz

    tambm algumas teorias sobre desenvolvimento socioeconmico de reas de

    interesse social, como as favelas.

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    Alm desses relatrios, outros trabalhos sobre favela no mundo merecem destaque,

    como o caso do livro de Mike Davis, Planeta Favela, que faz uma abordagem

    bastante crtica sobre as favelas dos pases perifricos, responsabilizando os

    organismos internacionais, o poder pblico e os agentes imobilirios pelo caos

    urbano nas cidades dos pases pobres.

    No Brasil, vrias pesquisas so realizadas sobre esse tema, principalmente em So

    Paulo e Rio de Janeiro, onde esse problema mais evidente, apesar de ser comum

    nas grandes e mdias cidades brasileiras. A quantidade de estudos est relacionada

    velocidade e gigantismo do processo de formao de favelas no Brasil, pois Costa

    (2004, p.21) entende que [...] a favela constitui um dos principais componentes daproblemtica urbana desde o incio do desenvolvimento urbano no Brasil.

    Um dos estudos mais expressivos sobre favela no Brasil, especificamente no Rio de

    Janeiro, foi realizado por Valladares e Medeiros (2003), o qual foi publicado e

    intitulado de Pensando as favelas do Rio de Janeiro/1906-2000: uma bibliografia

    analtica. A importncia desse trabalho est relacionada ao levantamento de todos

    os estudos publicados sobre as favelas da cidade do Rio de Janeiro entre 1906 a2000, sendo o nico livro-catlogo sobre a temtica favela no mundo. Nessa

    pesquisa as autoras registraram 668 ttulos, dos quais apenas 6% esto na rea da

    geografia urbana, e diante do nmero de programas de ps-graduao em geografia

    na regio Metropolitana do Rio de Janeiro (trs) pode-se afirmar que o interesse por

    esse assunto, na geografia, ainda pequeno.

    Apesar de o termo favela ser brasileiro, esse tipo de habitao comum em outrospases pobres, porm recebem outras denominaes. Na Colmbia e na Venezuela

    so chamados de barrios ou subrbios, na Argentina so conhecidos como villa

    miseria, em Moambique, canios, e barriadas no Peru. No h uma diferena

    apenas na terminologia, mas, em alguns pases, o processo de localizao das

    favelas segue uma tendncia diferente da brasileira.

    As favelas dos pases andinos tm uma manifestao espacial interessante, pois

    esto concentradas nas encostas das montanhas ramificadas das Cordilheiras dos

    Andes, como mostra a figura 01 da favela Ciudad Bolvar, em Bogot. Trata-se,

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    nesse caso, de uma grande rea de segregao socioespacial, na qual o valor do

    solo urbano baixo, a infraestrutura e os indicadores sociais so deficientes em

    relao ao restante da cidade. Essa centralizao da favelizao em uma nica rea

    da cidade, havendo uma juno de vrias favelas em um determinado ponto,

    provoca o que Davis (2005) chama de megafavela.

    Figura 01 - Vista parcial da Favela Ciudad Bolvar, em BogotAutor: Leite, M. E. 2007.

    No Brasil as favelas surgem em pontos diferentes da cidade, ou seja, a formao de

    favelas espacialmente descentralizada, pois o crescimento das cidades e a

    economia espacial tornam o processo de valorizao do solo urbano mutvel,

    podendo uma rea de pequena valorizao se tornar valorizada, com a construode um shopping, por exemplo. Mas prximo a essa rea pode haver uma favela que

    existia anteriormente valorizao. Essa dinmica econmica espacial tende a fazer

    com que exista limite entre o legal novo e valorizado e o ilegal antigo e

    desvalorizado.

    Por esse motivo as favelas brasileiras no aparecem na lista das maiores favelas do

    mundo (ver tabela 02), e nem mesmo da Amrica Latina, apesar de a populaofavelada do Brasil ser muito grande, 52,3 milhes de pessoas, representando 28%

    da populao do pas (IBGE, 2000).

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    Tabela 02 As dez maiores favelas do mundo (2005)1

    Favela Cidade Populao(milhes de habitantes)

    Neza/Chalco/Izta Cidade do Mxico 4,0Libertador Caracas 2,2Ciudad Bolivar Bogot 2,0San Juan de Lurigancho Lima 1,5Cono Sur Lima 1,5Ajegunle Lagos 1,5Cidade sadr Bagd 1,5Soweto Gauteng 1,5Gaza Palestina 1,3Comunidade Orangi Karachi 1,2

    Fonte: Davis, M. 2005.

    De acordo com a Pesquisa de Informaes Bsicas Municipais 2001, do Instituto

    Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), entre as grandes regies brasileiras, a

    que mais possui domiclios cadastrados em favelas, em nmeros absolutos, a

    Sudeste, com 1,4 milho de moradias, distribudas nas 6.106 favelas cadastradas.

    Sendo 612 localizadas na cidade de So Paulo e 513 na cidade do Rio de Janeiro.

    O IBGE (2001) constatou que h, no Brasil, 16.433 favelas cadastradas. Entre o

    perodo de 1999 a 2001, o nmero de domiclios em favelas cresceu de 900 mil para

    mais de 2,3 milhes. Desse total de domiclios, mais de 1,6 milho (70%) esto

    localizados nos 32 maiores municpios brasileiros, aqueles com mais de 500 mil

    habitantes. Sendo que o maior ndice de populao favelada o de Recife, onde

    46% da populao total moram em favelas.

    Os dados da tabela 03 mostram que o maior ndice de populao em favelas est

    nas trs principais metrpoles do nordeste brasileiro, expondo, assim, a interferncia

    das caractersticas socioeconmicas da regio, na qual a cidade est inserida, no

    ndice de pessoas em favelas, sendo a relao entre os indicadores

    socioeconmicos regionais e o ndice de populao favelada inversamente

    proporcional.

    1Vale ressaltar que os dados encontrados por Davis podem ser considerados como superestimados,pois esse autor trata loteamento ilegal e favela como sinnimos. Porm, esses mesmos dadosretratam uma realidade mundial sobre assentamentos informais, pois so dados provenientes emgrande parte de organismos internacionais.

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    Tabela 03 Cidades com maior ndice de populao urbana em favela no Brasil em 2000

    CIDADE POPULAOFAVELADA (%)

    Recife 46,0Fortaleza 31,0Salvador 30,0So Paulo 22,0Rio de Janeiro 20,0Belo Horizonte 20,0Goinia 13,3

    Fonte: IBGE, 2000Org.: Leite, 2007

    No Brasil existe uma relao generalista de favelas com as caractersticas das

    presentes na cidade do Rio de Janeiro, no pelo fato da primazia desse tipo de

    habitao nessa cidade. Na verdade, isso est mais relacionado grande exposio

    dessas reas na mdia, devido ocorrncia constante de crimes e aes policiais,

    alm de a favela ser usada como cenrio para gravao de novelas e filmes.

    Portanto, com base no Rio de Janeiro, criou-se um esteretipo de favela, no qual

    elas esto localizadas em morros. As caractersticas estruturais das favelas vo

    mudar de acordo com cada rea na qual esto inseridas. No litoral do nordeste,

    devido ao relevo de plancie, as favelas ocorrem em reas planas na periferia das

    grandes e mdias cidades, em alguns casos, como na favela de Braslia Teimosa,

    em Fortaleza, as casas esto sobre o mar, so as chamadas palafitas. Esse tipo de

    habitao comum na regio amaznica, onde as favelas esto presentes,

    principalmente, nas cidades de Manaus e Belm.

    Porm, no que tange composio social dessas reas, h uma semelhana entreelas, haja vista que os ocupantes possuem histria de vida parecida. Normalmente,

    so pessoas que saram da zona rural por falta de perspectivas ou mesmo deixaram

    suas cidades de origem para tentar uma vida melhor em cidades de maior

    dinamismo econmico.

    Sobre a composio socioeconmica dessas reas, Kowarick (1979, p. 80) coloca

    [...] os assim chamados problemas habitacionais, entre os quais a prpriafavela, deve ser entendido no mbito de processos socioeconmicos epolticos abrangentes, que determinam a produo do espao urbano de

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    uma cidade e refletem sobre a terra urbana a segregao que caracteriza aexcludente dinmica de classes sociais.

    A falta de qualificao e de condies de adquirir um imvel faz com que esses

    imigrantes ocupem reas pblicas e privadas para construrem suas casas. Como se

    trata de uma ocupao ilegal, no pagam impostos e acabam por no ser

    beneficiados com uma infraestrutura urbana. Alm disso, sofrem com a

    marginalizao social imposta pela sociedade que enxerga essas reas como uma

    rea antissocial.

    Ferraz (1999, p.27)afirma que

    medida que a cidade cresce, vo se fechando as portas de acesso dospobres moradia, (com a elevao dos preos dos imveis), para aaquisio da casa prpria e para aluguel, pela mesma razo, ostrabalhadores de baixa renda vo sendo expulsos para as periferias. [...] Avalorizao do terreno expulsa at os que j residiam nessa rea, devido oaumento dos encargos fiscais do imvel. Portanto, o crescimento de reasmarginalizadas ocorre graas a dois fatores convergentes: a expulso dapopulao de baixa renda das reas valorizadas e a migrao consiste dasreas rurais atrasadas.

    Sendo assim, as cidades que apresentam um crescimento populacional, no qual apopulao acrescida configura-se como pessoas de baixa renda e sem acesso a

    moradia, so potencialmente propcias ao surgimento ou expanso de favelas.

    O processo de crescimento e surgimento de novas favelas um fato que pode ser

    ratificado, a partir da observao das cidades. Todavia, a mensurao precisa da

    intensidade desse processo uma tarefa difcil, tendo em vista que no existe uma

    definio padro de favela, o que gera dados estatsticos que no representam arealidade.

    1.1.1 Definio de favela no Brasil

    O termo favela originalmente brasileiro, pois essa denominao vem de uma

    planta leguminosa, chamada favela, tpica do nordeste brasileiro. De acordo comPreteceille e Valladares (2000), em Canudos, no serto baiano, havia uma encosta

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    de um morro chamada de Morro da favela; os soldados que combateram na Guerra

    de Canudos, ao retornarem para o Rio de Janeiro, at ento capital federal, foram

    autorizados a construir barracos em um morro que passou a ser chamado de Morro

    da favela, hoje, Morro da Providncia.

    Apesar de o termo favela ter se globalizado como referncia de conjunto de

    habitao carente de infraestrutura, ocupada por populao de baixa renda e

    apresentando baixos indicadores sociais, h uma srie de conceitos de favela, de

    rgos de pesquisa, que se confrontam. Essa dificuldade conceitual proporcional

    diversidade socioeconmica desse tipo de habitao, visto que as caractersticas de

    uma favela podem variar de uma regio para outra ou mesmo dentro de um mesmoespao urbano.

    Por conseguinte, a conceituao tcnica desse termo complexa, pois no h um

    consenso entre os critrios para definir o que favela. A dificuldade de conceituar

    favela est ligada, tambm, ao enfoque que cada grupo de pesquisa tem sobre ela.

    Dessa forma, alguns rgos esto preocupados em estabelecer uma quantidade de

    domiclios para classificar a favela, outros entendem que o critrio quantidade no relevante. Da mesma forma, a infraestrutura ponto de divergncia entre conceitos

    de favelas.

    Fazendo um resgate histrico sobre a evoluo da definio de favela no Brasil,

    Taschner (1978) afirma que esta dificuldade tem sua origem na generalizao e

    variedade de aglomerados de baixa renda que se apresentam na cidade. A referida

    autora expe a definio de favela de Boschi (1970) que trata a favela como umsubsistema da cidade cujos limites so definidos por problemas legais quanto

    propriedade dos terrenos e pela extrema preponderncia das relaes informais de

    carter pessoal. Esse conceito enfoca o principal ponto para se classificar a favela, a

    ilegalidade na ocupao da terra.

    Em 1953, o IBGE se preocupou em recensear as favelas e os critrios definidos

    foram influenciados pela viso popular, pois considera-se favela como sendo os

    aglomerados humanos que possuem, total ou parcialmente, as seguintes

    caractersticas: a) propores mnimas: agrupamentos prediais ou residenciais

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    formados com unidades de nmeros geralmente superiores a 50; b) tipo de

    habitao: predominncia de casebres ou barraces de aspecto rstico, construdos

    principalmente de folhas-de-flandres, chapas zincadas ou materiais semelhantes; c)

    condio jurdica de ocupao: construes sem licenciamento e sem fiscalizao,

    em terrenos de terceiros ou de propriedades desconhecida; d) melhoramentos

    pblicos: ausncia, no todo ou parte, de rede sanitria, luz, telefone e gua

    encanada; e e) urbanizao: rea no urbanizada, com falta de arruamento,

    numerao ou emplacamento (PRETECEILLE; VALLADARES, 2000).

    A partir de ento, o IBGE passa a considerar favela, de maneira geral, como sendo

    [...] um aglomerado de mais de cinqenta domiclios, na sua maioria carentes deinfra-estrutura e localizados em terrenos no pertencentes aos moradores

    (RODRIGUES, 1994, p.34).

    No censo demogrfico de 2000, o IBGE substituiu o termo favela pelo termo

    aglomerado subnormal, porm a grande mudana foi a incluso do critrio tempo de

    posse para classificar uma rea como favela. Sendo assim, o critrio de favela ou

    aglomerado subnormal passa a considerar apenas as reas carentes deinfraestrutura com mais de cinquenta e um domiclios, nas quais a obteno de ttulo

    de propriedade tenha ocorrido h dez anos antes ou menos.

    Diante dessa situao percebe-se que o conceito do IBGE de aglomerado

    subnormal subestimado, pois o nmero de aglomerados urbanos informais com

    menos de cinquenta e um domiclios significativo em vrias cidades, como o

    caso de So Paulo, que considera as reas de ocupao ilegal com mais de trintadomiclios como favela.

    Outro ponto que torna o conceito do IBGE confuso quanto definio de favela o

    item carncia de saneamento bsico, haja vista que no especifica se essa carncia

    tem de ser em todos os municpios, na maioria ou em quantos por cento. Dessa

    forma, as reas que foram ocupadas ilegalmente, mas que tm 100% de acesso ao

    saneamento no so consideradas como aglomerado subnormal.

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    A favela da Rocinha, na cidade do Rio de Janeiro, com populao de cerca de 300

    mil moradores um exemplo dessa subestimao provocada pelo conceito do IBGE,

    pois esse rgo no a considera como favela pelo fato de grande parte dos

    domiclios terem acesso ao saneamento bsico.

    A incompatibilidade metodolgica dos dados do IBGE sobre favela outro motivo de

    crtica, tendo em vista que esse rgo considera, em algumas cidades, as favelas

    identificadas pelas prefeituras, como o caso da prefeitura do Rio de Janeiro que

    repassa os dados sobre favelas nessa cidade para o IBGE. Dessa forma, no h

    como comparar dados sobre favelas entre municpios, pois no h uma coerncia

    metodolgica.

    Essas crticas expem a necessidade de reviso do conceito de favela do IBGE,

    como denunciou Maricato

    No h nmeros gerais, confiveis, sobre a ocorrncia de favelas ouloteamentos irregulares em todo Brasil. Por falhas metodolgicas ou aindapor uma dificuldade bvia de conhecer a titularidade da terra sobre as quaisas favelas se instalam, o IBGE apresenta dados bastante

    subdimensionados. A busca de nmeros mais rigorosos nos conduz aalguns diagnsticos elaborados por governos municipais, teses acadmicasou organismos estaduais que, entretanto, fornecem dados localizados erestritos. (2001, p.154).

    Normalmente, nos trabalhos sobre favela, usa-se uma definio generalista, como a

    apresentada por Azevedo Netto (2002) que entende como favela todo assentamento

    humano extremamente precrio, no s pela pobreza de seus habitantes como pela

    carncia de urbanizao e equipamentos ou servios urbanos. E, principalmente,

    pela total irregularidade em relao propriedade da terra e legislao urbansticae edilcia.

    A discusso terica sobre favela na maioria dos casos no se preocupa em fazer

    uma anlise dos critrios para conceituar a favela e, por isso, h uma dependncia

    da definio e dos dados do IBGE. Nesse sentido, a anlise realizada por Torres e

    Marques (2002) expe alguns pontos que trazem certa desconfiana na preciso

    dos dados do IBGE sobre favela.

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    Torres e Marques (2002) destacam que [...] apesar de ser um fenmeno

    onipresente na cena pblica brasileira, a definio do que favela no deixa de ser

    complexa, sobretudo quando tratada do ponto de vista do sistema de produo de

    dados estatsticos. No seu trabalho os autores supracitados apontam problemas

    metodolgicos e tcnicos que podem comprometer a confiabilidade dos dados do

    IBGE sobre favela. E destacam a atualizao cartogrfica da cidade como um dos

    principais obstculos para mensurar as favelas.

    Frente s imperfeies do conceito de favela do IBGE, o poder pblico municipal

    aparece, tambm, com novas conceituaes de favelas. Normalmente, o conceito do

    poder pblico municipal considera alguns elementos peculiares da sua cidade.

    Costa e Nascimento (2005) fizeram uma comparao entre as definies de favela

    de 16 capitais brasileiras e a definio do IBGE (ver quadro 01) e concluram que os

    critrios mais comuns nas definies das prefeituras so: a legalidade da posse

    (encontrado em 15 prefeituras) e a falta de infraestrutura bsica e urbanstica

    (encontrado em 13 prefeituras). O tempo de posse e a quantidade de domiclios so

    encontrados em apenas uma prefeitura, ratificando a ideia de que so esses ltimosque tornam a classificao de favela confusa. O fato de o IBGE usar esses critrios

    em sua definio expe os dados desse rgo a crticas.

    Outra parte interessante encontrada no trabalho de Costa e Nascimento (2005) a

    comparao entre as definies do IBGE e da ONU. A diferena consiste no fato de

    a ONU considerar dois critrios a mais que o IBGE, material de construo e nmero

    mnimo de moradores por cmodo, e o IBGE apresenta dois critrios que a ONU no

    considera, tempo de posse da terra e quantidade de domiclios.

    Essa considerao torna questionvel o fato de as prefeituras municipais, que esto

    prximas realidade das favelas, descartarem critrios mais confusos e difceis de

    ser identificados e, contrariamente a isso, o IBGE usa esses elementos na sua

    definio. Logo, o risco de erros no levantamento de favelas, por parte desse rgo

    federal, maximizado.

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    Quadro 01- Conceitos e critrios para definio de favelas e assemelhados utilizados pelasprefeituras do Brasil, IBGE e ONU

    Instituies Nome CritriosNmnimodedomiclio

    Situaofundiria

    Infra-estruturabsica eurbanstica

    Material deconstruo

    Renda Riscoambiental

    IBGE Censo Aglomeradossubnormais,favela, eassemelhados.

    X X X

    ONU Assentamentosinformais

    X X X

    PREFEITURAS

    BeloHorizonte

    Zonas especiaisde interessesocial

    X X X

    So Paulo favela X X X XRio de Janeiro favela X X

    Joo Pessoa Aglomeradossubnormais X XAracaj Assentamentos

    subnormaisX X X X

    Teresina favela X X XCampoGrande

    Assentamentossubnormais

    X X

    Curitiba XBelm X XFortaleza favela X XRecife Zonas especiais

    de interessesocial

    X

    Vitria Invases X X XFlorianpolis Bolses de

    pobreza/reas

    de interessesocial

    X X X X

    Porto Alegre Favela X X X XNatal X XBraslia Invaso

    Notas: Braslia no definiu o conceito e critrios. Curitiba, Belm e Natal no fizeram meno ao nome.Fonte: IBGE, perfil municipal, 1999. IBGE, manual de delimitao de setores do censo 2000. FERREIRA, A.M. IBGE, CETE, levantamento feito junto s prefeituras do Brasil, 2003. ONU: UN-HABITAT, 2002 (COSTA;NASCIMENTO, 2005).

    Esses problemas nos critrios para classificao de favelas pelo IBGE se agravam

    quando se estudam as cidades mdias, pois como se trata de um processo em

    ocorrncia as caractersticas das favelas ainda no so padronizadas dentro desse

    espao intraurbano em constante transformao.

    No caso especfico do critrio quantidade de domiclio, torna-se mais complicado ao

    estudar favela em cidades mdias. De acordo com o IBGE, apenas as reas com

    nmero superior a 50 domiclios podem ser consideradas como favela, embora na

    cidade mdia o tamanho da favela, em geral, seja menor que na cidade grande.

    Essa situao explicada pela recente atrao que a cidade mdia tem exercido narede urbana, consequentemente, as reas de ocupao so novas e esto, em

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    alguns casos, em expanso. Dessa forma, nas cidades de porte mdio encontra-se

    um nmero considervel de favelas com quantidade de domiclios inferior ao

    definido pelo IBGE. Esse fator faz com que as cidades mdias venham

    apresentando favelas dentro do seu espao intraurbano, mesmo sem conhecimento

    do poder pblico municipal e de pesquisadores.

    1.1.2 Favela em cidades mdias

    A discusso sobre cidades mdias ou intermedirias tem certa complexidade, o que,

    para Costa (2002, p.102), causado pela [...] heterogeneidade das realidades, querpela temporalidade dos fenmenos econmicos-societais, cujas constantes

    mudanas condicionam os territrios no metropolitanos. Esses fatores dificultam a

    conceituao de cidade mdia e, sobretudo, provocam a falta de consonncia nas

    propostas de definies. Apesar de haver vrias acepes de cidades mdias usam-

    se algumas abordagens, como o tamanho demogrfico, a funcionalidade regional e

    a organizao do espao intraurbano.

    No caso do critrio demogrfico, usada a quantidade da populao para se definir

    cidades mdias. No Brasil, quando se utiliza o critrio demogrfico simplesmente,

    usa-se denominar cidade de porte mdio; h alguns pesquisadores como Andrade e

    Serra (2001), alm do IBGE e do Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada - IPEA,

    que consideram cidade de porte mdio quando a populao est entre 100 e 500 mil

    habitantes. O Programa das Naes Unidas para Assentamentos Humanos UN-

    HABITAT classifica, como cidades intermedirias, as cidades com populao entre100 mil e 1 milho de habitantes.

    A Unio Europeia oficializou, atravs do relatrio EUROPA 2000 +, que as cidades

    com uma populao entre 20.000 e 50.000 habitantes so consideradas mdias

    (COSTA, 2002). Porm, analisando individualmente alguns pases da Unio

    Europeia, percebe-se uma grande variao desse critrio, conforme tabela 04.

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    Tabela 04 Quantidade demogrfica para classificao de cidade mdia em alguns pases daUnio Europeia

    PASES CIDADE MDIAEscala de dimenso (habitantes)

    Alemanha 150 000 600 000Dinamarca

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    Na tentativa de desenvolver um conceito de cidade mdia, Corra (2007) enftico

    ao afirmar que para conceituar a cidade mdia preciso combinar tamanho

    demogrfico, funes urbanas e organizao do seu espao urbano. Esse autor

    entende que analisar a cidade mdia tomando como base apenas um desses pontos

    interpretar equivocadamente a definio de cidade mdia. Alm disso, entende

    que esses elementos se integram, pois a cidade com maior populao implica em

    maior espao fsico, o que consequentemente traz uma diversidade de atividade

    econmica que se materializa em locais diferentes da cidade. Esse o cenrio de

    uma cidade que concentra algumas funes urbanas e tem seu espao fragmentado

    e, ao mesmo tempo, mais articulado.

    Alm de listar esse trip de variveis como ponto de partida para classificar a cidade

    mdia, Corra (2007) prope a incluso de outras variveis na construo do

    conceito de cidade mdia, pois h outros elementos importantes que interferem

    diretamente na organizao interna da cidade. Essa proposta de Corra (2007)

    corrobora com a ideia de Soares (1999, p.60) que afirma que, para classificar uma

    cidade como mdia, devem-se associar algumas variveis e destaca alguns pontos

    como tamanho demogrfico, qualidade das relaes externas, especializao ediversificao econmica, posio e sua importncia na regio e na rede urbana de

    que faz parte, organizao espacial e ndices de qualidade de vida. Essa integrao

    de elementos permite entender a funo da cidade na sua rede urbana regional e,

    at mesmo, no sistema econmico global, essa compreenso permite assim

    classific-la como mdia.

    H uma relao lgica entre o crescimento das favelas nas cidades mdias e asmudanas na rede urbana brasileira, na qual essas cidades esto despertando

    interesses para maximizao do capital, como o caso das indstrias que saem das

    metrpoles para se instalar nessas cidades em busca de menor custo de produo,

    atraindo, assim, maior investimento tanto para o setor secundrio quanto para o

    setor tercirio das cidades mdias.

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    Essa (re)locao do capital no cenrio nacional interfere diretamente nos fluxos

    migratrios, provocando um fluxo populacional constante para as cidades mdias.

    Esse fluxo proporcional ao crescimento econmico dessas cidades, ou seja,

    quanto maior o crescimento econmico, maior ser a migrao para essa cidade.

    Sobre essa situao, Maricato alerta

    As cidades de porte mdio, com populao entre 100 mil e 500 milhabitantes, cresceram a taxas maiores do que as metrpoles, nos anos 80 e90 (4,8% contra 1,3%). A acelerao extraordinria do crescimento dascidades de porte mdio, e das cidades litorneas, de um modo geral, exigeevidentemente ateno devido as conseqncias socioambientais

    decorrentes da velocidade do processo de urbanizao (2001, p.25).

    A regio na qual a cidade mdia est inserida tem influncia nas transformaes

    sociais do espao intraurbano. Quando se trata de uma regio pobre as

    transformaes so mais drsticas, haja vista que o crescimento populacional ser

    maior, pois a populao de uma regio pobre tende a buscar novas oportunidades

    nos centros regionais, ou seja, nas cidades mdias.

    A intensa migrao para as cidades mdias, principalmente de pessoas de baixo

    nvel de instruo e renda, provoca o aumento da informalidade no mercado de

    trabalho, pois a demanda populacional maior que a oferta de emprego. Como

    consequncia disso, aumenta a informalidade da moradia, tendo em vista que os

    migrantes no tm condies financeiras de adquirir um imvel e acabam buscando

    moradias informais.

    Essa situao elucida o crescimento da pobreza urbana nas cidades mdias nosltimos anos. Fato esse comprovado por Arriagada (2000) que mostra que a

    incidncia relativa da pobreza nos centros de tamanho mdio superior ao das

    grandes cidades. Esse autor atribui isso ao recente dinamismo demogrfico destas

    cidades e a maior incidncia de emprego informal em suas economias.

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    Diante do grande crescimento populacional vivenciado pelas cidades mdias a

    partir, principalmente, dos anos de 1990 se intensifica o processo de favelizao. No

    ltimo censo demogrfico, conforme tabela 05, o IBGE constatou que h favelas em

    quase 80% das cidades de porte mdio (entre 100 e 500 mil habitantes), e em 40%

    das cidades com populao entre 20 e 100 mil habitantes.

    Tabela 05 Nmero de favela em municpios brasileiros(por faixas de populao) 2000

    Faixas de populao Total deMunicpios

    Municpios comfavelas2

    ExistnciaSim No

    TOTAL 5 560 1 246 3 993

    FAIXAS DE POPULAO

    At 5 000 1 371 81 1 255

    De 5 001 a 20 000 2 688 477 2 052De 20 001 a 100 000 1 275 504 653De 100 001 a 500 000 194 152 33Mais de 500 000 32 32 -

    Fonte: IBGE, 2000.Org.: LEITE, 2007.

    O processo de favelizao das cidades bastante peculiar e relacionado com a

    histria poltica e econmica de cada cidade e regio. A ordem cronolgica do incio

    do processo de favelizao nas cidades mdias no pode ser generalizada,

    necessitando, assim, de um estudo individual para definir o perodo de origem das

    favelas. Perante essa viso, cresce a formao de favelas nas reas urbanas, o que

    torna esse processo preocupante e merecedor de estudos e de medidas para

    incluso social da populao dessas reas.

    Alm das favelas, outros problemas habitacionais so crescentes nas cidades

    mdias e, consequentemente, interferem na qualidade de vida de toda sociedade.

    Os cortios que outrora eram exclusivos das metrpoles esto surgindo nas cidades

    mdias mais desenvolvidas. Os loteamentos ilegais, tambm frequentes na

    paisagem urbana das grandes cidades, esto proliferando nas cidades de porte

    mdio do Brasil. Tanto quanto as favelas, esse tipo de loteamento provoca a

    2 Alguns municpios no declaram sobre a existncia ou no de favelas, por isso, a soma dos dados desta coluna

    no igual aos dados da coluna total dos municpios.

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    fragmentao do espao urbano e atrapalha o desenvolvimento socioespacial das

    cidades.

    1.1.3 Loteamento informal

    Assim como as favelas, os loteamentos informais so outra forma de ocupao ilcita

    do solo urbano. Porm, algumas diferenas fsicas em relao favela so notrias.

    No loteamento ilegal as quadras e os lotes tendem a ser divididos de maneira

    semelhante, alm da presena de ruas e avenidas. Dessa forma, o traado do

    loteamento ilegal se assemelha com o loteamento legalizado.

    Entretanto, as caractersticas sociais desse tipo de loteamento e as favelas so

    similares, tendo em vista que ambos surgem como uma forma alternativa de

    moradia para a populao de baixa renda da cidade, alm disso, so desprovidos de

    infraestrutura urbana e no so reconhecidos legalmente pelo municpio.

    O loteamento urbano a diviso do solo da cidade em unidades menores,subdividido em quadras, com abertura de vias e logradouros pblicos de acordo com

    a legislao (MEIRELLES, 1995). Para aprovao do loteamento, todas as etapas

    de sua implantao tm de estar de acordo com a lei municipal de parcelamento e

    ocupao do solo urbano. Para tanto, necessria a apresentao da planta do

    loteamento constando informaes sobre o projeto como as divisas da gleba a ser

    loteada, a localizao dos cursos dgua, dos bosques e das construes existentes,

    a indicao dos arruamentos contguos a todo o permetro, o tipo de usopredominante a que o loteamento se destina, as caractersticas, as dimenses e a

    localizao das zonas de uso contguas, entre outras. Alm da planta, deve ser

    apresentada a certido atualizada de matrcula da gleba, a certido negativa de

    tributos municipais e o competente instrumento de garantia.

    De acordo com disposto no artigo 18 da Lei n 6.766/79, depois de finalizado o

    processo de aprovao do loteamento por parte do municpio, o loteador obrigado

    a submeter ao Registro Imobilirio no prazo de 180 dias e, caso no seja cumprido

    esse prazo, a aprovao do loteamento poder perder a validade.

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    Portanto, para se chegar efetivao do parcelamento do solo urbano, vrias so as

    etapas a serem respeitadas. E quando o loteamento possui aprovao urbanstica

    do poder pblico municipal, mas alguma das etapas seguintes da implantao no

    segue a lei, esse loteamento classificado como irregular, ou seja, iniciou o

    processo de legalizao, mas no foi aprovado. E se o loteador no iniciar o

    processo de aprovao de um loteamento e implant-lo, trata-se de um loteamento

    clandestino, o que representa que o municpio desconhece totalmente esse

    loteamento (SOUZA, 2006).

    Com o objetivo de reduzir os gastos para implantao do loteamento e aumentar olucro na venda dos lotes, os loteadores urbanos no legalizam de forma definitiva

    seus loteamentos. Assim, eles economizam com o no pagamento de taxas e

    tributos, alm de no implantarem a infraestrutura, sendo que, de acordo com a Lei

    n 6.766/79, a implantao de obras de infraestrutura de responsabilidade do

    loteador, exceto no caso de acordo entre a municipalidade e o loteador. Alm disso,

    essa lei prev que no mnimo 35% da rea do loteamento tero de ser destinados

    como terra pblica, sendo assim, se o loteamento no segue a lei, os loteadorestransformam essa porcentagem em lotes para comercializao.

    Essas ilegalidades permitem ao loteador vender os lotes a preo baixo e com alta

    lucratividade. Porm, os moradores desse tipo de loteamento sofrero com a falta de

    planejamento urbano, pois esto vulnerveis a problemas ambientais, tendo em

    vista que, em alguns casos, esses loteamentos so implantados em rea de

    fragilidade ambiental e que, pela lei de parcelamento do solo, no poderiam serloteadas, como: em reas com declividade superior a 30%, em terrenos suscetveis

    a inundaes, em reas de preservao ambiental, entre outras.

    Como na favela, ao longo do tempo, a responsabilidade pela implantao da

    infraestrutura nos loteamentos ilegais recai sobre os governos municipal, estadual e

    federal, pois so esses que vo arcar com programas de urbanizao dessas reas.

    A Pesquisa de Informaes Bsicas Municipais, do IBGE (2001), revelou que 36,8%

    das cidades do pas informaram ter loteamentos irregulares e 24,3%, lotes

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    clandestinos. Essa situao crtica nas grandes cidades brasileiras, no Rio de

    Janeiro, a informalidade do acesso terra urbana chega a 50%, sendo que h 627